Um estranho no ninho. Quando querem pensar que a galera rockeira do Rio é de paz, sentimental ao extremo, terra do punk/hardcore melódico e sentimental, do Darvin, Forfun, Emo. e Ramirez, do mpb com samba com indie rock de letras mais sentimentais ainda do Los Hermanos... Surgem o vocalista Jimmy London, o guitarrista Donida, o baixista China e o baterista Fausto, sob o nome de Matanza.
Fazendo um som destruidor sonora e liricamente, esse terceiro álbum de inéditas só reforça a idéia do que é o Matanza: uma banda que funde country, punk e hardcore de forma nem um pouco sutil, uma salada de Johnny Cash, Ramones, Toy Dolls, sem contar as referências particulares de cada um: Jimmy é fã de folk irlandês como The Pogues, Flogging Molly e The Dubliners, enquanto o guitarrista Donida não dispensa ouvir bandas de black metal como Nargaroth e Judas Iscariot. Em clima de Velho Oeste americano, as engraçadíssimas letras, repletas de humor negro e cinismo, também não são sutis: alcoólicas, anti-sociais, auto-destrutivas, briguentas e hedonistas. Essa fórmula já rendeu discos como "Santa Madre Cassino" e "Músicas Para Beber e Brigar", além do tributo "To Hell With Johnny Cash" que, apesar do título, homenageia o saudoso "man in black" em versões countrypunkcore. E para ofender ainda mais, o Matanza resolve ficar mais "core" ainda, e lançam "A Arte do Insulto".
O resultado é o de sempre, e como também costumeiro, tocado com teor de novidade: como se Jason, Freddy Krueger, Leatherface, Michael Myers ou outro mau-encarado (ou mal-encarnado) do cinema resolvesse aprontar na terra do western spaggheti. A Globo nem cogitaria a ínfima possibilidade de ter usado o disco como trilha sonora da novela temática "Bang Bang". As senhoras ficariam por demais ofendidas e os espectadores jovens iriam postar no Orkut que preferem CPM 22 a "essa banda de rock pauleira"...
O disco já começa inflamado com a faixa-título "A Arte do Insulto". Os instrumentos surgem pausadamente até entrar em uma porradaria insana. Jimmy solta voz contra alguém que não gosta nem um pouquinho, passando por versos como "Bebe demais/Fala demais/Mas na real não diz merda nenhuma" e "Só fica aí/Cheio de si/Mas não resolve as cagadas que arruma" até culminar no excelente refrão "Enquanto você fica aí arrumando tumulto/Eu vou me aprimorando na arte do insulto". Boca-suja e ensurdecedora, ao gosto dos fãs.
"Clube dos Canalhas" tem versos mais lentos, com guitarras evidenciando o lado mais pesado da banda, um verdadeiro convite à bateção da cabeça. A letra, cara-de-pau e cínica, fala sobre todos os canalhas do mundo, caras infiéis, que querem "todo dia tudo isso que a vida tem de bom". O refrão ganha uma velocidade maior, em crescimento natural. Sem esquecer o poético verso "Farra para tudo é um bom remédio/Só um idiota completo morre de tédio"...
E a bebedeira volta a dominar as paradas com "O Chamado do Bar", um hardcore porrada, frenético e insano, com poucos mais de dois minutos, e uma letra curta, que culmina com um refrão chamando a pessoa pro bar, com destaque para a educada e polida estrofe "Não devo nada pra ninguém/Bebo se estiver afim/Minha vida é minha/E a sua que se foda". Para ouvir quebrando o pescoço, de preferência bêbado.
A próxima é "Sabendo Que Posso Morrer", uma retomada ao hardcore de melodias de country que consagrou o Matanza como uma das melhores do cenário nacional nos últimos anos. Na letra, um bêbado reflete sobre seu jeito auto-destrutivo de levar a vida, culminando no refrão "Coisas que eu faço sabendo que eu posso morrer/Coisas que eu faço na hora que penso em você". O lado mais romântico do Matanza, se bem que está muito mais para um caminhoneiro apaixonado do que para um emo tristonho.
