É até chato escrever sobre os Rolling Stones. Quer dizer, desde o surgimento da banda em 1962 e o primeiro LP em 1964 vêm falando, discutindo e escrevendo resenhas, livros, compêndios e enfim, parágrafos, parágrafos e mais parágrafos sobre os Glimmer Twins (Mick-Keith) e seus comparsas. Assim, como escrever algum elogio sem evitar cair em clichês completos? Atitude corajosa esta de escrever sobre música... Isso pode acabar sendo uma resenha como as outras, mas sabe como é... É apenas resenhar, mas eu gosto disso...
Pois bem, os Rolling Stones não foram chamados de “versão bad boy” dos Beatles por um simples motivo – diferente dos garotos de Liverpool, a banda sempre foi afeita a temas mais sexuais, tristes, cruéis e até mesmo ultrajantes. Conferindo os primeiros hits, temos “It’s All Over Now” e “The Last Time”, que falam de separação; “(I Can Get No) Satisfaction” e sua crítica ao sistema capitalista; “Paint It, Black”, sobre ver tudo negro por estar sem o seu amor; as letras urbanas de “Jumpin’ Jack Flash” e “Street Fighting Man”; a melancolia latente de “You Can’t Always Get What You Want”; e por aí vai. Enquanto isso, os Beatles eram mais lembrados por um romantismo doce e um pop ensolorado, ainda que afirmar isso de forma generalizante não corresponde à realidade.
Os Stones não atravessavam seu melhor período em termos econômicos e pessoais – naqueles primeiros anos da década de 70, quando a banda saiu da categoria de antagonistas à sombra dos FabFour e se afirmou musicalmente como uma banda de respeito – foi a época dos conflitos contratuais para sair da Decca, já que estavam insatisfeitos com o empresário Allen Klein, que dava mais importância ao seu contrato com os Beatles do que com os Stones. Tal ruptura fez os Stones moverem-se para a gravadora Atlantic e abrir o selo Rolling Stones Records, ainda que a custo de Allen ficar com os direitos autorais e royalties de todas as músicas compostas até 1970.
A perda do guitarrista Brian Jones ainda era algo recente, a banda ainda vinha se acostumando com o novo guitarrista Mick Taylor, egresso da banda John Mayall And The Bluesbreakers, Mick Jagger separava-se da cantora Marianne Faithfull para começar seu relacionamento com Bianca Perez Moreno de Macías, ativista social e advogada de direitos humanos. Keith Richards se afundava nas drogas com sua esposa Anita Pallenberg, e o trágico festival de Altamont, o ‘Woodstock sem policiais’, onde um jovem que apontou uma arma para o palco com a intenção de matar Mick Jagger foi assassinado pelos Hell’s Angels contratados como seguranças. Os impostos ingleses tornam-se tão altos e a perseguição da polícia tão acirrada que os rapazes se vêem obrigados a se mudar para a França.
O custo de todos esses prejuízos obrigou o Rolling Stones a realizarem uma lucrativa excursão americana, lançaram um disco ao vivo (o estupendo “Get Yer Ya-Ya’s Out”) e finalmente lançarem um novo disco de músicas inéditas, o primeiro a trazer a participação efetiva de Mick Taylor como guitarrista (já que ele apenas gravou overdubs para as músicas “Live With Me” e “Country Honk”, do disco “Let It Bleed”), o primeiro dos Rolling Stones por uma nova gravadora, e somando a tudo isso, uma capa do genial Andy Warhol. A data em que foi parido, 1971. Os pais, Mick Jagger no vocal, Keith Richards e Mick Taylor nas guitarras, Bill Wyman no baixo, Charlie Watts na bateria e vários músicos de apoio, Stones honorários. O nome da criança, “Sticky Fingers”. O disco mais chapado e um dos mais marginais da carreira da banda. Nenhuma das dez faixas fala de um tema mais sutil – todas estão, direta ou indiretamente, ligadas às drogas.
