O Audioslave é uma banda que nasceu de uma forma um tanto injusta: para que seu parto ocorresse, seus progenitores tiveram que encontrar seu fim: o Soundgarden, uma das bandas-mãe do Grunge - que já gravava álbuns quando o Nirvana ainda estava fazendo suas primeiras gigs -, estilo que varreu o Hard Rock farofa para debaixo do tapete e incentivou o estouro do Rock independente (cunhado também como Indie), doou sua figura mais carismática, o vocalista Chris Cornell. Já o Rage Against The Machine, uma das bandas mais políticas que já existiram ao lado do MC5, Gang Of Four e, mais atualmente, o System Of A Down, dona de um som rap-punk-funk com Che Guevara como ícone máximo, perdeu seu vocalista Zack de La Rocha, e o resto da banda, ou seja, o guitarrista Tom Morello (o guitar-hero da década passada), o baixista Tim Commeford e o baterista Brad Wilk juntaram seus esforços com Cornell, e então surgiu o Audioslave.
Muito produtivo no quesito composição, o Audioslave chega ao seu terceiro disco, "Revelations", em cinco anos de existência. O ponto positivo na sonoridade do Audioslave é tentar juntar o melhor de dois mundos: o potente vocal, os momentos sombrios, o peso e as letras reflexivas do Soundgarden com a agressividade instrumental, a cozinha sólida e os riffs marcantes do Rage Against The Machine. O ponto negativo é a falta da ousadia que víamos em ambas as bandas, como o caos sonoro e a truculência metaleira da antiga banda de Cornell, ou a salada ensandecida de ritmos do Rage Against. Segundo a banda, o que eles tentaram compor nesse disco foi uma mistura de Led Zeppelin com Earth, Wind and Fire. Se eles conseguiram? Continue lendo...
Melodias doces abrem a faixa-título "Revelations", mas assim que a bateria é introduzida, entra o ataque sonoro das guitarras, revelando um Hard Rock bem marcante, com um interessante refrão mais melódico que os versos. Um relacionamento é explorado na letra, sobre uma pessoa que não consegue viver sem ouvir as revelações da outra, já que a falta das mesmas faz ele ficar depressivo.
O ruidoso início de "One And The Same" prepara terreno para mais um hard rock, de versos contidos e bastante grooveados. Cornell faz uma ótima performance vocal, chegando até a usar tons roucos enquanto canta ou grita. O solo de Tom Morello é outro destaque. A letra parece criticar uma pessoa, como se vê em versos "Você usa uma máscara como um alvo/Mantém seus inimigos próximos" e no refrão "Mas como o sangue e a chuva,/O amor e a dor são iguais e um só".
"Sound Of A Gun" tem um agudo início nas primeiras cordas que logo torna-se grave à medida que a angulosa cozinha entra. Mas acaba enganando o ouvinte, pois é uma música mais lenta que as anteriores, só ficando mais pesada no refrão. Na letra, o eu-lírico foge do som de uma arma, onde nota-se um contexto também político nos versos "Essa música é para as filhas e filhos esquecidos/Aprendendo a se manter de pé/Esta música é para os inocentes desconhecidos/Enterrados na areia", o que detona felizmente que o lado Rage Against da banda não deixa o lado Soundgarden tomar conta da lírica totalmente. A canção ainda apresenta um solo bem ao estilo do Rage Against, acrescentando uma variação à estrutura grunge de "verso leve-refrão pesado".
Marcada pelo início feito pela bateria, "Until We Fall", é uma leve e doce balada, demonstrando que o objetivo da banda com a canção anterior era ir freando o ritmo do álbum. Um pouco fora do usual do que o Audioslave começa a fazer, até ameaçando crescer em termos guitarreiros, mas ficando por isso mesmo. Chega até a ser interessante, mas é muito água com açúcar... Não é uma "Like A Stone", sabe? A letra reflexiva volta ao pólo Soundgarden da banda, só que ao contrário da depressão do grupo de Seattle, a letra chega até a demonstrar uma certa esperança. Teria Cornell feito as pazes consigo mesmo?
"Original Fire" é iniciada por uma bateria marchante e ouvimos então uma pancada nos ouvidos. Um hard rock grooveado, com um baixo muito sonoro e a guitarra rugindo em alternância com a voz de Cornell. E uma letra política volta à tona, com Cornell cantando a plenos pulmões "O fogo original morreu e se foi/Mas a revolução por dentro continua", talvez fazendo uma menção a todas as bandas políticas que acabaram por desentedimentos ou morte de integrantes, mas que continuam motivando quem ouve, e também de personalidades políticas já falecidas. Excelente, não é à-toa que é o single do álbum.
Seguimos então com "Broken City", levada por baixo e bateria na maior parte das músicas, com a guitarra de Tom atacando repentinamente. A canção mais funky do álbum, apesar dos intermezzos melódicos. A letra tem várias facetas, sugiro que a leiam por vocês mesmos, mas posso adiantar que tem um contexto tanto pessoal como político. Apesar do refrão marcante e da levada interessante, não chega a impressionar.
"Somedays" não quebra o ritmo da anterior, continuando com groove marcante, apesar de, dessa vez, conter um refrão mais melódico, com Cornell e a banda repartindo o vocal no refrão para cantar o nome da música. As bases de guitarra, assim como um breve momento solo da bateria, seguido pela usual caída de ritmo que acontece em quase toda música do Audioslave.
