Quando o punk novaiorquino explodiu em 1976, tivemos o primeiro hype notório do Rock. Infelizmente, como não vivemos em um mundo em que o sol brilha para todos, raras foram as bandas da Grande Maçã que viram suas contas bancárias se encherem de vários e agradáveis zeros. Realmente, no último ano de sucesso do rock empolado, técnico e bonitinho ficava meio difícil bandas com a tosqueira agressiva e primitiva como os Dead Boys, os Voidoids e os Ramones fazerem sucesso, mas o mesmo não podia ser dito de bandas que produziam um som mais palatável e que tinham aceitação maior do grande público. Esse punk mais pop, anguloso e dançante foi chamado por Seymour Stein, da gravadora Sire, de "new wave", e teve como grandes nomes de New York o Talking Heads e o Blondie, que até Agosto de 1974 chamava-se Angel And The Snakes.
De início uma banda de punk que as pessoas não teriam medo de ouvir, o Blondie foi aprimorando seu som, acrescentando elementos de disco music e power pop no som. E tal mistura rendeu ótimos discos, sendo "Parallel Lines", de 1978, o exemplo mais conhecido e bem-sucedido comercialmente falando, trazendo os principais hits da carreira discográfica do Blondie, na época formado por Chris Stein e Frank Infante nas guitarras, Clement Burke na bateria, Jimmy Destri nos teclados e a musa loira(ça) Debbie Harry nos vocais.
O álbum começa muito bem, com "Hanging On The Telephone", uma música com um clima ensolarado, onde os principais destaques são a pegada da bateria e as ótimas linhas vocais por parte de Debbie. Na letra, a loira diz estar apaixonada por um cara e pedindo para que ele não a deixe pendurada no telefone, como atestam os versos "Se eu não tiver suas chamadas, tudo dá errado/Eu quero te dizer algo que você sabe há muito tempo". O refrão é mais que empolgante.
Mas o Blondie ainda mostrava certa veia punk, que pode ser vista em "One Way Or Another", onde a dupla de guitarras imprime a música certa fúria adolescente, enquanto Debbie, em vocalizações que variam do sexy ao rasgado, afirma que vai pegar o rapaz de qualquer jeito, não importando as condições. Essa música marca presença no filme "Show Bar (Coyote Ugly)", comédia romântica onde a protagonista adora tal música e até chega a cantá-la no bar em que trabalha para acalmar uma porradaria generalizada (claro que, se você tentar fazer isso na vida real, você provavelmente receberá uma garrafada na cabeça, mas...).
"Picture This" evidencia as melodias; aqui é notada uma presença do teclado, além de uma base de guitarra muito cativante, com Debbie cantando docemente que quer figuras de tudo que possa lembrar o relacionamento dela com alguém, uma "moldura sem omissões", e apenas uma visão da pessoa amada. Um dos melhores desempenhos vocais de Harry.
Um início quase soturno, iniciada por teclados mais introspectivos e batidas cadenciadas. Mas, "Fade Away And Radiate" acaba assumindo ares de balada com os vocais de Debbie Harry, e facetas de experimentalismo com as guitarras inusitadas e as melodias viajantes de teclado. Não chega a tornar-se de um vôo megalomaníaco progressivo, pois ainda tem estrutura de uma canção pop. Pérola que não costumam comentar, mas que não deixa de ser perfeita.
O vigor do lado rock do Blondie volta em "Pretty Baby", intercalada entre momentos mais agitados e intercessões melódicas, culminando em um refrão que faz da música o punk mais açucarado já gravado. TrÊs minutos de dançante declaração amorosa, onde Debbie mostra todo seu lado sentimentalmente ingênuo. De fato, perfeita para um início de namoro.
"I Know But I Don't Know" é iniciada por melodias grudentas de teclado até que se revela uma música inteiramente grudenta. Os riffs simples entram no ouvido e agradam de imediato, e Debbie canta uma letra muito ritmada e cheia de repetição de palavras. Sabendo ou não sabendo, o Blondie afirma que tudo é um mistério tracando com chave. E que eles se importam, ou não.
