Paul McCartney é um gênio da música pop. Essa afirmação quase tão velha quanto o próprio é incontestável, após tantos anos de carreira solo, a carreira brilhante nos Beatles, as inúmeras críticas em revistas conceituadas e prêmios em eventos de fama mundial, a composição de músicas que mudaram a cara do mundo com ou sem seus amigos de Liverpool... E, claro, com os igualmente geniais Wings.
Por dez anos, de 1971 a 1981, Paul provou que o Wings não eram apenas uma banda feita para matar sua saudade dos palcos, atividade esta interrompida quando os Beatles realizavam discos tão intricados, inovadores, com tantos instrumentos e feitos exóticos, que as bolachas tornavam-se impossíveis de serem reproduzidas ao vivo. Mais que um capricho ou projeto do ex-Beatle, era uma nova banda, com todas as letras merecidas.
Enquanto John Lennon tornava-se o herói da classe trabalhadora junto a Plastic Ono Band, usando sua fama para tentar fazer as pessoas refletirem e George Harrison ia cada vez mais fundo na sua admiração pelo lado oriental do nosso velho globo terrestre em discos como o perfeito "All Things Must Pass" e o live "The Concert For Bangladesh" ao lado de Ravi Shankar, Paul não atravessava sua melhor fase com crítica e público no que se dizia respeito sobre sua carreira-solo. Claro que Paul ainda vendia consideravelmente bem, mas era um caso em que um nome famoso ajudava mais do que tudo... Mesmo nos primeiros discos do Wings, Paul parecia que não iria chegar muito longe. Mas Paul tem uma característica que os Rolling Stones também possuem: sempre que você acha que um deles não está tão bom quanto antigamente, que a criatividade está acabando após tantos anos de carreira, que eles deviam se preocupar mais em fazer shows "greatest hits", que o som deles já é coisa do passado... Eles simplesmente tomam aquele chá inglês que tem um efeito especial na cabeça dos músicos da terra da Rainha... E soltam um disco que crítica e público irão idolatrar pelos meses seguintes, até o próximo disco.
E dessa vez não foi diferente. Após ser criticado e até mesmo banido pelo conteúdo extremamente político da canção "Give Ireland Back To Irish" e soltar mais duas canções mais felizes e juvenis - "Mary Had A Little Lamb" e "Hi Hi Hi" (que também foram banidas por causa de conotações sexuais e insinuações ao uso de drogas), Paul acerta o passo no terceiro disco da sua nova banda. E após tanto tempo longe das paradas de sucesso, tanto tempo sem ter um compacto entre os três primeiros, depois de ser banido três vezes das rádios, Paul, sua banda e algumas celebridades inglesas feito o ator Christopher Lee e o jornalista Michael Parkinson, entre outros, vestiram-se de negro e posaram para uma foto de capa como se estivessem fugindo da polícia. E o nome do disco? "Band On The Run"!
Cantando e tocando baixo, Paul era apoiado pela sua esposa Linda nos vocais e teclados e o guitarrista e backing vocal, ex-Moody Blues, Denny Laine, que formavam o núcleo principal da banda, acompanhados pelo guitarrista Henry McCullough e o baterista Denny Seiwell. O resultado final não tem muito segredo: em "Band On The Run", lançado em 1973, o ouvinte ouvirá música pop, direta, simples e bem-feita, com adição de orquestrações, chocalhos, saxofones, percussões... Um disco que é familiar e resfrescante, divertido e emocionante... Algo tão humano e tocante, que só mesmo uma banda com Sir Paul nas suas fileiras conseguiria compor.
O disco abre com a faixa título, "Band On The Run", introduzida por melódicas cordas e Paul lamenta por estar atrás das grades. A introdução da bateria faz a canção engedrar em um ritmo cada vez mais forte, até as doces reviravoltas virarem um pop animado e feliz, de onde não desce mais, afirmando que fugiram da cadeia, gritando "A banda em fuga, a banda em fuga! E o carcereiro e o marinheiro Sam estavam procurando por todo mundo... pela banda em fuga!".
"Jet" entra com um riff grandioso, numa canção que fala sobre um labrador negro que Paul e Linda tinham há mais de 30 anos atrás, num empolgante refrão onde toda a banda grita o nome da canção, e onde mesmo com o ritmo mais pesado, Paul consegue soar cativante e cheio de emoção, como na ponte em que Paul canta "Quero Jet sempre me amando!" e "Jet achava que o major fosse uma pequena senhora sufragista". Perfeita em todos os sentidos, nos refrões, vocalizações, reviravoltas... Macca definitivamente não acerta na mosca. O que ele faz é fuzilar o pobre inseto...
Pisando no freio, Paul nos entrega de bandeja "Bluebird", belíssima e relaxante balada com uma das letras mais puras e românticas escritas por Paul, já começando em versos como "Tarde da noite quando o vento estiver parado/Eu irei voando até sua porta/E você saberá para que serve o amor/Sou um pássaro azul", onde também convida a pessoa por quem está apaixonado a virar um pássaro azul também. O clima é tão romântico que a canção tem a adição de instrumentos de sopro, isso sem contar o refrão com vocalizações quase inocentes.
"Mrs. Vanderbilt", canção de ritmo forte e cordas insistentes, apresenta vocais inusitados, cheios de coro de "ho-hey-ho" e uma letra que critica a neurose das pessoas na grande cidade. "Lá na selva, vivendo em uma tenda, você não precisa de dinheiro, você não precisa pagar aluguel, você sequer conhece tempo, mas você não se importa", dispara Paul acidamente. E se a pessoa tanto reclama de sua vida, mas não está disposta a largá-la, Macca não quer que você fique enchendo o saco famoso, milionário e despreocupado (e também nobre) dele...
