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    terça-feira, dezembro 19, 2006
    Placebo - Meds


    Quando os Ramones descobriram a fórmula da música rápida, de pouca técnica, sem solos, viradas, firulas e orquestrações, poucas vezes a largaram para tentar algo diferente. Quando o AC/DC descobriu que poderia parir aquele hard rock contagiante, com riffs endiabrados, letras sacanas e refrãos grudentos, a mesma coisa. Oasis e seus sons "Beatles-like", idem. Agora, os novos adotadores da política "em time que está ganhando não se mexe" é o Placebo, em seu novo disco "Meds". O grupo parece ter encontrado satisfação musical e comercial em suas músicas ora agitadas, de toques punk, guitar e grunge, ora em baladas depressivas e melancólicas, com forte influência de The Cure e pós-punk gótico.

    Não que isso seja um defeito no andrógino trio formado pelo belga Brian Molko, o sueco Stefan Olsdal no baixo, guitarra e teclados e do inglês Steve Hewitt na bateria, ou em nenhuma das bandas supracitadas. Até porque todos demoraram bastante para lançar um disco considerado sem toda a inspiração que conquistou fã nos primeiros trabalhos. Como para qualquer coisa, existem casos e casos; o Evanescence, ao querer garantir o mesmo público, já ficou sem idéias logo no segundo disco. Pelo menos, o Placebo, apesar de não arriscar muito, dá alguns tímidos passos para a frente. Apesar de conter mais guitarras que o antecessor "Sleeping With Ghosts", esse quinto disco persiste na característica do anterior de utilizar teclados, efeitos e aproximação com a música eletrônica. Resumindo, um meio-termo entre o novo e o velho, mesmo esse novo e esse velho não tendo lá diferenças relevantes, ou ainda assim, fundamentais... O aspecto lírico, porém, continua excelente, sendo que este sempre foi um dos pontos fortes do Placebo.

    O álbum é iniciado pela música-título e mais recente single, "Meds", que conta com a participação da vocalista Alison "VV" Mosshart da duo The Kills, banda de indie rock que já se apresentou aqui no Brasil no Recife e em São Paulo, no festival Campari Rock. Iniciada com palhetadas insistentes e com ótimas linhas vocais por parte de Molko, a canção toma vigor quando o resto dos instrumentos são introduzidos. O refrão cantando por VV é bem empolgante, mas o maior destaque fica para o vocal de Molko, que vai do tom confesso até o desesperado. Na letra, vemos uma pessoa atordoada, assustada com o mundo, sentindo-se em queda livre, não entendendo o por que disse... Aí descobrimos a causa de tudo quando Alison canta, interpretando outra pessoa, "Baby, você esqueceu de tomar seus remédios?".

    "Infra-Red", o terceiro single, mostra efeitos eletrônicos nem um pouco discretos, porém, bem inseridos. À medida que vai se aproximando do refrão, a música vai ganhando guitarras, até ficar com uma parede sonora das mesmas . A letra tem um tom totalmente vingativa, o que é ajudado pela soturna voz de Brian nos versos, sendo que estes apresentam trechos feito "Uma última coisa antes que nós comecemos o último embate/Sou eu quem te verá cair/Por isso eu vim pra te ferrar e ver você ir à falência/Alguém chame a ambulância! Pois vai haver um acidente". O marcante refrão, apesar de conter seu tom de ficção científica, não foge da temática da canção.

    A próxima é "Drag", que tem uma cozinha muito bem evidenciada, mostrando o lado mais pós-punk da banda, que cresce em seu refrão, ganhando uma guitarra quase inesperada e um certo contorno grunge, mais por causa da estrutura do que propriamente por causa do som. Também há bastante evidência dos teclados. A canção fala claramente sobre inveja, com o eu-lírico falando estar sempre atrás de outra pessoa, e se sente um derrotado por isso, porque a pessoa parece ser a melhor do mundo, e ele, sempre se arrastando atrás dela.