O disco já começa mostrando ao que veio: cansados de todos esses problemas que os deixavam aborrecidos, o indestrutível Keith dispara um de seus riffs mais marcantes junto a Mick Taylor, em uma tremenda fome de guitarra, e o eterno sexto stone Ian Stewart toca piano da maneira mais empolgante o possível. Jagger começa a cantar uma letra chutando o saco de mil tabus, falando sobre escravidão, sexo interracial e principalmente, uso (e abuso) de heroína. Heroína esta, que ao ser misturada com éter e adquirindo uma coloração marrom, deu inspiração ao nome da música: “Brown Sugar”. Um dos maiores clássicos da banda, obra prima verdadeiramente marginal. Tente não cantar com Mick J. o refrão “Açúcar marrom/Como você tem um gosto tão bom?”, por mais que você odeie qualquer entorpecente. E como se não bastasse, tem o maravilhoso saxofone de Bobby Keys solando furioso. Perfeita em todos os sentidos, do primeiro ao último segundo. Um literal arraso.
“Sway” entra com um riff de guitarra desafiador que logo se torna mais melódico, abrindo espaço para Jagger cantar em um ritmo mais cadenciado, até desembocar no maravilhoso refrão e suas hipnotizantes reviravoltas, em uma música que versa sobre o quanto drogas podem deixar alguém mal, com o eu-lírico falando diretamente com os narcóticos, que o dominaram totalmente; Mick Taylor bota para foder com dois solos de cair o queixo, deixando o ouvinte boquiaberto ao solar primeiro ao estilo bottleneck (deslizando uma garrafa sobre as cordas), e depois encerrando a canção com o que podemos facilmente chamar de um dos dez melhores e mais marcantes solos da história do Rock.
A canção número 334 na lista de “500 maiores canções de todos os tempos” pela Rolling Stone. Essa é a balada “Wild Horses”, onde tudo é perfeito, os arranjos emocionantes, um piano terno e Mick Jagger no auge do seu potencial interpretativo. A letra foi escrita após Marianne Faithfull consumir uma quantidade excessiva de heroína, quase morrer em decorrência de uma overdose, e ao ver um preocupado Jagger ao lado de sua cama de hospital, dizer: “Cavalos selvagens não conseguiriam me carregar embora”, que acabou se tornando o refrão da música. Uma letra um tanto poética e realista sobre perdas, dificuldades e tristezas, fazendo da mesma um dos melhores e mais simples tratados sobre relacionamentos. Aí que você vê como escrever sobre música é difícil... Na opinião do gringo que listou a música, ela merece um 334º lugar. Na minha, pelo menos entre as 50 primeiras.
Para um disco tão chapado, nada melhor que uma overdose de obras-primas. Agora ouvimos “Can’t Your Hear Me Knocking”, com uma letra indo aos raios da marginalidade e sexualidade voraz. A bateria de Charlie Watts mostra enorme segurança e Keith exibe aqui um dos seus riffs mais famosos. E não é só isso. Quando está chegando aos três minutos, a canção abandona o rock para ingressar numa viajante jam, onde o músico Rocky Dijon dá um clima caribenho a musica com suas congas, o sax de Bobby Keys imprime uma parte jazz de respeito e o monstro Mick Taylor roubando a cena com um solo digno de Carlos Santana. Ao se encaminhar para o final, a música funde todos os mundos pelos quais viajou nos seus sete minutos e dezesseis segundos. Presença obrigatória em qualquer lugar onde se fale de música criativa e inovadora.
“You Gotta Move” é puro Delta blues da primeira metade do século 20. Aqui temos a performance minimalista de Charlie Watts no chimbal, os backing-vocals gospel de Mick Taylor, o riff rústico e primitivo das guitarras, e enfim Mick Jagger, esse branco com alma negra, destilando uma safada letra com sotaque de um autêntico negão sulista americano: “Você tem que se mexer, você tem que se mexer, criança, você tem que se mexer...”.
