Uma menina, com cerca de seis anos, acha a maquiagem e as jóias da mãe, que deve ter uns 20 anos ou mais que sua cria. Se maqueia toda, coloca um vestido muito maior que ela, põe um daqueles brincos tão grandes que ela quase cai no chão... Ela se sente toda orgulhosa pela sua inocente tentativa de parecer mais velha, enquanto os pais riem ou falam para ela deixar de besteira, e ela, tropeçando dentro dos sapatos de salto alto muito maiores que seus pés, começa a se mostrar para todo mundo de idade equivalente, cheia de si, criticando os outros pelo mínimo motivo.
A banda de Las Vegas, o The Killers, está passando por situação semelhante. A banda do guitarrista David Keuning, do baixista Mark Stoermer, do baterista Ronnie Vanucfci, e principalmente, do arrogante tecladista e vocalista Brandon Flowers, surgiu em meados de 2002 e em 2004 emplacou nas paradas o debut "Hot Fuss", com um som juvenil, apresentando um som que misturava música eletrônica e new-wave, fazendo a festa de quem gostava de New Order e Duran Duran. Garotas, festas, loucura... E os sinais claros de que eles queriam envelhecer rápido: o ataque às bandas emo, com Brandon dizendo que as mesmas são "perigosas por não terem conteúdo" e ao Green Day por serem "antiopatriotas". Coisa que todo tiozinho cervejeiro yankee que passa seus dias assistindo baseball fala...
O clima de festa acabou-se em 2006. Deixando cabelos e barbas crescerem (incluindo um bigodinho sem-vergonha de Brandon...), os terninhos deram lugar à engraçadas jaquetas sem manga apertadinhas, ar blasé nas fotos, e uns óculos escuros ma-ra-vi-lho-sos... E lançaram "Sam's Town", onde surgem ecos de Queen, Elton John, e segundo a banda, U2 e Bruce Springsteen. Só digo que se o "Boss" ouvir esse disco, Brandon e seus comparsas correm sério risco de demissão.
"Sam's Town" já começa com aquele ar mais discoteca-anos-70 o possível. As guitarras, distorcidas até, são um dos poucos diferenciais... Por isso, só o refrão que soa de certa forma original. O resto, sinceramente... Tem até corinho de vozes e teclados, que eu jurava que já havia se tornado coisa de velho, ou de nostálgico. Até a letra é coisa de velho: "Você sabe, eu vejo a londres, eu vejo a cidade de Sam/Segura a minha mão e deixa cair meu cabelo/Retira o mundo dos meus ombros/Eu vejo Londres, eu vejo a cidade de Sam".
Há a passagem em cima de teclado e voz, intitulada "Enterlude", mostrando um lado Queen da banda. Menos de um minuto, onde outra referência ao amadurecimento surge em "parece que o paraíso não está tão longe".
E pra quem critica tanto as bandas emo, "When You Were Young" tem um quê de melosidade... Brandon, apesar de trocar suas referências de forma tão abrupta, ainda mostra seu bom talento para melodias grudentas, com teclados supersintetizados que crescem no refrão, dando menor espaço paras as guitarras. Enfatizando novamente o envelhecimento, já dá para perceber que se trata de uma letra nostálgica a partir do título... Mesmo nostálgica, a música gruda que é uma beleza. Recomendada para qualquer festa - se você tocar entre duas músicas de 20 anos atrás ou mais, não vão nem notar.
"Bling (Confessions Of A King)" começa lenta, com vocais emulando Freddie Mercury, teclados e cozinha controlados e uns efeitos no refrão, que pelo amor de Deus, eu não ficaria nem um pouco surpreso em ouvir caso eu passasse em frente à porta de uma boate de rapazes alegres. Uns falsetes para introduizr e um teclado agudo para dar todo um clima. A letra deixa Brandon escapar algumas pistas que revelam que, apesar de toda a pose de "novo adulto com mentalidade de quarentão", Flowers ainda não cresceu tanto assim por dentro. É tipo decorar citações de Niezstche para abafar, mas nunca ler um livro do filósofo alemão... Uma hora você dá uma escorregada. E, como revela o clima dessa música, principalmente no refrão, tais escorregadas podem ser fatais.
O disco segue com "For Reasons Unknown", que começa com uma guitarra abafada acompanhando o vocal, mas logo o baixo imprime um ritmo dançante. Então, entram os outros instrumentos, incluindo um teclado repetitivo à exaustão e um refrão mais que esperado, apesar de ser um dos melhores do álbum. Mas, sabendo do estilo que a banda adotou, difícil não esperar outra coisa. A letra parece falar sobre esquecer alguém que gostava muito, sem saber as razões.
"Read My Mind", com um início que parece a introdução de uma música do Elton John, a bateria é um dos diferenciais por imprimir mais ritmo a uma canção essencialmente melódica, com o refrão explodindo em guitarras de sempre. A letra, apesar de meio viajada, cheia de metáforas e etc., é claramente romântica, como sugerem as melodias iniciais que aparecem ao decorrer da canção. O refrão é contagiante. Contagiantemente brega, mas ainda assim contagiante.
A seguinte "Uncle Johnny" fala sobre o uso de cocaína e a crença das pessoas que isso ajuda a melhorar, esquecer das dores e coisas assim, e é introduzida por uma guitarra rockeira que logo cai de ritmo para uma bem evidenciada cozinha acompanhar os vocais de Brandon. Vale mais pela música inteira do que pelo refrão, com ar de balada gloriosa com pianos e guitarras. Mas digamos que o Killers, apesar de aspirar ser, não tem a mesma pompa, por exemplo, do Queen. Mas o coro de vozes, esse sim, não tem salvação...
