quarta-feira, novembro 29, 2006
AC/DC - Highway To Hell
Não tem muito segredo ao falar sobre o AC/DC. Uma das bandas mais clássicas do gênero Hard Rock, esse grupo sempre se revelou uma máquina incansável de produzir música desde sua formação no ano de 1973. E sempre foi aquele rock áspero, com riffs que grudam na cabeça e que são influência de onze entre dez guitarristas do estilo. Angus Young não é o guitarrista mais rápido, mais técnico, ou mais virtuoso, mas é quase impossível você ouvir uma música do AC/DC e não adivinhar que é a banda só pelo riff, ou não reconhecer uma sombra da banda em bandas de milhares de admiradores desde que eles lançaram " High Voltage" em 1974 em seu país natal, a Austrália. Porém, cinco anos depois, o que viria ser um de seus melhores trabalhos também viria ser o encerramento de uma fase de forma bastante trágica. Angus, acompanhado por seu inseparável irmão Malcom Young na guitarra base e backing vocals, Cliff Williams no baixo, Phil Rudd na bateria e o saudoso e lendário Bon Scott nos vocais. Fazendo uma referência ao Led Zeppelin e seu maior clássico " Stairway To Heaven", a banda lança em 1979 o clássico " Highway To Hell", um título que, em um curto curto espaço de tempo, seria profético para Bon, ex-motorista da banda, que entrou na banda como baterista e que arrematou a vaga de vocalista quando os irmãos Young chutaram Dave Evans da banda, porque o mesmo assumia uma postura muito glam rock. E Scott não foi capaz de aguentar por muitos anos a vida de rock and roll, sexo e loucuras - vindo morrer em decorrência da bebida (merecendo até uma homenagem musical por parte de Ozzy Osbourne, na música " Suicide Solution" - mas aí já é outra história, voltemos ao AC/DC). Seja sincero: Como não se render ao riff inicial da música que dá o nome ao álbum, " Highway To Hell"? Um negócio áspero feito muralha de chapisco, duro feito pedra, bruto como diamante recém-descoberto... E aí entra Bon Scott e sua fanfarrônica voz, com versos no mínimo ousados para a época. "Vivendo fácil, vivendo livre/Bilhete de temporada numa viagem só de ida" e "Ei Satã, paguei meus pecados/Tocando em uma banda de rock/Ei mamãe, olhe para mim/Estou no caminho para a terra prometida" atestam isso. E aí vem aquele contagiante refrão, "estou numa auto-estrada para o inferno", simplesmente impossível de resistir. E o solo de Angus... Sem comentários... Ouça você esse autêntico hino boca suja e sem vergonha, como diria o Homem do Baú. " Girls Got Rythm" é outro rock safado, com uma letra absurdamente sexual, com seu andamento conquistador, com bases de guitarra que fizeram escola, além de um ritmo muito bem marcado pela cozinha. Mais agudo no vocal que na canção anterior, Bon dá o convite para todos os rockers dançarem e berrarem com punhos ao alto o nome da canção, no refrão "Garotas têm ritmo, garotas têm ritmo, ela tem o ritmo de um banco traseiro", continuando a safadeza em versos como "Me ama até eu ficar sem pernas/Com dor e inflamado", "E quando ela me deixa entrar/É igual um amor líquido", entre outros. Entendam como quiser, mas essa música é foda! Seguindo, " Walk All Over You", que após de acordes iniciais surgirem lentos e corajosos, a bateria vai dando o tom para que um rock dos brabos adentre seus ouvidos e te coloque de pé, sacudindo a cabeça e tentando sair do chão de tanto pular. Bon Scott, com sua ousadia costumeira, com sua voz pouco usual, conta na letra como ele assediou uma garota, deixando-a realizada. Diferindo da maioria das músicas, esta tem uma velocidade maior nos versos e cai de ritmo no refrão, para que a banda toda grite o nome da música. " Touch Too Much" tem um trabalho bem evidenciado da cozinha, com guitarras de início mais graves, mas que logo ganham eletricidade, e no refrão, que já começa a ser repetido antes da música atingir ao menos um minuto, vem a fórmula padrão do AC/DC: se não atuar como um fio desencapado sendo enfiado no tímpano, então não é a banda dos irmãos Young... E a sacanagem rola solta, mais uma vez! "Não fui o primeiro/Não fui o último/Não era com isso que ela não se importava/Ela queria que fosse duro/Que fosse rápido/Ela gostou assim mesmo", e vem mais aquele trabalho de guitarras e refrãos que como Joe Satriani disse uma vez, sempre vai ter surpreender, sempre será genial e você sempre saberá o que ouvir. Essa é uma das únicas bandas que não te dão tempo para respirar, e ainda assim você continua empolgado e nunca enjoa... " Beating Around The Bush" parece até que vai dar esse gostinho, mas apenas nos segundos iniciais... Logo se revela uma música de andamento rápido cheia de paradas absolutamente empolgantes, falando sobre uma mulher chata, que após o relacionamento dar o que tinha que dar, ainda assim ela continua insistindo... Não é uma daquelas "músicas políticas atemporais", mas ainda assim é bastante atual... " Shot Down In Flames" tem um riff balançado, com uma bateria que dita uma estrutura fixa e dançante para a música ao lado das guitarras. Bon Scott canta uma letra hilária sobre "tomar um toco", "levar um fora" e coisas assim: "ela estava parada sozinha do lado da jukebox/como se ela tivesse vendendo algo/eu disse "baby, qual o preço?"/ela me disse para ir para o inferno". Aí é mais um desfile de toda a criatividade de Angus e sua guitarra flamejante. Agora ouvimos " Get It Hot", ainda mantendo a aspereza, o ritmo dançante , com um refrão irresistível, com guitarras e vocais se alternando, onde Bon convida a garota a se animar, que eles, segundo Scott, vão "provocar uma revolução", se é que me entendem. Se você fosse misturar fogo e eletricidade em forma de som, a mistura com certeza seria o AC/DC. Uma das minhas favoritas do álbum, essa leva o nome de " IF You Want Blood, You've Got It", também o nome de um ao vivo do ano anterior. Aqui as guitarras soam com mais fúria que nas anteriores, em uma letra falando sobre um criminoso sanguinário. Combina com a música, pois sua força é tal que se assemelha a várias facadas na jugular. " Love Hungry Man", como o nome indica, é a única do álbum que trata sobre romance... Mentirinha. Apesar do refrão, a letra dá a prova que o cara está mais afim de um 'contato carnal', como atestam os versos "Eu sou um homem faminto por amor/Oh, baby, você é como um banquete". Paracendo ter de início o ritmo mais arrastado nos versos de todo o álbum, a canção cresce em velocidade progressivamente, sempre descambando no refrão, que para variar, é uma maravilha de empolgante. E o álbum então encontra seu final com " Night Prowler", essa sim a mais lenta, onde Angus e Malcom aproveitam para liberar todo o seu lado bluesy. E o refrão, mesmo não crescendo em velocidade, cresce em intensidade, com os melhores backing vocals do álbum. A letra parece até ser de um filme sobre serial killers, com a diferença que Bon encarna o assassino na primeira pessoa. A mais diferenciada do álbum, mas que ainda assim, não deixa a peteca cair. O solo que Angus faz aqui é coisa de louco, um dos melhores de toda a sua carreira, fica até difícil entender como não é um dos grandes clássicos da banda. A banda ainda não havia cometido seu álbum definitivo; Isso seria no ano seguinte. Infelizmente, sem Bon. Mas, felizmente, com um substituto que o rivaliza: o "pato rouco" Brian Johnson. E aí o AC/DC tornou-se uma daquelas raras bandas que mesmo perdendo uma de suas figuras mais carismáticas ainda consegiram manter-se e lançando sempre trabalhos acima da média, coisa que só o Deep Purple conseguiu com David Coverdale, e ainda assim, só por um álbum. E Brian está na banda até hoje, ajudando os irmãos Young e sua gangue a sempre gravarem seus pesados rocks sobre ligações com o obscuro, histórias sobre personagens pouco usuais, e não podemos, esquecer, a boa e velha sacanagem Falando na "boa e velha", esse álbum é um atestado da mesma. E aí é aquele mesmo discurso que eu faço sobre os álbuns que eu gosto muito: um dos melhores registros já gravados (sempre tem esse começo), trilha sonora ideal para qualquer festa, ou para uma ouvida solitária, ou para ouvir seus clássicos em um show de Rock, para aprender a tocar guitarra... AC/DC é um nome que resiste às barreiras do tempo... Quase todo mundo é fã, do Quiet Riot, Dokken, Def Leppard, Twisted Sister e Motlëy Crüe ao Danko Jones, Gluecifer e Wolfmother, passando por Offspring, Smashing Pumpkins, Silverchair e Nirvana... Sem falar de fãs pouco usuais, como os "deathbangers" do Six Feet Under ou a cantora pop Shakira. Assim como os Ramones, é um som que fez escola, e quem gosta de esbaldar ao som do bom Rock, ama de paixão. Prontos para rock, bebida e sacanagem, acompanhados por uma trilha sonora infernal? Então embarque nessa viagem só de ida! Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 10:21 PM
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domingo, novembro 26, 2006
The Killers - Sam's Town
Uma menina, com cerca de seis anos, acha a maquiagem e as jóias da mãe, que deve ter uns 20 anos ou mais que sua cria. Se maqueia toda, coloca um vestido muito maior que ela, põe um daqueles brincos tão grandes que ela quase cai no chão... Ela se sente toda orgulhosa pela sua inocente tentativa de parecer mais velha, enquanto os pais riem ou falam para ela deixar de besteira, e ela, tropeçando dentro dos sapatos de salto alto muito maiores que seus pés, começa a se mostrar para todo mundo de idade equivalente, cheia de si, criticando os outros pelo mínimo motivo. A banda de Las Vegas, o The Killers, está passando por situação semelhante. A banda do guitarrista David Keuning, do baixista Mark Stoermer, do baterista Ronnie Vanucfci, e principalmente, do arrogante tecladista e vocalista Brandon Flowers, surgiu em meados de 2002 e em 2004 emplacou nas paradas o debut " Hot Fuss", com um som juvenil, apresentando um som que misturava música eletrônica e new-wave, fazendo a festa de quem gostava de New Order e Duran Duran. Garotas, festas, loucura... E os sinais claros de que eles queriam envelhecer rápido: o ataque às bandas emo, com Brandon dizendo que as mesmas são "perigosas por não terem conteúdo" e ao Green Day por serem "antiopatriotas". Coisa que todo tiozinho cervejeiro yankee que passa seus dias assistindo baseball fala... O clima de festa acabou-se em 2006. Deixando cabelos e barbas crescerem (incluindo um bigodinho sem-vergonha de Brandon...), os terninhos deram lugar à engraçadas jaquetas sem manga apertadinhas, ar blasé nas fotos, e uns óculos escuros ma-ra-vi-lho-sos... E lançaram " Sam's Town", onde surgem ecos de Queen, Elton John, e segundo a banda, U2 e Bruce Springsteen. Só digo que se o "Boss" ouvir esse disco, Brandon e seus comparsas correm sério risco de demissão. " Sam's Town" já começa com aquele ar mais discoteca-anos-70 o possível. As guitarras, distorcidas até, são um dos poucos diferenciais... Por isso, só o refrão que soa de certa forma original. O resto, sinceramente... Tem até corinho de vozes e teclados, que eu jurava que já havia se tornado coisa de velho, ou de nostálgico. Até a letra é coisa de velho: "Você sabe, eu vejo a londres, eu vejo a cidade de Sam/Segura a minha mão e deixa cair meu cabelo/Retira o mundo dos meus ombros/Eu vejo Londres, eu vejo a cidade de Sam". Há a passagem em cima de teclado e voz, intitulada " Enterlude", mostrando um lado Queen da banda. Menos de um minuto, onde outra referência ao amadurecimento surge em "parece que o paraíso não está tão longe". E pra