Ginger Baker. Jack Bruce. Eric Clapton. Um dos melhores (senão o melhor) power trios da história.
O Cream foi, junto com bandas como The Beatles, The Who e The Rolling Stones, algo que causou um impacto significativo na música popular da época, trazendo um tema musical pesado, e ainda assim técnico e inovador, que contribuiu muito para o surgimento de bandas posteriores como Led Zeppelin, Deep Purple, e Rush. Suas performances ao vivo foram influência primordial para as bandas de rock progressivo, e bandas de jam music, como o Grateful Dead.
O início do trio pode ser datado a partir de 1966, época
A razão pela qual o Cream é considerado um dos melhores power trios da história é simples. Junte a voz aérea e as linhas intensas de baixo de Jack Bruce, a bateria pesada e fortemente influenciada por jazz de Ginger Baker, junto com a guitarra divina de Eric Clapton (ou DEUS, como preferirem). O resultado, como esperado, é incrivelmente marcante. Mesmo com apenas 2 anos de carreira, 2 albuns ao vivo e 4 de estúdio(sendo dois desses, metade estúdio e metade ao vivo), o Cream gravou seu nome na história para sempre.
O motivo principal de tanto reconhecimento é o segundo album da carreira do trio. Gravado e lançado em 1967, o Disraeli Gears pode ser classificado como o primeiro –e um dos únicos- album de blues psicodélico da história. O próprio nome é uma piada interna da banda. Diz-se que Eric Clapton estava dizendo a Ginger Baker que estava pensando em comprar uma bicicleta de corrida, e o roadie da banda, Mick Turner, entrou na conversa comentando sobre a performance daqueles “Disraeli Gears”, se referindo na verdade a “derraileur gears”, que é um tipo de marcha. A banda achou hilário, e decidiu que esse deveria ser o nome do próximo album. Se não fosse por Mick, o album teria simplesmente se chamado “Cream”.
O disco abre com “Strange Brew”, que é um dos principais hits do trio. O blues da guitarra de Clapton entra com naturalidade, auxiliado pela bateria de Baker, anunciando a voz suave e segura de Clapton, cantando sobre uma estranha poção, que mata o que está dentro de você. Acredito que ele se referia a heroína, mas não tenho certeza. Puro blues com um leve toque de lisergia.
Seguido pelo maior hit da banda, e single mais vendido, “Sunshine Of Your Love”. As linhas de baixo de Bruce e os solos de Clapton nessa música são duas coisas que causam queixos caídos até hoje. A letra curta, porém memorável, foi escrita durante toda uma madrugada (“It’s getting near dawn\
When lights close their tired eyes.”) por Jack Bruce e Pete Brown, e depois terminada por Eric Clapton. Indispensável a qualquer um que sinta qualquer tipo de afinidade por blues, psicodelia e rock ’n roll, mesmo que separadamente.
“World Of Pain” pende mais pro lado da psicodelia do que do blues, com uma letra existencialista que leva o ouvinte a refletir às melodias cuidadosamente trabalhadas do trio. Uma melodia intrigante banhada pelo verão do amor.
Assim como “Dance The Night Away”, que é totalmente lisérgica, apenas com uma base blues. A letra parece caracterizar um poeta apaixonado pelo surreal e descontente com a realidade. Escutar essa música é sempre uma viagem. Uma das mais bem trabalhadas do disco, com certeza.
“Blue Condition” é composta e cantada por Ginger Baker. Uma letra de difícil interpretação, uma melodia incomum e solos de blues. Parece mais com as tentativas de post-punk/new wave do final dos anos 70. À frente do seu tempo.
“Tales Of Brave Ulysses” foi escrita por Martin Sharp e dada a Eric Clapton. A letra é inspirada na Odisséia de Homero, antigo conto grego. Uma letra muito bem escrita, Eric Clapton na sua forma mais divina, Jack Bruce absolutamente impressionante, e a batida envolvente de Ginger Baker. A letra foi colocada em uma série de arranjos inspirados pela música “Summer in the City” , da banda The Lovin' Spoonful, e depois completada por Jack Bruce. Essa canção traz também a primeira atuação de Clapton usando um pedal “wah wah”.