"Quem Perde Sai" é um testemunho punk sobre a jogatina - aposta, pôquer, e tudo mais. Jimmy mostra toda sua perícia como jogador, e também toda sua alta graduação em esculachar os seus semelhantes - basta conferir versos como "Aproveita agora pra fazer piada/Por que você vai sair daqui sem nada/E como você vai voltar pra casa,eu não sei". Divertidíssima.
E o espírito de bad boy persiste... "Meio Psicopata" tem uma letra engraçadíssima, com um instrumental totalmente ensandecido em termos de velocidade fazendo jus ao título. O personagem principal da música não consegue aceitar reclamações, partindo logo para a porradaria. E mesmo assim, ele não assume a culpa: "É impressionante como eu nunca faço nada/É sempre a confusão que vem até aqui/Falo isso para o meu psiquiatra/Mas é claro, ele não entende". O solo é breve e simples, porém, empolgante.
E a banda mostra ser mais anti-social o possível em "Eu Não Gosto de Ninguém", diminuindo a velocidade, mas redobrando o peso. A canção transborda fúria e rudeza, com Jimmy rosnando versos como "Eu nunca disse que faria o que é direito/Não se conserta o que já nasce com defeito" e o refrão "Eu espero que você entenda bem/Eu não gosto de ninguém". Desagradável? Ora, o próprio Jimmy já argumenta na letra: "Como se fizesse diferença o que você acha ruim/Como se eu tivesse prometido alguma coisa pra você".
"O Caminho da Escada e da Corda" volta ao Velho Oeste, onde é contada a história de um condenado à morte. Mas o cara não está nem um pouco arrependido: "não importa o que aconteça/eu volto do inferno pra pegar todos vocês". Na letra, uma música mais cadenciada, mas ainda assim cheia de peso saindo pelas caixas de som, como um elefante sem pernas se arrastando (e falando um monte de palavrões...). "Não sinto remorso, muito menos medo/Não contei os mortos, não guardei segredo/Não existe nada em que eu acredite/A minha verdade era a dinamite". Redundante a piadinha, mas a música é mortal.
"Ressaca Sem Fim" retoma a velocidade e o lado hardcore da banda, com guitarras carregadas. Jimmy mostra como é um bêbado consciente e irreparável. Quando é gritado o nome da canção no refrão, ela fica com um peso monstruoso. E ainda mostra a triste realidade dos caninhas profissionais: "Convivendo com a verdade do dia seguinte/As idéias que eram boas são insuportáveis/A mulher que era linda vai ficando muito feia/Os que eram meus amigos são apenas miseráveis". Pois é, tem gente que não tenta curar com água, e sim com mais gin...
O ritmo frenético cai em "Tempo Ruim" com melodias evidenciando o western, apesar do lado punk da banda ainda se fazer fortemente presente. A canção tem um ar de despedida, uma pessoa que se despede de todos pois vai andar pelo mundo. E ainda temos direito a uma parte melódica, que começa falsamente bonita para terminar verdadeiramente cínica: "Quero que a estrada venha sempre até você/E que o vento esteja sempre a seu favor/Quero que haja sempre uma cerveja em sua mão/E que esteja ao seu lado, seu grande amor".
Quando acabar, você nem de ressaca vai ficar, vai querer prolongar o porre que é ouvir essa coleção de pérolas. "Quem Leva A Sério O Quê?" não deixa a peteca cair. Detona quem adora discutir inutilmente, por pura encheção de saco. E Jimmy questiona no refrão: "Quem leva a sério o quê?/Quem quer saber de quê?/Quem pode me dizer/Como exatamente tudo deveria ser?". Poderia ser uma outra música educadinha sobre gosto pessoal, mas é um verdadeiro hino do "eu gosto do que eu quero e não venha encher o saco".
