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    quarta-feira, março 28, 2007
    Junkiebox #2

    Arcade Fire - Neon Bible: O fato é que hoje em dia, poucas bandas podem se equiparar ao Arcade Fire ao nível de inovação. O grupo de sete canadenses provoca uma mistura hipnótica e catártica de rock sessentista e setentista, música clássica, climas fantasmagóricos, contraste entre vocais masculinos e femininos, destreza pop que não se via desde o estouro pós-punk, instrumentos estanhos ao rock (violinos, acordeões, xilofones, sintetizadores) junto ao conjunto baixo-guitarra-bateria-teclado. Apesar de belíssimas harmonias, a música é imprevisível; o pop ensolarado e de refrãos grudentos em segundos pode se transformar em epopéias intensas. Toda as críticas positivas que dirigem ao grupo são mais que justas, especialmente agora nesse novo álbum de 2007. Tente não cantar o dia inteiro o refrão de “Keep The Car Running”, não ficar com medo da psicose mórbida de “Neon Bible”ou não ficar hipnotizado com “Intervention”. E, incrível – essas músicas vem na seqüência, antes mesmo do álbum chegar à sua metade. E todas as músicas têm algo para se destacar, algum tratamento diferenciado, alguma reviravolta impressionante. E como diriam as televendas 011-1406, não é só isso. Ainda tem “(Antichrist Television Blues)”, “No Cars Go” e “My Body Is A Cage”, três das canções mais intrigantes e perfeitas da década. E vale lembrar, são os novos ídolos de David Bowie. E convenhamos, quem aqui duvida do gosto para música do cara que nos anos 70 disse que Lou Reed e o Velvet Underground e Iggy Pop e os Stooges seriam grandes?

    The Magic Numbers - Those The Brokes: Caso ser normal no rock não fosse ser esquisito, uma banda de gordinhos simpáticos como o The Magic Numbers mereceria mais atenção. Apesar de serem britânicos, o quarteto formado por dois casais pratica uma música bastante açucarada - assim como os pratos que devem comer – buscando inspiração nas melodias cativantes dos Beach Boys e das harmonias vocais grudentas do The Mamas And The Papas. O início com “This Is A Song” já relaxa os ouvidos e deixa o ouvinte curtir os belos arranjos que a banda preparou para seu segundo álbum lançado no final do ano passado. Óbvio que você não deve ouvir achando que é um novo Pet Sounds, ou no outro extremo da coisa, que é apenas uma banda hype qualquer. Apenas um registro que ajuda a manter um sorriso no rosto, apesar de que não é toda hora que alguém agüenta ouvir um álbum com mais de uma hora de duração por inteiro. Mas ainda assim, a leveza e emotividade de músicas como a seqüência “Boy” e “Undecided” não é algo que estamos habituados a ouvir todo dia. Pelo bom trabalho, merecem um doce.


    Klaxons - Myths Of Near Future: A Europa e as Américas estão mandando o mundo preparar o visual colorido para dançar. A cena nomeada pelos críticos de “new rave” que funde momentos indie rock com música eletrônica, sons diversos e momentos caóticos descendente da “geração Madchester” de Stone Roses, Inspiral Carpets, Charlatans e Happy Mondays dá frutos nos esquizofrênicos dias atuais – e já não era sem tempo; e a banda que encabeça a cena em que estão presentes desde o Devo do século 21 do Data Rock até a ironia doidona do Cansei de Ser Sexy, é o grupo mais falado dos últimos meses, os Klaxons. E não à-toa; difícil é não dançar com esse pessoal, especialmente esses últimos. Quatro caras que pariram um álbum tão bom que chega a ser difícil de destacar algo. Parecem até mitos de um futuro próximo! O frenesi dançante de “Totem On The Timeline” encontra contraste na fantasmagoria vibrante de “Isle Of Her”, e continuamos nos perdendo em vocais pops se perdendo em meio a baixos encorpados, batidas eletrônicas e reviravoltas que botam pra remexer - quem disse que a perdição não era o futuro? Se 2006 foi o momento da música sair definitivamente do disco, 2007 é o momento de conhecer toda essa esquizofrenia onde todos podem ouvir e tocar de tudo. Um brinde à esse novo mundo que compreendeu Frank Zappa e obedeceu sua ordem: Freak Out!


    Kings Of Leon - Because Of The Times: Quem se deliciava há três, quatro anos atrás com as guitarras sujas do álbum “Youth And Young Manhood” e suas pancadas juvenis feito “Molly’s Chambers” e “Holy Roller Novocaine” provavelmente estranha os últimos álbuns do Kings Of Leon. O quarteto de Mount Juliet adentra cada vez mais o Southern Rock e o country, tirando seu rock da garagem e mandando ele direto para as estradas nesse terceiro álbum lançado este ano. Mas, mesmo com harmonia e melodias maiores, ainda temos momentos pesados e empolgantes como “Charmer”, “Black Thumbnail” e “My Party”, mas o primeiro single “On Call”, a longa abertura “Knocked Up” e a power ballad caipira "Ragoo" mostram o quanto novos ares a respirar fazem bem aos Kings Of Leon. O único senão fica por algumas músicas serem mais longas do que deveriam. Mais da metade das músicas do álbum ultrapassam os quatro minutos de duração, e não são todas elas que realmente prendem a atenção e deixam o ouvinte com água na boca. E é realmente difícil fazer uma obra prima tão extensa assim, com 13 músicas. O Lynyrd Skynyrd e os irmãos Allman mal colocavam dez em um álbum. Talvez esteja na hora dos reis dos leões rugirem pouco, já que os rugidos prolongados estão metendo medo na crítica.

    Kaiser Chiefs - Yours Truly, Angry Mob: Em Leeds, onde o The Who gravou seu maior registro ao vivo, um quinteto agora já com quatro anos de estrada surgiu mostrando que pra inovar não precisamos de muito. Vocal, guitarra, baixo, bateria e teclado abrem as portas da percepção auditiva para um som assustador pela falta de um rótulo exato – um punk xamânico, um revival mod new-wavista e um art-rock de garagem são apenas três rótulos exóticos que é possível encontrar por aí definindo o Kaiser Chiefs. E para um pessoal que enfileira e mistura rocks chicletes com precisão técnica extrema, coros contagiantes, climas épicos, verborragia, ironia e tudo mais que o valha, esses rótulos chegam a ser pouca coisa. Cante o refrão de “Ruby” até o ar dos pulmões acabar, fique babando com a seqüência “Heat Dies Down” e “High Royds”. E também “Love Is Not A Competition (But I’m Winning)”, e “I Can Do Without You”, e “My Kind Of Guy”… Sem se perder em viagens musicais modorrentas, o Kaiser Chiefs sabe muito bem como dosar suas referências em um álbum que pode muito bem animar 1001 festas, ou então proporcionar ao ouvinte o solitário mico de dançar sozinho. Ou ficar olhando pra cima pensando no público feminil na hora das deliciosas power-ballads. E não precisa nem falar que depois da calmaria, vem a danceteria.Benditas bandas com nomes de bebidas alcoólicas no nome.