quem critica tanto as bandas emo, " When You Were Young" tem um quê de melosidade... Brandon, apesar de trocar suas referências de forma tão abrupta, ainda mostra seu bom talento para melodias grudentas, com teclados supersintetizados que crescem no refrão, dando menor espaço paras as guitarras. Enfatizando novamente o envelhecimento, já dá para perceber que se trata de uma letra nostálgica a partir do título... Mesmo nostálgica, a música gruda que é uma beleza. Recomendada para qualquer festa - se você tocar entre duas músicas de 20 anos atrás ou mais, não vão nem notar. " Bling (Confessions Of A King)" começa lenta, com vocais emulando Freddie Mercury, teclados e cozinha controlados e uns efeitos no refrão, que pelo amor de Deus, eu não ficaria nem um pouco surpreso em ouvir caso eu passasse em frente à porta de uma boate de rapazes alegres. Uns falsetes para introduizr e um teclado agudo para dar todo um clima. A letra deixa Brandon escapar algumas pistas que revelam que, apesar de toda a pose de "novo adulto com mentalidade de quarentão", Flowers ainda não cresceu tanto assim por dentro. É tipo decorar citações de Niezstche para abafar, mas nunca ler um livro do filósofo alemão... Uma hora você dá uma escorregada. E, como revela o clima dessa música, principalmente no refrão, tais escorregadas podem ser fatais. O disco segue com " For Reasons Unknown", que começa com uma guitarra abafada acompanhando o vocal, mas logo o baixo imprime um ritmo dançante. Então, entram os outros instrumentos, incluindo um teclado repetitivo à exaustão e um refrão mais que esperado, apesar de ser um dos melhores do álbum. Mas, sabendo do estilo que a banda adotou, difícil não esperar outra coisa. A letra parece falar sobre esquecer alguém que gostava muito, sem saber as razões. " Read My Mind", com um início que parece a introdução de uma música do Elton John, a bateria é um dos diferenciais por imprimir mais ritmo a uma canção essencialmente melódica, com o refrão explodindo em guitarras de sempre. A letra, apesar de meio viajada, cheia de metáforas e etc., é claramente romântica, como sugerem as melodias iniciais que aparecem ao decorrer da canção. O refrão é contagiante. Contagiantemente brega, mas ainda assim contagiante. A seguinte " Uncle Johnny" fala sobre o uso de cocaína e a crença das pessoas que isso ajuda a melhorar, esquecer das dores e coisas assim, e é introduzida por uma guitarra rockeira que logo cai de ritmo para uma bem evidenciada cozinha acompanhar os vocais de Brandon. Vale mais pela música inteira do que pelo refrão, com ar de balada gloriosa com pianos e guitarras. Mas digamos que o Killers, apesar de aspirar ser, não tem a mesma pompa, por exemplo, do Queen. Mas o coro de vozes, esse sim, não tem salvação... O segundo single, " Bones", começa com coro e teclados mais do que clichê, que descambam logo para um momento mais roqueiro nos versos, e um óbvio refrão mais melódico. A letra só representa o "amadurecimento" do Killers: de um romance adolescente/novo-adulto tanto descritos por Blondie, New Order e Duran Duran, que chega em um romance tão brega quanto as letras que o Paulo Ricardo fazia para as novelas do SBT... Incluindo todo o amor devoto e auto-degradação. Ainda bem que para obviedades sonoras, o Killers não é a pior banda do mundo, consegue enganar. " My List" começa lentamente, com batida lenta e efeitos controlados, e o vocal de Brandon lento e arrastado, onde os teclados também aparecem lentamente. As guitarras surgem timidamente... E lá vamos nós, outra música com ar piegas... Mas, essa não convence. Os coros, teclados e voz chorosa em dose megalomaníaca só faziam sentido mesmo nos anos 70. E mesmo assim, nem para todos. Mesmo nos anos 70, seria uma música comum entre tantas outras que se utilizavam da mesma fórmula... Fugindo do ritmo de balada, entra " This River Is Wild", guiada por baixo e teclados em ritmo sinuoso, que dão espaço para guitarras dessa vez mais consistentes e firmes. E o refrão, este sim, faria um grande sucesso nos anos 70. Faz até esquecer a chatice da anterior. Talvez a que mais emita ecos do álbum anterior, mas ainda assim mergulhado nas referências do atual. E ficou bom. Uma das músicas que evitam esse álbum ser um álbum entre tantos outros, ou então um caso bizarro e forçado de amadurecimento precoce, que não convence... " Why Do I Keep Counting" é aquela típica balada, que começa lenta, com tecladinhos melosos, com algumas passagens mais dançantes - a única variação. Aí a balada tem a entrada de guitarras, o coro acompanha, Brandon engrossa a voz, Freddie Mercury se revira no caixão... O de sempre. Açucarada o suficiente para que você aguente ouvir uma ou duas vezes. E o álbum encontra seu final com " Exitlude" que nos teve seu refrão apresentado com "Enterlude", a segunda canção. O coro de vozes está mais bregas que nunca, os teclados também não tem muita diferença do resto das baladas do álbum, tudo imprimindo a canção um ar de despedida. No meio da canção, há uma parada instrumental onde Flowers canta com voz distanciada, até a música sumir. Sei não, mas já ouvi isso antes... E se você for sortudo de encontrar a edição especial, você leva na faixa duas faixas bônus para casa : " Where The White Boys Dance", uma interessante mistura de balada melosa e dance music ; e " All The Pretty Faces", iniciada por dançantes guitarras, que logo são acompanhadas pela cozinha e entra a voz do vocalista acompanhada dos teclados. Sem a pretensão de soar como Mercury e John, consegue também ser interessante, com Flowers soando mais naturalmente, e mais dançante também. As melhores do álbum e... Opa... Peraí... Elas não são exatamente do álbum... Não há nada de mal em modificar o próprio som, ou em progredir, ou evoluir, ou tentar outras referências... Mas tentar parecer adulto no segundo disco? A maturidade sonora, assim como a maturidade do ser humano, é algo que vem com o tempo. Para que o U2 gravasse " Achtung Baby" e se reinventasse, levou uma década. O Queen só trocou de referências sonoras de forma segura quando a década seguinte entrou. O Blink 182 passou muitos anos falando quase exclusivamente de sacanagem, zoofilia, consolos, pombas e o que mais fosse engraçado antes de experimentar outra coisa e tentar um som mais sério. Não que não existam casos que sejam exceção à regra - vide os Beatles. Mas os Killers, como dá para perceber, não são os Beatles. Nem o Queen. São uma banda para divertir em festas, tanto as de pattys & boys quanto as de rockers. Não uma banda de rock de arena. Não que tenha algo de errado em ousar, mas este não é um álbum ousado. É uma troca de referências dançantes por referências melódicas, o que falta de coragem e sobra em arrogância constrói um álbum que, apesar de diferente, é beeem previsível. Como avisa a capa, apesar de tentar parecer ser tão bom quanto uma mulher gostosa, deu bode. Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 8:45 PM
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sábado, novembro 25, 2006
Beach Boys - Pet Sounds
Os anos 60 experimentaram revoluções em todos sentidos. Culturamente e socialmente. O especto da Guerra Fria, a divisão do mundo em dois pólos, a presença das ditaduras militares nos países latino-americanos, a Revolução Cubana, a guerra do Vietnã, o festival de Woodstock, o festival de Altamont, os movimentos hippie e beatnik, a bossa nova, o movimento Tropicalista, os Panteras Negras, o feminismo, o lançamento do primeiro computador pela IBM, a descolonização da África e do Caribe, a chegada do homem à Lua... Quando Stanley Kubrick, Frederico Fellini, Jean-Luc Godard lançaram seus primeiros sucessos ("Dr. Fantástico", "A Doce Vida", "Acossado", respectivamente), filmes viravam ícones da década, tal qual a série "007" e as películas "Easy Rider/Sem Destino" e "Blow Up/Depois Daquele Beijo". Onde líderes políticos como Che Guevara, Charles de Gaulle, Juscelino Kubitschek, Kennedy, Nixon, Mao-Tsé Tung, Fidel Castro e outros entravam no anais da história. Musicalmente, então, não era diferente. O Rock, revelado ao mundo na década passada por Elvis Presley, Bill Haley And His Comets, Chuck Berry, Little Richard, Buddy Holly e outros, agora ganhava mais força, com centenas de bandas de garotos tocando rythm 'n' blues de um lado, e bandas formada por hippies criavam um rock experimental e psicodélico. Mas estas não eram barreiras intrasponíveis; os verdadeiros rivais na época, Beatles e Beach Boys, e não Beatles e Rolling Stones como dita o senso comum, faziam uma competição para ver quem iria fazer o melhor disco. O líder dos 'garotos da praia', Brian Wilson, ficou maravilhado com o que ouviu em "Rubber Soul" dos Beatles, e então enfiou na cabeça que Paul McCartney era seu maior oponente. E as barreiras começavam a ser quebradas, e essas bandas encontravam a experimentação. Os Beach Boys, que até então, eram uma das bandas norte-americanas mais bem sucedidas, com seus rocks felizes de letras ingênuas - como os hits "Surfin' Usa", "California Girls", "Barbara Ann" e "Do You Wanna Dance?" - sobre garotas, praias, surf, Califórnia e tudo o mais, mudou radicalmente. Uma mudança que iria chacoalhar as estruturas do mundo do Rock. O já supracitado vocalista, tecladista, arranjador e baixista, guitarrista Brian Wilson se enfurnou em uma casa de campo, cheia de instrumentos e animais de estimação, tendo como parceiro o letrista Tony Asher e voltou de lá com algo surpreendente, completado pelo time de músicos Mike Love nos vocais e backing vocals, Carl Wilson no violão, vocal e backing vocals, Al Jardine nos vocais e Dennis Wilson na bateria e vocais, mais 55 músicos, que gravaram violino, percussão, violoncelo, viola, trombone, clarineta, sax, flauta, acordeão, trompete, baixo e gaita, entre outros instrumentos. O resultado é o "pet disc" de qualquer rockeiro que se preze. "Pet Sounds" de 1966. O parcialmente surdo e mentalmente perturbado Brian mostrava-se um gênio. E, diga-se de passagem, um dos maiores. Inovando tanto nas técnicas de gravação quanto de produção, um mundo colorido, alegre e triste, romântico e nostálgico e com tantas outras facetas, aparece aos nossos ouvidos... Algo que não esperávamos encontrar quando vemos um disco que tem a curiosa capa de cinco rapazes de aparência até normal para os anos 60 cuidando de cabras... Primeiro somos testemunhas de "Wouldn't It Be Nice". Brian Wilson divide os vocais com Mike Love, em linhas vocais belíssimas, onde ele deseja ficar mais velho, para viver para sempre com uma pessoa. "Você sabe que quanto mais conversamos/Pior fica viver sem você" e "Tempos felizes tempos passado juntos/Eu queria que todo beijo fosse interminável/Não seria legal?". Uma das melhores aberturas de disco já feitas. "You Still Believe In Me" é outra pérola doce. A música inteira é desarmante, capaz de fazer corações de pedra voltarem a bater. A letra romântica, junto com os belíssimos backing vocals e uma forma nova de se utilizar a escala (crescente e com pausas). Mesmo assim, feita com todo o cuidado para agradar o ouvinte de estar ouvindo um saudável (mas revolucionário) disco de música pop. A terceira canção é "That's Not Me", singela, pop e talvez a mais direta, com destaque mais para o grudento instrumental e o refrão que fica fixado na cabeça, com os vocais de Mike e Brian em uma letra também simples, sobre uma pessoa insegura. Com menos ares de balada, e mais para um pop lento e melódico. Uma