Início da década de '70. Em seus primeiros dias de estrela, David Bowie quer embarcar para os Estados Unidos com o objetivo de encontra-se com seus ídolos. Desejo este prontamente atendido - pois afinal, o que não se faz com o objetivo de que o artista tenha seu potencial criativo estimulado e continue produzindo (muito) dinheiro para quem está investindo, não é mesmo?
E o que levaria Bowie a querer produzir um certo junkie que ele encontra - litealmente - na sarjeta, sofrendo crises de abstinência da heroína? Um junkie com uma certa fama devido à sua banda, os Stooges. Apesar de quase sempre tecerem comentários elogiosos devido à insanidade e agressividade de suas apresentações ao vivo, os Stooges são um fracasso para a Elektra Records - a mesma responsável pelos Doors e pelo MC5 - vendendo uma quantia insignifcante de seus discos "The Stooges" e "Funhouse" e dando um monte de prejuízos devido aos seus membros viciados que revendem drogas para sustentar o vício, sem contar quando os mesmos se envolviam em problemas com a polícia, e quando se envolvem em brigas... James Osterberg, ou Iggy Pop não é nenhum astro do Rock para a época - apenas um maluco viciado tocando um som distorcido e pervertido. Apenas um maluco que gosta de jogar-se em cima do público, rolar pelo chão, se lambuzar com pasta de amendoim e se cortar com cacos de garrafas quebradas. Um cara que na certa não iria durar muito.
David torna-se amigo de Lou Reed, egresso do Velvet Underground com uma carreira mais promissora, e de Iggy também. Os Stooges já tinham acabado - Iggy tinha hipocritamente chutado o baixista Dave Alexander para fora da banda porque o mesmo não se lembrava de nenhuma nota, de tantas drogas que consumia, apesar de ele mesmo ter estragado muito show esquecendo as letras, desmaiando ou passando mal em pleno palco. Motivado por Bowie a montar uma nova banda, ele chama o guitarrista James Williamson, que já conhecia da época clássica dos Stooges, para montar uma nova banda, tendo a Inglaterra como ponto de partida. Após testarem milhares de outros instrumentistas para completar a banda e não se sentirem satisfeitos com nenhum, tomam a decisão de chamar o guitarrista e o baterista originais dos Stooges, os irmãos Ron, guitarrista original da banda, para tocar baixo, e Scott Asheton, para tomar de volta o seu lugar como baterista.
Tentando ficar um tempo sem drogas pesadas para focar-se na composição de um disco melhor acabado, eles saíram de lá com algo absolutamente inacreditável em mãos. Coube a David Bowie mixar o disco, para finalmente ele poder ser lançado no mercado... E assim, em 1973, nasceu.
Basicamente, "Raw Power" é a trilha sonora do fim do mundo, é pancada atrás de pancada, cheirando a heroína, com um som de guitarra tão agudo e estridente que chega a te deixar surdo, um baixo grave feito um trovão, uma bateria tão seca que mais parecem panelas espancadas por bigornas e um Iggy Pop se esgoelando absurdamente, cantando próximo de um colapso físico, de um estouro de cordas vocais ou, simplesmente, da morte...
"Search And Destroy" apenas ajuda a confirmar a teoria acima. As guitarras invadem os tímpanos como se as caixas de som tivessem estourado ao receber uma descarga elétrica grande demais. E o pau come solto. E Iggy detona: "Eu sou um cheetah andarilho das ruas com um coração cheio de napalm/Eu sou um filho fugitivo de uma bomba nuclear/Eu sou o garoto esquecido pelo mundo/Aquele que procura e destrói". A canção te faz sentir em meio a uma guerra, de tão caótica que a mesma é. As melodias contidas na música não ajudam em nada, pois sua sonoridade estridente faz apenas cortar os tímpanos, ao lado dos rugidos desesperados de Iggy.