    The Stooges - The Weirdness: Tem gente que não vê a idade chegar. No caso de Iggy Pop, ainda bem. Não basta uma volta dos Stooges; eles decidiram que não seria apenas uma volta nostálgica, e pouco tempo após encerrar uma turnê triunfal de volta, começaram a gravar um novo álbum. Acompanhados pelo baixista Mike Watt no lugar de Dave Alexander e produzidos pelo mestre em barulho Steve Albini e o fã declarado Jack White, Iggy e os irmãos Ron e Scott Asheton realizam uma das poucas voltas que realmente valem a pena. Enquanto muitas bandas realizam músicas chatas, insípidas e pastiches das anteriores, aqui temos um Stooges cheio de gás, com músicas que soam frescas, garageiras como a banda sempre fez questão de ser e fluindo perfeitamente, em porradas como “Trollin’”, o single “Idea Of Fun”, “I’m Fried”, “ATM”, e ainda abre espaço até para músicas com refrão alegrinho, como “Free And Freaky”, letras engraçadinhas como “She Took My Money”, breguices propositais como a faixa título e músicas que parecem ter saído da carreira solo de Iggy, como “Greedy Awful People”. Claro que não estamos diante de um novo “Fun House” ou “Raw Power”, mas você há de convir que dois álbuns como esses só se fazem uma vez na vida, e os Patetas ainda tiveram sorte de fazer isso duas vezes. Comparando a muita coisa que tem a pretensão de se chamar rock nos dias de hoje, ganha de mil a zero. E só pra você ter noção de como o álbum é bom, ele está na mesma situação de “The Stooges”, “Fun House” e “Raw Power”: assim como os três primeiros álbuns dos delinqüentes de Ann Arbor, a crítica está odiando esse álbum...

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    posted by billy shears at 12:20 AM | 7 comments

    quarta-feira, março 21, 2007
    Dead Boys - Young, Loud And Snotty


    "Alguém me disse pra ir no CBGB's pra ver a melhor banda do mundo, os Dead Boys. Então fui lá uma noite quando eles estavam tocando, entro e a primeira coisa que vejo é Stiv sendo chupado no palco. A primeiríssima coisa." (Bebe Buell)

    Jovem, barulhento e arrogante.

    Se uma banda com o singelo nome de garotos mortos soltar um registro com um nome desses, é melhor não desconfiar de nenhum dos três adjetivos. Mas, num mundo ainda dominado em sua maioria pelo rock progressivo e polido, quem iria dar bola para cinco rapazes pobretões crescidos em gangues e meios violentos afins, em Cleveland, Ohio? Restou aos rapazes do Frakenstein mudarem-se para New York e adotarem o nome que inscreveria seu nome nas notas de rodapé de qualquer boa enciclopédia sobre rock após Joey Ramone conseguir datas para eles no lendário CBGB's.

    Tão rápido quanto surgiram, os Dead Boys desapareceram, não durando nem meia década; O grupo do vocalista Stiv Bators, um fã inveterado de Iggy Pop (e, segundo o próprio, aquele que jogou amendoim para Iggy se lambuzar no início dos anos 70), os guitarristas Cheetah Crome e Jimmy Zero e a cozinha do baixista Jeff Magnum e do baterista Johnny Blitz era exatamente o que imaginávamos de um grupo punk na época: encrenqueiros, junkies, marginais, entre outros adjetivos que você já sabe.

    Para ficar mais bizarro, somem-se ainda aos fatos de o grupo adorar chocar visualmente com suásticas nazistas, discutirem com a própria produtora Genya Ravan (que era judia) por causa do mesmo motivo, Stiv mostrando a bunda para os Ramones quando os mesmos saíam de Cleveland, ainda Stiv e Jimmy Zero raspando os pentelhos da groupie Eileen Polk em forma de suástica e tirando fotos, para em seguida sair correndo pelo hotel em que estavam hospedados, de novo Stiv sendo zoado por Iggy Pop por estar chapado de Quaaludes, sem contar o evento que abre esta resenha contado por Bebe Buell, no qual Stiv recebeu um belo trabalho de boca de uma garçonete, após a mesma lambuzar o seu... er... 'menino' com creme batido. E após o fato, Stiv não se deu por satisfeito, amarrou o cinto na tubulação de gás e se enforcou, ameaçando se suicidar. Se na época não estavam mortos, pelo menos era o que a maioria das pessoas queriam (e eu só não conto que eles colocaram "Wheels Of Fire" do Cream pra assar no fogão para não sobrecarregar o leitor de informações, ou quiçá fazê-lo odiar os meninos...).

    O som, basicamente, foi uma das primeiras crias geradas pelo mau-mocismo de Stooges, New York Dolls e Rolling Stones. Estão lá o volume alto, as guitarras distorcidas, os versos cuspidos, os refrões esgoelados, o blues-rock dos anos 50 em velocidade estonteante...

    O esporro niilista e prepotente é iniciado em "Sonic Reducer", onde os pratos da bateria soam altos, as guitarras injetam adrenalina nas veias e Stiv Bators destila um pouquinho de toda a sua insolência punk em versos como "Eu não preciso de ninguém/Não preciso dos meus pais/Não preciso de uma carinha bonita/Eu não preciso da raça humana/Eu tenho algumas notícias para você/Também não preciso de você". Extremamente viciante, para ser bradada com punhos ao alto, ou então simplesmente delirar ao som quando se quebra o esqueleto.

    Mais pé na porta, mais soco na cara, mais abuso saindo pelos altos falantes. Como a própria música diz, "All This And More", que começa melódica e vai ganhando guitarras pesadas, com uma letra bastante abusada sobre sexo e com a banda gritando no refrão de que eles são apenas garotos mortos. Na voz de Bators e na guitarra de Cheetah, qualquer melodia que pudesse surgir das suas cabeças é prontamente transformada em um hino abusivo.

    "What Love Is", uma das mais curtas do álbum, onde Sitv canta como subjugar uma mulher. Música incansável, rápida e distorcida, com uma letra curta e mais direta o possível e um refrão onde todos berram. O leitor mais sedento por novidades provavelmente pensará "nossa, a música deve ser um clichê completo"... Mas, felizmente, é um clichê que funciona. A vibração é irresistível.

