É simplesmente indiscutível: Led Zeppelin foi uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. Não há como negar, duvidar, argumentar contra ou afins. É clássica justamente por isso: é referência, é o máximo que conseguiram alcançar em muitos quesitos. Nenhuma banda que use guitarras e tenha vindo depois deixa de beber dessa fonte, direta ou indiretamente; mas, sinceramente, isso tudo não vale uma merda. O importante, proporções de magnitude à parte, é que mais ninguém conseguiu fazer com o blues, o folk e o rock and roll tradicional o que quatro dos melhores artistas do mundo fizeram. Sim, porque era uma banda simplesmente perfeita de acordo com os padrões do que é considerado “uma banda boa”. Talvez o melhor baixista de sua época, John Paul Jones tocava baixo elevando-o à posição de instrumento de destaque e não mero elemento de marcação. Led Zeppelin levou os solos de baixo de volta à tona. John Bonham é considerado por alguns o melhor baterista de todos os tempos, fazendo as batidas parecerem um espírito dentro das canções. Robert Plant criou a voz do hard rock setentista, com um tom agudo que parecia às vezes a própria voz da guitarra. E Jimmy Page, bem, ele simplesmente era os acordes da guitarra transformados em homem. Um dos melhores guitarristas de todos, e ponto final.
Depois de um disco de impacto – não para a crítica, infelizmente –, em que o blues rock chegou bem perto de se tornar heavy metal puro de altíssima qualidade, entraram numa turnê devastadoramente eletrizante, com performances no palco cruas e, por falta de palavra melhor, violentas, em um sentido musical. O segundo disco deles, que tem o título simples de Led Zeppelin II, reflete isso. Mas não, não é uma gravação rústica à la proto-punk, longe disso. É blues rock do melhor, com pitadas do que viria a ser o heavy metal, riffs incríveis, letras mais complexas e, resumidamente, o virtuosismo pleno do rock.
Um riff realmente cortante, um baixo que joga a cabeça para baixo e uma letra bluesy que acompanha todo o delírio: “você precisa esfriar isso/baby, não ‘tô brincando/vou te mandar/de volta à escola”. Sim, não faz muito sentido, e isso também é digno de nota: o rock estava perdendo o desleixo de seus primórdios. Aqui, em “Whole Lotta Love”, eles resgatam as canções simples e diretas, mas sem perder a complexidade. Aliás, não é pouco complexa uma canção com um verdadeiro orgasmo sonoro feito de sons do theremin, guitarra, baixo, sussurros etc., para logo depois a guitarra e todo o peso voltarem com uma energia que escorre pelas caixas de som. Um verdadeiro esporro.
O baixo entra logo após a voz de Plant, que canta sobre um amor não correspondido carregado de imagens líricas e fantasiosas, e as cordas vão desenhando um fundo para essa história, até o refrão chegar e haver uma explosão de barulhos para todos os lados. “What is and What Should Never Be” é magnífica. Além da melodia, puramente bela, tem uma vibração completamente rock ‘n’ roll, que leva o ouvinte a uma viagem com vários cenários...
Delta blues: é isso, “The Lemon Song” é uma das maiores homenagens ao blues feito no Mississipi. Até a letra, tipicamente descrevendo um amor à la bluesmen, do tipo “eu deveria ter de deixado há muito tempo”, tem versos tirados de “Killing Floor”, de Howlin’ Wolf, e “Travelling Riverside Blues”, de Robert Johnson (ambos altamente recomendáveis). Apesar de algumas seções serem mais lentas, os solos de guitarra aqui são estupendos, e o baixo continua sua velocidade à toda, plenamente audível, enquanto a bateria é esmurrada sem dó. Entre calmaria e fúria, nasce uma canção maravilhosa, desde os vocais até os instrumentos. É o blues em evolução plena.