sequência incansável de boas músicas, pois logo somos presenteados com "Don't Talk (Put Your Head On My Shoulder)", uma das mais lentas do álbum, e por consequência, uma das mais sentimentais também. Os violões e violinos alcançam um momento sublime. O refrão é terminado com um falsete de arrepiar, por demais excelente. "I'm Waiting For The Day" , com grande percussão e teclados, em uma música que é impossível não te deixar com um sorriso no rosto. O vocal de Brian Wilson acompanhado por uma sucessão de instrumentos, onde ele canta "Eu sei que você chorou, e você se sentiu triste/Mas quando eu pude eu te dei forças/Estou esperando pelo dia/Quando você vai poder amar de novo". Uma das melhores canções do álbum. Ouvimos uma música instrumental intitulada "Let's Go Away For Awhile", onde sentimos todo o cuidado e preciosismo que Brian teve compondo o álbum, fazendo desse instrumental um momento mágico, com um luminoso teclado distribuído pela música e instrumentos de sopro retraindo-se e crescendo, assim como um surgimetno ocasional da bateria. "Sloop John B" foi a primeira música a ser gravada pela banda, e é regravação e adaptação de uma música folk do oeste da Índia, onde os teclados tem um de seus melhores momentos, e a bateria também, fazendo essa uma das músicas mais altas e fortes do álbum, fazendo em alguns momentos lembrar a fase anterior da banda, apesar da instrumentação complexa ainda se fazer presente. Permeada por um refrão marcante, que soa meio ingênuo de tão melódico. Contra fatos, não há argumentos... "God Only Knows" é uma das mais belas canções de todos os tempos. Segundo Paul McCartney, ele ficou com raiva de Brian Wilson quando ouviu esta música, e declarou que essa era a música mais perfeita de todos os tempos. O vocal de Carl Wilson torna a música única, em uma das letras mais românticas já escritas, com um refrão que chega a emocionar: "Só Deus sabe o que seria de mim sem você". Apesar de tão curta, ela é repetida à exaustão. É impossível não se sentir realizado ouvindo uma música tão bela, e que música pop pode deixar-nos felizes. E o nível não cai, incrível! "I Know There's An Answer", com Mike, Brian e Al Jardine nos vocais principais, em uma das melhores sessões de percussão do álbum. O teclado soa singelo, belo e inocente; o refrão é mágico, e sua paradas instrumentais retomadas por instrumentos de sopro em destaque são uma beleza de encher os olhos. "Here Today" é outras das melhores do álbum, com um dos melhores refrãos entre as treze músicas dessa bolacha, com uma letra reflexiva sobre o amor. Aliás, a música inteira é marcante, é impossível não sair cantando-a, tentando imitar Mike Love. Por que ela é tão mágica? A aura pop e familiar do álbum parecem responder essa pergunta... É impossível ouvir e não lembrar de momentos felizes e/ou românticos de nossas vidas. A seguinte é "I Just Wasn't Made For These Times", sobre uma pessoa insegura, que não se sente capaz de suportar momentos de tristeza, acha que simplesmente não foi feita para estes momentos - seu desejo maior é ser feliz. Musicalmente, a música chega a ser viajante, seja em suas passagens mais pop quanto em seus momentos mais experimentais. Falando em viajante... Entra a faixa título, a instrumental "Pet Sounds", onde, sem os emocionados vocais, os arrepiantes backing vocals e tudo o mais, podemos perceber em plenitude toda a experimentação que Pet Sounds movia na época. Os instrumentos alternam-se e fazem parceria. Mágica. E o álbum encontra seu final com "Caroline, No", com a percussão introduzindo a canção, que logo dá espaço para melodias de cordas e as usuais harmonias vocais de altíssima qualidade. Brian Wilson, indo do tom normal ao falsete, imprime uma grande interpretação à música. A canção tem uma letra triste, que parece tratar de despedida, ou levando um pouco além, sobre morte ("...é tão triste observar uma coisa doce morrer", não parece especificamente sobre término de relacionamento ou sobre a morte em si). A canção termina com Banana, o cachorro de Brian, latindo em meio a uma confusão sonora. Se você gosta de Rock, adquira imediatamente. Só não é o disco mais importante da década de 60 por causa do "Sgt. Peppers", dos besouros de Liverpool. Isso o próprio Brian admite, pois quando já sentia que a batalha estava ganha, seu rival Paul e seus comparsas soltaram o sargento Pimenta... E então Wilson pirou quando ouviu o disco. Teve até que fazer terapia. "Pet Sounds" é indispensável para todos: apreciadores de pop, apreciadores de rock, apreciadores de música experimental e minuciosa. Acho que depois de todas essas linhas, não preciso nem dizer que se trata de um dos melhores registros já feitos, não? E lá se vão 40 anos... Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 12:17 AM
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quinta-feira, novembro 23, 2006
Danko Jones - Sleep Is The Enemy
O canadense Dan, ou como é mais conhecido, Danko Jones, apesar de não ser um nome conhecido, é uma figura notável para quem o conhece. Esse vocalista/guitarrista há seis anos vem capitaneando ao lado da seção rítmica do baixista Scaltro (John Calabrese) e do baterista Gran Sfigato (Damon Richardson) um power-trio garageiro de produtividade notável (três álbuns, contando com este, e um EP em pouco mais de uma década), com a sonoridade guiada pelas guitarras à-lá AC/DC e Thin Lizzy, vocais cuspidos, refrãos contagiantes, riffs simples mas diretos. Após o destruidor "We Sweat Blood" de 2003, Danko e seus capangas voltam com um trabalho que parece mais um amadurecimento do anterior - não que as juvenis, arrogantes e safadas letras tenham mudado muito, mas eles estão pouco a pouco refinando sua sonoridade, acrescentando mais melodia e menos saturação. O som não é a coisa mais original do mundo, mas em questão de música feita para dançar, agitar e animar, ganha de longe de artistas feito Andrew WK. Porém, como o trio afirma no título do álbum que lançam neste anos de 2006, "Sleep Is The Enemy"; um trabalho mais melódico nem por isso será mais manso. Produzido por Matt DeMatteo e masterizado por Ted Jensen (responsável pelos últimos trabalho do Green Day e do R.E.M.). "Sticky Situation" começa com um riff pausado que parece rugir, com Danko cantando velozmente, que descamba para uma passagem mais melódica, mas logo cai em um refrão direto, repetido à exaustão o nome da música e com um interessante solo, que destoa do resto da música. "Você sabe que ele quer você, mas você não quer mais ele/Essa é uma situação grudenta!" grita o vocalista no refrão, falando sobre um relacionamento difícil. A seguinte, um dos singles, "Baby Hates Me" é mais AC/DC o possível, a não ser pelo refrão, mais Thin Lizzy, com a seção rítmica servindo de backing vocal no mesmo. Você chega até a perguntar se o Brian Johnson não vai cantar na música, mas o vocal de Danko mostra que esse é o Danko Jones mesmo, prestando um tributo musical à uma grande influência e cantando, novamente, sobre um relacionamento no final: "Eu costumava te amar (Baby)/Mas agora eu não quero (Eu sei que você me odeia)"... Mas ele ainda declara que gosta dela no final do refrão quando Gran e Scaltro cantam "Você me encantou/E você pode me mudar" e Danko vocifera "Eu costumava te querer/Mas agora eu não quero". "Don't Fall In Love" é introduzida pela bateria e vem mais lenta, mas nem por isso menos áspera, a não ser por uma ou outra passagem mais melódica, tanto das guitarras, quanto do vocal de Danko, que alterna o falsete e o vocal rasgado em um curtíssimo espaço de tempo, onde o vocalista mostra sua pinta de mal-encarado ao declarar coisas como "Todos querem se apaixonar - Eu não!" e "E quando o rádio/Toca uma canção de amor/Uma coisa você tem que saber/Eles estão todos errados!". A banda quase produziu a canção mais pop da sua carreira, mas inseriu bastante eletricidade e sua pouca ou nenhuma sutileza para não deixar isso acontecer. Entra "She's Drugs", botando o pé no acelerador, e caindo em uma estrutura mais dançante. Mas quando chega no refrão, não deixa a peteca cair, e a música acelera novamente. Uma música perfeita para suar a camisa, berrar o refrão, socar o ar, e mais movimentos característicos... E na letra, o vocalista fala sobre uma garota que vicia, só de olhar para ela. Danko sempre escolhe a forma mais bad boy de falar sobre amor... O álbum continua com "The Finger", recarregando o peso nas guitarras, com o ritmo fixo da bateria casando muito bem com a força da música, e um refrão menos melódico, talvez a que mais lembre o álbum "We Sweat Blood", por ser mais cuspida e menos cantada. As paradinhas da guitarra que abrem espaço para Danko gritar são por demais empolgantes. "First Date", outro single, começa com uma guitarra pausada, e que entra em uma música dançante, onde Danko canta sobre o primeiro encontro com uma garota, culminando o refrão "E eu disse, você beija no primeiro encontro?/Porque eu sim!". Vale a pena conferir o impagável clipe, onde Danko interpreta um vampiro seduzindo uma loirinha. Impagavél também, na própria canção, é a estrofe falada por Danko, após o barulho de uma campainha, onde ele elogia a garota, pergunta se pode segurar a mão dela, fala que vão ao cinema, vão jantar, andar, olhar a luz da lua, tudo que ela quiser. Quando o vocal fala "Mas eu tenho uma questão...", é desculpa para o refrão ser cantado de novo. Seguindo com "Invisible", outra canção mais direta, Hard-Rock-tapa-na-orelha, onde com sua voz rasgada, Danko descreve que só segue a vida de bad boy por causa de uma garota. A canção tem a participação do ex-vocalista do Kyuss John Garcia, onde ele e Danko repartem os vocais, com Jones lamentando e Garcia consolando. A canção até chega a lembrar o Stoner praticado pelo extinto grupo. "Natural Tan" tem um início introduzido pela cozinha... E a bigorna cai de novo. A canção, como sempre, trata do problema que são as mulheres, esse bicho que nos conquista e nos destrói, que a gente acusa e chora as mágoas com o amigo, seduz e depois larga de mão, ama e odeia... E que, como diz o título do álbum, causa insônia por medo de sonhar com as ditas-cujas. Mas Danko faz de forma que isso sempre fique divertida. E tudo o que agrada na banda está aqui: paradas de guitarra, refrão empolgante, berros, o tom de voz arrogante e a atitude marrenta... A próxima é "When Will I See You" dá um susto de início - a introdução parece Bon Jovi, ou algo assim... Mas logo Danko lembra que ele gosta de Angus Young e não de Richie Sambora, e mete peso áspero na guitarra, apesar dos vocais e do refrão mais melódico. Ainda bem que a canção não é totalmente calcada na melodia, acrescentando eletricidade, mas dosando as duas o suficiente para não destoar enormemente do resto do álbum, ou então deixar o ouvinte com a idéia de música repetida. "Time Heals Nothing". Essa sim que vai chocar os fãs mais conservadores da banda... Pois aqui a banda introduz elementos eletrônicos, junto a guitarras mais cadenciadas e um vocal desleixado por parte do vocalista. Mas calma, calma! Esse é Danko Jones, meu rapaz! O refrão explode em guitarras, para logo ser devolvido à sua estrutura. Ah, quer saber? O resultado ficou até interessante. Não é a melhor música do álbum, mas não é nem de longe uma música ruim. O álbum chega no seu final com a faixa-título, "Sleep Is The Enemy". E se a anterior estava lenta demais... Essa aqui chega pra detonar, com as guitarras socando o estômago, dando cotovelada na testa e puxada na orelha. Violento demais? Claro, pois acalmar para depois soltar uma porrada dessas é uma estratégia de boxeador profissional! A parte mais lenta até engana, pois logo a música volta a acelerar e pesar de novo. O álbum acaba com um grito. E, sinceramente, o que me revolta é que um cara como Danko Jones não seja tão conhecido. Da sua faceta mais crua, passando pela mais extrema e agora chegando à lapidação, porém com alterações tão mínimas que você sempre sabe o que encontrar em um disco dele: um cara cheio de arrogância, fazendo uma porradaria sem concessões, sem esperar que lhe dêem permissão ou não. Altamente recomendado para quem se delicia ouvindo Queens Of The Stone Age, Hellacopters, Gluecifer, Turbonegro e Backyard Babies. Conheça o trio mais elétrico, pervertido e arrogante da década até agora e boa diversão. "Danko Jones é o cara. Sempre foi e sempre será. Como Ramones, AC/DC e Popeye, ele é o que é, e só. Faz apenas uma coisa, mas faz isso melhor que qualquer um." (Howard Druckman) Marcadores: Resenhas