"Whisky Para Um Condenado" é a última porrada do disco, com os tradicionais riffs contagiantes, bateria rápida e refrão mais empolgante ainda. Na letra, um cara que só tem meia hora de vida restante resolve compensar toda a sua vida até agora... Enchendo a cara! Aqui se fazem presentes versos geniais como "O pouco tempo que me resta/Que seja bem aproveitado/Não faço questão de festa/Mas quero estar embriagado" e "Adeus meu bom amigo/Adeus e muito obrigado/Espero beber contigo/No bar que há lá do outro lado".
E, encerrando o disco, temos uma balada-folk-irlandesa com direitos à bandolins e um clima totalmente de velhos lobos-do-mar. Essa é a impagável "Estamos Todos Bêbados". A letra é uma das mais impagavéis que eu já tive a oportunidade de ler, onde presenciamos histórias como a de um açougueiro que decepou o próprio dedo ao trabalhar bêbado e a de um pescador que nunca consegue pescar nada por estar sempre embriagado. E um dos refrãos mais contagiantes dos últimos cinco anos: "Nós estamos todos bêbados/Bêbados de cair/E todos que não estiverem bêbados/Dêem o fora daqui".
Rock alcoolizado, boca suja, anti-social, politicamente incorreto. Nem um pouco sentimental, nem um pouco leve, com nenhuma preocupação se o ouvinte vai ficar feliz, triste ou ofendido ao ouvir a banda e o novo álbum. Hegemonia emo? Não se depender do Matanza. Treze músicas em trinta e cinco minutos, produzidas por Rafael Ramos, um dos melhores produtores brasileiros, que só aumenta seu nível produzindo algumas das melhores bandas de nossa terra, estando o Matanza entre elas. Então, levantem seus canecos, caros amigos embriagados, e um brinde ao Matanza... E todos que não estiverem bêbados, dêem o fora daqui!
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10 Comments:
Matanza é rock de macho!
Eu amo Matanza... Sou macho?
Só citou banda boa e a resenha me deu vontade de escutar esse álbum que ainda não escutei.
Bêr <3
A letra de Eu Nao Gosto De Ninguém vai virar meu profile no orkut
AHUAHUHUAHUAHUAHUHU
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matanza é algo que eu chamo de ROOOCCCKKKKK!
desse álbum eu só escutei a primeira música, a arte do insulto. vou ver se consigo baixar as outras
NADA MAAAL, PRA UM BOÇAL RETARDADO MENTAAAL, INFELIZ... LALA
hueahe,
bjs :*
deve ser bom =D
"o último bar, quando fecha de manhã, só me lembra que eu não tenho aonde ir..."
matanza arrasa horroooores, menina!
Matanza é muito foda! Country Rock, Southern Rock Punk, enfim, chamem como quiser.
Luis
http://luismilanese.wordpress.com
hahahaha matanza não tem nem mto o que falar xDDDD é o melhor show pra sair no braço e tomar banho de cerveja! XD ahuhuahuahuahuahua
é e sempre vais er mto foda! hehehehe
beeela resenha rrrapaz ;D
mew... acho q é a terceira vez seguida q eu sou o sexto a comentar aqui... ta parecendo pacto ja xD hahuahuahuahuahuhua
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Rock sem-noção, como eu gosto de dizer. Vindo da terra da praia, putaria e funk, Matanza até que salva o cenário, falando palavrões, envenenando ouvidos e bebendo até cair. Anti-sociais por ideologia ou para ganhar fãs? - talvez unindo o útil ao agradável (ou até mesmo pode não ser nada disso) -, sempre na melhor pancadaria do rock. Letras absurdas, que não têm medo de dizer coisas que ninguém quer ouvir. Querem mesmo é cuidar da vida deles (e devem), enfim.
o clipe novo dos cara tá phoda!!
lembro da bela frase do Jimmy: "o que é meu,é meu,o que é seu é nosso"!!
Eu DUVIDO que o Zero tenha as manhas de resenhar algum disco do Hanoi Rocks. Eu acho que ele tem MEDO. :P
Luis
http://luismilanese.wordpress.com
Só perdem para os Dwarves.
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