Cordas leves tocando fazem a introdução de “Thank You”, talvez a música mais bela em sentidos líricos do Led Zeppelin. Com uma letra simplista – simplista, não boba –, os vocais soam serenos, enquanto declaram amor eterno: “se o sol se recusar a brilhar/eu ainda estarei lhe amando/quando montanhas ruírem ao mar/ainda haverá eu e você”. OK, foi Jimi Hendrix que idealizou as montanhas ao mar e o sol se recusando a brilhar, na canção “If 6 Was 9”, mas Plant transformou essas meras figuras em um tratado sobre o amor entre um homem e uma mulher. Enquanto o órgão de Jones vai apagando como uma respiração, a música acaba. É a música perfeita para se ouvir apaixonado.
Outro blues, isso, yeah. Um riff absurdamente foda, que faz a guitarra saltar entre os rugidos de Plant, que canta sobre um verdadeiro quebrador de corações, um “Heartbreaker”, como no título. Aqui o destaque é a guitarra, completamente influenciada pela maneira de se tocar do blues, com direito a um dos melhores solos de mister Page: cordas arrebentadas em formato a capella, numa improvisação (!) que, segundo alguns, inspirou Eddie Van Halen a tocar. Um verdadeiro estouro, velocidade plena, até voltar ao blues do começo, para terminar repentinamente, entre uma recuperada de fôlego e outro. Inacreditável.
Caralho, mais um riff destruidor. “Living Loving Maid (She’s Just a Woman)” é hard rock puro, dos mais poderosos. Não por isso ele deixa de ser rápido e virtuoso. A letra, agora, é mais uma das simples e aparentemente fúteis, falando da tal dama que, no fim das contas, “é só uma mulher”.
De batidas leves e acordes calmos nasce “Ramble On”, verdadeira viagem lírica, entupido de referências a O Senhor dos Anéis, com as tradicionais explosões de energia. Apesar do tema “medieval”, a melodia é folk rock puro, com vários instrumentos de corda sendo tocados ao mesmo tempo, num verdadeiro fluxo de sons. Apesar dessa estranha combinação, é uma canção muito, muito boa, daquelas que se toca algumas vezes seguidas quando é descoberta.
“Moby Dick” é um instrumental incrível, inicialmente mais guiado pelo riff – muito bom, p’ra variar – do que pela percussão, mas que logo se percebe ser um verdadeiro show de baterias, pandeiros e feeling. Isso, claro, até começar a suíte, o solo de bateria de John Bonham, que faz com que as batidas se tornem cada vez mais primordiais, algo realmente próximo do tribal, para depois lhes dar uma rapidez e uma multiplicidade que nos remete aos nossos próprios batimentos cardíacos, cada vez mais fortes. Logo depois, as guitarras novamente se entrelaçam ao baixo para terminar uma das melhores faixas instrumentais do rock.
E, uou, isso é puramente blues. “Bring It on Home” engana, principalmente por ser em grande parte um cover de Sonny Boy Williamson II, composta por Willie Dixon. Desde a gaita, até a linha de baixo, passando pelo vocal assustadoramente negro, é um blues clássico. Mas então, de repente, as guitarras berram e a bateria é estraçalhada violentamente, para que a última música do disco seja não só um blues rock, mas um misto deste com o hard rock puro e cru. A letra continua a ser bluesy e simples, mas a interpretação de cada um dos membros da banda termina o álbum em grande estilo, cada um destilando toda sua capacidade musical em riffs, toques, batucadas, solinhos etc. Tão repentinamente quanto veio, essa seção veloz dá lugar à gaita do começo, e o disco acaba, um segundo antes do ouvinte exclamar “merda, acabou”.
É o disco máximo do Led Zeppelin, é um clássico indubitável. É aqui que o hard rock começa a ser realmente definido. Hendrix pode ter chegado perto, os Who também, e um pouco de toda aquela cena de grupos de blues como o Cream, os Yardbirds etc., mas quem realmente definiu o estilo foi Led Zeppelin e seu disco “II”. Depois dele, quase ninguém conseguiu fazer música rápida sem ouvir isso. Uma obra-prima, caso raro em que absolutamente todas as faixas são indispensáveis. Sinto falta de novos clássicos assim...