As guitarras nervosas dão o tom dessa música realmente fazer jus ao título obsceno de “Bitch”. O vocal agressivo de Jagger, então, nem se fala. A sessão de sopros por parte de Keys e Jim Price soa mais alta que nunca. Taylor solando mostra o que é rock elétrico e cheio de melanina. A letra indignada fala de todas as decepções amorosas do vocalista, pela sua inconstância na hora de reagir a uma provocação. Uma autêntica aula de aspereza que poucos têm moral para fazer.
“I Got The Blues”. Ninguém tinha mais dúvida disso, mas ainda sei os Stones fazem questão de afirmar. Surge uma balada sofrida, característica perceptível tanto nos acordes espaçados quanto na voz alta e atormentada de Mick Jagger. O baixo de Wyman se pronuncia como nunca aqui, e Billy Preston nos entrega um rasgador solo no órgão. A sessão de sopro de Keys e Price só ajuda a dar mais sentimento a esse tremendo gospel/soul. A letra fala de quando Jagger se separou de Faithfull. Diz que precisará de tempo para esquecer dela, e que “o amor é uma cama cheia de tristeza”. Isso é o que qualquer um com um mínimo de sensibilidade chamaria o que temos aqui de música transbordando emoção.
E falando em Marianne, a mesma dá indiretamente o belo ar de sua graça em “Sister Morphine”, que teve a letra escrita por ela e teve a ajuda de Jagger e Richards para completar a parte musical. Keith Richards mostra habilidade ao violão, junto a Ry Cooder na guitarra bottleneck, somando ao piano de Jack Nitzsche. A pessimista letra é a mais direta de todas sobre o uso de drogas, com versos como “Vamos lá, irmã Morfina/É melhor você fazer a minha cama/Pois você sabe e eu sei/Que de manhã estarei morto”. A música havia sido lançada por Faithfull como single no ano de 1969, mas acabou sendo banida das lojas devido à sua forte temática. Restou a uns certos ingleses o dever de eternizar a canção de uma vez por todas.
Gravada no Alabama, temos agora a canção “Dead Flowers”. Mick Jagger assume o violão, e todos os músicos que tocaram no álbum até agora aparecem todos em seus respectivos instrumentos compondo um melódico rock de refrão inflamado, com a canção inteira falando do relacionamento de Jagger com uma tal de Susie, mas logo se vê que a canção é um tratado sobre drogas, com raiva imensa de ser desprezado pela garota, afirmando que enquanto ela se diverte, “estarei no porão/com uma agulha e uma colher/e outra menina para aliviar minha dor”. E no clássico mau-mocismo Stoniano, o refrão tem toda aquela marra de “se você se acha a fodona, vai sonhando”... Se isso é um clichê? Tudo bem. São um dos criadores que estão utilizando-o.
Chegamos na última canção, em uma das eleitas melhores baladas stonianas. O nome, “Moonlight Mile”. Modificando o arranjo de um fragmento gravado por Richards, Taylor obteve uma sessão de cordas de sonoridade asiática, com Jagger também participando do riff acústico. Assim como muitas das canções dos Stones, tem uma letra uma tanto metafórica e misteriosa, mas parece falar das alienações da vida na estrada.Insatisfação com o próprio show business, resumidamente. Um fim perfeito, recheado de belas melodias, onde já vemos os já cansados Stones entrando em êxtase, enquanto duas agulhas – a da vitrola e da seringa – compartilham espaço nos sentidos do maravilhado ouvinte.
Pois bem, os Rolling Stones não foram chamados de “versão bad boy” dos Beatles por um simples motivo – diferente dos garotos de Liverpool, a banda sempre foi afeita a temas mais sexuais, tristes, cruéis e até mesmo ultrajantes. Conferindo os primeiros hits, temos “It’s All Over Now” e “The Last Time”, que falam de separação; “(I Can Get No) Satisfaction” e sua crítica ao sistema capitalista; “Paint It, Black”, sobre ver tudo negro por estar sem o seu amor; as letras urbanas de “Jumpin’ Jack Flash” e “Street Fighting Man”; a melancolia latente de “You Can’t Always Get What You Want”; e por aí vai. Enquanto isso, os Beatles eram mais lembrados por um romantismo doce e um pop ensolorado, ainda que afirmar isso de forma generalizante não corresponde à realidade.
