"A música tinha ficado muito empolada. Todos aqueles caras remanescentes dos anos sessenta estavam tocando em estádios, sabe como é, sendo tratados e agindo como se fossem gente muito importante. Não era rock and roll, era uma espécie de espetáculo que não passava de luzes e poses. Com os Dolls foi simplesmente como trazer a rua pro palco, entende?" (Richard Hell)
"Eu era dellinqüente, e ali estava uma banda que parecia feita para mim." (Dee Dee Ramone)
"Os Dolls criaram uma cena extraordinária e era a última moda ir vê-los. Assim, quando tocaram no Mercer Arts Center foi uma das raras vezes em que o lugar da moda era de fato o lugar certo pra se estar, porque era o melhor rock & roll em muito tempo. Rock & Roll de verdade." (Leee Childers)
Little Richard foi o primeiro andrógino do Rock. Stooges, MC5 e Underground foram os precursores do punk. Mas sem os também americanos New York Dolls, nenhuma das duas tendências iria para a frente. Os britânicos David Bowie e Marc Bolan criavam bastante polêmica devido à aparência delicada e comportamento bissexual, mas os Dolls não causavam apenas polêmica - eles deixavam as pessoas em estado de choque. Quando surgiram, pareciam mais travestis pobres do que modelos da Vogue. Travestis furiosos. Homens de batons, descabelados, em roupas apertadíssimas. E tocando um rock dos mais inflamados.
Com sua formação mais consagrada, eles tiveram em suas fileiras integrantes feito Billy Murcia (que durou pouco tempo na banda, morrendo de overdose na primeira turnê internacional, fazendo dele um dos primeiros mártires do rock) e Johnny Thunders (um dos junkies mais idolatrados de todos os tempos, também integrante dos Heartbreakers). E lançaram dois registros: "New York Dolls", de 1973 e "Too Much Too Soon" de 1974, que fizeram escola, inauguraram a cena punk novaiorquina (a "Blank Generation"). Mas como uma considerável parte dos discos mais influentes (o primeiro do Velvet Underground, o primeiro dos Stooges, o primeiro dos Ramones), os dois foram um fracasso retumbante. Mas quem ouviu, nunca esqueceu. A mistura do rock sujo dos Stones, do barulho ensurdecedor dos Stooges, dos elementos pop das girls groups, e a maquiagem de Bowie e Bolan até hoje impressionam as gerações posteriores.
E, 32 anos anos após o último álbum, a saga continua. "One Day It Will Please Us To Remember Even This", lançado pela Roadrunner Records (algo inesperado, pois é uma gravadora essencialmente de Heavy Metal), é aquele mesmo rock endiabrado que conquistou Dee Dee Ramone, que fez Joey Ramone se vestir de mulher (cena esta que prefiro não imaginar), com toda a temática Rock And Roll que sempre cercou os Dolls - amor, festas, cigarros, bebedeira e a realidade nua e crua das ruas. O vocalista e gaitista David Johansen, os guitarristas Sylvain Sylvain e Steve Conte, a cozinha do baixista Sami Yaffa e do baterista Brian Delaney, com o tecladista Brian Koonin completando o line-up produziram outro álbum de rock and roll cru e feroz de dar gosto - só que ao invés da vivência da violência, caos e substâncias ilícitas, entra a experiência - as crônicas urbanas da caótica New York retratada em suas letras e filmes como "Taxi Driver" ganham uma profundidade extra - se antes servia como uma denúncia, hoje torna-se um documentário bem primal e áspero.
"We're All In Love" é introduzida pelo baixo, até que os outros instrumentos começam a entrar também, incluindo uma ótima gaita de Johansen. O melódico refrão já acontece antes do primeiro minuto completar-se e cai naquele rock supersônico que doutrinou tantos. A divisão de melodia e aspereza torna a música muito interessante, e a voz sempre desafiadora de David continua sendo um dos "algo a mais" dos Dolls após mais de três décadas. Simplesmente irresistível o refrão.
A seguinte é "Runnin' Around", um rock cheio de balanço, tipicamente Stoniano, influência que as bonecas de Nova Iorque nunca negaram. Os backing vocals de Sylvain estão muito bem encaixados, repetindo o nome da música em alternância ao vocal de David. Exceto se a pessoa for surda ou tiver um coração de pedra, a canção contagia qualquer um. Uma das melhores do novo disco.
"Plenty Of Music" é introduzida por guitarras e bateria freadas e teclado em destaque, revelando uma música mais cadenciada, que ao seu decorrer vai ganhando mais vigor, com boas harmonias vocais. David é bem eclético em matéria de vocalizações, com sua voz servindo tanto para porradas quanto para músicas mais lentas.
A pancadaria volta em "Dance Like A Monkey", com um início tão tribal que tem direito até a sons de macacos. Após versos mais lentos, a música ganha grande velocidade e força no refrão, com backing vocals falseteados que acompanham David pedindo para as pessoas dançarem feito macacos. As guitarras são contagiantes, e a parte em que a bateria ganha seu momento solo junto aos backing vocals e outro belo complemento para essa música literalmente selvagem.
"Punishing World" é mais rápida que a anterior - pois já inicia dessa maneira. A dupla de guitarras manda bala enquanto a voz incessante de David se faz ouvir. E aí entra um dos melhores refrão de todo o álbum, que mesmo sendo apenas o nome da música repetido à exaustão, é dito com intensidade - característica esta que também se encontra no instrumental. A música mais curta do álbum, com pouco mais de dois minutos e meio.
É ouvida "Maimed Happiness", uma balada. A música até ganharia mais destaque se fosse melhor posicionada, pois quebra todo o clima da pancada anterior... É uma balada pop básica, com refrão que cresce, piano em destaque, a parte de cordas acompanhando, e o vocal de David tentando soar meloso. Não fede, nem cheira.