    De início lento, a bateria dita o ritmo da música com precisão, e quando Johnny Blitz começa a exagerar nos bumbos de "Not Anymore", as guitarras ganham corpo para que Stiv possa continuar contando como é a vida de um indigente. "Mas eu não me importo/Vá e me empurre/Você não pode me machucar/Não mais". A mais branda do álbum...

    "Ain't Nothin' To Do" é um verdadeiro perfurador de tímpanos. Um riff extremamente alto soma-se com uma letra que fala sobre o tédio, esse um dos principais problemas que atingem os americanos todos os dias há décadas. É uma daquelas que não deixam espaço para meio termo. Ou você acha que é muito barulho desnecessário, ou acha que foi agraciado com a oportunidade de receber toneladas de riffs vigorosos, libelos indecorosos e loucuras mais do que inacreditáveis.

    "Flashes quentes queimando no meu cérebro, sua língua me deixava louco (...) E todo mundo sabe que você foi pega com a carne na sua boca". É exatamente o que o leitor pode pensar, "Caught With The Meat In Your Mouth" trata de sexo oral. Rugidos empolgados somam-se ao riff mais rápido do álbum para que o vocal possa gritar mil e uma safadezas. O maior hino da curta carreira do grupo também serviu para ser sonoplastia do célebre evento em que Stiv recebeu um belo blowjob with cream de uma garçonete.

    Mais uma cotovelada na boca do estômago. "Hey Little Girl" só pode ser definida como "esporro 'n' roll". Não chega a ser uma experiência tão chocante como ouvir um disco dos Stooges, mas a parede de guitarras e os vocais selvagens e animalescos com certeza garantem que quem gosta de um rock pesado e direto vai virar cambalhota ouvindo essa beleza.

    "I Need Lunch" tem um início cativante apenas de voz e guitarra, onde o clima meio 1972 logo vai para 1977 quando Blitz começa a maltratar sem dó a bateria. E Stiv continua com putaria... "Eu não quero realmente dançar/Eu quero apenas pegar na sua calcinha" e "Eu preciso de almoço/Me alimente!". O vocal do rapaz vai se tornando uma máquina de berros rasgados e guturais a medida que a canção vai pesando. Surpreendente.

    Um grande riff abre "High Tension Wire", que logo deixa a música entrar em trilhos punks, mesmo assim sendo uma das mais rock 'n' rollers do álbum. E Bators declara que esta noite, ele está atacado, o cérebro está queimando e ele é um fio de alta tensão. Estraçalhante em todos os sentidos, rock dos bons para ser gritado além do limite do aceitável!

    E mais um registro clássico da Blank Generation termina com a música "Down In Flames", dessa vez assumindo um lado mais punk. Acordes abafados, poucos variados e graves agem em grande velocidade para que Stiv tenha uma de suas melhores performances do álbum. A cozinha atua com densidade extra aqui, e na letra eles parecem falar da origem do fim de todos os garotos mortos existentes no mundo. Meninos assustados de uma possível guerra nuclear, junkies ao extremo e que sempre terminam ferrados da mesma maneira - mortos, alimentando os mortos e com o cérebro morto.

    Com certeza os Dead Boys não foram o principal destaque da geração em branco criada por Richard Hell, mas a inconseqüência, o descompromisso, a fúria, a safadeza, está tudo lá - com roupas de couro e suásticas para deixar o ouvinte conservador mais ofendido ainda. E a banda foi se desfazendo, alguns de seus membros morrendo, outros chegando muito perto disso, o que exclui qualquer possibilidade volta. O que resta é ouvir e delirar com essas 10 músicas em mais ou menos 28 minutos. Para quem é chegado numa safadeza e em pose de bad (ou seria dead?) boy, esses punks de Cleveland descobrem as meninas com a carne deles na boca e os ouvintes com a música deles ajudando a ensurdecer o entusiasta de um legítimo disco de rock, que apesar dos 30 anos, continua com vigor e ousadia.

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    posted by billy shears at 9:46 PM | 8 comments

    domingo, março 18, 2007
    Barão Vermelho - Barão Vermelho

    Não é exagero dizer que poucas bandas experimentaram, ousaram e inovaram tanto quanto o Barão Vermelho, principalmente em solo brazuca. Ainda nos é desconhecido como aquela banda descompromissada, com um nome tirado de um alter-ego de Snoopy, se tornaria aquela que por muitos é considerada a maior banda brasileira dos anos 80 e uma entre as melhores de nosso rock. O que sabemos, em ruídos e boatos, pois nada pode ser confirmado com precisão sobre aqueles tempos ''nebulosos'', é que o futuro baterista Guto Goffi e Maurício Barros, que em breve assumiria os teclados, colegiais amantes de blues e rock, se uniram a um rapaz de nome Roberto Frejat, guitarrista, e Dé Palmeira, baixista, para formar uma banda. Com o espírito roqueiro, aqueles garotos com idade entre dezesseis e vinte anos ensaiavam na casa de Maurício, ainda sem alguém para tomar o vocal. Léo Jaime, amigo de todos da banda, que – como quase todos os outros – cantava, recusou um convite para ser o vocalista da banda e, em compensação, indicou um amigo, Cazuza, que à época se apresentava em teatros e circos com um grupo cênico de humor, Asdrúbal Trouxe o Trombone.

    É clichê falar de Cazuza nesses tempos em que até filme já o retratou (de maneira fiel ou não), mas é igualmente impossível não lhe dar os créditos. Forte candidato a maior poeta do rock brasileiro (opinião que, pessoalmente, concordo), Cazuza pegou o gosto pelo rock em viagens a Londres e ao exterior em geral, onde se apaixonou pelos berros de Robert Plant, do Led Zeppelin, e pelos blues dilacerante de Janis Joplin e Billie Holliday. Isso ainda nos longíquos anos 70. Se por um lado era rebelde e roqueiro, deixando mesmo uma universidade de sucesso garantido para vagabundear pelas ruas do Rio de Janeiro, por outro tinha formação requintada, com conhecimento de literatura e artes em geral. Aspecto que delineou sua vocação artística, quando criança e durante toda a sua vida sua casa sempre esteve cheia de muitos artistas da música popular brasileira, devido ao estrelato da mãe e ao pai, praticamente dono da Som Livre. Isso fez com que ele adquirisse forte apreciação ao samba de Cartola ou à fossa de Dolores Duran.