Os Stones não atravessavam seu melhor período em termos econômicos e pessoais – naqueles primeiros anos da década de 70, quando a banda saiu da categoria de antagonistas à sombra dos FabFour e se afirmou musicalmente como uma banda de respeito – foi a época dos conflitos contratuais para sair da Decca, já que estavam insatisfeitos com o empresário Allen Klein, que dava mais importância ao seu contrato com os Beatles do que com os Stones. Tal ruptura fez os Stones moverem-se para a gravadora Atlantic e abrir o selo Rolling Stones Records, ainda que a custo de Allen ficar com os direitos autorais e royalties de todas as músicas compostas até 1970.
A perda do guitarrista Brian Jones ainda era algo recente, a banda ainda vinha se acostumando com o novo guitarrista Mick Taylor, egresso da banda John Mayall And The Bluesbreakers, Mick Jagger separava-se da cantora Marianne Faithfull para começar seu relacionamento com Bianca Perez Moreno de Macías, ativista social e advogada de direitos humanos. Keith Richards se afundava nas drogas com sua esposa Anita Pallenberg, e o trágico festival de Altamont, o ‘Woodstock sem policiais’, onde um jovem que apontou uma arma para o palco com a intenção de matar Mick Jagger foi assassinado pelos Hell’s Angels contratados como seguranças. Os impostos ingleses tornam-se tão altos e a perseguição da polícia tão acirrada que os rapazes se vêem obrigados a se mudar para a França.
O custo de todos esses prejuízos obrigou o Rolling Stones a realizarem uma lucrativa excursão americana, lançaram um disco ao vivo (o estupendo “Get Yer Ya-Ya’s Out”) e finalmente lançarem um novo disco de músicas inéditas, o primeiro a trazer a participação efetiva de Mick Taylor como guitarrista (já que ele apenas gravou overdubs para as músicas “Live With Me” e “Country Honk”, do disco “Let It Bleed”), o primeiro dos Rolling Stones por uma nova gravadora, e somando a tudo isso, uma capa do genial Andy Warhol. A data em que foi parido, 1971. Os pais, Mick Jagger no vocal, Keith Richards e Mick Taylor nas guitarras, Bill Wyman no baixo, Charlie Watts na bateria e vários músicos de apoio, Stones honorários. O nome da criança, “Sticky Fingers”. O disco mais chapado e um dos mais marginais da carreira da banda. Nenhuma das dez faixas fala de um tema mais sutil – todas estão, direta ou indiretamente, ligadas às drogas.
O disco já começa mostrando ao que veio: cansados de todos esses problemas que os deixavam aborrecidos, o indestrutível Keith dispara um de seus riffs mais marcantes junto a Mick Taylor, em uma tremenda fome de guitarra, e o eterno sexto stone Ian Stewart toca piano da maneira mais empolgante o possível. Jagger começa a cantar uma letra chutando o saco de mil tabus, falando sobre escravidão, sexo interracial e principalmente, uso (e abuso) de heroína. Heroína esta, que ao ser misturada com éter e adquirindo uma coloração marrom, deu inspiração ao nome da música: “Brown Sugar”. Um dos maiores clássicos da banda, obra prima verdadeiramente marginal. Tente não cantar com Mick J. o refrão “Açúcar marrom/Como você tem um gosto tão bom?”, por mais que você odeie qualquer entorpecente. E como se não bastasse, tem o maravilhoso saxofone de Bobby Keys solando furioso. Perfeita em todos os sentidos, do primeiro ao último segundo. Um literal arraso.
“Sway” entra com um riff de guitarra desafiador que logo se torna mais melódico, abrindo espaço para Jagger cantar em um ritmo mais cadenciado, até desembocar no maravilhoso refrão e suas hipnotizantes reviravoltas, em uma música que versa sobre o quanto drogas podem deixar alguém mal, com o eu-lírico falando diretamente com os narcóticos, que o dominaram totalmente; Mick Taylor bota para foder com dois solos de cair o queixo, deixando o ouvinte boquiaberto ao solar primeiro ao estilo bottleneck (deslizando uma garrafa sobre as cordas), e depois encerrando a canção com o que podemos facilmente chamar de um dos dez melhores e mais marcantes solos da história do Rock.