O segundo single, "Bones", começa com coro e teclados mais do que clichê, que descambam logo para um momento mais roqueiro nos versos, e um óbvio refrão mais melódico. A letra só representa o "amadurecimento" do Killers: de um romance adolescente/novo-adulto tanto descritos por Blondie, New Order e Duran Duran, que chega em um romance tão brega quanto as letras que o Paulo Ricardo fazia para as novelas do SBT... Incluindo todo o amor devoto e auto-degradação. Ainda bem que para obviedades sonoras, o Killers não é a pior banda do mundo, consegue enganar.
"My List" começa lentamente, com batida lenta e efeitos controlados, e o vocal de Brandon lento e arrastado, onde os teclados também aparecem lentamente. As guitarras surgem timidamente... E lá vamos nós, outra música com ar piegas... Mas, essa não convence. Os coros, teclados e voz chorosa em dose megalomaníaca só faziam sentido mesmo nos anos 70. E mesmo assim, nem para todos. Mesmo nos anos 70, seria uma música comum entre tantas outras que se utilizavam da mesma fórmula...
Fugindo do ritmo de balada, entra "This River Is Wild", guiada por baixo e teclados em ritmo sinuoso, que dão espaço para guitarras dessa vez mais consistentes e firmes. E o refrão, este sim, faria um grande sucesso nos anos 70. Faz até esquecer a chatice da anterior. Talvez a que mais emita ecos do álbum anterior, mas ainda assim mergulhado nas referências do atual. E ficou bom. Uma das músicas que evitam esse álbum ser um álbum entre tantos outros, ou então um caso bizarro e forçado de amadurecimento precoce, que não convence...
"Why Do I Keep Counting" é aquela típica balada, que começa lenta, com tecladinhos melosos, com algumas passagens mais dançantes - a única variação. Aí a balada tem a entrada de guitarras, o coro acompanha, Brandon engrossa a voz, Freddie Mercury se revira no caixão... O de sempre. Açucarada o suficiente para que você aguente ouvir uma ou duas vezes.
E o álbum encontra seu final com "Exitlude" que nos teve seu refrão apresentado com "Enterlude", a segunda canção. O coro de vozes está mais bregas que nunca, os teclados também não tem muita diferença do resto das baladas do álbum, tudo imprimindo a canção um ar de despedida. No meio da canção, há uma parada instrumental onde Flowers canta com voz distanciada, até a música sumir. Sei não, mas já ouvi isso antes...
E se você for sortudo de encontrar a edição especial, você leva na faixa duas faixas bônus para casa: "Where The White Boys Dance", uma interessante mistura de balada melosa e dance music; e "All The Pretty Faces", iniciada por dançantes guitarras, que logo são acompanhadas pela cozinha e entra a voz do vocalista acompanhada dos teclados. Sem a pretensão de soar como Mercury e John, consegue também ser interessante, com Flowers soando mais naturalmente, e mais dançante também. As melhores do álbum e... Opa... Peraí... Elas não são exatamente do álbum...
Não há nada de mal em modificar o próprio som, ou em progredir, ou evoluir, ou tentar outras referências... Mas tentar parecer adulto no segundo disco? A maturidade sonora, assim como a maturidade do ser humano, é algo que vem com o tempo. Para que o U2 gravasse "Achtung Baby" e se reinventasse, levou uma década. O Queen só trocou de referências sonoras de forma segura quando a década seguinte entrou. O Blink 182 passou muitos anos falando quase exclusivamente de sacanagem, zoofilia, consolos, pombas e o que mais fosse engraçado antes de experimentar outra coisa e tentar um som mais sério. Não que não existam casos que sejam exceção à regra - vide os Beatles. Mas os Killers, como dá para perceber, não são os Beatles. Nem o Queen. São uma banda para divertir em festas, tanto as de pattys & boys quanto as de rockers. Não uma banda de rock de arena. Não que tenha algo de errado em ousar, mas este não é um álbum ousado. É uma troca de referências dançantes por referências melódicas, o que falta de coragem e sobra em arrogância constrói um álbum que, apesar de diferente, é beeem previsível.
Como avisa a capa, apesar de tentar parecer ser tão bom quanto uma mulher gostosa, deu bode.
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9 Comments:
não gosto! kkkk
:*
killers é legal.
porém, enjoa rápido demais.
esse álbum eu ouvi uma vez só,
e não vi nada demais nele.
e acho que é só.
beijos :*
el el rafael disse...
não gosto! kkkk
:*
2:08 AM
er :BB
mas sim, graaaande bêr atacando acidamente :B
bleh prefiro esse ao outro :P
nunca vai fazer parte da minha playlist "preferidos".
Aliás, nunca vai fazer parte de playlist nenhuma minha IUAHAUAHAU
beijo, ber :*
eu devia voltar a ser cult em musica so pra comentar decentemente aqui u.u
é, eu ainda não ouvi esse, mas baixarei, vamos ver se chega perto do hot fuss.
flw viadenho
HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAU xDDDDD adorei a piadinha no final XDDD ahuahuahuahu
Bom... xDD ultimamente eu só tenho ouvido alguma musica deles em balada mesmo... sei la viu... se eles continuarem nessa onda ai eles vão da um PT legal =\... ai eu vou conhecer alguma coisa ruim de las vegas ç.ç
resenha coooool
x@@@@
Sinceramente, isso pode ser chamado de... música?!
Um grupo de imbecis se junta e quer parecer gente grande, sem ao menos esconder o desastre ocorrido. O som não inova quase nada e acabam virando um enorme fracasso fantasiado de blasé.
Qual será o próximo disco? Vão se vestir de barbies e sair espalhando aos quatro ventos que são descolados e maduros?
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