    A junção entre o lirismo e o intimismo das letras de Cazuza e o som pesado, mas extremamente bem tocado, do Barão, se tornou a fórmula que todos sabiam que iria ser não apenas um sucesso comercial, mas uma verdadeira mostra de criatividade. Daí a conseguir um contrato para um disco não foi muito sucesso, principalmente depois dos shows em bares e pequenos lugares públicos, já bem falados na cena do Leblon. Além disso, o pai de Agenor Miranda de Araújo Neto era um dos dirigentes da Som Livre, lembram?

    O bolachão abria com ''Posando de Star'', que começa com batuques e palmas, para entrar então a voz de Cazuza, ''pouco importa o que essa gente vá falar mal, falem mal/eu já 'tô pra lá de rouco, louco total'', numa letra completamente boêmia, romântica, prezando o rock 'n' roll way of life, mas com um lirismo que não se via na maioria das músicas de muitos dos artistas considerados intelectuais da MPB. A guitarra de Frejat entra num ritmo maníaco, e a linha de baixo é especialmente viajante. Enquanto Guto voa em cima dos pratos e o teclado dá um clima rockabilly, o vocal berrado continua a destruir, literalmente. O primeiro solo do disco já dá uma mostra do que vem a seguir. Termina com a frase que abre, de maneira repentina e rápida.

    Um piano soa ao longe, duma maneira que lembra um pouco Chopin, um pouco os duetos... quando a guitarra e o baixo anunciam o que há por vir, Cazuza entoa um blues melancólico. ''Down Em Mim'', obra de arte parcialmente baseada em ''Down on Me'', de Janis Joplin, tem um clima muito profundo de auto-destruição, com versos como ''da privada eu vou dar com a minha cara de panaca grudada no espelho/e me lembrar sorrindo que o banheiro é a igreja de todos os bêbados.'' Isso não te deixa pra baixo, mas transforma a depressão e a tristeza em fúria, fúria artística. Novo solo, dessa vez mais calmo, de rara beleza. O piano ainda solta seus últimos suspiros, e a canção se vai...

    Um começo mais distorcido e menos pesado prepara ''Conto de Fadas'', com o teclado e a bateria com um destaque ainda não visto. E a letra não é menos devastadora, mas ainda assim sem abandonar as figuras poéticas e a linguagem figurada de Cazuza. É importante observar que apesar disso eles não se rendiam ao pedantismo de outros compositores; crítica mordaz à hipocrisia da classe média, com versos como ''princesinha dos cachos de mel/vai enfim calçar seu sapato/esquecido num bar'' e''papai e mamãe 'tão na sala/[...]/farejando/um futuro normal''. Como todas as outras, tem um solo, mas esse é maior, talvez mais bem trabalhado, que inicia com uma distorção e um som não vistos no Brasil desde os Mutantes.

    ''Billy Negão'' é rock and roll das antigas, com um riff grudento e cordas rápidas, com a bateria e o baixo em velocidade proporcional. A temática é de um personagem do submundo carioca que é preso por bater uma carteira, não por motivos violentos, mas apenas para pagar um pivô. Sarcástica, sim, mas a letra se prova uma maneira de contar história que poucos artistas souberam usar. A instrumentação é perfeita, com direito a mais um solo e algumas reviradas. Êxtase.

    Cordas em lenta degradação introduzem uma viagem literal, essa sim quase psicodélica, num instrumental dos mais originais. Quando entra o vocal, percebemos uma verdadeira desilusão com o mundo, em mais uma narrativa de história. ''Certo Dia Na Cidade'' pode não ser a melhor música do álbum, mas tem seu valor mesmo quando comparada com as ditas obras-primas do Barão com quem compete. Sem falar da guitarra, essa realmente inspirada pelos anos setenta, num solo que não espantaria se tocado por Jimmy Page ou Ritchie Blackmore...

    Vai aumentando gradativamente o riff, até entrar um teclado psicodélico na ode ao rock ''Rock 'N Geral'', com um ritmo que nos remete à década de 50. O solo agora fica também por conta das teclas, tudo na velocidade mais alta possível. Os versos são descompromissados, com até mesmo os ingleses ''hey mama can’t you hear my cry?/hey mãe, nunca me ouviu chorar?'' Termina com um orgasmo musical, quando todos os instrumentos perdem a força e param gradativamente.

    Um riff antológico dá lugar a um acompanhamento de bateria, e entra o vocal novamente exaltando a boemia, nesse clássico rock bluesy que é ''Ponto Fraco'', com base nos versos "todo mundo tem um ponto fraco/você é o meu, e por que não?", mas isso não abandona o amor quase platônico presente na canção, como nos versos "benzinho eu ando pirado/rodando de bar/jogando conversa fora/só p’ra te ver/passando, gingando/me encarando e me enchendo de esperança", com uma descrição ciumenta que realmente não se vê até mesmo em muitos livros atuais, esses tão louvados pela mídia. Cazuza mostra definitivamente a que veio.

    A bateria soa realmente meio oitentista, até se acelerar e a guitarra destruir e o vocal berrar "se você me encontrar assim/meio distante/torcendo cacho, roendo a mão/é que eu tô pensando num lugar melhor/ou eu tô amando/e isso é bem pior." "Por Aí" narra a desventura de mais um desiludido, não sem as interrupções repentinas da guitarra ou um solo distorcido. Não é a poesia mais linda do mundo, mas é sincera e devastadoramente realista.

    Uma guitarra em tom que cresce e cai anuncia aquela canção que fez com que Caetano Veloso declarasse Cazuza "o maior poeta de sua geração". "Todo Amor Que Houver Nessa Vida" tem um tom melancólico, solos distantes, mas tudo, como todo o resto nesse disco, muito bem tocado. Porém, o destaque aqui é a letra, com versos apaixonados como "eu quero a sorte de um amor tranqüilo/com sabor de fruta mordida/nós, na batida, no embalo da rede/matando a sede na saliva". É um clássico barônico. Com o perdão da linguagem, é foda.

    Aqui já não temos meramente um blues rock, mas sim um verdadeiro blues, acompanhado simplesmente do violão e backing vocals. "Bilhetinho Azul" é linda, suja, agressiva e poética, tudo ao mesmo tempo. Os versos são intimamente ligados, desde "hoje eu acordei com sono/sem vontade de acordar/o meu amor foi embora/e só deixou p’ra mim um bilhetinho/todo azul com seus garranchos" até "veio amor/como um abraço curto/p’ra não sufocar."

