Desculpem a falta de imparcialidade, mas, nada do que você ler abaixo é uma resenha. É mais uma declaração mesmo, um agradecimento, uma mostra de admiração... Que na verdade nem deve ter sido com tal intenção, mas quando o som chegou até os ouvidos... A vida não podia ser mais a mesma sem anunciar aos sete ventos que maravilha do mundo moderno eu estava testemunhando... E se não o fiz antes... Bem, antes tarde do que nunca, diziam os sábios.
Além do que, se eu me obrigasse a ser imparcial, você leria tudo o que você já sabe. É novidade que o americano Robert Allen Zimmerman é uma das figuras mais emblemáticas em matéria de música, cultura e comportamento no século vinte? Não. Você já tem plena noção disso. Que ele compete em pé de igualdade com Frank Sinatra, James Dean, Charles Chaplin, Elvis Presley, Marlon Brando, The Beatles, os Rolling Stones? Que há mais de quarenta anos o músico poeta (ou seria poeta músico?) pegou seu violão e exprimiu a primeira frase que o catapultaria das sombras para os holofotes em sua composição "Blowin' In The Wind": "Quantas estradas precisará um homem andar/Antes que possam chamá-lo de um homem?".
Daí em diante, foi céu e inferno para o cantor. Os vampiros da mídia o cercando por todo lado como um novo messias, a transição da música folk para o seu folk-blues-rock and roll elétrico e altamente autoral e a conseqüente revolta de antigos fãs que não toleraram tal mudança, frustrações, conversão ao cristianismo, ostracismo... O homem que encarnou Dave Van Ronk e Arthur Rimbaud, que foi além de ser mera mistura de Dylan Thomas com Woody Guthrie conheceu todos os ritmos, estradas e pessoas. E todas elas foram registradas em alguma das mais geniais poesias do século. E depois ganharam cordas, voz e todo um novo alcance.
Escolher o melhor disco de Dylan para disponibilizar é injustiça. Mais justo seria disponibilizar de uma vez todos os seus discos. Então vai um aleatoriamente. Um dos meus preferidos "Blonde on Blonde". Quem acompanha o blog sabe que eu tenho aquela mania de falar que não dá pra expressar tudo nem se eu realizar uma monografia. Mas juro que não é hábito de preguiçoso. É que me sinto tão herético em interpretar, impôr interpretações, descrever cada entonação, virada ou melodia... Principalmente em discos como esse.
Como não se render à chapaceira anárquica, divertidíssima e dançante de "Rainy Day Women #12 & 35"? Em que no som mais "Memphisniano" que já atingiu, fala que todos querem deixa-lo alto, chapado e ligadão... E conclui dizendo que "eu não me sentiria tão sozinho/todo mundo deve ficar alto!". E os sete deliciosos minutos de "Visions Of Johanna", com sua letra nada menos que sublime?
Também é animador notar um apaixonado e límpido Bob Dylan em dois de seus maiores clássicos: "Just Like A Woman" e "I Want You"? Baladas tão perfeitas, com cara de feitas na hora, letras escritas no joelho, e melodias de guitarra, piano e gaita que vinham naquele segundo, naquele momento... É tudo tão espontâneo, que parece que o disco foi composto ontem, dado o seu frescor. E o que são versos feito "Ela te prende como uma mulher/Ela faz amor assim como uma mulher/E ela geme assim como uma mulher/Mas ela se magoa que nem uma pequena garotinha" e "O saxofone de prata disse que eu deveria te rejeitar/(...)/ Mas as coisas não são assim/Eu não nasci para te perder"?
E ainda tem outros momentos que as lágrimas se equilibram nos olhos só de pensar em escrever. "Stuck Inside Of The Mobile With The Memphis Blues Again", "Absolutely Sweet Marie", "Sad Eyed Lady Of The Lowlands"... E queria eu poder dizer que estou exagerando. Quem conhece sabe como tudo soa cru e sofisticado, espontâneo e conciso... Blonde On Blonde. Setenta e três minutos de pura perfeição. Que eu não me atrevo a chamar de nada menos que genial.
E pela madrugada mais negra,
Pelo romance mais doce,
Durante a perda mais amarga,
Zimmerman canta.
E nada consegue ser tão visceral e tocante quanto isso. Ah, quase nada. Meus caros Beatles e Rolling Stones, juro nunca esquecer vocês mas... Essa noite é de Dylan.
2 Comments:
o maior compositor de todos os tempos,visionário,poeta,gênio!.
DYLAN É O CARA!!!!!!!!!
e ber, voce tb é o cara hahaha
amo suas resenhas
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