Iggy destila toda a intensidade vocal que aprendeu com Jim Morrison junto com a lírica autodestrutiva do Velvet Underground, mas longe de toda a sofisticação intelectual e musical tanto dos The Doors quanto do grupo de Lou Reed. O resultado é que, enquanto os Rolling Stones pediam "Gimme Shelter", Iggy pedia o oposto, ou seja, "Gimme Danger". Toda putaria e escrotidão de senhor Pop estão aqui, nesse semibalada, onde ele canta sobre a vida regada à drogas e sexo que levava na época, como canta em versos "Me dê perigo, pequeno estranho/E eu curarei sua doença" e "Não há nada no meu cérebro/Apenas algumas memórias ruins". A música vai caindo em uma avalanche intensa, enquanto o vocal de Iggy vai crescendo cada vez mais, desafinado e desequilibrado.
E você cai da cadeira de novo. "Your Pretty Face Is Going To Hell" é uma das músicas mais violentas já registradas. A voz rasgada, quase gutural de Iggy, é somada a uma guitarra extremamente berrante. Na letra, Iggy mostra toda a sua rebeldia de bad boy, ameaçando espancar todos os bons mocinhos, em meio à muita degeneração sexual. E Iggy canta o nome da música no refrão entre falsetes e despinguelamentos demenciais...
"Penetration" segue, mostrando nomes cada vez mais ousados. Os riffs toscos somam-se à bateria reta de Scott, que em nada serve para esconder a voz de Iggy cantando "Me penetre, me penetre/Eu sou tão legal, tão legal, tão legal". Indo dos vocais excitados aos murmúrios retardados, a faixa é totalmente viajante, mesmo sendo uma das músicas viajantes mais agressivas já criadas.
E entra "Raw Power", iniciada por um inesperado arroto de Iggy e um riff furioso e direto, que você não esperaria encontrar em plena década de '70. Definida como "a música do fim do mundo" na época, é mais do que isso. Um bate-estaca furioso, o hino da decadência, a contraposição perfeita ao que estava sendo feito na época, um refrão berrado até a garganta secar, uma letra ousada dizendo "O poder cru tem um filho chamado rock and roll/e ele não pode ser derrubado" e "Poder cru, você pode sentí-lo?"... Peraí... Dizendo? O que Iggy faz é detonar nos vocais, levando-os ao limite da tensão.
A próxima, "I Need Somebody", tem uma sonoridade bluesy, porém é elétrica, arrastada e tem vocais e uma ambientação decadente. O vocal desengonçado da figura principal do grupo canta "Eu estou perdendo um monte de meus sentimentos/E estou correndo de amigos/Você sabe que mentiu pra mim no começo/Tentou me chatear até o final", talvez contando sobre os inúmeros casos que teve com as mais variadas mulheres, sejam elas Kathy Asheton, Nico, e centenas de outras, relacionamentos que acabavam em semanas, no máximo meses, devido a total falta de compromisso e de etiqueta do cantor. Rugindo e mugindo, Iggy encerra a canção de forma perplexante.
"Shake Appeal" é iniciada com uma contagem e se revela uma canção de riff até dançante, porém com uma sonoridade de gravação tão exótica que parece ter sido gravado dentro de um latão de lixo, tocado com a fúria de uma reação violenta de elementos químicos que não combinavam - o dançante e o agressivo - e que, por conseqüência, explodiram quando os Stooges juntaram os dois em forma de música. A letra é abusiva ao falar de sedução, amantes e perversão, de forma nem um pouco sutil, mesmo em anos de busca por liberdade ideológica.
E "Death Trip" encerra o álbum sem deixar o pique cair, com guitarras no talo, uma cozinha semelhante a um trator rolando ladeira abaixo, e o vocalista berrando o máximo que consegue - ou, ao que parece, até mais do que consegue. Continuando com a lírica sexual, mas também muito metafórica e niilista em outros versos. São pouco mais de seis minutos de porradaria comendo solta, Iggy indo da voz limpa à totalmente suja, James emendado solos de guitarra que retalham a alma do ouvinte... E o corpo pede por mais quando acaba. Quer mais desse poder bruto, dessa viagem mortal.