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domingo, novembro 19, 2006
MC5 - Kick Out The Jams
Quando você define uma banda de som áspero e incansável como sendo um grupo movido a sangue, suor e Rock And Roll, há de se ter consciência que o sangue veio dos Stooges, com Iggy Pop literalmente dando sua hemoglobina em cima do palco com a ajuda de cacos de vidro e brigas com gangues; e uma outra banda de Detroit na mesma época que Iggy e seus patetas apresentavam ao mundo o sangue e a perversão sexual, mostrava como fazer rock saindo das glândulas sudoríparas; este eram os cinco da cidade do motor (famoso apelido de Detroit), os MC5. De 1969, " Kick Out The Jams" é tradução literal de energia em estado bruto e de bate-estaca incessante e animalesco, com o vocalista Rob Tyner, os guitarristas Wayne Kramer e Fred "Sonic" Smith - estes, dois dos principais precursores da guitarra agressiva no Rock, e a cozinha do baixista Michael Davis e Dennis Thompson, o MC5 gravou seu primeiro registro ao vivo, captando toda sua potência e toda a exaltação que causavam no público. Empresariados por John Sinclair, um ativista político de esquerda que fundou o grupo White Panthers, que pregava a legalização da maconha e o amor livre sem tabus, como por exemplo, seu incentivo à prática de sexo na rua, algo apoiado pelo MC5. Foi o empesário um dos fatores que levou o MC5 a ser uma das primeiras bandas que ligaram rock à política, o que levou a banda a fugir várias vezes da polícia, devido ao fato de o governo de Richard Nixon estar nos seus dias de maior repressão e caça ao antiamericanismo. Imagine você em frente a um palco na época, em um local cheio de gente com idéias modernas, com a polícia de Nixon rondando por perto, pronto para reagir caso qualquer mensagem de protesto fosse dita em público... E então entram nos palcos uns cabeludos que parecem nunca ter visto um pente na vida - principalmente pelo blackpower de Tyner, vestindo jaquetas de couro, jeans, ternos amassados, ou então deixando o torso nu... Cada um vai para sua respectiva posição, e numa bela atitude de "foda-se a repressão nixoniana", eles começam a mandar bala... " Ramblin' Rose" abre o álbum ao som de gritos e palmas e Tyner cativando o público a se exaltarem e irem contra o sistema vigente e apresentando a banda. Logo entra um rockabilly acelerado e cheio de vigor, com Rob cantando em falsete enquanto a dupla de guitarras pega fogo. Na letra, vê-se uma crítica ao american-way-of-life. "Anéis de diamante/E um carro Cadillac/Rosa perambulante/Venha para casa". Sem segredo, " Kick Out The Jams" é uma das músicas com mais energia em todos os tempos. Poucas músicas chegam perto. Ao clássico comando de Tyner, somos atingidos pelo clássico que qualquer banda de garagem que se preze já tocou. Uma música com peso e agressividade incomuns para os anos sessenta, em uma letra cantando sobre sexo e música, que mesmo com metáforas, está muito na cara. Porradaria intensa... Quem não se contagiar e começar a bater o pé, agitar a cabeça, contorcer o pescoço, sacudir o esqueleto, golpear o ar e movimentos afins... Está, provavelmente, com surdez. " Come Together" não facilita muito as coisas... Praticamente emendada à anterior, porém um pouco mais lenta, é permeada por microfonia, vocais berrados, guitarras inflamadas e novamente uma letra fazendo apologia ao sexo, como os versos "nos deixe dançar a dança" e "juntos, sim, juntos na escuridão" deixam subentendido. Um convite a todos para dançar e botar os demônios para fora. A próxima é " Rocket Reducer No. 62 (Rama Lama Fa Fa Fa)", introduzida com Rob anunciando o nome da canção e os instrumentos ameaçarem entrar , cheios de microfonia, para só então, depois de alguns segundos de quase-silêncio, entrar mais pancadaria insana, com o MC5 demonstrando ser uma banda de peso inédito e ousado para os hippimos dos anos '60, com mais uma letra que seria considerada imoral e pervertida... Atestam isso os versos "Eu sou o cara para você, baby", "Eu sou um apertador de bundas por natureza/E eu não me importo". Infernalmente àspera aos ouvidos de qualquer moralista. Uma explosão de energia para qualquer um que tenha ao menos um pouco de libido no sangue... " Borderline" é mais rock dos anos 50 somado a blues e posto à velocidade da luz e distorcidos mais que o limite do aceitável. Rob Tyner não sabe se canta ou berra e o resto da banda realiza paradas instrumentais para logo retomar a velocidade. E na letra, o cara sente-se no limite por necessitar da garota. E a banda toda também toca no limite, com uma selvageria inimaginável, em anos onde, na grande mídia, o mais selvagem que existiam eram os Rolling Stones e suas leves insinuações sexuais. Protestos pela voz do vocalista abrem a blueseira " Motor City Is Burning", um petardo distorcido e dançante, com uma letra inflamada, protestando contra Detroit, a guerra do Vietnã, a indústria belicista e a repressão do governo. Também há um viajante solo de guitarra, o momento mais leve da canção, mostrando que, além de ter uma das instrumentações mais agressivas para a época, também tinham um dos vocais mais rasgados e roucos da época. É ouvida então " I Want You Right Now", com começos falsos que introduzem uma das melhores performances guitarreiras de Wayne e Sonic Smith, e provavelmente o vocal mais rouco do álbum. Menos protopunk e mais rock, onde se vê que eles não eram apenas animais selvagens nas guitarras - também sabiam transmitir uma musicalidade exuberante. Mesmo sendo mais lenta, o clima é muito intenso, a banda quase parando, Rob insistindo em cantar e gritos do público deixando o ouvinte contagiado, e Tyner começa a gemer como se estivesse excitado, ou talvez estivesse, isso é uma coisa que eu não sei... O título já dá uma boa idéia de como é a letra, presumo... " Starship" é a maior da banda, beirando os oito minutos e meio, onde a banda mistura seu rock furioso às experimentações do Free Jazz, soando como se eles estivessem construindo a música enquanto a tocam. A letra não tem toda aquela perversão protopunk, é mais viajadona, psicodélica... Reverberações, microfonias e distorções que só os Stooges e o Velvet Underground além deles experimentavam na época, mais de vinte ou trinta anos antes que bandas experimentais como o Sonic Youth, Nirvana e outros começassem a trabalhar com tal conceito... Viagem ao canto mais pervertido, selvagem e confuso da sua cabeça... Enfim... O que faz um disco como esse ser idolatrado? Acho que você já percebeu! Energia, visionarismo, coragem, hedonismo, aspereza, suor, velocidade, carisma... São algumas características como essa que ajudaram a escrever o nome MC5 nos anais do Rock, e cá entre nós, com muita justiça... Uma das perfeitas uniões de música agressiva e consciência política, antecedendo em décadas o hardcore, o Gang Of Four, o Rage Against The Machine, o System Of A Down, entre todas as outras bandas que levantaram a bandeira do protesto através de música elétrica, com amplificadores ligados lá nas alturas... Simplesmente imperdível. Um dos melhores registros para a época, e um dos melhores registros ao vivo que eu já ouvi. Isso que é saber fazer escola, tanto musicalmente quanto na postura das bandas de rock com falta de medo o suficiente para entrar em conflito com os valores pré-estabelecidos... O quê? Você ainda não ouviu? Pois baixe, compre, peça emprestado do seu amigo viciado em rock e nunca devolva... pois, right now, it's time to... ...KICK OUT THE JAMS, MOTHERFUCKERS! Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 10:14 PM
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sexta-feira, novembro 17, 2006
Evanescence - The Open Door
Caso o caro leitor ainda se lembre do Evanescence, banda que estourou há três anos atrás em uma acertada fusão de elementos pop, industriais, metálicos e newmetálicos, que por muito tempo dominou as paradas com hits como " My Immortal", " Everybody's Fool", " Going Under" e a tocada à exaustão " Bring Me To Life", em 2006 eles voltam com um novo álbum, intitulado " The Open Door". E quem achava que, junto com Amy Lee, o ex-guitarrista Ben Moody era um dos pilares do grupo no que se referia à composição... Errou feio. Apesar do maior uso de teclados e a colocação discreta de efeitos, o grupo fez praticamente um segundo " Fallen". Não que isso seja ruim, muito pelo contrário, pois essa afirmação nos levaria a uma conclusão que grupos como Ramones e AC/DC também são ruins pelo mesmo motivo, o que, em meu gosto pessoal, não constitui realidade... O problema é que quando Ramones e AC/DC surgiram, houve um motivo especial para tanto destaque; o de eles serem bandas inéditas. Um som que trazia um frescor, que não parecia com quase nada, ou simplesmente nada na época. Fator este que impede o Evanescence de marcar época ou influenciar centenas de milhares de bandas. O grupo formado por Amy Lee nos vocais e piano, a dupla de guitarristas John Lecompt e Terry Balsamo e a cozinha formada pelo baixista Wyll Boyd (agora substituído por Tim McCord) e o baterista Rocky Gray não consegue se livrar da imagem de uma versão mais palatável e moderna de bandas góticas com mulheres bonitas como atrativo maior - como Nightwish, Within Temptation, Lullacry, After Forever, Lacrimosa, Lacua Coil, Tristania, The Gathering, Epic, Lana Lane, Theatre Of Tragedy, etc. - ganhando de forma discreta a desagradável pecha de "banda de introdução ao gênero". Tudo bem que ser original não é nenhuma obrigação nos dias de hoje, mas ficar em lugar comum certamente não destaca ninguém... Até o produtor Dave Fortman é o mesmo que produziu o álbum de maior sucesso da banda. A sonoridade moderna já começa soando alto na primeira música " Sweet Sacrifice", repartida em momentos calmos e pesados, com a voz de Amy Lee dando um açúcar a mais para que a música não caia (totalmente) em lugar comum. Na letra, Amy fala sobre uma relação que está indo para o abismo, enquanto a eu-lírico se sacrifica docemente para suportar, e ela afirma: "Algum dia eu irei esquecer seu nome/E em um doce dia, você afundará em minha dor perdida". Nada que irá chocar quem gostou do que ouviu em " Fallen", apesar da presença melhor inserida dos teclados. " Call Me When You're Sober" é a mais autobiográfica de todo o álbum, sobre a relação dela com o vício em álcool do vocalista do Seether, Shaun Morgan, ex-namorado de Amy