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    terça-feira, agosto 28, 2007
    Feios, Sujos e Malvados: O Som de Garagem dos Anos 60


    Um exército de caras vestidos de preto ou usando sempre os mesmos ternos rotos e esfarrapados, em cima de um palco, com instrumentos vagabundos ou feitos em casa com sucata, efeitos fuzz e distorções rugindo da maneira mais cortante o possível e vocalistas gritando ao microfone da mais completa selvageria até a demência mais amedrontadora existente. Protopunks, protopsicodélicos, protometaleiros, protohardroqueiros, e mais um monte de “protos”...

    Essas eram as bandas de garagem dos anos 60. Literalmente centenas de grupos de garotos chapados de anfetamina e ácido lisérgico, com a sonoridade mais tosca o possível, os equipamentos e instrumentos caindo aos pedaços, falta de informação técnica que lhes concedia um talento único e mais uma porrada de dificuldades e limitações fez com que jovens garotos brancos americanos pudessem provar que os moleques ingleses não eram os únicos no mundo. E se na terra da Rainha, mesmo os mais pesados e/ou brutos como The Kinks, The Who e The Troggs viam a luz do sucesso, muitos dos garotos americanos contrariavam suas conservadoras famílias, tocavam para algumas centenas de pessoas, gravavam alguns discos e sumiam nas areias do tempo antes mesmo da década acabar, com seus ex-integrantes rumando para profissões não tão radicais quanto a de músico de rock...

    Mas vamos chutar o leitor para um tempo mais passado ainda. Nos anos 50, um músico e compositor de voz grave e produtividade espantosa chamado Richard Berry, após ganhar o pão nosso de cada dia compondo baladas, teve vontade de fazer algo diferente. A idéia surgiu em 1955, após ouvir o calipso “El Loca Cha Cha” de René Touzet. Então, entre uma sessão e outra que gravava com os artistas de sua gravadora, escreveu uma canção em um guardanapo de papel, um rythm & blues safado, de letra misteriosa, homenageando uma garota que conheceu na beira do cais, e após algum romance, teve que sair de fininho. O nome? “Louie, Louie”.



    Quase dez anos depois, em 1964, uma banda pegou esse sugestivo blues e sem mudar uma palavra na letra, verteu num rock de garagem tosquíssimo e indecente, onde o vocal desafinava excitado seu tesão pela mulherada à beira do cais. Com isso, os Kingsmen transformaram a música no provável maior hino do movimento garageiro americano.

    Ainda na região norte, outros que atraíam as atenções para si eram bandas como The Sonics e The Monks. Duas bandas tão secas, cruas e primárias, com integrantes problemáticos vestidos de maneiras exóticas, que acabaram tornando-se influência consciente ou inconsciente da maioria das bandas que nos dias de hoje puxam o título de “som de garagem” para si.

    Atravessando o país da bandeira de estrelas e listras, o choque é contínuo. Como não destacar o surf rock demente dos Trashmen? Ou o Seeds, banda que nos faz lembrar de um bando de homens das cavernas chapados, e que foi a primeira a dispensar o uso de baixista? Ou ainda a truculência exaltada por Lester Bangs do Count Five?

    E claro, não podemos nos esquecer de Detroit e New York, locais que foram sedes para os estandartes principais do punk rock, grunge e todos os movimentos alternativos subseqüentes: Stooges, MC5 e Velvet Underground. Há também o Iguanas, primeira banda de Iggy Pop, onde o mesmo tocava bateria, uma das bandas mais populares da cena da cidade do motor, que misturava surf rock e Beatles para gravar seu repertório; as canções-jams amedrontadoras dos novaiorquinos do Blue Magoos; as insanidades psicodélicas e texanas dos 13th Floor Elevators; os Electric Prunes que se tornaram uma das bandas mais conhecidas da cena garageira ao ter uma música incluída no filme "Easy Rider"; os Standells no mesmo barco de sucesso dos Electric Prunes, conseguindo fazer algumas das músicas mais ouvidas do ano, mas ainda assim sumindo sem deixar notícia ou lembrança; o humor histérico e suburbano dos Barbarians (que para completar, tinham um baterista com uma mão só, que usava um gancho no lugar do outro!); e os embriões do ZZ Top (Moving Sidewalks), Grand Funk Railroad (Terry And The Packs), Blue Cheer (Oxford Circle), a formação da banda de suporte de Ted Nugent, os Amboy Dukes, e mais uma tonelada de bandas...

