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    quarta-feira, fevereiro 28, 2007
    Neil Young - Tonight's The Night



    Sem dúvida, o canadense de 61 anos Neil Young é uma das figuras mais carismáticas dentro da música. Há quase 40 anos produzindo ótima música, o autor do hit "Rockin' In The Free World" sempre se preocupou em produzir música extremamente bela e emocional, passeando entre rock, folk, country, blues, jazz e soul (incluindo malsucedidas investidas techno e rockabilly nos anos 80), conseguindo escrever dezenas de canções doídas de tão belas, envolventes e cativantes. E, para conquistar a simpatia de qualquer roqueiro, o cara atualmente é um dos músicos mais ativos contra o governo Bush...

    Alçado à posição de rockstar em 1972 com o álbum "Harvest" e já tendo gravado álbuns excepcionais feito o marcante "Everybody Knows This Is Nowhere" e o acústico "After The Gold Rush", e até aí, não conhecia todas as loucuras e peripécias da vida, mesmo tendo gravado músicas não tão sutis. Mas, em 1973, o guitarrista do Crazy Horse Danny Witten morre de overdose de heroína, sendo seguido pelo grande amigo e roadie da banda Bruce Berry. Triste, Neil Young entra no período mais depressivo de sua vida e da sua música, mergulhando no álcool e nas drogas. Dessa época surgem o desleixado "Time Fades Away" - afetado negativamente pelas bebedeiras de Young, o grandioso e esculhambador de rockstars "On The Beach", e depois de ser vetado por dois anos pela crítica, aquele álbum que é talvez sua maior obra prima. O jovem e seu desfalcado cavalo louco mandaram às favas a gravadora, a crítica e o público que só ia aos show para ouvir o hit "Heart Of Gold" do álbum "Harvest".

    E, se não vinha com o instrumental mais polido de Young, "Tonight's The Night" transbordava sentimento por todos os lados, mesmo estes sentimentos não é o que agradam um público sedento por hits. Neil saía lentamente das drogas, e nesse álbum já estava sóbrio o suficiente para quebrar os argumentos de qualquer um que glamourizasse as drogas e achassem que o vício e suas conseqüências poderiam ser coisas boas. Acompanhado pelos remanescentes do Crazy Horse Billy Talbot no baixo e teclado e Ralph Molina na bateria e os dois guitarristas Nils Lofgren e Ben Keith, Neil Young cravou um de seus registros definitivos, e quem sabe, seu melhor álbum. Um dos poucos álbuns da história do rock onde você pode realmente sentir a dor do autor. A emoção é tanta que a técnica é imperfeita - ocorrem pequenos e carismáticos erros durante o álbum, especialmente na voz de Young, que ao levar a emoção à flor da pele, por vezes desafina, mas de uma forma tão honesta que o ouvinte sente que sem essas pequenas imperfeições o álbum não teria a mesma graça.

    O álbum é inciado pela música-título; começando leve e sutil, "Tonight's The Night" vai adquirindo contornos cada vez mais intensos guiada pela sua marcante linha de baixo, que é o grande destaque da música ao lado da performance do vocalista. Neil repete insistemente "essa noite é a noite" e logo a seguir começa a descrever o estilo de vida de seu falecido amigo Bruce Berry, contando de seus costumes e habilidades, até chegar a parte em que recebe a notícia pelo telefone que ele partira desta vida. E volta a repetir "esta noite é a noite", como se expressão sintetizasse toda sua tristeza e revolta pela perda de alguém querido. Todos esses fatores são contribuintes em uma das melhores canções do álbum e da carreira de Young.

    Um teclado intimista e uma guitarra aguda abrem espaço para que "Speakin' Out" se inicie; novamente, é uma canção de desabafo; só que aqui, assume contornos românticos, onde Neil parece dizer que está entediado com tudo, só vê a garota e todas os lugares e desabafa com ela que "já fui um procurador, já fui um idiota, mas há muito tempo eu estou vindo para você". Piano e guitarra compartilham e duelam por espaço de forma excepcional, dando ainda mais paixão à uma canção totalmente apaixonada. "Estou esperando pelo seu amor/Para me carregar".