    E acaba; Barão Vermelho, porém, era e continua sendo, mesmo com integrantes a mais e a menos - entre eles o próprio Cazuza – uma banda muito prolífica, o que nos deu de brinde mais dois discos com essa formação, ambos igualmente bons. Talvez não suceda surgir uma nova banda como o Barão na cena roqueira brasileira, mas, se não acontecer, não há necessidade para lamento: já tivemos uma trupe de cariocas cravando não apenas o seu nome no rock brasileiro, mas o do rock brasileiro na música mundial.

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    posted by Gabriel M. Faria at 1:51 AM | 10 comments

    quarta-feira, março 14, 2007
    Johnny Thunders And The Heartbreakers - L.A.M.F.


    "Liguei pro meu amigo Tony Zannetta, que era um grande fã, e disse: 'Quer ser meu sócio como empresário dos Heartbreakers?'. Tony disse: 'Está louco? Uma coisa é sentar na platéia dizer como eles são fabulosos e como são a banda de rock & roll mais brilhante de todos os tempos, mas outra coisa completamente diferente é se envolver com eles. Eles são junkies! Você está maluco?' E pensei: 'Bem, seja o que Deus quiser. Vou fazer isso'". (Leee Childers)

    Se na década de 60 a mídia criava slogans para os Rolling Stones, perguntando aos conservadores "você deixaria a sua filha casar com um rolling stone?", no final dos anos 70 não havia mais propaganda cabível para promover a gangue, quer dizer, a banda de Johnny Thunders. Mas suas faces decadentes e maltrapilhas pareciam querer questionar: "você teria ao menos coragem de falar com um heartbreaker?".

    Em 1975, após lançar dois registros mais do que obrigatórios e influentes com o New York Dolls, Thunders abandonou a banda junto com o baterista Jerry Nolan, decretando o primeiro fim da banda. Junto com o famoso (ou famigerado) Richad Hell no baixo, eles fundaram o Heartbreakers. Antes mesmo de lançarem algum disco, a banda já era por si só tremendamente influente. Mas quando todos achavam que um supergrupo do punk rock estava se formando, Richard Hell deu o fora e no seu lugar foi chamado Billy Rath, e a formação foi completada com a segunda guitarra de Walter Lure. Logo, assinaram com a Track Records e foram chamados para ir para a Inglaterra abrir show dos Sex Pistols e do The Damned. Pronto. Johnny, Jerry, Billy e Walter quebravam corações, injetavam rios de heroína veias adentro, arranjavam encrenca por muito pouco e levavam muitas groupies para a cama. Por isso, não há sigla nem nome de disco que designe melhor uma banda que resolve adotar esse nome. "L.A.M.F.", ou "Like A MotherFucker". Verdadeiros filhos de meretrizes, "lixo branco", alguns dos muitos garotos esquecidos pelo mundo.

    Áspero, nem um puco sutil, gritado, uma verdadeira máquina de riffs dos anos 50 tocados da forma mais suja e agressiva possível, refletindo o próprio cotidiano dentro da banda, que muitas vezes só funcionava com o empresário pressionando, e muitas vezes, chegando até mesmo a sair no braço com alguns dos integrantes da banda. Mas os Heartbreakers deixaram esta primeira e única marca em 1977. Tudo bem que não é uma marca que muitos gostam de ver, como uma mancha seca de sangue na parede, mas é uma marca que persiste, e que por mais que você tente repudiar ou ignorar, ela continua lá, te incomodando.

    E você não precisará de muito esforço para manter isso em mente, pois assim que começam os acordes decadentes de "Born To Lose" e os vocais cuspidos de Thunders gritando "essa cidade é tão fria/e eu sou tão lerdo" e "viver numa selva não é tão difícil/mas viver na cidade vai comer o seu coração", e a banda toda gritando no refrão "Nascido para perder, nascido para perder, baby, eu nasci para perder", você começa a ter noção do buraco onde caiu.. Autêntico rock de garagem, ou, como a banda sugere na capa, de um beco sem saída.

    Salve-se quem puder. Menos de dois minutos e meio de pancadaria caótica, "Baby Talk" tem uma letra curta, direta e safada berrada a plenos pulmões por Johnny. Nem um pouco poética ou polida, tanto sonoramente quanto liricamente, apenas aquilo que o pessoal da geração vazia sabia fazer de melhor: barulheira agressiva e rude, sem maiores preocupações de quem estaria amando ou odiando.

    "All By Myself" tem um riff marcante e linhas vocais mais marcantes ainda. Mostra toda a herança rocker que o punk tinha, mas ao invés das mensagens de amor, Johnny Thunders dispara uma letra egoísta e pervertida. O solo aqui chega cortando aos ouvidos, um dos poucos momentos que o disco se dá ao luxo de tentar parecer ter algum esmero com suas canções, mas quando o vocal volta a gritar "All by myself/Not everybody else", essa ligeira perspectiva é estragada. Malditos junkies...

    A próxima é "I Wanna Be Loved", mas não caia nesses papos de junkie, o que eles tem de legais tem de mentirosos... Prova disso é que apesar dos muitos "eu quero ser amado/ser amado por você", Johnny ainda declara "Você não pode mudar minha mente/Você não pode mudar os tempos/Você pode fazer o que você quiser/É melhor você ler entre as linhas". Porradeira que dexaria o Who dos primórdios orgulhoso, tudo isso ancorado pelo vocal insolente e fanfarrão de Thunders.

    Balada insatisfeita, ou "It's Not Enough". As guitarras aqui soam mais melódicas, demonstrando a influência que a surf music dos anos 60 tinha sobre o punk rock (influência esta muito notada também nos primeiros álbuns dos Ramones - claro, isso se os Ventures e os Beach Boys passassem uma temporada em inferninhos novaiorquinos...) sustentadas por um baixo bem presente. E veja só; ainda tem um belo solo. E Johnny segue, disparando: "Você pode me dar isso,/Você pode me dar aquilo/Ainda não será o suficiente".

    A fúria volta, e em grande estilo; composta por Dee Dee Ramone e Richard Hell, mas de início recusada pelos Ramones por falar descaradamente sobre drogas, assunto sobre o qual a banda não queria falar sobre. Então restou a missão de Thunders berrar a ramônica "Chinese Rocks", sobre um passeio com Dee Dee pra comprar "pedras chinesas". E a banda ainda se esgoela no refrão, cantando "eu estou vivendo de pedras chinesas/tudo está na casa de penhor". Depois, Johnny reclama da casa estar caindo aos pedaços e de sua namorada chorando. Cara de pau é pouco. A sonzeira, então, nem se fala. Poucos porém abrasivos acordes, bateria esporrenta e um refrão fantástico, tanto na energia quanto na cara de pau.