Uma das melhores canções já compostas por Paul, essa é "Let Me Roll It". Redonda, viciante e cheia de guitarras, a música tem a polêmica de ter uma estrutura muito parecida com "How Do You Sleep?", música da carreira solo de John Lennon. Paul canta da sua inabilidade de expressar seus sentimentos, mas que queria fazer as pazes com seu amigo Lennon de qualquer maneira. "Não posso te contar como eu me sinto/Meu coração é como uma roda/Deixe-me rolá-lo até você!". A referência foi tão boa que a guerra pela música e pela impresa de Macca e John parou pouco após.
"Mamunia", uma palavra árabe que significa "paraíso seguro" e também nome de um hotel onde Paul se hospedou em Marrakesh, é a canção mais árabe que um inglês poderia ter escrito. Enquanto balada nos versos, a música rapidamente deságua no refrão, ganhando batidas fortes, melodias ensolaradas e um refrão para lá de relaxante. A paz de espírito transmitida por letra e música são impressionantes. "Na próxima vez que você ver nuvens de chuva em L.A., não reclame. Está chovendo para mim e para você."
O que dá raiva em álbuns perfeitos é que, por mais que a música anterior seja excelente e capaz de mudar vidas, a seguinte também é capaz de repetir o feito. "No Words" é uma canção em tom crescente, cheia de orquestrações, composta em conjunto por Paul e Denny Laine. Macca canta, introspectivamente, sobre o amor eliminar a necessidade de palavras.
O ator Dustin Hoffman (de "Perdidos na Noite", "Papillon" e "Todos Os Homens do Presidente") sugeriu que Paul composse sobre a morte do lendário pintor Pablo Picasso. O resultado foi "Picasso's Last Words (Drink To Me)". Uma epopéia de quase seis minutos, com a participação de Ginger Baker (ex-Cream e Blind Faith) nos chocalhos, com dois empregados dele sacudindo um balde com carvão e lindas orquestrações, numa música cheia de reviravoltas, barulhos de zoeira, e uma letra muito bem-humorada, ao estilo da fase rosa de Picasso, no cativante refrão: "Bebam por mim/Bebam pela minha saúde/Vocês sabem, eu não posso beber mais!". Só para aumentar ainda mais o clima de diversão, os refrãos de "Jet" e "Mrs. Vanderbilt" são introduzidos de surpresa no meio da música. Uma das mais criativas do ex-Beatle.
Só o mais insensível não conseguiria dar pelo menos um sorrisinho nessa que é a última canção do álbum, "Nineteen Hundred And Eighty Five". Romanticamente, Macca faz suas previsões para 1985, falando que não acredita por estar vivo e vendo tudo acontecer, e feliz de ter uma pessoa que ele gosta ao seu lado. Só mesmo o autor de "Love Me Do" e "Yesterday" para nos fazer sorrir por inocência e romantismo em uma decada dominada por Iggy Pop, Johnny Thunders, Robert Plant e outros comedores junkies de plantão... O disco acaba em tom grandiloqüente, e eles continuam fugindo, e cantando o refrão da música que abre o disco.
Esse disco é uma das provas definitivas que permitem Macca receber tanto crédito por tudo o que fez. Genialidade pop em torrentes em uma época em que o mau mocismo imperava. Paul não deixou-se abater. Ele sabia que, enquanto houvessem corações sensíveis, ele ainda teria gente para tocar os sentimentos. Não deu outra. Foi o disco mais vendido dos Wings e um dos maiores sucessos da discografia de Paul, superada apenas, é claro, pela sua época nos Beatles.
Um sorriso, um aperto de mão, um beijo, uma paixão. Forty minutes of fun? Baaaand on the ruuuun...
Marcadores: Resenhas
6 Comments:
muito bom. mas acho que nem precia dizer né? só uma coisa, no começo, voce falou do john, do paul e do george harrison, mas e o RINGO? o ringo brother, se voce ficar excluindo ele ele vai tomar uma atitude cruel contigo mermão, vai te passar a lambida no pescoço. AHAUHAUHAUHAUHAUHAUHUH AWAAAAAAAAAAAAAAAAY
Cara, Macca é o maior gênio vivo da música, muito maior que Dylan, que Gilmore, que Plant, que qualquer um !
E ele faz valer a pena ter a audição em dia
o meu beatle preferido é o john :D mas do jeito que andam as coisas, o paul tem grandes chances de tomar o lugar dele.
TE CUIDA JOHNNN!
Boa, Bêr.
Esse tal de Paul MacCartney faz boa música há um tempo aí.Preciso ouvir esse disco; a resenha ficou ligeiramente ótima :P
Abraço. o/
Baixei algumas músicas e "caaaaaaara, que f*da isso!" =D
Tua resenha ficou boa boa boa.
"só uma coisa, no começo, voce falou do john, do paul e do george harrison, mas e o RINGO? o ringo brother, se voce ficar excluindo ele ele vai tomar uma atitude cruel contigo mermão, vai te passar a lambida no pescoço. AHAUHAUHAUHAUHAUHAUHUH AWAAAAAAAAAAAAAAAAY"
HUAAUAAHAUHAUAHUAHUAHUHAUAHUAHUAHUAHAUHAUHAUHA
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