    O álbum vai ficando cada vez mais sombrio, e entra "Space Monkey" começando mais uma vez com efeitos eletrônicos e um dos vocais mais soturnos que Molko apresenta ao longo do álbum, seja enquanto sussurra, seja enquanto impõe sua voz. A letra parece misturar romantismo e crítica à evolução da tecnologia humana. A alternância é bem agradável, fazendo da canção uma bela pisada no freio.

    "Follow The Cops Back Home" é outra balada, com a bateria mais reta e teclados bem melódicos. Novamente um tom em crítica aos tempos modernos se enxerga em versos como "O chamado das armas nunca/foi verdade/Vamos dar uma volta e deixar isso pra lá/Triste animação pendurada/Ponham a culpa no apartheid". Na canção, a voz de Brian é bem linear, cantando quase que em apenas um tom de voz. O instrumental, com várias cuidadosas nuances, é um dos destaques, mostrando a faceta 'dark' da banda.

    Em "Post-Blue", somos apresentados a um ruidoso início e a introdução de melodias tão gélidas e carregadas de efeitos que chegam a lembrar superficialmente o som de Marilyn Manson na época "Mechanical Animals". E, por falar em rock industrial, essa talvez seja uma das músicas mais eletrônicas de todo o álbum e da carreira do Placebo. As temáticas de remédios, raiva dos tempos atuais e amor obssessivo mistura-se aqui, o que resulta em um refrão que faz jus ao seu tema: romântico e obsessivo.

    O primeiro single chama-se "Because I Want You", que com sua bateria surgindo com força, já denuncia: o lado rocker do Placebo aparece novamente. A bateria segue reta, mas as melodias de guitarra são bem volúveis, assim com um teclado um tanto 'espacial' que surge no meio da canção. A letra é tão bonita quanto triste, dividindo romance, drama e encorajamento. Não preciso nem comentar da voz do vocalista, afinal, quem é fã sabe que é uma das marcas registradas da banda...

    "Blind" mostra que o ouvinte foi enganado: a eletrônica volta, em ritmo arrastado, junto a teclados, que acaba descambando em uma guitarra sinuosa e crescente. A letra encontra um meio-termo entre a metáfora e o realismo, falando sobre um relacionamento levado com muito ardor, com Brian tomando consciência que a pessoa já está em pedaços, e os dois estão em um beco sem saída, mas ele pede para não ser abandonado e não ficar cego, sem contar o doído verso "Se eu pudesse te arrancar desse beco sem saída/Eu sei que outros melhores já tentaram/Eu preencheria cada suspiro seu com um significado/E encontraria um lugar para nós nos escondermos".

    Ouvimos então "Pierrot The Clown", onde tristes teclados vão surgindo e somam-se aos vocais melancólicos de Brian, que canta sobre uma pessoa com quem já teve um romance ou relação muito próxima, e que descobriu que a pessoa não passa apenas de alguém superficial, que quebra suas promessas e joga o eu-lírico no chão. A mais lenta do álbum. Seu ocasional crescimento não é nem em velocidade, nem em peso, mas sim em densidade.

    A segunda participação do álbum é do ícone Michael Stipe, vocalista do R.E.M., na canção "Broken Promise", uma música que começa com uma das melhores linhas de teclado do álbum e o vocal sussurrado de Michael. Porém, em uma canção que tinha de tudo para ser uma balada lenta, explode em peso guitarreiro no refrão cantando por Brian. Tanto quando cantam separados quanto cantando juntos, eles compõem uma grande canção equilibrada entre culpa e revolta, primeiro falando sobre as próprias promessas quebradas, e em seguida falando da decepção com outros.

    "One Of A Kind" novamente viaja em efeitos sincopados, somados à bateria grooveada, apesar de lenta. Seguindo a cartilha adquirida de pós-punk com nuance s eletrônicas e contornos grunge, a canção cresce no refrão, apesar de voltar a carregar nos efeitos nos versos. O refrão é bem marcante e repetido à exaustão, com uma letra confusa e atordoada.

    O que se ouve em "In The Cold Light Of The Morning" são os melhores teclados do álbum, em uma canção triste e sombria feito uma manhã de inverno. Seguindo à risca o título. A letra fala sobre ainda estar acordado após uma noite de sexo, drogas e rock and roll enquanto todos ainda estão bocejando e saindo de suas camas após uma boa noite de sono. Daí o tom quase robótico de Molko, em uma ambientação solitária que parece que vai sumir a qualquer momento. A mais discreta do álbum.