Depois de um disco de impacto – não para a crítica, infelizmente –, em que o blues rock chegou bem perto de se tornar heavy metal puro de altíssima qualidade, entraram numa turnê devastadoramente eletrizante, com performances no palco cruas e, por falta de palavra melhor, violentas, em um sentido musical. O segundo disco deles, que tem o título simples de Led Zeppelin II, reflete isso. Mas não, não é uma gravação rústica à la proto-punk, longe disso. É blues rock do melhor, com pitadas do que viria a ser o heavy metal, riffs incríveis, letras mais complexas e, resumidamente, o virtuosismo pleno do rock.
Um riff realmente cortante, um baixo que joga a cabeça para baixo e uma letra bluesy que acompanha todo o delírio: “você precisa esfriar isso/baby, não ‘tô brincando/vou te mandar/de volta à escola”. Sim, não faz muito sentido, e isso também é digno de nota: o rock estava perdendo o desleixo de seus primórdios. Aqui, em “Whole Lotta Love”, eles resgatam as canções simples e diretas, mas sem perder a complexidade. Aliás, não é pouco complexa uma canção com um verdadeiro orgasmo sonoro feito de sons do theremin, guitarra, baixo, sussurros etc., para logo depois a guitarra e todo o peso voltarem com uma energia que escorre pelas caixas de som. Um verdadeiro esporro.
O baixo entra logo após a voz de Plant, que canta sobre um amor não correspondido carregado de imagens líricas e fantasiosas, e as cordas vão desenhando um fundo para essa história, até o refrão chegar e haver uma explosão de barulhos para todos os lados. “What is and What Should Never Be” é magnífica. Além da melodia, puramente bela, tem uma vibração completamente rock ‘n’ roll, que leva o ouvinte a uma viagem com vários cenários...
Delta blues: é isso, “The Lemon Song” é uma das maiores homenagens ao blues feito no Mississipi. Até a letra, tipicamente descrevendo um amor à la bluesmen, do tipo “eu deveria ter de deixado há muito tempo”, tem versos tirados de “Killing Floor”, de Howlin’ Wolf, e “Travelling Riverside Blues”, de Robert Johnson (ambos altamente recomendáveis). Apesar de algumas seções serem mais lentas, os solos de guitarra aqui são estupendos, e o baixo continua sua velocidade à toda, plenamente audível, enquanto a bateria é esmurrada sem dó. Entre calmaria e fúria, nasce uma canção maravilhosa, desde os vocais até os instrumentos. É o blues em evolução plena.
Cordas leves tocando fazem a introdução de “Thank You”, talvez a música mais bela em sentidos líricos do Led Zeppelin. Com uma letra simplista – simplista, não boba –, os vocais soam serenos, enquanto declaram amor eterno: “se o sol se recusar a brilhar/eu ainda estarei lhe amando/quando montanhas ruírem ao mar/ainda haverá eu e você”. OK, foi Jimi Hendrix que idealizou as montanhas ao mar e o sol se recusando a brilhar, na canção “If 6 Was 9”, mas Plant transformou essas meras figuras em um tratado sobre o amor entre um homem e uma mulher. Enquanto o órgão de Jones vai apagando como uma respiração, a música acaba. É a música perfeita para se ouvir apaixonado.
Outro blues, isso, yeah. Um riff absurdamente foda, que faz a guitarra saltar entre os rugidos de Plant, que canta sobre um verdadeiro quebrador de corações, um “Heartbreaker”, como no título. Aqui o destaque é a guitarra, completamente influenciada pela maneira de se tocar do blues, com direito a um dos melhores solos de mister Page: cordas arrebentadas em formato a capella, numa improvisação (!) que, segundo alguns, inspirou Eddie Van Halen a tocar. Um verdadeiro estouro, velocidade plena, até voltar ao blues do começo, para terminar repentinamente, entre uma recuperada de fôlego e outro. Inacreditável.