    "Get Off The Phone" é iniciada novamente por uma contagem e guitarras cortando o tímpano. Cuspindo a letra, Thunders descreve um relacionamento de longa data que enche o saco dele. No início, a mulher caía de amores por ele, mas agora vive caída ao lado do telefone. E a banda se esgoela gritando: "saia do telefone/não há ninguém em casa/então saia do telefone/porque eu não quero você". Ainda é detonado um solo mais afiado ainda. Um golpe que te atinge o tórax como uma faca.

    Até as melodias são cafajestes em "Pirate Love". Ele diz pra uma garota ser do jeito que ele quer, e diz que tanto as garotas inocentes como as mais experientes estão dizendo não para ele. E ele diz no refrão, em meio a solos de guitarra estraçalhantes e o baixo que parece dar um mata-leão no ouvinte: "amor pirata/é o que eu estou procurando/amor pirata/eu nunca precisei tanto disso". A canção vai se esfacelando até acabar.

    "One Track Mind" tem um dos riffs mais animais e selvagens que a década de 70 viu nascer. Junto com a bateria, parece que você é uma criancinha inocente sendo espancada por algum campeão do boxe da categoria peso-pesado. O solo é um gancho que faz cair de cara na lona para que você possa ouvir a banda berrar direto no seu ouvido "I GOT ONE TRACK MIND, I GOT ONE TRACK MIND". E melhor não reclamar, senão apanha mais.

    Se não reclamar, também. Desrespeitando o título, "I Love You" chega aos nossos ouvidos como um trator de agressividade, e mesmo com a letra mais romântica que algum pobretão de New York conseguiria fazer, ele ainda canta "Eu te amo/Realmente amo/Não tem ninguém como você/Baby eu amo" do jeito mais berrado e maltrapilho possível. As garotas certinhas certamente acharam que era um bêbado tentando dar em cima dela; mas o famoso affair de Johnny, Sable Starr, provavelmente acreditou (claro, não por muito tempo, mas sabe como é, década de 70, New York, CBGB's, junkies...).

    "Going Steady" tem o refrão simples, e uma estrutura com paradinhas e retomadas empolgantes. Sem muito segredo, o bom e velho rock and roll que ainda soa jovem e agressivo até os dias de hoje. A música transborda todas as características do Heartbreakers, mais um tiro certeiro entre os olhos. Desde a primeira música você já sentiu seu coração e sua alma sendo pisados e vandalizados, mas você ficou numa atitude "bate-que-eu-gosto", e como bons dominatrix que são, os Heartbreakers mui gentilmente atendem seus pedidos...

    O golpe final é extremamente barulhento e recebe o nome de "Let Go", com a sonoridade e a letra mais alucinadas do álbum. As guitarras te deixam com joelhos, investindo com fúria e vigor monstruosos. Rock mal-educado como só Johnny sabe fazer do seu jeito todo especial. É um chamado para conhecer todos os extremos que o Rock pode te oferecer. E um dos últimos libelos punks de Thunders.

    Johnny Thunders é uma figura que, sem dúvida, faz uma grande falta à música. O rock cafajeste, safado, barulhento, decadente e violento e batizado com óleo de peroba faz uma bruta falta no cenário de hoje em dia. Depois dos Dolls, Thunders deixava sua terceira aula definitiva de como fazer um disco de rock and roll genial precisando apenas de guitarra, baixo, bateria, microfone e um grupo de junkies que saibam como nos deixar estatelados no chão. E sem sentir nem pena nem remorso. L.A.F.M.

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    posted by billy shears at 9:37 PM | 7 comments

    quinta-feira, março 08, 2007
    Lou Reed - Transformer


    Lewis Allen Reed é uma figura um tanto estranha na história da música pop. Nos anos 60, o garoto que quando criança foi submetido a tratamentos de choque que a família aplicava para ser curado de sua homossexualidade, era envolvido com pop art e liderou a banda destinada ao fracasso Velvet Underground, pois em plena década do pacifismo e do amor livre o homem insistia em cantar sobre tráfico de drogas, uso das mesmas, sadomasoquismo, assassinato... O que deixou muita gente chocada, tanto para o bem quanto para o mal. Quando o Velvet encontrou seu fim, o inglês David Bowie, fã da banda, chamou Lou Reed para produzí-lo em uma carreira solo, ao mesmo tempo que também produzia o "Raw Power" de Iggy Pop & The Stooges. Junto a Reed e Iggy, os New York Dolls completariam o glam americano, muito mais frenético, urbano e violento que o glam inglês, mais metafórico e fantasioso.

    Pois bem; se no Velvet, Reed já chutava o pau da barraca mesmo tendo que enfrentar outros pólos criativos da banda como John Cale e Sterling Morrison, o que o cara faria caso começasse uma carreira solo? Com certeza conseguiria abordar a fundo o que quisesse ao seu bel-prazer e sem ter que rachar composições com ninguém, ou ser obrigado a deixar uma loiraça alemã cantar suas composições, não é mesmo? Um LP com o nem um pouco discreto título de "Transformer", o segundo de Lou, respondeu a qualquer dúvida que poderia surgir- o primeiro, que levava o nome do artista, não teve lá tanto reconhecimento, mas já mostrava o que a carreira de Lou viria a ser.

    O segundo disco solo de Lou Reed mostrava o que o glam americano era tal qual um filme de Martin Scorsese no qual todos usassem maquiagem - violento, envolvente, transgressor, provocante, muitas vezes não deixando espaço para meio termo diante do conteúdo apresentado. Na entrevista do lançamento desse disco, com os olhos pintados e apertadas roupas pretas, Lou Reed declarou estar namorando um transsexual de nome Candy. David Bowie, produzindo e fazendo backing vocals, e o escudeiro de Bowie Mick Ronson cuidando dos arranjos, foram duas figuras importantes no jogo malicioso de Lou, entre outros músicos e profissionais de estúdio.

    A levada contagiante de "Vicious" é combinada com espamos elétricos, enquanto Lou Reed repete a frase de Andy Warhol "depravado, você me acertou com uma flor" e completa com "você faz isso toda hora", contando sobre um amor agressivo e moderno, pois a tal flor acerta Lou toda hora. A música vai lentamente ganhando corpo até ficar contagiante e Lou Reed sair gritando "vicious, you're so vicious" repetidamente. Ainda que romântica, também forte, direta e sincera, demonstrando como eram os loucos relacionamentos naquele período, pervertidos e perigosos ao último.