Então entra "Fishnets And Cigarettes", que retoma a eletricidade, mesmo tendo passagens mais melódicas, ainda assim traz um refrão contagiante ao estilo que tantos gostam na banda. Um meio-termo entre a pancada e a melosidade, com aquele toque roqueiro tão típico da banda, que faz o solo de Sylvain ganhar destaque, pois é muito bem executado. Refrão chicleteiro para sair cantarolando.
"Gotta Get Away From Tommy" é introduzida pelo piano soando altíssimo, que logo dá destaque para as guitarras surgirem e começarem a apostar corrida. A música é uma das melhores do álbum, e o refrão justifica isso - aquela cruza de Stones e Bo Diddley que a banda soube eternizar com maestria. Quando a música cai de ritmo, é apenas para as guitarras começarem a rugir e voltarem para o ataque. Para quem gosta de Rock, é indispensável.
Com quase o dobro da duração da anterior, "Dancing On The Lip Of A Volcano" começa com teclados soando ambientais, até que entras as guitarras e o vocal de David, que vão ganhando consistência até cair numa estrutura lenta, mas dançante; melodisa, porém elétrica. Para dançar mais devagar, mas nem por isso dançar menos - isso é New York Dolls, cara! E como é bom saber que 32 anos depois, com seus integrantes sobreviventes estando entre 50 e 60 anos, ainda sejam elétricos o suficiente para honrar as notas que tocavam no início de sua carreira.
"Ain't Got Nothin'" é outra balada, iniciada por uma gaita e os vocais desprentesiosos de David. Como era de esperar, é uma música com refrão mais intenso que o resto da canção, mas pelo menos o refrão dessa soa mais grudento, com uma letra até reflexiva. Eles vão diminuindo o ritmo de forma gradual, ao contrário da balada anterior. O que a torna relaxante de ouvir.
E o agito volta em "Rainbow Store", essa mais dançante que outra coisa. E o refrão é inflamado - a bateria cresce, o vocal é mais imposto, as guitarras ganham peso. E o resto da canção não deixa a desejar... Quem gosta de Rock, vai acabar levantando-se para dançar. Afinal, Rock And Roll causa esse tipo de reação nas pessoas. E os Dolls são legítimos representantes do mesmo.
"Gimme Luv And Turn On The Light" é outro rock safado, com guitarras rugindo, harmônica soando alto, com ótima performance na bateria por parte de Delaney. O ritmo às vezes ameaça cair... Para logo a pancadaria das boas voltar... Impossível ficar indiferente. Ou você adora e começa a botar os demônios pra fora, ou foge assustado de tamanha montanha de barulho. Cá entre nós, a coisa sempre melhora quando eletricidade e adrenalina são postos na receita...
O álbum é encerrado com "Take A Good Look At My Good Looks", música stoniana, com guitarras bluesy tão ao gosto de Otis Reding e Sonny Boy Williamsom. Aos poucos, a música assume contornos de balada, mas ainda destilando belas melodias de guitarra - o que a torna a melhor música lenta do álbum, e com um refrão grudento. Não tenho o que reclamar da última canção... Excelente!
Se valeu a pena esperar? Se não está tão bom assim porque não tem Johnny Thunders ou Jerry Nolan? Convenhamos, é um lançamento histórico. Os Dolls já haviam voltado faziam dois anos, mas eles lançarem um álbum de inéditas é algo melhor ainda que um retorno. Bom saber que mesmo após três décadas, mesmo todos estando bem mais velhos, ainda são os mesmos bad-boys, originários das ruas podres e decadentes da Grande Maçã, vestidos em roupas apertadas e duvidosas. O título diz tudo. Obrigado David e Syl por relembrarem essa festa de rock and roll setentista em pleno ano de 2006, e não serem apenas uma banda retrô... E sim uma das originais.
"HEY, YOU STUPID MOTHERFUCKERS, GET UP AND DANCE!"
Marcadores: Resenhas
11 Comments:
não vou com a cara desses pioneiros do Punk Rock que pensam que salvaram o mundo do progressivo e da psicodelia
pff. bando de prepotente :P
também odeio prepotentes... #D
new york dolls é legal :D
Happineeeeess
fishnets and cigarettes \o\
AHUaHUAHUAHU
AMO AMO AMO essa música XD
ai, eles tão velhos! kkk
achei desnecessário essa volta. floop!
arraaaaaaaaasa, menina!
new york dolls é puxo glam, baby!
mais uma resenha de mais um cd que não ouvi, preciso ouvir essas cosis, tô muito9 ligado nas indiezera...isso é problema...problemaaa...
=]
huheuehueheuehue caraca XD c nem precisava fala do album! só essa intro ja matou a pau! huahuahuahuahua xDDDD fico foda!
x****
Caras, bonecas de NY são puro Rock and Roll, pô! Impossível é não se contagiar com tanta destreza em suas técnicas, é impossível não resistir e sair dançando por aí.
E, para completar, a coragem de botar pra quebrar em meio ao rock and roll não é pra qualquer um - principalmente após tantos anos -!
O jeito é esquecer tudo e se divertir. Quem fizer cara azeda, apanha.
Ainda não ouvi esse novo dos Dolls, mas estou curioso, por mais que o Thunders tenha batido as botas, os solos deles vão fazer falta...mesmo assim,New York Dolls é demais, um dos percusores do punk!
Carmem Luisa botou pra f....
gostei!
Loko é Poko!
Voltar é fácil, quando a banda é uma lenda.
Mas, voltar com um disco inédito, e super foda como esse, só poderia-se esperar dos Dolls, os caras que modelaram tudo viria pela frente.
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