    "World On A String" mostra a verve roqueira do cantor. Sua levada contagiante demonstra uma performance inspirada por parte de todos os instrumentos. Em belíssimas vocalizações, Neil Young solta que "o mundo em uma corda não significa nada" e que "é apenas um jogo que você me vê jogar". O refrão, tão triste quanto belo, com certeza chama a atenção de qualquer que ouve a música, não importando se ouvir uma, dez ou cem vezes.

    E seguimos com "Borrowed Tune", com gaita e piano construindo um dos mais belos instrumentais para a canção. Um Neil Young no limite da emoção, sendo esta a canção que mais a sua melódica voz fraqueja ao ponto dele cantar com voz rouca. Com um arranjo que Young tirou da canção "Lady Jane" dos Rolling Stones, ele canta "Eu estou cantando essa chata melodia/Que eu peguei dos Rolling Stones/Sozinho nessa sala vazia/Perdido demais para escrever minha própria" em sua parte mais marcante. Além da musicalidade soberba, uma das coisas que também fascinam no álbum é a sinceridade do letrista, versando sobre perdas, drogas e admitindo plágios na própria letra da canção. Chega a incomodar uma voz tão melódica nos devastar tanto.

    "Come On Baby Let's Go Downtown", além de ser ao vivo, tem um refrão que, mesmo que simples, é um dos melhores já feitos. A letra é ousada, descrevendo traficantes exercendo sua função à noite, e convida a garota para ir com ele negociar. E ela prossegue com "Bastante ruim/Quando você está negociando com o cara/E a luz brilha nos teus olhos", talvez tentando destruir o glamour atribuído ao usuário de drogas. Se fôssemos considerar apenas pela parte instrumental, seria a cançãos mais feliz do álbum; mas, ao lermos a letra, vemos a cativante agulha que Neil espetava nos outros.

    Às vezes faltam palavras para descrever o que Neil Young fez em "Mellow My Mind". Uma bateria de pegada forte segue junto com belíssimas melodias e uma apaixonadíssima letra. O próprio parece não se conter quando chega no refrão, que é o ápice da música. Uma balada das mais lindas. Que o autor só podia ser Neil Young, disso não resta dúvida...

    Ouvimos agora "Roll Another Number", uma trilha sonora perfeita para uma viagem, tanto nas melodias relaxantes quanto na letra, onde ele parece estar sempre se movendo, mas ainda com vontade de voltar para casa. Com um vocal nitidamente mais limpo e consistente que as outras, a performance mais sóbria convence tanto quanto a emocional. E que músicos eram esses do Crazy Horse, meu deus? Por que toda canção ouvida aqui tem um momento instrumental sublime?

    "Albuquerque" parece ser uma continuação da anterior liricamente. As guitarras entram, crescentes, e descambando em um fuzilamento doce de belas melodias guitarreiras. Aqui, Neil está indo para Albuquerque, à procura de um lugar em que não possa ser reconhecido. E um lugar onde as pesssoas não o conheçam nem se interessam em conhecer parece o fascinar, já que ele repete o nome do lugar de forma tão hipnotizante que torna-se meio difícil não prestar atenção.

    A seguinte, "New Mama" apresenta cordas intimistas e linhas vocais chamativas em pouco mais de dois minutos. A letra parece fazer certa referência ao uso de drogas, mas pelo ponto de visto de uma pessoa que está se livrando do vício, mas que ainda não obteve sucesso total, pois, apesar de "não haverem nuvens nos meus céus mudando", ele afirma que "eu estou vivendo numa terra dos sonhos".

    O rock volta em "Lookout Joe", em um show de guitarras, pois o trabalho que cometeram nessa música aqui realmente está impressionante. As melodias rugem chamando o ouvinte, enquanto Young diz "Olhe bem Joe, você está voltando para casa/Tempos passados são tempos passados", incluindo vários outros personagens exóticas ao desenrolar da letra, sempre perguntando a Joe se ele lembra da pessoa.