Lee. Iniciada com teclados e vocais que abrem espaço para guitarras pausadas, graves e distorcidas. O metal gótico moderno típico do Evanescence, sem a presença de vocais masculinos rappers dessa vez. Shaun detestou a música e o fato dela levar isso a público... Pudera... Acho que a maioria ficaria fulo da vida se a ex-namorada ficasse lavando roupa suja (e admitindo na cara dura o 'muso inspirador' da canção) em frente à milhões de pessoas... Ser celebridade tem seus pontos negativos... A próxima é " The Weight Of The Word", com os teclados soando no mesmo volume das guitarras e Amy Lee exercendo seu vocal operístico, onde ela fala sobre algumas das supracitadas desvantagens da vida de ser famoso. Ela parece querer se livrar de fãs fanáticos, que alienam-se na banda, como vemos em versos como "Não se prenda à mim, eu juro que não posso te consertar" e "Seguro no escuro, como você consegue ver?". Palhetadas acústicas fazem-se presentes discretamente em alguns momentos, mas quase passam despercebidas em relação ao resto da música. " Lithium" é mais operística ainda - uma balada sinfônica-metálica regada principalmente pelos teclados e vocais, com uma presença menor de guitarras, quebrando o clima. Pelo que o título possa dar a entender, não, a música não tem nada de Nirvana... A depressão romântica está presente também, como vemos em "Querido, eu te perdôo por tudo/Qualquer coisa é melhor do que ficar sozinha/E no fim, eu acho que eu falhei/Sempre encontro meu lugar entre as cinzas". Indo para " Cloud Nine", regada a efeitos que revelam o lado industrial da banda, que fazem-se presentes em ruídos de fundo e em certas passagens do vocal, as guitarras são tipicamente new-metal, acompanhados do vocal pop de Amy. A letra vai cada vez mais fundo na depressão, em versos realmente sofridos como "Se eu cair e tudo estiver perdido/nenhuma luz para iluminar o caminho/lembre-se que isolamento é aonde eu pertenço". Os teclados criam um interessante contraste, não seguindo diretamente guitarras e vocais. Mais efeitos eletrônicos em " Snow White Queen", uma das mais interessantes do álbum, onde doces melodias pop introduzem guitarras distorcidas, e ouvimos uma das melhores performances vocais de Amy Lee, indo do pop ao operístico, passando pelo rock. A letra parece falar de um amor obsessivo usando personagens metafóricos, o que não foge muito aos temas abordados pela banda. " Lacrymosa" marca a presença de violinos, vocais-padrão do Evanescence e novamente, uma letra auto-degradativa em "Agora que você se foi/Eu me sinto eu mesma novamente/chorando pelas coisas que eu não consigo consertar e disposta...". Guitarras aparecem sutilmente até ganharem mais volume, apesar de isso não ajudar a tirar a música do que já esperávamos. Melodias tristes introduzem " Like You", outra música que você quase já sabe o que ouvirá: cozinha lenta, vocais tristes, guitarras distorcidas soando mais discretas. "Eu quero ser como você/Repousar fria na terra como você", afirma a letra. As guitarras distorcidas só surgem em alto e bom tom para o final da canção, ainda em ritmo lento. " Lose Control" é um pouco inusitada. Um início clichê de pianos e gemidos operísticos compartilham espaço com batidas eletrônicas e voz sobreposta. E antes da metade, surgem as guitarras, levantando a música, fazendo uma das surpresas despercebidas do álbum, ao criar um fundo eletrônico, de recheio moderno e cobertura melancólica. A próxima é " The Only One", introduzida com uma bateria em ritmo reto e teclados lentos e vozes em overdub (colagem, sobreposição) dão espaço para guitarras surgirem, brotando aos poucos, mas logo sumindo para uma volta à ópera, que por sua vez, dá espaço para as guitarras. Acho que já vi uma música assim hoje... Segue-se " Your Star", outra balada, com teclados tristes e vocais altos e melancólicos, em uma ambientação mais espacial. A coisa só melhora quando a cozinha e as guitarras surgem, pondo mais velocidade à canção, com paradas para um piano mais acelerado. Tudo bem que um álbum só de bordoadas nos ouvidos seja chatinho de escutar, mas o inverso também vale. Um pintor que sempre usa vermelho sempre irá fazer quadros vivos, porém repetitivos; porém um pintor que quase nunca o usa, acaba fazendo coisas apáticas... " All That I'm Living For" quase engana: o seu início parece prometer uma música ao estilo das mais agitadas do Evanescence. Porém, logo pisa no freio, com as guitarras new-metálicas servindo apenas de acompanhamento para vocais pop e teclados previsíveis. Auto-destruição é a tônica da letra, como se vê na segunda parte do refrão "Tudo o que eu queria/Porém eu queria mais/Trancar a útlima porta aberta - meus fantasmas estão lucrando comigo". O álbum encontra seu final em " Good Enough", e eu juro que não estou de provocação, mas é outra carregada balada de piano. Os momentos mais acelerados do Evanescence foram reduzidos de três ou quatro para um ou dois, pelo jeito... A letra, ao menos, é boa, falando de um amor doentio, onde ela está totalmente dependende dele, como vemos logo de início em "Sob seu feitiço de novo/Eu não consigo dizer não pra você/Cravou meu coração e ele está sangrando na sua mão/Eu não consigo dizer não pra você". Enfim, se " Fallen" era um álbum mediano de uma banda até promissora, Amy Lee preferiu levar a coisa um nível um pouquinho maior, tornando o Evanescence uma banda mediana. Não é a maior porcaria do mundo... Mas também não é o grande disco de Rock desse ano, ou da década. É um repeteco do estilo que a banda desenvolveu em seus primórdios, só que muito mais lento. Só consegue ter mais destaque devido ao fato de ter mais público; daí, então, já sabemos a razão da quase ausência de ousadia: perder os milhares de fãs consquistados em " Bring Me To Life" certamente não está na lista de desejos da banda. Mas as inovações aparecem de pouquinho em pouquinho aqui... Talvez nos próximos álbuns eles acertem o passo... Ou não. E é aí, para a carreira do Evanescence e para o sonho de não ser só uma nota de rodapé na história da música pop do novo século, que mora o perigo. Marcadores: Resenhas
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terça-feira, novembro 14, 2006
Chico Buarque - Construção
Esse ano em que se comemoram 40 anos dos dois primeiros LP's de Chico Buarque: " Chico Buarque de Hollanda" e " Morte e Vida Severina". Dono de umas obras mais vastas aqui no Brasil e além-mar, são 40 anos construindo no imaginário popular um mundo de histórias tristes e usuais, de personagens absurdos de tão humanos que são, de realidade social e muito mais, regado à muita poesia - não é um exagero classificá-lo como um dos maiores poetas brasileiros, e também, um dos maiores vivos. Nascido no Rio há 62 anos atrás e crescendo em São Paulo e na Itália, com certeza Chico não tem muito a ver sonoramente com a maioria esmagadora dos artistas que são publicados aqui, mas a música de Chico muitas vezes combina com o nome deste blog; suas críticas, na época da ditadura, constituíam verdadeiros hinos contra toda a opressão militar do general Emílio Garrastazu Médici; parceiro poético e musical de outros que tornaram-se lendas feito ele, como Vinícius de Moraes, Toquinho, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Tom Jobim, Zizi Possi, entre outros. E " Construção", de 1971, é um dos álbuns que mais afirmou ao mundo quem era Chico Buarque. Não apenas mais um sambista, mais um poeta, mais um escritor que emplacam poucos clássicos ao longo da vida e são nostalgicamente lembrados. Munido de violão e um vocal limitado, Chico não descobriu a pólvora - o descobridor foi João Gilberto, que com " Chega de Saudade", música guiada por voz fraca, flauta e mais balanço que a música que se produzia até então, uma música pesada, dramática e cantada com potência - mas contribuiu para que ela continuasse estourando. O álbum abre com a clássica " Deus Lhe Pague", uma das melhores letras de Chico. Entremeado por um instrumental quase soturno, Chico declara em versos cativantes e muito musicais, ele talvez faça uma referência à ditadura que alienava o povo na época, como se vê em versos como "pela piada do bar e o futebol pra aplaudir", "pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi" e pelas atrocidades que tínhamos de aguentar em "Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir", até encontrar o final derradeiro na morte em "Pela mulher carpideira, pra nos louvar e cuspir/E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir/E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir", sempre terminando com o título da canção, ironicamente agradecendo o fato de estar sob uma ditadura, ser alienado e repreendido. " Cotidiano" tira o teor político do álbum, iniciado por instrumentos de sopro. É um dos muitos clássicos de Chico, mas este representa seu lado romântico. Quem não conhece os versos "Todo dia ela faz tudo sempre igual/Me sacode às seis horas da manhã/Me sorri um sorriso pontual/E me beija com a boca de hortelã"? As paradas instrumentais da música lhe dão um ar mágico, nessa letra em que o cotidiano que tantos detestam é representado com toda a beleza da poesia de Chico. Mágica. A seguir ouvimos " Desalento", em uma das muitas letras tristes de Chico. Ele pede para contarem para uma mulher que ele morreu, que ele está louco, ou que está infeliz. Uma das músicas mais doces do álbum, e com um dos vocais mais despretensiosos de Chico, que expressa uma grande insatisfação consigo mesmo. Tem a duração aproximada da canção predecessora, e apesar de não ser tão lembrada, também tem todo o seu charme. E entra. Toda vez que " Construção" começa, ficamos perplexos a cada verso desferido por Chico, acompanhado por um instrumental contido de início. Conta a história de um homem que certo dia saiu de casa e foi trabalhar em uma construção. Lá, ele se embebeda e começa a caminhar em cima dela, e cai. O jeito que Chico, da primeira vez, diz "Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego", como se estivesse contando uma coisa corriqueira, começa a crescer, e vocais começam a lhe acompanhar, e a música cresce em tensão, até que pára para Chico cantar com sua voz em tom corriqueiro. Na terceira vez, conta como se o homem tivesse tornado um autômato que sofre uma desvaria, e que atrapalha o funcionamento das outras coisas. E " Deus Lhe Pague" surge do nada no meio da música, desferindo um ataque disfarçado, cansado de toda as atrocidades descritas como coisas corriqueiras. Enfim, por mais que eu gaste linhas, não conseguirei definir essa obra-prima... Ouça e sinta. " Cordão" é bem mais leve que a anterior, com uma canção que pode tanto ter um significado político quanto romântico, como canta um apaixonado Chico em "Ninguém/Ninguém vai me segurar/Ninguém há de me fechar/As portas do coração", sobre um instrumental bem mais relaxado, criando um verdadeiro contraste. Caso o lado político seja verdade, Chico foi um dos maiores profissionais em verter protestos em obras de arte... E essa música é um atestado. A seguinte é " Olha Maria", guiada por piano, por flauta e pelo vocal de Chico, nessa linda música composta por ele, por Tom Jobim e Vinícius. A mais longa depois de " Construção", beirando os quatro minutos. A música é realmente emocionante. Para alguém sem grande potência vocal, Chico vale-se de um impressionante poder interpretativo. A letra fala de separação, de uma mulher que parte atravessando o mar e chorando, pois de