    O álbum fecha com o seu segundo single, "Song To Say Goodbye", que de um início típico do Placebo, com teclados agudos e ritmo se arrastando, surpreende o ouvinte com uma canção em tom psicótico, que cresce para um refrão até raivoso, em uma canção que denuncia o fim de um relacionamento, lamentando que no início eles eram tão puros e hoje estão se separando. Não é todo dia em que vemos canções com versos tão fortes como "Você é um dos erros de Deus/Você chorando, desperdício trágico da pele", logo na introdução. "E a voz que me fez chorar/É uma canção para dizer adeus", repete Molko enquanto a canção cresce em seu tom triste e furioso.

    Não podemos dizer que é um disco mais do mesmo; porém, não podemos dizer que é uma total reviravolta na carreira do Placebo. Ao invés de tentar algo novo, eles apenas resolveram fazer um pouco de tudo que já tinham feito, ou seja, as sonoridades às quais eles já estavam mais habituados. Mesmo não estando ao nível de discos como o fantástico "Without You I'm Nothing" e o primeiro, auto-entitulado, um lançamento do Placebo é sempre algo digno de nota, e que não pode ser desprezado, dada a sua excelente musicalidade que os fez de uma das melhores bandas dos últimos dez anos. E que não decepciona os fãs após ser o primeiro lançamento de inéditas após a coletânea de singles "Once More With Feeling", que comemorava a primeira década da banda. Talvez a banda esteja caminhando para ser uma banda madura, um candidato à novo dinossauro do rock na próxima década; ou então, pode estar preparando algo grandioso atrás das cortinas. Mas é como eu disse: não ficou ruim, nem um pouquinho, mas não esperem encontrar o melhor da banda.

    Marcadores:

    posted by billy shears at 9:57 PM

    7 Comments:

    Anonymous Anônimo disse:

    Eu tenho medo das pessoas do Placebo,mas amo muito!é bom ir pra aula ouvindo,no caminho longo dentro daquele ônibus cheio de peão tarado.Me desliga dessa realidade...haha...oras só pra ficar pensando,ou pra ficar cantando sozinha,ou pra ensaiar uns passinhos na minha cabeça!XD

    4:00 PM  
    Blogger gabriel disse:

    vou baixar agora =D

    ber, na boa, essa resenha foi uma das mais bem escritas da última semana.

    10:05 PM  
    Blogger natália; disse:

    que template FODA, adorei! as fotos dos três ali também ficou legal! =D

    é como vc disse ali no começo, em time que está ganhando não se mexe. por mim não precisa mexer no time nunca.
    gosto muito de ouvir placebo, mas é uma banda que eu nunca fui viciada huahea =) e isso é bom, pq eu não vou enjoar deles tão cedo.

    tchururu
    :*

    11:05 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    Fantastico. Otima Resenha.
    Garrei nesse cd a 2 semanas, muiot bom mesmo quem não tem corra atrás!!
    Muito bom, Placebo e fenomenal..sonoridade..letras..muito bom!
    Parabens pela resenha Dr. Ber..xD

    1:24 AM  
    Anonymous Anônimo disse:

    placebo é moh legal (Y)

    2:27 PM  
    Blogger Luiza Liz disse:

    Meds é bom, mas eu ainda gosto mais do trablaho antigão do Placebo. Sinto falta do Molko de cabelo grande e cigarrinho de lado na boca. Gosto dessa imagem dele. Sinto falta das letras mais pulsantes, esse CD é meio morto... O Placebo é uma banda que REALMENTE dá um efeito placebo na gente, um efeito placebo no sentimento. Nesse CD eu não senti isso, não cheirou nem fedeu, passou em branco e eu nem percebi... A resenha tá ótima, como sempre.

    Beijos!

    5:46 PM  
    Blogger Carmem Luisa disse:

    Conheço pouco, mas posso dizer que gosto das músicas da banda. O álbum em si é bom, mas não tão marcante quanto aos anteriores...

    10:30 AM  

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