Caralho, mais um riff destruidor. “Living Loving Maid (She’s Just a Woman)” é hard rock puro, dos mais poderosos. Não por isso ele deixa de ser rápido e virtuoso. A letra, agora, é mais uma das simples e aparentemente fúteis, falando da tal dama que, no fim das contas, “é só uma mulher”.
De batidas leves e acordes calmos nasce “Ramble On”, verdadeira viagem lírica, entupido de referências a O Senhor dos Anéis, com as tradicionais explosões de energia. Apesar do tema “medieval”, a melodia é folk rock puro, com vários instrumentos de corda sendo tocados ao mesmo tempo, num verdadeiro fluxo de sons. Apesar dessa estranha combinação, é uma canção muito, muito boa, daquelas que se toca algumas vezes seguidas quando é descoberta.
“Moby Dick” é um instrumental incrível, inicialmente mais guiado pelo riff – muito bom, p’ra variar – do que pela percussão, mas que logo se percebe ser um verdadeiro show de baterias, pandeiros e feeling. Isso, claro, até começar a suíte, o solo de bateria de John Bonham, que faz com que as batidas se tornem cada vez mais primordiais, algo realmente próximo do tribal, para depois lhes dar uma rapidez e uma multiplicidade que nos remete aos nossos próprios batimentos cardíacos, cada vez mais fortes. Logo depois, as guitarras novamente se entrelaçam ao baixo para terminar uma das melhores faixas instrumentais do rock.
E, uou, isso é puramente blues. “Bring It on Home” engana, principalmente por ser em grande parte um cover de Sonny Boy Williamson II, composta por Willie Dixon. Desde a gaita, até a linha de baixo, passando pelo vocal assustadoramente negro, é um blues clássico. Mas então, de repente, as guitarras berram e a bateria é estraçalhada violentamente, para que a última música do disco seja não só um blues rock, mas um misto deste com o hard rock puro e cru. A letra continua a ser bluesy e simples, mas a interpretação de cada um dos membros da banda termina o álbum em grande estilo, cada um destilando toda sua capacidade musical em riffs, toques, batucadas, solinhos etc. Tão repentinamente quanto veio, essa seção veloz dá lugar à gaita do começo, e o disco acaba, um segundo antes do ouvinte exclamar “merda, acabou”.
É o disco máximo do Led Zeppelin, é um clássico indubitável. É aqui que o hard rock começa a ser realmente definido. Hendrix pode ter chegado perto, os Who também, e um pouco de toda aquela cena de grupos de blues como o Cream, os Yardbirds etc., mas quem realmente definiu o estilo foi Led Zeppelin e seu disco “II”. Depois dele, quase ninguém conseguiu fazer música rápida sem ouvir isso. Uma obra-prima, caso raro em que absolutamente todas as faixas são indispensáveis. Sinto falta de novos clássicos assim...
7 Comments:
Led II, atualmente meu disco favorito dessa grandiosa banda. Sem comentários!!!
Melhor que Led II, só o Led I, hahahaha! Mas, muito boa a resenha do disco! Me deixou com vontade de ouvi-lo... vou lá!
Errata: Sonny Boy Williamson II, não III, como foi colocado (só tiveram 2!)
'Brigado plea errata, Daniel. Mas juro, dessa vez foi erro de digitação.
Led Zeppelin II é um álbum composto por blues e hard rock dos bos, dos melhores melhores, bicho, e é isso que faz dele tão especialmente importante assim.
caralho cara, vc tem 16 anos e escreve desse jeito?
muito bom
faça dos outros cds do led tmb
quero ver sua opnião sobre In Through the Out Door.
parabens cara
álbum maravilhoso da melhor banda que já existiu!
parabéns,ótima resenha!
conseguiu captar toda a grandiosidade do álbum!
hail,Dangerous Music!
:*
sinto informar, mas vc vai continuar sentindo falta de discos assim.
até pq não se fazem masi bandas como o LZ. não mesmo.
esse blog é fantástico.
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