fato, não queria ir (uma provável referência ao exílio). A canção some aos poucos, com o piano sozinho. O samba volta em " Samba de Orly" clássico de Chico, Vinícius e Toquinho, uma referência ao exílio. "Pede perdão/pela duração/Dessa temporada" já deixa isso subentendido. E entram outros vocais para acompanhar Chico, no refrão. O curioso é que essa música, escrita por Toquinho quando este visitou Chico no exílio. Vinícius, ciumento, leu a letra e trocou os versos supracitados por "Pede perdão/pela omissão/um tanto forçada" que a ditadura vetou. Após Toquinho contar isso pra Vinícius, o mesmo disse: "tudo bem, Toco. O verso sai, mas a parceria fica!". " Valsinha" merece ser chamada no diminutivo mesmo, apesar de ser um musicão... Instrumental discreto que cresce melodicamente, com um vocal baixo de Chico. Parceria com Vinícius, os dois escrevem sobre um casal que parece redescobrir a magia do amor, que faz toda a cidade se iluminar de novo. E como o próprio Chico diz na canção para encerrá-la, "E o dia amanheceu em paz". Uma das muitas histórias cativantes cantadas por Chico, " Minha História (Gesubambino)", na verdade, é uma versão que ele fez dos compositores Dalla e Pallotino. Conta a história de um marinheiro que chega na cidade e faz uma moça ficar apaixonada e com um filho dele. Ao final da canção, em um momento particularmente ousado para a década, ele diz ser conhecido pelo nome de Menino Jesus. Não o famoso, mas um outro, que ganha vida nas palavras proferidas por Chico. O disco encontra seu final em " Acalanto" a canção mais curta do álbum, nem chegando aos dois minutos. Em uma melodia doce, Chico mostra mais uma vez como a sua voz, apesar de muitas vezes subestimada, pode muitas vezes tocar as pessoas a fundo. Talvez por não ser um deus da voz, e sim, um cara cantando ao violão, de voz simples, assim como nós. "Dorme minha pequena/Não vale a pena despertar", canta um sereno Chico em uma canção que mantém-se do início ao fim bela, austera e gentil. Era este o início. Chico Buarque começava a dar suas contribuições para que a cultura brasileira torne-se tão rica. Ainda comporia mais clássicos, ainda inventaria mais personagens, e por esses 40 anos de indústria fonográfica e música tão boa, caro Chico... Deus lhe pague. Marcadores: Resenhas
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sábado, novembro 11, 2006
The Raconteurs - Broken Boy Soldiers
Quem diria? Até o indie rock tem seus dream teams... E este, especialmente, foi formado por uma verdadeira panelinha. Certa vez em Detroit, o então White Stripes Jack White assistiu um show do trio Greenhornes, e não acreditou que a banda fosse americana de tão mod que o som era. Em 2004, White produziu e dois terços dos Greenhornes - o baixista Jack Lawrence e o baterista Patrick Keeler - gravaram como músicos de apoio em um álbum country da cantora Loretta Lynn, de nome " Van Lear Rose", que atingiu o segundo lugar na Billboard e ganhou dois prêmios Grammy. Um belo incentivo, né não? Noutra, um jovem guitarrista de nome Brendan Benson, criado em Berkeley, estava em Detroit para conhecer a cena alternativa do local, após enfrentar duras penas com a burocracia da gravadora Virgin, com qual assinou para lançar o álbum " One Mississippi", que acabou tornando-o um fracasso de vendas, provocando a dispensa de Brendan. Num shows undergrounds desses da vida, conheceu o brnaquelo e cabeludo Jack White, que sabia a música " Isis" de Bob Dylan de cor e salteado. Logo, os dois estavam fazendo shows onde um tocava as composições do outro, e até juntos em uma banda sem nome, que ficou conhecida por The Bricks. Isso ocorreu em 1997, mesmo ano em que o White Stripes era formado. E com o início de novo século e milênio, o embrião do Raconteurs continua se formando. Em 2002, Brendan Benson toca a música " Jetlag" com Meg White no Reading Festival. Em 2003, os White Stripes fazem uma releitura de " Good To Me", de Benson, para lado-B do single " Seven Nation Army", que continuaria sendo tocada ocasionalmente pela dupla em shows. Em 2004, Jack White ajuda Brendan Benson a terminar uma música que seria o primeiro single dos Raconteurs, e espalha-se o boato que Brendan teria entrado para o White Stripes. Benson produz e toca em " Let's Make Our Descent", de 2004, dos Waxwings, grupo do tecladista Dean Fertita, integrante extra-oficial do Raconteurs. No ano passado, 2005, o Greenhornes lançou EP " East Grand Blues", produzido por Brendan. Em junho do mesmo ano, Patrick Keeler faz algumas fotos de divulgação do disco " Get Behind Me Satan" dos Stripes, e em setembro, os Greenhornes e Brendan Benson se revezam na abertura dos shows da turnê ianque dos White Stripes. Depois de tudo isso, você realmente duvidava que eles fossem formar uma banda? Pouco antes de lançarem seu primeiro single, os Raconteurs descobriram que já existia uma banda homônima na Austrália, que acabou mudando o nome para Saboteurs. E asim que o disco foi lançado, aconteceu o que todos já esperavam: o disco foi direto para os primeiros lugares dos Estados Unidos e da Inglaterra. " Broken Boy Soldiers", deste ano, é marcado por uma mistura de Blues, Folk, Rock alternativo dos anos 90, Beatles e Led Zeppelin. O disco é uma verdadeira enciclopédia, muitas vezes na mesma música... Tanto que eles até tocaram com os lendários ZZ Top e Lou Reed, que fez lenda no Velvet Underground e em carreira-solo, no VMA deste ano! ...Já confirmada na música de abertura e primeiro single, " Steady, As She Goes", onde cada instrumento entra em sequência - primeiro bateria, depois baixo, guitarra e então o vocal, formando uma estrutura dançante que cresce em peso e velocidade no refrão - formato esse que todos passaram a conhecer depois do Nirvana. E então a música retorna à estrutura dançante, que volta para o refrão pesado... Um contraste interessantíssimo, em uma letra que fala sobre uma garota firme e autoconfiante e um cara nem tão firme assim. A música ameaça solar junto da voz de Jack enquanto a velocidade dos outros instrumentos crescem, dando um fim repentino a música. Um dos melhores singles do ano. " Hands" dá a cor Led Zeppelin ao álbum nas melodia ora pesadas (na introdução e no refrão), tanto nos mais melódicos versos , e também nas linhas vocais, que lembram vagamente uma balada Zeppeliana, só que encaixada na estrutura roqueira Nirvanística. E ouvimos uma letra de amor rasgado ao ouvirmos Jack dizer frases como "Quando você está comigo existe vida e eu posso ver meu caminho" e "Quando você fala comigo é uma música e eu sei o que dizer". É o amor... A próxima é " Broken Boy Soldier", um rock bluesy cheio de toques psicodélicos, marcado por vocais mais agudos de Jack. Cheia de reviravoltas, indo de melodias agudas à passagens introspectivas, em uma letra que fala sobre amadurecimento (ao menos, aparenta). O final é lisérgio, simplesmente. A letra, que parece bem pessoal, parece falar sobre amadurecimento. Passamos agora para " Intimate Secretary", que tem um início espacial e psicodélico assim como a anterior, mas quando a bateria começa a ser socada, logo a dupla de guitarras entra, mostrando um Beatles distorcido, de ritmo vigoroso e ótimos vocais de Brendan. Não sei se é só comigo, mas eu não entendi muito bem a letra... Se você conseguir entender o que a estrofe "Tenho um coelho, que gosta de saltar/eu tenho uma garota que gosta de fazer compras/O outro pé parece que não vai se desprender/Eu tive um tio e ele levou um tiro", por favor, me diga... " Together" é uma linda balada, lembrando muito o quarteto de Liverpool, em questão melodias de guitarras e teclados, e na harmonia vocal também. A letra de Jack White cantada por Brendan Benson, que desempenha uma grande performance vocal, também é muito McCartneana... "Você e eu para sempre/Nosso lugar é juntos/E nós vamos sempre e sempre/Atráves de qualquer tipo de clima./Através de qualquer tipo de tempo". A primeira investida de Benson é algo de primeira. A seguinte " Level" tem um início que parece até querer retomar o lado psicodélico da "coisa", e parcialmente consegue. O teclado lisérgico ou alterna, ou faz parceria à guitarra bluesy tão costumeira dos White Stripes. Uma canção para quem gosta de Blues, de Psicodélico, e claro, de Rock. Conquistadora em todos os níveis, até na romântica letra. " Store Bought Bones", permeada por guitarra slide e um ritmo muito interessante, indo do dançante ao veloz, que chega a lembrar o Deep Purple quando a música acelera, sem contar os teclados semelhantes, e com uma letra que mostra um pouco de ironia que o Purple também utilizava em seus melhores dias. A única diferença é a voz de Jack, e claro, o fato da música só ter dois minutos em meio, ao contrário das músicas de seis, dez, vinte ou mais minutos da banda de Ian Gillan e companhia... Os besouros Liverpoolnianos voltam à cabeça de White e Benson em " Yellow Sun", a música mais Beatles do álbum, levada ao violão com vigor, lembrando as baladas levemente country que John, Paul, George e Ringo puseram pra fora no " White Album". A letra fala de um apaixonado tímido, que compara que o sol não é tão tímido feito ele... Uma mágica acústica no meio de tanta distorção. " Call It A Day" continua desacelerando o disco, apesar de plugada, ainda é bem lenta, apesar de ameaçar crescer em alguns momentos. Os músicos provam ser muito bons em encaixar os backing vocals de forma que a canção fique cativante, onde o resto da banda repete a última palavra cantanda por Brendan. A letra fala de uma triste despedida, onde Benson lamenta "Nós podemos chamar isso um dia/Agora estará tudo bem/Nos podemos ir em caminhos opostos" e "O amor deve ser cultivado/Ele fica na minha cabeça/Até eu desabar e chorar". E o disco encontra o seu final com " Blue Veins" que mostra-se um blues costumeiro dos que Jack White compõe para sua banda mais famosa. Blues no sentido mais Blues possível, do título, à sonoridade, passando pela letra romântica e triste. E nos ruídos de início e nas gravações de voz ao contrário, o grupo parece que quis meter de forma discreta a loucura dos Mutantes nesse delicioso blues (grupo do qual White é admirador confesso). Excelente. Um meio termo entre o clichê e o inusitado, entre o previsível e o inesperado. Um verdadeiro passeio por tudo que existiu de bom nessas muitas décadas de Rock. E, também, o pouco mais de meia mais legal nesses últimos anos. Dez canções que não vão mudar sua vida... Muito. Só vão deixar seus dias mais relaxantes. Marcadores: Resenhas
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quinta-feira, novembro 09, 2006
Oasis - Definitely Maybe