    "Andy's Chest" começa lenta e vai ganhando corpo. O teclado nessa música tem um ótimo desempenho ao criar uma melodia que prende a atenção do ouvinte, para que a cozinha crie um ritmo delicioso que casa muito bem com as melodias da canção. Lou mostra-se um exímio conhecedor das ruas e utiliza várias metáforas de fácil entedimento, em versos como "Todos os chupadores de sangue barato estarão voando depois de você" e "E cortinas encordadas com diamantes, querida, pra você/E todos os nobres romanos pra você/E soldados de reinos cristãos, querida, pra você", ao mesmo tempo em que destaca o objeto da sua admiração da multidão.

    O auge do disco surge na balada "Perfect Day", uma das melhores músicas da carreira de Lou Reed. Surgindo em compassos suaves, antes de completar dois minutos a música já se tornou um colosso de intensidade, onde graves irrompem em meio a teclados muito emocionais e violinos de encher os ouvidos. Lou alcança seu lado mais sentimental, ao lembrar de passar um dia perfeito com alguém que fez ele se sentir alguém normal, e se esquecer dele mesmo por alguns momentos.

    "Hangin' 'Round" mostra como Lou Reed sabia criar um rock empolgante. Ainda com certa aura dos sixties, mas elétrica feito os anos 70, se adapta bem ao movimento glam ao qual Lou aderia. Ele descreve várias pessoas que faziam coisas com futuro promissor ou que faziam coisas inusitadas, e no refrão ele canta "então vocês continuam se pendurando pro meu lado/e eu não estou feliz de vocês terem me encontrado/vocês continuam fazendo coisas que eu desisti anos atrás" de forma realmente empolgante, feito realmente pra cantar junto.

    Vemos aqui outro dos grandes clássicos do álbum, "Walk On The Wild Side", que relata as experiências homossexuais, transformistas e junkies de Lou Reed, contando a história de várias garotas com algo a mais. O instrumental aqui é discreto se comparado com a voz de Lou Reed, mas a bateria age para sustentar o principal destaque musical da canção, que é a linha de baixo fenomenal do baixista Herbie Flowers, que primeiro gravou o baixo acústico para depois gravar por cima o baixo elétrico, dando um efeito extremamente único. "New York é o lugar onde eles dizem: hey baby, dê um passeio no lado selvagem", afirma Reed sarcástico.

    Agora é ouvida "Make Up", música cadenciada que parece ter saído de algum cabaré, com seu piano nostálgico e seu baixo soando alto. Lou Reed conta sobre uma garota que é linda quando está dormindo do lado dele na cama, mas quando acorda, se entope de maquiagem, e Lou diz que ela é uma garota astuta, e que "Quando você está na cama você é tão maravilhosa/É tão legal se apaixonar/Quando você se veste eu realmente fico chateado/As pessoas dizem que isso é impossível".

    Sem a mesma tristeza do dia perfeito, surge "Satellite Of Love", talvez o lado mais pop e acessível de Lou Reed, com direito a uma grande performance de Bowie nos backing vocals e um dos melhores refrãos que Reed já compôs, mesmo sendo simples, repetindo o nome da canção. Lou reflete sobre os satélites colocados em órbita, afirmando que começou a pensar sobre o assunto porque viu na TV, invenção esta que gosta de assistir e que sempre o deixa pensativo, e afirma ironicamente que "um satélite foi para Marte/logo, lá estará cheio de estacionamentos" no melhor verso da canção.

    Overdose de boas canções. "Wagon Wheel", repartida em andamentos rockers e refrão quase sumido que logo retoma o contagiante riff da música e a partir daí só cresce, a canção soa realmente exótica nessa estrutura. Sarcástico, Lou Reed pergunta se a pessoa não quer ser a roda do vagão dele, e fala para a pessoa viver a vida dela, ter alguma diversão, e se sentir atingido pela vida, "apenas dê um chute na cabeça dela/e a conserte de novo". Isso que é auto-ajuda...

    "New York Telephone Conversation" é quase uma brincadeirinha de Lou de pouco mais de um minuto e meio, onde em cima de um piano que lembra aquelas canções pré-históricas de antes da década de 50, e comenta como o pessoal de New York é fofoqueiro, onde todos sabem de qualquer coisa que aconteça com qualquer um.

    Um dos melhores rocks já compostos por Lou Reed está em "I'm So Free", com um riff empolgante, um refrão contagiante e backing vocals em falsete. "Sim, eu sou um filho da Mãe Natureza/E eu sou o único/Eu faço o que eu quero e eu quero o que eu vejo/Podia acontecer apenas comigo". Um atestado em forma de rock and roll de como eram os libertadores (e principalmente, libertinos) anos 70.

    O álbum encontra seu final de forma bem irônica em "Goodnight Ladies", onde um instrumental nostálgico e um Lou Reed cantando até mais grave sugere todos a se chaparem e diz que já estamos juntos há muito tempo, reflete sobre a futilidade da vida, lamenta da solidão de uma noite de sábado e sempre encerra os versos se despedindo. Humorado ou sincero, glam ou rocker, Lou sempre consegue ser fantástico.

    E Lou Reed não iria parar por aí. Ainda lançaria o sombrio, forte e conceitual "Berlin", o álbum todo feito em feedback "Metal Machine Music" e todas as crônicas urbanas, sombrias e violentas de "New York", apenas para citar mais três fantásticos álbuns de Lou. Se tratando dele, sempre pode-se esperar mais. Um dos melhores compositores do século 20 e que, mesmo vivendo uma vida de excessos continua vivo (e abusado) até os dias atuais. E, se permitem o clichê de encerramento:

    Goodnight ladies,
    Ladies, goodnight
    Let me tell you now, goodnight ladies, ladies goodnight
    It's time to say goodbye...

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    posted by billy shears at 11:22 PM | 7 comments

    domingo, março 04, 2007
    Cream – Disraeli Gears


    Ginger Baker. Jack Bruce. Eric Clapton. Um dos melhores (senão o melhor) power trios da história.

    O Cream foi, junto com bandas como The Beatles, The Who e The Rolling Stones, algo que causou um impacto significativo na música popular da época, trazendo um tema musical pesado, e ainda assim técnico e inovador, que contribuiu muito para o surgimento de bandas posteriores como Led Zeppelin, Deep Purple, e Rush. Suas performances ao vivo foram influência primordial para as bandas de rock progressivo, e bandas de jam music, como o Grateful Dead.

    O início do trio pode ser datado a partir de 1966, época em que Eric Clapton conheceu Ginger Baker, que já tinha sua própria banda, já com Jack Bruce tocando baixo, harmônica e piano. Quando os dois se conheceram, depois de um concerto, um ficou impressionado com as habilidades do outro. Baker imediatamente convidou Eric a se juntar ao novo grupo que ele iria formar, e Eric aceitou na mesma hora, com uma única condição: que Baker contratasse Bruce como o baixista da banda. Clapton já havia conhecido Jack Bruce, e tinha se impressionado com o seu vocal e suas habilidades técnicas.