    "Tired Eyes" tem um ritmo mais arrastado, com melodias mais discretas e com Neil não impondo tanto a sua voz, exceto no refrão, e aqui Neil Young destila toda a raiva contra a glamourização hipócrita das drogas. Quem as consumia e quem as traficava e matava por elas não eram poupadas da língua afiada de Young, reemergindo de um longo pesadelo tóxico. "Por favor, aceite meu conselho/Abra seus olhos cansados". Neil não consegue ser impessoal ao cantar, sempre impondo uma emoção única, até quando a voz não alcança a mesma potência. A gaita constitui um dos momentos mais belos aqui.

    E o álbum encontra seu final com a segunda parte de "Tonight's The Night", tocada de forma diferente. Aqui as guitarras roubam o lugar do baixo para ressoarem entre os versos de Young, e o teclado surge por trás da muralha guitarreira, discreto e agradável. Aqui, a bateria ganha mais velocidade e as guitarras começam a ganhar volume, mostrando toda a raiva de Neil Young; pois a primeira mostrava tristeza pela morte de seu amigo, e estra mostra revolta por ele ter morrido. E Neil consegue deixar isso bem claro sem alterar uma palavra na letra.

    Bernard Shakey (o verdadeiro nome de Neil) é, de fato, um músico único. Em cada canção sua há uma tristeza escondida, ao início de cada melodia pode surgir versos que chamarão sua atenção e refrãos tão chamativos que não deixarão você indiferente. Neil já tinha gravado e continuaria gravando outros trabalhos excelentes, mas o trono é de "Tonight's The Night". Dor em forma de música que as gravadoras tentam vetar mas não conseguiram. Romance, perda e drogas cantados doce e tristemente. E vosso humilde resenhista poderia ficar mais algumas linhas elogiando Neil Young, mas sinceramente, não há necessidade. Assim que o ouvinte escutar este álbum isso já sintetizará todos os elogios. Para cada vez que você ouvir, você pensar que essa noite é a noite. É o que muitos pensaram quando ouviram e, logo de primeira, caíram de joelhos. Então, melhor abrir seus cansados ouvidos, pois é um conselho: não deixe esse cara passar apenas como mais um nome na sua vida. Falo sério.

    Marcadores:

    posted by billy shears at 7:05 PM

    8 Comments:

    Blogger gabriel disse:

    eu ouvi um álbum do neil young, aquele contra o bush

    1:13 AM  
    Anonymous Anônimo disse:

    Putz, até então esse cara foi mais um nome na minha vida... porque eu nunca parei pra escutar D8
    mas ouvirei 8D
    ^^
    bjo ber =*

    8:22 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    Tonight's the night (tum dumrum dum)
    tonight's the night (tum dumrum dum)

    Neil Young é no mínimo um dos maiores gênios que já pisaram na terra quando se fala de música, no mínimo

    8:38 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    NEIL YOUNG É PARA OS FORTES! \m/Ò.Ó\m/

    ELE CONSEGUE DEIXAR UM DISCO ROCK AND ROLL, COUNTRY E ATÉ METAL AO MESMO TEMPO.... o.O

    9:29 PM  
    Blogger Carmem Luisa disse:

    Os corpos cansados, espalhados em uma cadeira; os ouvidos (des)atentos e a melodia nostálgica que se espalha nesta noite me fazem acreditar que este não será apenas mais um nome digitado e depois esquecido num canto qualquer. Como você disse, "essa noite é a noite".
    Parabéns pela resenha.

    10:14 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    ahh não conheç muito :/

    11:09 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    ah não conheeeeço mto!

    mas pelo que li, é uma bela resenha =D
    são sempre boas, bêr...seu resenhista!

    uahauhauha
    :**

    11:53 PM  
    Blogger Conrado disse:

    disco muito bom

    mas ainda prefiro o Harvest :D

    2:05 AM  

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