Melodias desafiadoras abrem "11:59", onde o eu-lírico se compara a um fugitivo que quer ficar vivo por hoje, em uma letra que dá margem a várias interpretações, pelo número de metáforas apresentadas em uma música só. O instrumental é cheio de teclados sintetizados e uma sessão rítmica muito forte (aliás, será que os Strokes quiseram fazer uma citação subliminar a essa canção no seu hit "12:51", uma canção que diz que a hora passou e que o eu-lírico está velho?).
"Will Anything Happen?" tem uma dos riffs mais pesados do álbum, mas é combinado com teclados angulosos e a grande performance vocal de Debbie. E ela se mostra insegura, perguntando pro seu namorado se, quando ele fizer sucesso e ir longe devido aos seus talentos musicais, e se veria ele de novo. O título da música é repetido à exaustão. Canção bem-vinda em qualquer festa roqueira.
Rock açucarado, onde os vocais açucarados e teclados doces combinam com a eletricidade abafada da guitarra. Esta canção leva o nome de "Sunday Girl", onde é contada uma história em que a garota namora com um cara aparentemente machista, que manda ela ficar em casa e parar de chorar, pois ela quer sair e encontrar com a galera. Os pratos da bateria também são muito evidenciados.
A perfeita solução de rock, pop e disco produziu o maior hit da carreira do Blondie: "Heart Of Glass", que apesar de ser mais conhecida como hino de rapazes alegres e ser tocada à exaustão, não deixa de ser excelente. Cantando em falsete, Debbie conta a história de um amor se desfacelando, comentando que ela mesma tinha um coração de vidro, e que tudo foi tomado pela desconfiança, provocação, adoráveis ilusões e a impressão de estar sendo usada. Acompanhada de um vocal masculino, mrs. Harry torna o refrão irresistivelmente atraente. Quase seis minutos que não enjoam.
"I'm Gonna Love You Too" é uma das melhores do álbum. Debbie prevê todos os movimentos do seu namorado, e logo em seguida diz a razão de saber tudo isso: "você vai dizer que sente minha falta/você vai dizer que vai me beijar/você vai me dizer que me ama/porque eu vou te amar também". Na parte musical, o rock volta, e com rapidez, com guitarras viris, teclados em brasa e uma performance nitidamente empolgada da vocalista. Os acompanhamentos vocálicos do instrumental com a voz são uma das coisas mais grudentas que uma banda já conseguiu fazer.
Fechando o álbum, temos "Just Go Away", esta já apelando para o powerpop, ou seja, um pop cheio de guitarras. O refrão é o ápice da música, que vai escalando para explodir em um desempenho vocal impressionante por parte de Harry. E para se despedir do ouvinte, a letra trata sobre separação, pedindo para ele não ficar triste, não ficar mal, não ficar louco, apenas ir embora.
Admiradores de boa música pop certamente adoram o Blondie. Tietes da cena roqueira nova-iorquina dos anos 70 também. Ouvintes mais mente aberta e menos adeptos de restrições e radicalismos, idem. Ao longo dos anos, o Blondie sempre soube como fazer música comerciável e vendável, mas ainda assim boa. A química e as fórmulas do Blondie ainda nos dariam discos excelentes como "Eat To The Beat", entre outros, mas se você quer começar a ouvir a banda, comece pelo seu maior cartão de visitas. De um jeito ou de outro, ouça!
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7 Comments:
Enfim, nada a dizer porque não conheço, sacumé.
"-NOW i wanna be your dog"
foi o que o iggy disse para a debbie.
ótima resenha bêr!
Blondie é uma ótima mistura de punk, pop e power pop, tudo em perfeita harmonia.
adoro a capinha desse cd, e a voz da debbie harry é demaaiisss.
*-*
nossa, amei. o-o queria eu conseguir fazer uma interpretação tão boa como essa! ç-ç
meu pai gosta de blondie e eu nunca parei pra prestar atenção e talz o_o
amei, amei. favoritos já!
eu não conheço blondie, pareceu interessante a mescla
eu não conheço blondie também ¬¬
Não conheço, e Ray me disse pra não escutar.
Ray escuta nesse momento , juntamente com minha pessoa, tears for fears.
=*
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