    A razão pela qual o Cream é considerado um dos melhores power trios da história é simples. Junte a voz aérea e as linhas intensas de baixo de Jack Bruce, a bateria pesada e fortemente influenciada por jazz de Ginger Baker, junto com a guitarra divina de Eric Clapton (ou DEUS, como preferirem). O resultado, como esperado, é incrivelmente marcante. Mesmo com apenas 2 anos de carreira, 2 albuns ao vivo e 4 de estúdio(sendo dois desses, metade estúdio e metade ao vivo), o Cream gravou seu nome na história para sempre.

    O motivo principal de tanto reconhecimento é o segundo album da carreira do trio. Gravado e lançado em 1967, o Disraeli Gears pode ser classificado como o primeiro –e um dos únicos- album de blues psicodélico da história. O próprio nome é uma piada interna da banda. Diz-se que Eric Clapton estava dizendo a Ginger Baker que estava pensando em comprar uma bicicleta de corrida, e o roadie da banda, Mick Turner, entrou na conversa comentando sobre a performance daqueles “Disraeli Gears”, se referindo na verdade a “derraileur gears”, que é um tipo de marcha. A banda achou hilário, e decidiu que esse deveria ser o nome do próximo album. Se não fosse por Mick, o album teria simplesmente se chamado “Cream”.

    O disco abre com “Strange Brew”, que é um dos principais hits do trio. O blues da guitarra de Clapton entra com naturalidade, auxiliado pela bateria de Baker, anunciando a voz suave e segura de Clapton, cantando sobre uma estranha poção, que mata o que está dentro de você. Acredito que ele se referia a heroína, mas não tenho certeza. Puro blues com um leve toque de lisergia.

    Seguido pelo maior hit da banda, e single mais vendido, “Sunshine Of Your Love”. As linhas de baixo de Bruce e os solos de Clapton nessa música são duas coisas que causam queixos caídos até hoje. A letra curta, porém memorável, foi escrita durante toda uma madrugada (“It’s getting near dawn\
    When lights close their tired eyes.”) por Jack Bruce e Pete Brown, e depois terminada por Eric Clapton. Indispensável a qualquer um que sinta qualquer tipo de afinidade por blues, psicodelia e rock ’n roll, mesmo que separadamente.

    World Of Pain” pende mais pro lado da psicodelia do que do blues, com uma letra existencialista que leva o ouvinte a refletir às melodias cuidadosamente trabalhadas do trio. Uma melodia intrigante banhada pelo verão do amor.

    Assim como “Dance The Night Away”, que é totalmente lisérgica, apenas com uma base blues. A letra parece caracterizar um poeta apaixonado pelo surreal e descontente com a realidade. Escutar essa música é sempre uma viagem. Uma das mais bem trabalhadas do disco, com certeza.

    Blue Condition” é composta e cantada por Ginger Baker. Uma letra de difícil interpretação, uma melodia incomum e solos de blues. Parece mais com as tentativas de post-punk/new wave do final dos anos 70. À frente do seu tempo.

    Tales Of Brave Ulysses” foi escrita por Martin Sharp e dada a Eric Clapton. A letra é inspirada na Odisséia de Homero, antigo conto grego. Uma letra muito bem escrita, Eric Clapton na sua forma mais divina, Jack Bruce absolutamente impressionante, e a batida envolvente de Ginger Baker. A letra foi colocada em uma série de arranjos inspirados pela música “Summer in the City” , da banda The Lovin' Spoonful, e depois completada por Jack Bruce. Essa canção traz também a primeira atuação de Clapton usando um pedal “wah wah”.

    SWLABR”, que é um acrônimo de “She Walks Like A Bearded Rainbow”, possui riffs pesados e diretos, e uma das melhores atuações de Baker no album. Uma letra irônica sobre uma mulher quase perfeita, porém com defeitos marcantes(You got that rainbow feel/But the rainbow has a beard).

    W’re Going Wrong” é lenta e lisérgica, e pode decepcionar os mais ligados ao rock ‘n roll cru dos 60s, mas vale a pena ouví-la com cuidado e admirar a virtuosidade e a diversidade do Cream, em questão de música.

    Outside Woman Blues” é uma música composta em 1929 por “Blind Willie” Joe Reynolds, antigo cantor e compositor de blues. Foi uma homenagem (muito honrada, por sinal) do Cream a uma lenda do blues, que voltou a ser lembrada por causa disso. A letra fala de forma direta e com atitude sobre homens casados e suas amantes.

    Take It Back” é totalmente blues, do começo ao fim, passando pela letra. Acaba ficando um pouco alheia ao resto do album por não ser psicodélica, mas isso não importa muito quando se tem Bruce, Baker e Clapton tocando um blues clássico despretencioso e de qualidade.

    O disco fecha com “Mother’s Lament”, a música mais incomum do album, por não ser nem blues, nem lisergia, e muito menos rock’n roll, mas sim uma música feita nos moldes dos anos 40, com o trio cantando, acompanhados apenas por um tímido piano, uma melodia simples e bem-humorada, contando uma curta estória sobre uma mãe que perdeu o seu bebê magrelo enquanto dava banho nele. No entanto, os anjos apareciam pra ela dizendo que ele está mais feliz assim, brincando com eles lá em cima. E também que ele não vai mais precisar de um banho. É, pensando melhor, talvez seja a música mais lisérgica de todo o album.

    Há 40 anos atrás, junto de obras-primas como Their Satanic Majesties Request (The Rolling Stones), Are You Experienced (The Jimi Hendrix Experience), The Velvet Underground And Nico (Velvet Underground), Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane), The Piper At The Gates Of Dawn (Pink Floyd) e The Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band (The Beatles), esse disco escancarou as portas da psicodelia e do inesquecível verão do amor. Criou conceitos, influenciou grandes lendas da música, e botou Bruce, Baker e Clapton em um pedestal, para sempre. Logo depois dele veio o Wheels Of Fire que é aclamado por muitos (inclusive esse que vos escreve) como o melhor disco da curta carreira do Cream. Porém, o Disraeli Gears continua sendo o mais importante, por ser uma das extraordinários criações de 1967, o ano mais importante da história da música.

    Seguindo o clima libertário da sua época, esse disco não poderia terminar de outra forma, senão como o final de uma boa trepada. No final de “Mother’s Lament” pode-se ouvir claramente:

    Thank you,
    Do you wanna do it again? ”

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    posted by Conrado at 2:05 AM | 10 comments

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