No mesmo ano em que, nos Estados Unidos, Kurt Cobain disparava contra a própria cabeça declarando o último ano do grunge sob os holofotes do mainstream, no outro lado do Oceano, no Velho Mundo, mais especificamente na terra da Rainha, um grupo de garotos de Manchester começava a dar seus primeiros passos em direção ao sucesso, com seu álbum " Definitely Maybe" - sucesso este que teve sua semente plantada no final dos anos 80 e início dos 90, com bandas também inglesas e também de Manchester feito Stone Roses, Happy Mondays e Inspiral Carpets. Essas bandas que prepararam o terreno para que, ao decorrer da década do CD, o Oasis, o Blur e o Supergrass vissem o estrelato. Com a formação composta pelos polêmicos irmãos Liam Gallagher nos vocais e Noel Gallagher nas guitarras principais e backing vocals, completada pelos músicos Paul Arthurs na guitarra ritmo, Paul McGuigan no baixo e Tony McCarroll na bateria, a banda demonstra desde cedo suas influências de rock clássico, principalmente dos Beatles, que o Oasis sempre fez questão de fazer referência sonora, lírica e visual. Outras influências aparecem aqui e ali, como The Who, Rolling Stones, Neil Young, Smiths e os já citados Stone Roses, entre outros. " Rock 'n' Roll Star" faz jus ao título: um rock dos brabos como abertura. Após a guitarra começar sozinha, os outros instrumentos entram acompanhado. Liam canta sobre a vida de um Rockstar, guiado pela luz dos holofotes e encarando as pessoas que dizem que essa vida é apenas um desperdício de tempo, mas que logo ficam nas mão deles. Seria esta a primeira demonstração de arrogância Gallagheriana? Afora isso, a música tem um refrão contagiante, daquele a ser bradado repetidamente. Noel solta um solo quase lisérgico nos momentos finais da canção, interrompido por Liam repetindo o refrão. A primeira música polêmica do disco vem em " Shakermaker", que, com exceção da letra, é um plágio da música " I'd Like To Teach The World To Sing", que era utilizada em comerciais da Coca-Cola, o que fez a empresa mover um processo contra os irmãos. Um rock de melodias gutiarreiras agradáveis, bateria reta e letra leve e que convida a pessoa a ficar feliz e agitar com o eu-lírico. A próxima é " Live Forever", uma balada deliciosa, um dos muitos hits que o Oasis emplacou, esta considerado um dos grandes clássicos do Rock inglês dos últimos tempos. Com uma sonoridade mais pop que as anteriores, e com o refrão mais melódico ainda, com Liam e Noel até utilizando-se de falsetes ao final, onde em uma ingênua letra ele afirma: "Talvez eu apenas não acredite/Talvez você seja igual a mim/Nós vemos coisas que eles nunca verão/Você e eu iremos viver para sempre". Linda. " Up In The Sky" retoma a verve roqueira do disco, com um riff simples e marcante, que abre espaço para um rock básico e despretensioso (ao menos nessa canção...), que tem todos os clichês do estilo, como um refrão crescente, paradas de bateria para a guitarra solar e Liam cantar... O que não torna uma canção necessariamente ruim. Na letra, Liam observa pessoas que parecem ser majestosas e estar acima se darem mal e ficarem na mesma situação que ele, e ele então questiona como a pessoa se sente. Tem início " Columbia", que tem um início um tanto quanto psicodélico, com sons e ruídos atmosféricos, que abre espaço para um Rock de guitarra presente e inflamada e com pouco mais de seis minutos, com um clima contagiante, que compõe uma bela música, que apesar de não ser uma das mais conhecidas do álbum, não compromete a qualidade do mesmo. Na letra, o eu-lírico parece confuso, afirmando "O que eu ouvia não é o que eu ouço/Eu vejo os sinais mas não estão muito claros" e "Mas eu não posso lhe dizer como eu me sinto/Porque a forma que eu me sinto é nova para mim". E é impossível não dar destaque ao excelente solo de Noel, que apesar de ser construído em cima de poucas frases, é feito de forma contagiante. Outro hit: " Supersonic" é uma melódica e distorcida semibalada que, com esses e outros elementos, ajudaram a definir a cara da banda. Uma bela performance vocal por parte de Liam divide espaço com um exemplar Noel, que entre riffs, frases, bases e solos, mostra-se muito seguro e competente no seu cargo, criando passagens que ficam na cabeça e não saem de imediato. A confusão, o romance, a arrogância e a inocência se misturam em uma agradável letra. " Bring It Own Down" é a mais pesada do disco, com algumas das guitarras mais distorcidas e a velocidade da bateria nitidamente maior. Uma letra com ares de autodescritiva aparece em versos como "Você é o desterrado - você é a classe inferior/Mas você não se preocupa - porque você está vivo", possivelmente fazendo referência à origem humilde dos irmãos e sua atitude absolutamente 'I don't care' em relação à várias coisas. E quem diria que um dos muitos hits do álbum também é um plágio? Eis a resposta: um fã de Marc Bolan. " Cigarettes and Alcohol" é um plágio de " Get It On" do T. Rex, só que adaptado aos moldes do Oasis, como vê-se no refrão em que Liam dá um estilo próprio à quase-cover. Se tem dúvidas, basta ouvir o riff, o solo, o refrão... Enfim... Em matéria de plágio, é até inesperado, pois você imagina um bando de caras com cabelo tigela ouvindo T. Rex? Seria mais provável eles copiarem os Kinks, o Who... ou os Beatles, certo, detratores? A letra é bem junkie ao afirmar logo nos primeiros versos "É minha imaginação/Ou finalmente encontrei um estilo de vida digno para mim?/Estava procurando por alguma ação/Mas tudo que achei foram cigarros e álcool". " Digsy's Dinner" é um rock mais simples, com passagens mais melódicas e outras mais distorcidas em uma agradável e rápida alternância. Uma inusitada letra, onde Liam promete tratar a garota como uma rainha, dando tudo do bom e do melhor para ela, e fazer os amigos dela ficarem enjoados, dando uma lasanha propositalmente estragada... Sem contar os versos mais que ingleses "Que vida poderia ser/Se você pudesse vir na minha casa tomar um chá"... Início melódico em " Slide Away", revelando uma canção cadenciada, com uma bateria linear e forte, fazendo base às discretas melodias de guitarras de Noel - nos versos, um destaque menor. O grande destaque fica para os excelentes arranjos vocais, onde é posta uma letra apaixonada para Liam cantar. A guitarra de Noel parece subir em volume no solo dessa canção de seis minutos e meio. O refrão, apesar de bem repetido, é bastante carismático. A canção desaparece em fade-out. E o final vem com " Married With Children", composta apenas de dois violões e voz com um desempenho relaxado e natural de Liam, ideal para um canção acústica, onde ele exprime a chateação de se relacionar com uma pessoa imatura, como dizem os versos "Eu odeio a maneira que você faz apesar/De saber que você está errada você diz que está certa" e "Eu odeio seu jeito irônico/E você não é tão esperta/Você pensa que tudo que faz é fantástico", mas também revela ser bastante infantil ao decorrer da letra. E apesar da briga dos dois, logo, logo, eles estarão unidos de novo. Não hesito em dizer, uma das melhores estréias de todos os tempos. Só não é o disco definitvo da banda porque ainda viriam os igualmente excelentes " (What's The Story) Morning Glory?" e " Be Here Now", compondo uma espécie de 'trilogia definitiva'. Uma banda que, de início, já sabia o que queria, que tipo de som tocar, e até mesmo de quem plagiar. Tudo bem que o ego dos irmãos Gallagher é gigante - o que muitas vezes já ameaçou até a durabilidade do Oasis -, mas dê um desconto. Quando a música feita é boa, compensa. Afinal, se fosse por causa de ego gigante, aposto que Led Zeppelin, Pink Floyd, Mutantes, Stooges e tantos outros, não passariam de uma boa porcaria, certo? Marcadores: Resenhas
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terça-feira, novembro 07, 2006
Audioslave - Revelations
O Audioslave é uma banda que nasceu de uma forma um tanto injusta: para que seu parto ocorresse, seus progenitores tiveram que encontrar seu fim: o Soundgarden, uma das bandas-mãe do Grunge - que já gravava álbuns quando o Nirvana ainda estava fazendo suas primeiras gigs -, estilo que varreu o Hard Rock farofa para debaixo do tapete e incentivou o estouro do Rock independente (cunhado também como Indie), doou sua figura mais carismática, o vocalista Chris Cornell. Já o Rage Against The Machine, uma das bandas mais políticas que já existiram ao lado do MC5, Gang Of Four e, mais atualmente, o System Of A Down, dona de um som rap-punk-funk com Che Guevara como ícone máximo, perdeu seu vocalista Zack de La Rocha, e o resto da banda, ou seja, o guitarrista Tom Morello (o guitar-hero da década passada), o baixista Tim Commeford e o baterista Brad Wilk juntaram seus esforços com Cornell, e então surgiu o Audioslave. Muito produtivo no quesito composição, o Audioslave chega ao seu terceiro disco, " Revelations", em cinco anos de existência. O ponto positivo na sonoridade do Audioslave é tentar juntar o melhor de dois mundos: o potente vocal, os momentos sombrios, o peso e as letras reflexivas do Soundgarden com a agressividade instrumental, a cozinha sólida e os riffs marcantes do Rage Against The Machine. O ponto negativo é a falta da ousadia que víamos em ambas as bandas, como o caos sonoro e a truculência metaleira da antiga banda de Cornell, ou a salada ensandecida de ritmos do Rage Against. Segundo a banda, o que eles tentaram compor nesse disco foi uma mistura de Led Zeppelin com Earth, Wind and Fire. Se eles conseguiram? Continue lendo... Melodias doces abrem a faixa-título " Revelations", mas assim que a bateria é introduzida, entra o ataque sonoro das guitarras, revelando um Hard Rock bem marcante, com um interessante refrão mais melódico que os versos. Um relacionamento é explorado na letra, sobre uma pessoa que não consegue viver sem ouvir as revelações da outra, já que a falta das mesmas faz ele ficar depressivo. O ruidoso início de " One And The Same" prepara terreno para mais um hard rock, de versos contidos e bastante grooveados. Cornell faz uma ótima performance vocal, chegando até a usar tons roucos enquanto canta ou grita. O solo de Tom Morello é outro destaque. A letra parece criticar uma pessoa, como se vê em versos "Você usa uma máscara como um alvo/Mantém seus inimigos próximos" e no refrão "Mas como o sangue e a chuva,/O amor e a dor são iguais e um só". " Sound Of A Gun" tem um agudo início nas primeiras cordas que logo torna-se grave à medida que a angulosa cozinha entra. Mas acaba enganando o ouvinte, pois é uma música mais lenta que as anteriores, só ficando mais pesada no refrão. Na letra, o eu-lírico foge do som de uma arma, onde nota-se um contexto também político nos versos "Essa música é para as filhas e filhos esquecidos/Aprendendo a se manter de pé/Esta música é para os inocentes desconhecidos/Enterrados na areia", o que detona felizmente que o lado Rage Against da banda não deixa o lado Soundgarden tomar conta da lírica totalmente. A canção ainda apresenta um solo bem ao estilo do Rage Against, acrescentando uma variação à estrutura grunge de "verso leve-refrão pesado". Marcada pelo início feito pela bateria, " Until We Fall", é uma leve e doce balada, demonstrando que o objetivo da banda com a canção anterior era ir freando o ritmo do álbum. Um pouco fora do usual do que o Audioslave começa a fazer, até ameaçando crescer em termos guitarreiros, mas ficando por isso mesmo. Chega até a ser interessante, mas é muito água com açúcar... Não é uma " Like A Stone", sabe? A letra reflexiva volta ao pólo Soundgarden da banda, só que ao contrário da depressão do grupo de Seattle, a letra chega até a demonstrar uma certa esperança. Teria Cornell feito as pazes consigo mesmo? " Original Fire" é iniciada por uma bateria marchante e ouvimos então uma pancada nos ouvidos. Um hard rock grooveado, com um baixo muito sonoro e a guitarra rugindo em alternância com a voz de Cornell. E uma letra política volta à tona, com Cornell cantando a plenos pulmões "O fogo original morreu e se foi/Mas a revolução por dentro continua", talvez fazendo uma menção a todas as bandas políticas que acabaram por desentedimentos ou morte de integrantes, mas que continuam motivando quem ouve, e também de personalidades políticas já falecidas. Excelente, não é à-toa