    É extremamente recomendável procurar pela coletânea “Nuggets”, pois até o início dos anos 70, o rock americano era considerado coisa de gente criminosa, pervertida e sem nenhum valor artístico; essa coletânea organizada por Lenny Kaye (jornalista e guitarrista do Patti Smith Group) compilou em uma coletânea dupla os maiores clássicos de garagem dos anos 60. O som de garagem enfim tomou o mundo de assalto e mostrou que as melhores obras de arte surgem quando entram em contato com a realidade e abandonam a erudição – ou seja, tornam-se marginais, primitivas, violentas, dispostas a ferir os sentidos e de transmitir muita sacanagem e todo o urbanismo dos nossos dias.

    Para adentrar o mundo das bandas de garagem, aqui vai uma pequena lista para que o ouvinte não se assuste com o cheiro nauseante de óleo, a estética nem um pouco convencional, o clima claustrofóbico, os sons guturais e horripilantes e o espírito libertário de uma época – mais preocupados em nos fazer pensar nas ruas de nossas cidades do que guerras em países distantes e discursos de paz-e-amor :

    The Kingsmen - Louie, Louie
    The Sonics - The Witch
    The Monks - Shut Up
    The Seeds - Can't Seem To Make You Mine
    The Trashmen - Surfin' Bird
    Count Five - Psychotic Reaction
    The Blue Magoos - We Ain't Got Nothin' Yet
    Electric Prunes - I Had Too Much To Dream (Last Night)
    13th Floor Elevators - You're Gonna Miss Me
    The Standells - Little Sally Tease
    The Iguanas - Mona
    Barbarians - Are You A Boy Or Are You A Girl


    Marcadores:

    posted by billy shears at 12:40 AM

    10 Comments:

    Anonymous Anônimo disse:

    *corre abrir o emule pra baixar TUDO!*

    Oba, que belezura!
    Cada dia melhor heim Ber =D
    parabéns ^^

    1:40 AM  
    Blogger Cesar Augusto Giatti disse:

    muito bom, tem várias bandas ae que tavam na minha lista de bandas a baixar e ouvir q eu fiz ano passado hauhauhahua tenho q correr atrás. the kinks é muito foda. e uma sugestao? resenha o acústico mtv do lobão.. é um balanço interessantissimo da carreira do lobo-mau mpbista auhauhuha ;D

    7:56 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    isso ai ber, resenha lobão!

    9:52 PM  
    Blogger Gabriel M. Faria disse:

    HA, Bêr, grande idéia a desse texto.

    Nunca li algo escrito especificadamente sobre as garage frat protopunk noisy rock bands.

    Ficou foda.

    BEJO NA BUMDA

    12:01 PM  
    Blogger Paulo disse:

    Garagem rock é um estilo único,
    e fazer isso em plena década de 60 era sinonimo de muito culhão.
    Belo post!

    9:26 PM  
    Blogger gabriel disse:

    isso me lembra o primeiro "ensaio" da minha "banda". fomos literalmente na garagem do prédio do ex-baterista (ele na época ficava tocando guitarra ainda -.-), ligamos meu amp, o dele e ficamos fazendo barulho com uma guitarra e um baixo, além do vocal ficar também fazendo barulho com a gente, hahaha.

    8:13 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    gostei do post. massa.

    10:00 PM  
    Blogger Carmem Luisa disse:

    Então, eu já tinha comentado aqui, mas não sei o que aconteceu para o comentário não aparecer.
    Enfim. Rock de garagem é tão único, mas tão único, que chega a viciar os ouvidos na mesma música por horas e horas. E coooisa e tal.

    11:00 AM  
    Anonymous Anônimo disse:

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