Punk, death, thrash, hard, core e tantos outros títulos mesmo que criassem nomes para isso, no sentido mais Rock And Roll e primal possível de cada rótulo. Apesar de já termos ouvido coisas como "Kick Out The Jams" e "Helter Skelter", nada preparia o mundo naquele ano de 1973 para não uma ou duas, mas sim oito canções cheias de peso e metáforas, niilismo, hedonismo, autro-destruição, entre outros temas nem um pouco sutis. E, surpreendentemente, "Raw Power" conseguiu certo sucesso na época, mas Iggy, James e os irmãos Asheton andavam tão ferrados e com tanta raiva entre si que os Stooges respiraram pela última vez no século vinte depois desse disco, abrindo espaço para uma carreira solo de Iggy inicialmente sob a tutela de Bowie. Lester Bangs, Ramones, Red Hot Chili Peppers, Nirvana, Queens of The Stone Age, Sonic Youth, Guns n' Roses, Rage Against The Machine e tantos outros confessaram que tiveram suas vidas mudadas ao escutar "Raw Power" - incluindo este que vos fala. Um dos meus álbuns prediletos.
E busco as palavras do próprio Iggy para quase-encerrar a resenha:
"O que eu queria era que a música saísse do auto-falante e te agarrasse pela garganta e batesse tua cabeça contra a parede e, basicamente, te matasse - e nunca era o bastante para mim. Não importava o que eu fizesse, nunca conseguia chegar lá, não conseguia chegar ao agudo que ferisse o bastante, não conseguia chegar ao grave que te atingisse o bastante, não conseguia chegar a uma batida dura o bastante, e assim por diante. Então eu fazia uma mixagem atrás da outra até ficar mais e mais maluco. Basicamente eu tinha perdido a perspectiva – artistas tem disso."
E talvez Iggy tenha conseguido. Por mais que distorçam as guitarras e aumentem a velocidade da bateria, nada até hoje teve a mesma fúria sáurica, atemporal e definitiva de "Raw Power". Choraminguem e batam pé, o garoto esquecido pelo mundo cuspiu na cara de todos que o desprezavam, e está aí até hoje, procurando e destruindo...
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10 Comments:
Primeiro: Senhor Iggy é O cara. Segundo: álbum sensacional. O artista e o rock, o rock e o artista. As guitarras, os gritos e a insanidade combinados no Raw Power.
IGGY É FODA.
Punk do caraleo, oeauiheauieahuieahuiae
Muito bom esse CD, eu tenho ele copiado com algumas outras coisas de ramones e black flag se não me engano ;D
iggy iggy *-*
Se Rock And Roll fosse virar uma pessoa essa concerteza ia ser Iggy Pop, ou pelo menos na lista ele ia estar.
Raw Power é rock and roll desde o ínicio ao fim. As guitarras, a bateria, o vocal arranhado, violento... A vontade de explodir o mundo, se explodir. Cara, terrorismo musical!
Esse álbum sem dúvida é um dos melhores lançados até hoje, e olha que a minha lista é bem seletiva.
Keep rockin'
Bejo!
Como os outros disco da banda, é excelente.
Rock n' Roll bem energético, poderoso, e outros bla bla blas.
Mas não supera o "Fun House".
Rock personificado não é Iggy, é Iommi. Enfim.
A resenha é foda. O álbum também.
não insista comigo, eu não conheço nada de música...completo ignorante....sou quase vomitável!
rsrs
esse álbum é bom do começo ao fim
bom não, excelente =D
vicia até.
gostei do "apenas um maluco viciado tocando um som distorcido e pervertido"
haha
bjs!
muito bom!
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