que é o single do álbum. Seguimos então com " Broken City", levada por baixo e bateria na maior parte das músicas, com a guitarra de Tom atacando repentinamente. A canção mais funky do álbum, apesar dos intermezzos melódicos. A letra tem várias facetas, sugiro que a leiam por vocês mesmos, mas posso adiantar que tem um contexto tanto pessoal como político. Apesar do refrão marcante e da levada interessante, não chega a impressionar. " Somedays" não quebra o ritmo da anterior, continuando com groove marcante, apesar de, dessa vez, conter um refrão mais melódico, com Cornell e a banda repartindo o vocal no refrão para cantar o nome da música. As bases de guitarra, assim como um breve momento solo da bateria, seguido pela usual caída de ritmo que acontece em quase toda música do Audioslave. Segue então " Shape Of Things To Come" que apesar de suportável... Decepciona. Uma canção de introdução hard que descamba para versos lentos é algo que já ouvimos do álbum, lá no início... O resto, você já conhece... Peso no refrão, solo melódico, versos sombrios... Tudo bem que o grunge imortalizou essa fórmula, mas caramba, nem eles usavam de forma full-time... Outra música introduzida por bateria... " Jewel Of The Summertime" é guiada por guitarras sinuosas e um vocal em volume de gravação mais baixo de Cornell, mas nitidamente mais gritado e imposto, ganhando uma estrutura até dançante, em uma letra que parece falar sobre crescimento. Com momentos para chacoalhar a cabeça, e depois o esqueleto, volta pra cabeça, e repete-se o movimento. O solo ganha destaque, pois lembrando os bons tempos, Tom Morello investe em um solo de caratér virtuose, aquele que quebrava o ritmo pauleira do Rage Against. Mas aqui, o ritmo seguia grooveado, e como as outras, parece até meio previsível. " Wide Awake" é guiada por baixo, bateria e uma guitarra discreta, e o vocal sempre contido de Cornell, até quando a música pesa. Vem o tom político em "Você consegue ver bem no olho do furacão/12.000 pessoas mortas ou abandonadas para morrer/Sigam os líderes/No olho pelo olho e nós estaríamos cegos/Eles estão por assassinar, isso tenho certezaNesses tempos incertos". No final da música, Chris começa a berrar furiosamente o nome da música, dando um aviso que a banda está bem acordada em relação aos problemas do mundo. " Nothing Left To Say But Goodbye" entra em seguida, revelando uma canção cadenciada, sem a morbidez das baladas grunge ou da psicose das músicas arrastadas do Rage Against, mais palatável. A canção tem uma letra bastante traumática, vista principalmente em versos como "Eu me matei, joguei fora minha saúde mental mas ninguém estava piscando um olho./Quintal, porão, jogado no pavimento/Não deixo nada a dizer a não ser um adeus". Uma surpresa ao final do álbum: com um riff mais metaleiro que hard, a última música " Moth", apesar de cair de ritmo nos versos, em certo ponto cresce e adquire peso, repetindo tal estrutura até o final da canção. Porém, a canção se revela sombria o suficiente para ser considerada interessante. A letra fala de uma pessoa que quer se livrar da outra, pois, apesar de gostar da companhia dela, sente-se sufocada e prejudicada por ela. E sente-se meio que dolorosamente obrigada a se separar. Enfim... Fãs de Soundgarden, feito eu, e fãs de Rage Against, feito eu também... Por mais que vocês sejam fãs, o disco não é para vocês. Caro fã de Soundgarden, você não encontrará um porradaria sônica distorcida e frenética, de pegada mastodôntica, muitas vezes flertando com o hardcore e o progressivo. Caro fã de Rage Against The Machine, você irá encontrar, de início, uma fábrica de riffs fortes e cozinhas sólidas, mas nem tão agressivo e potente como o grupo de Zack costumava ser. Ou seja, em uma síntese geral, temos um disco pós-grunge, de refrões acessíveis, fórmulas previsíveis, repartidos em muitas canções cadenciadas e/ou com groove, algumas baladas e pouquíssimos rocks pauleiras. Talvez por isso o Audioslave tenha angariado um público bem maior que o Rage Against The Machine e o Soundgarden. Agora, se você não dá a mínima nem pro Soundgarden, nem pro Rage Against The Machine, e tem certeza que não irá sentir falta de um instrumental Sabbathico apoiando a voz de Cornell, ou se em meio aos riffs angulosos não irá sentir a mínima saudade de Zack de La Rocha aparecer discursando, pregando, protesteando e rugindo feito um leão politicamente conscientizado você irá gostar do disco... Mas depois de ouvir algumas vezes, as fórmulas fáceis e a pouca variação de estruturas de canções te encherão, e você provavelmente irá só ouvir as famosas, e procurar uns álbuns mais diversificados. Como por exemplo... os do Rage Against The Machine e Soundgarden! 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sábado, novembro 04, 2006
O retrato de um geração através da música: o New Metal.
Mesmo sob o medo da Guera Fria, os anos 80 foram uma festa na maior parte do mundo... E nos anos 90, o mundo sentiu que a alienação das festas não os levaria a lugar nenhum; e a depressão atingiu o mundo, tanto na cultura, quanto nas mentes juvenis. Primeiramente, o mundo veio a conhecer o Grunge, vindo dos Estados Unidos, um rock arrastado e triste. E depois, no mesmo país, iria surgir o New Metal.
As barreiras da música rock/metal começavam a quebrar-se quando artistas como Aerosmith e Anthrax gravaram os primeiros rap-rocks da história junto com os hip-hoppers Run DMC e Public Enemy (parindo as músicas "Walk This Way" em sua segunda versão e "Bring The Noise", respectivamente). Ao mesmo tempo, bandas como Red Hot Chili Peppers e Faith No More usavam o rock como base de fusão de vários elementos. Outras bandas, como Helmet, Primus e Tool transpassavam limites ao fazer do Heavy Metal uma música experimental, onde elementos como andamentos quebrados não podiam ser experimentados a princípio dentro do ortodoxo som que o Heavy Metal estava tornando-se. O lançamento do álbum "Roots", do Sepultura, trouxe um novo conceito de thrash metal com música tribal, nunca visto até então.
Os Estados Unidos é um país que já deixou de ser a "terra das oportunidades" há muito tempo. Não apenas pelo alto índice de criminalidade, mas a própria cultura violenta a qual são expostos, de ser sempre o melhor e sempre o primeiro, degradou mentalmente a nação. Assuntos como drogas pesadas, bullying, depressão, ódio, frustração começaram a fazer parte do cotidiano de milhares de jovens.
É aquela coisa do sonho americano se desfazendo na cabeça das pessoas. As histórias folclóricas das bandas de Heavy Metal, o hedonismo do Glam Rock e o discurso político do Punk/Hardcore e do Thrash Metal deixaram de ser os interesses dos jovens. Tantas letras sobre histórias ilusórias, orgias incessantes e críticas ao governo não serviam mais como porta-vozes de uma geração desesperada, que guardava dentro de si uma raiva imensa e crescente.
Acredita-se que as primeiras bandas a serem consideradas "new metal" perante a mídia foram o Deftones e o KoRn. Outras bandas contemporâneas a eles, como Snot e Coal Chamber eram tratadas como metal alternativo. A crítica especializada cunhou o termo ao ver que as bandas se utilizavam de música pesada misturada a outros ritmos.
O conceito sonoro de "música experimental" do New Metal deu origem às mais variadas bandas, que não obedeciam ao "padrão metal de fazer música". Tal qual um 'dadaísmo musical', eles desconstruíam as mais variadas influências para modelar de novo à sua preferência. Enquanto algumas bandas usavam da mistura de rap e thrash metal, outras agregavam elementos eletrônicos, com influência direta de industrial. Há ainda os que traziam até suas músicas elementos regionais.
Tornou-se estranho ver o New como um novo tipo de Metal, pois, excetuando as influências pesadas em suas músicas, a lírica, os climas passados e o visual tendiam para um lado Hardcore ou Grunge, do que as roupas espalhafatosas e letras históricas, e a sonoridade tecnicamente perfeita e bonita do Heavy Metal. Eles não se importavam se suas músicas pareciam grandes confusões sonoras, ou que não fossem difíceis feito um Heavy Metal - o principal, nessas bandas, era a mensagem. Poucas bandas expuseram tanto todas as facetas de seus sentimentos tal qual KoRn, Deftones e companheiros de estilo o fizeram.
Infelizmente, bandas como P.O.D., Limp Bizkit (uma banda com uma atitude mais ‘gangsta rap’ o possível...), Adema, 12 Stones e outras foram na onda dessas outras bandas durante o grande período de exposição das mesmas e apareceram ao mundo com um som razoavelmente pesado, repartindo partes agitadas e calmas, mas que liricamente não transmitiam aos jovens os reais propósitos do New Metal: que a geração dos 90's e 00's estava sofrendo. E não iriam ficar quietas por muito tempo.
E de fato, não ficou parada. Quando se pensou que o New Metal era apenas um estilo que logo morreria, surgiu a segunda corrente do estilo, guiada por bandas como Linkin Park, Slipknot, Mudvayne, Otep, Ill Niño, etc. Algumas bandas traziam um som mais pesado do que se costumava ver no new metal (exemplo do Mudvayne, Slipknot e do Otep), e outras tornavam a sonoridade do estilo mais acessível, injetando melodias com apelo mais comerciais em sua música, mas sem perder a mensagem original (exemplo do Linkin Park).
À medida que o estilo foi sumindo dos holofotes da mídia, as cópias sumiram assim como surgiram. Outras que apresentavam influências de thrash metal resolveram assumir esse lado de vez (como o Chimaira e o Otep, e o Devildriver, que surgiu das cinzas do Coal Chamber). Outras se mantiveram dentro do estilo New Metal e lançando novos álbuns, que se não vendiam mais como antigamente, ainda fazem grande sucesso entre seus fãs - caso do KoRn - ou alcançando um público cada vez maior - caso do Slipknot e Linkin Park. Fazendo jus ao estilo, não se prendem a fórmulas e lugares comuns.
Na visão de fãs mais ortodoxos de Heavy Metal, surgiu uma grande tendência a chamar qualquer banda que pratique sons diferentes do usual de "New Metal". Caso do Evanescence, famosa banda que funde elementos de gótico, heavy, eletrônica e pop em seu som, muitas vezes confundida com new metal devido ao seu principal hit ("Bring Me To Life") conter um convidado que canta linhas vocais realmente parecidas com rap (que se torna um motivo perfeito para acusarem de 'New Metal'). A outra é o System Of A Down, banda que segue os passos do Faith No More no que se trata em fusão de influências estranhas, mas que aborda temas distantes do New Metal (política, principalmente).
No Brasil, o New Metal é um estilo de pouco destaque. Quase todas as bandas ficaram presas à cena underground, e a única que conseguiu algum destaque foi o Chipset Zero, que ano passado (2005) tocou com grandes bandas do thrash nacional (Sepultura e Korzus) e o Slipknot.
Qual será o próximo passo do new metal? O negócio é: ninguém sabe. Provavelmente, continuará a quebrar barreiras e propor fusões nunca imaginadas. Lembra do citado ‘dadaísmo musical’? O new metal foi um dos estilos que mais ensinou ao mundo que a visão musical não tem limites. Basta tirar o que está tapando.
Para entender e conhecer o New Metal, é recomendável ouvir: KoRn - Untouchables Slipknot - Iowa Otep - House Of Secrets Deftones - White Pony Ill Niño - Confession Linkin Park - Hybrid Theory Mudvayne - LD.50 Marcadores: Especiais
posted by billy shears at 9:40 PM
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