Segue então "Shape Of Things To Come" que apesar de suportável... Decepciona. Uma canção de introdução hard que descamba para versos lentos é algo que já ouvimos do álbum, lá no início... O resto, você já conhece... Peso no refrão, solo melódico, versos sombrios... Tudo bem que o grunge imortalizou essa fórmula, mas caramba, nem eles usavam de forma full-time...
Outra música introduzida por bateria... "Jewel Of The Summertime" é guiada por guitarras sinuosas e um vocal em volume de gravação mais baixo de Cornell, mas nitidamente mais gritado e imposto, ganhando uma estrutura até dançante, em uma letra que parece falar sobre crescimento. Com momentos para chacoalhar a cabeça, e depois o esqueleto, volta pra cabeça, e repete-se o movimento. O solo ganha destaque, pois lembrando os bons tempos, Tom Morello investe em um solo de caratér virtuose, aquele que quebrava o ritmo pauleira do Rage Against. Mas aqui, o ritmo seguia grooveado, e como as outras, parece até meio previsível.
"Wide Awake" é guiada por baixo, bateria e uma guitarra discreta, e o vocal sempre contido de Cornell, até quando a música pesa. Vem o tom político em "Você consegue ver bem no olho do furacão/12.000 pessoas mortas ou abandonadas para morrer/Sigam os líderes/No olho pelo olho e nós estaríamos cegos/Eles estão por assassinar, isso tenho certezaNesses tempos incertos". No final da música, Chris começa a berrar furiosamente o nome da música, dando um aviso que a banda está bem acordada em relação aos problemas do mundo.
"Nothing Left To Say But Goodbye" entra em seguida, revelando uma canção cadenciada, sem a morbidez das baladas grunge ou da psicose das músicas arrastadas do Rage Against, mais palatável. A canção tem uma letra bastante traumática, vista principalmente em versos como "Eu me matei, joguei fora minha saúde mental mas ninguém estava piscando um olho./Quintal, porão, jogado no pavimento/Não deixo nada a dizer a não ser um adeus".
Uma surpresa ao final do álbum: com um riff mais metaleiro que hard, a última música "Moth", apesar de cair de ritmo nos versos, em certo ponto cresce e adquire peso, repetindo tal estrutura até o final da canção. Porém, a canção se revela sombria o suficiente para ser considerada interessante. A letra fala de uma pessoa que quer se livrar da outra, pois, apesar de gostar da companhia dela, sente-se sufocada e prejudicada por ela. E sente-se meio que dolorosamente obrigada a se separar.
Enfim... Fãs de Soundgarden, feito eu, e fãs de Rage Against, feito eu também... Por mais que vocês sejam fãs, o disco não é para vocês. Caro fã de Soundgarden, você não encontrará um porradaria sônica distorcida e frenética, de pegada mastodôntica, muitas vezes flertando com o hardcore e o progressivo. Caro fã de Rage Against The Machine, você irá encontrar, de início, uma fábrica de riffs fortes e cozinhas sólidas, mas nem tão agressivo e potente como o grupo de Zack costumava ser. Ou seja, em uma síntese geral, temos um disco pós-grunge, de refrões acessíveis, fórmulas previsíveis, repartidos em muitas canções cadenciadas e/ou com groove, algumas baladas e pouquíssimos rocks pauleiras. Talvez por isso o Audioslave tenha angariado um público bem maior que o Rage Against The Machine e o Soundgarden.
Agora, se você não dá a mínima nem pro Soundgarden, nem pro Rage Against The Machine, e tem certeza que não irá sentir falta de um instrumental Sabbathico apoiando a voz de Cornell, ou se em meio aos riffs angulosos não irá sentir a mínima saudade de Zack de La Rocha aparecer discursando, pregando, protesteando e rugindo feito um leão politicamente conscientizado você irá gostar do disco... Mas depois de ouvir algumas vezes, as fórmulas fáceis e a pouca variação de estruturas de canções te encherão, e você provavelmente irá só ouvir as famosas, e procurar uns álbuns mais diversificados. Como por exemplo... os do Rage Against The Machine e Soundgarden!
Marcadores: Resenhas
7 Comments:
nunca fui grande fã do Soundgarden e nem do Rage Against The Machine... mas curto o Audioslave.
os dois primeiros cds eu ouvi há tempinho atrás, e esse terceiro aí nunca ouvi... mas pela resenha parece ser bom :)
bjs!
tive oportunidade, mas nunca ouvi Soundgarden, mta gente diz que é bom... mas Rage, tenho uns 2 cds... é mto bom! mas Audioslave é demais! =D
de certa forma o grunge nao me agrada.
Se eu falar que só conheço Like a Stone vc me bate? Não, né? Até porque eu gosto de Like a Stone. Não sei, o vocal do Audioslave não me agrada, mas isso não quer dizer que seja essencialmente ruim. Eu só preciso conhecer mais.
Grunge 4ever.
A resenha ficou ótima.
O Audioslave, porém... só bom.
Nem de longe é sequer uma sombra do que foi o Chris e o Soundgarden nos tempos áureos. Ouçam (e resenhem) o Superunknown. Aquilo é Soundgarden.
eu não gosto nem de Rage nem de Soundgarden
mas gosto de Audioslave =D
é bomzinho. mas seria melhor se eles fizessem cds de 6 MUSICAS, pra facilitar né, pq eh tudo igual msm UHUHAUHAUHAHAHAUHAUHAUHA
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