A canção número 334 na lista de “500 maiores canções de todos os tempos” pela Rolling Stone. Essa é a balada “Wild Horses”, onde tudo é perfeito, os arranjos emocionantes, um piano terno e Mick Jagger no auge do seu potencial interpretativo. A letra foi escrita após Marianne Faithfull consumir uma quantidade excessiva de heroína, quase morrer em decorrência de uma overdose, e ao ver um preocupado Jagger ao lado de sua cama de hospital, dizer: “Cavalos selvagens não conseguiriam me carregar embora”, que acabou se tornando o refrão da música. Uma letra um tanto poética e realista sobre perdas, dificuldades e tristezas, fazendo da mesma um dos melhores e mais simples tratados sobre relacionamentos. Aí que você vê como escrever sobre música é difícil... Na opinião do gringo que listou a música, ela merece um 334º lugar. Na minha, pelo menos entre as 50 primeiras.
Para um disco tão chapado, nada melhor que uma overdose de obras-primas. Agora ouvimos “Can’t Your Hear Me Knocking”, com uma letra indo aos raios da marginalidade e sexualidade voraz. A bateria de Charlie Watts mostra enorme segurança e Keith exibe aqui um dos seus riffs mais famosos. E não é só isso. Quando está chegando aos três minutos, a canção abandona o rock para ingressar numa viajante jam, onde o músico Rocky Dijon dá um clima caribenho a musica com suas congas, o sax de Bobby Keys imprime uma parte jazz de respeito e o monstro Mick Taylor roubando a cena com um solo digno de Carlos Santana. Ao se encaminhar para o final, a música funde todos os mundos pelos quais viajou nos seus sete minutos e dezesseis segundos. Presença obrigatória em qualquer lugar onde se fale de música criativa e inovadora.
“You Gotta Move” é puro Delta blues da primeira metade do século 20. Aqui temos a performance minimalista de Charlie Watts no chimbal, os backing-vocals gospel de Mick Taylor, o riff rústico e primitivo das guitarras, e enfim Mick Jagger, esse branco com alma negra, destilando uma safada letra com sotaque de um autêntico negão sulista americano: “Você tem que se mexer, você tem que se mexer, criança, você tem que se mexer...”.
As guitarras nervosas dão o tom dessa música realmente fazer jus ao título obsceno de “Bitch”. O vocal agressivo de Jagger, então, nem se fala. A sessão de sopros por parte de Keys e Jim Price soa mais alta que nunca. Taylor solando mostra o que é rock elétrico e cheio de melanina. A letra indignada fala de todas as decepções amorosas do vocalista, pela sua inconstância na hora de reagir a uma provocação. Uma autêntica aula de aspereza que poucos têm moral para fazer.
“I Got The Blues”. Ninguém tinha mais dúvida disso, mas ainda sei os Stones fazem questão de afirmar. Surge uma balada sofrida, característica perceptível tanto nos acordes espaçados quanto na voz alta e atormentada de Mick Jagger. O baixo de Wyman se pronuncia como nunca aqui, e Billy Preston nos entrega um rasgador solo no órgão. A sessão de sopro de Keys e Price só ajuda a dar mais sentimento a esse tremendo gospel/soul. A letra fala de quando Jagger se separou de Faithfull. Diz que precisará de tempo para esquecer dela, e que “o amor é uma cama cheia de tristeza”. Isso é o que qualquer um com um mínimo de sensibilidade chamaria o que temos aqui de música transbordando emoção.