“SWLABR”, que é um acrônimo de “She Walks Like A Bearded Rainbow”, possui riffs pesados e diretos, e uma das melhores atuações de Baker no album. Uma letra irônica sobre uma mulher quase perfeita, porém com defeitos marcantes(You got that rainbow feel/But the rainbow has a beard).
“W’re Going Wrong” é lenta e lisérgica, e pode decepcionar os mais ligados ao rock ‘n roll cru dos 60s, mas vale a pena ouví-la com cuidado e admirar a virtuosidade e a diversidade do Cream, em questão de música.
“Outside Woman Blues” é uma música composta em 1929 por “Blind Willie” Joe Reynolds, antigo cantor e compositor de blues. Foi uma homenagem (muito honrada, por sinal) do Cream a uma lenda do blues, que voltou a ser lembrada por causa disso. A letra fala de forma direta e com atitude sobre homens casados e suas amantes.
“Take It Back” é totalmente blues, do começo ao fim, passando pela letra. Acaba ficando um pouco alheia ao resto do album por não ser psicodélica, mas isso não importa muito quando se tem Bruce, Baker e Clapton tocando um blues clássico despretencioso e de qualidade.
O disco fecha com “Mother’s Lament”, a música mais incomum do album, por não ser nem blues, nem lisergia, e muito menos rock’n roll, mas sim uma música feita nos moldes dos anos 40, com o trio cantando, acompanhados apenas por um tímido piano, uma melodia simples e bem-humorada, contando uma curta estória sobre uma mãe que perdeu o seu bebê magrelo enquanto dava banho nele. No entanto, os anjos apareciam pra ela dizendo que ele está mais feliz assim, brincando com eles lá
Há 40 anos atrás, junto de obras-primas como Their Satanic Majesties Request (The Rolling Stones), Are You Experienced (The Jimi Hendrix Experience), The Velvet Underground And Nico (Velvet Underground), Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane), The Piper At The Gates Of Dawn (Pink Floyd) e The Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band (The Beatles), esse disco escancarou as portas da psicodelia e do inesquecível verão do amor. Criou conceitos, influenciou grandes lendas da música, e botou Bruce, Baker e Clapton em um pedestal, para sempre. Logo depois dele veio o Wheels Of Fire que é aclamado por muitos (inclusive esse que vos escreve) como o melhor disco da curta carreira do Cream. Porém, o Disraeli Gears continua sendo o mais importante, por ser uma das extraordinários criações de 1967, o ano mais importante da história da música.
Seguindo o clima libertário da sua época, esse disco não poderia terminar de outra forma, senão como o final de uma boa trepada. No final de “Mother’s Lament” pode-se ouvir claramente:
“ Thank you,
Do you wanna do it again? ”
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10 Comments:
Uma daquelas obras memoráveis. Jack Bruce genial!
Ui. Só faltava acender o cigarro depois de ouvir o álbum e falar "yes, I do".
Esses caras são deus, bicho.
Muita coisa a declarar, mas. Mas você já disse tudo, enfim.
Legal,muito legal mesmo. Ainda bem que Blu Condition foi citada,diferentemente do dvd Classic Albúns.
Quem canta em Strange Brew é o Clapton.
resenha diiiver
x]
num conheço quase nada de cream.
xB
é sério demais pra mim
mas
quando eu ouvi sunshine of your love pela primeira vez
até deu uma vontade de aprender a tocar guitarra ;O
mas passou
xBBBB
;*'s
Bleh!
Eu nem curto :s
Tbm nem conheço muito, mas...
xD~
Eu gosto do led zeppelin \o/
;*
Infelizmente de Cream conheço apenas o nome
mas parece ser bom \o/
:D
Grande clássico do rock. Jack Bruce é genial.
Um dos melhores power trios da história, com certeza.
Cara, gostei disso, esse album eh de outro mundo, soh não consigo dizer qual é o melhor album do Cream pq pra mim todos são fantasticos mesmo (talvez o Goddbye seja um pouco inferior aos outros tres maravilhosos)...
mas de qualquer forma esse aí foi o passaporte pra "viagem musical", influenciou albuns de blues, jazz e rock, algo, de fato, fantastico.
abraços, gostei do Blog!
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