E falando em Marianne, a mesma dá indiretamente o belo ar de sua graça em “Sister Morphine”, que teve a letra escrita por ela e teve a ajuda de Jagger e Richards para completar a parte musical. Keith Richards mostra habilidade ao violão, junto a Ry Cooder na guitarra bottleneck, somando ao piano de Jack Nitzsche. A pessimista letra é a mais direta de todas sobre o uso de drogas, com versos como “Vamos lá, irmã Morfina/É melhor você fazer a minha cama/Pois você sabe e eu sei/Que de manhã estarei morto”. A música havia sido lançada por Faithfull como single no ano de 1969, mas acabou sendo banida das lojas devido à sua forte temática. Restou a uns certos ingleses o dever de eternizar a canção de uma vez por todas.
Gravada no Alabama, temos agora a canção “Dead Flowers”. Mick Jagger assume o violão, e todos os músicos que tocaram no álbum até agora aparecem todos em seus respectivos instrumentos compondo um melódico rock de refrão inflamado, com a canção inteira falando do relacionamento de Jagger com uma tal de Susie, mas logo se vê que a canção é um tratado sobre drogas, com raiva imensa de ser desprezado pela garota, afirmando que enquanto ela se diverte, “estarei no porão/com uma agulha e uma colher/e outra menina para aliviar minha dor”. E no clássico mau-mocismo Stoniano, o refrão tem toda aquela marra de “se você se acha a fodona, vai sonhando”... Se isso é um clichê? Tudo bem. São um dos criadores que estão utilizando-o.
Chegamos na última canção, em uma das eleitas melhores baladas stonianas. O nome, “Moonlight Mile”. Modificando o arranjo de um fragmento gravado por Richards, Taylor obteve uma sessão de cordas de sonoridade asiática, com Jagger também participando do riff acústico. Assim como muitas das canções dos Stones, tem uma letra uma tanto metafórica e misteriosa, mas parece falar das alienações da vida na estrada.Insatisfação com o próprio show business, resumidamente. Um fim perfeito, recheado de belas melodias, onde já vemos os já cansados Stones entrando em êxtase, enquanto duas agulhas – a da vitrola e da seringa – compartilham espaço nos sentidos do maravilhado ouvinte.
O que dizer, sem cair no clichê? Que isso é um autêntico álbum de Rock And Roll com letras maiúsculas? Que poucas bandas teriam alma, melanina e blues o suficiente para gravar algo do tipo? Que esse é um item indispensável para entender as últimas décadas da música pop? Que se não fosse por discos como esse pelo menos metade das bandas de hoje não teriam onde buscar seu referencial? Para que repetir tudo o que já foi dito? Não há necessidade. A única e real necessidade é ouvir esse disco que periga chapar de tão marginal, insano e junkie, e o melhor de tudo, sem rebordosa nenhuma.
Marcadores: Resenhas
8 Comments:
OOOiii, cara, que foda *-*
geniozinho pacas vc HAUHAUISHDIUASHFIU
abração!!!
MATA OS STONES! ò.Ó
Esse disco é muito foda!
bernardo, seu corno. fiquei com maior vontade de ouvir esse disco agora mermão, vô tomá uma atitude cruel contigo morô? vô passar a lambida no pescoço!
nao gosto muito dos stones, mas este disco é audível. (:
it's only rock n' roll but i LOVE it!
com certeza um dos melhores álbuns da história do rock n' roll!
Hidro,cada vez fazendo resenhas mais fodas!
hail Hidro!
hail Dangerous Music!
hail Stones! \m/
:***
"Blá blá blá, que disco foda, blá blá blá, é um dos referenciais-mor do bom e velho rock 'n' roll" - assim, um comentário clichê queu não posso/devo dizer sobre este magnífico álbum. Ops, caí no clichê de novo. Mas que tudo se dane, mesmo.
P.S.: Bêr, sua putinha de esquina, só estou comentando porque a resenha é nada mais, nada menos que dos Rolling Stones. Ainda te devo meu comentário excluso.
essa é a banda mais invejada da história , tb pudera, com tantos clássicos,e depois de idosos ainda lotar estádios pelo mundo, o stick fingers é só mais uma entre tantas obras primas que esses caras fizeram, os beatles podiam ser muito bons de estúdio mas no palco não eram isso tudo, mas os stones eram bons nos dois, imaginem se esses caras tivessem um george martim por trás!? ai seria covardia.
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