Está aí uma banda peculiar no cenário atual. Britânicos que dividem opiniões polêmicas. Muitas vezes acusados de não passarem de uma cópia de Radiohead, um Radiohead do Hard Rock, ou ainda, um Radiohead sem Prozac (e mais ofensivamente ainda, um "rock progressivo de padaria"). Juntos desde '94, praticam um som melódico e pesado, atormentado e denso, melancólico e emocional. Não dá para negar a influência no perturbado vocal - mas você acusaria todas as bandas atormentadas pós-Radiohead de cópia? Não? Se sim, não precisa ler. Se não, vamos em frente.
O Muse é um trio formado por Matthew Bellamy no vocal, guitarra e piano, Christopher Wolstenholme no baixo e Dominic Howard na bateria, que em seu som, transpira influências das mais variadas - dos ritmos marcantes do Queen, do peso do Van Halen e do Rage Against The Machine, da virtuose de Yngwie Malmsteen, Steve Vai e John Petrucci, dos climas tensos e emocionais e vocais frágeis e depressivos à lá Radiohead e Jeff Bukcley. O resultado disso é mistureba - não quebrada, como o System Of A Down e o Panic! At The Disco fazem, mas, digamos uma banda de rock alternativo que gosta de experimentar bastante - como Radiohead e Steve Vai - e tocar MUITO alto - feito Eddie Van Halen e Tom Morello.
"Black Holes And Revelations" acabou de sair do forno, há dois meses atrás, com tanto mídia como fãs incertos de como seria a sonoridade do novo disco devido à alguns trechos e canções que vazaram na internet - fator este que, nos últimos tempos, permite todo o tipo de boataria e fofoca antes mesmo que o artista lance o disco prometido. E o que ouvimos aqui é um Muse experimentando como sempre, com letras corajosas e seu som mutante, disforme e climático. Como se superar é sempre difícil, e poucos continuam melhorando progressivamente, este quarto disco do Muse não consegue superar o terceiro, o magnífico "Absolution" de 2003.
O início se dá por conta de "Take A Bow", comandado por um ambiente de sons eletrônicos crescentes e que causam certo suspense no ouvinte sobre o que virá a seguir. A letra traz um certo tom de fúria, muito provavelmente político, quem sabe: "Corrupto/Seu corrupto/Trazendo corrupção à tudo que você toca", "Pagar,/Você merece pagar/Por todos os seus crimes contra a Terra", "Sim, você vai queimar no inferno/Você vai queimar no inferno/Sim, você vai queimar por todos os seus pecados". Repentinamente, entra a cozinha com força, e então surge a guitarra, destilando intensidade na canção. O ruidoso final é perplexante.
Em seguida vem "Starlight", que traz belas melodias de piano e uma uma marcante cozinha. Utilizando mais falsetes que na anterior, o surgimento repentino de uma guitarra cheia de peso. E a canção muda várias vezes de estruturas, sempre revelando-se de agradável audição em todas elas. A letra fala de alguém que está sendo levado para longe, e sente saudade de uma pessoa: "Segurar você em meus braços/Eu só queria segurar/você em meus braços ", e também reflete sobre as ansiedades da humanidade em "Nossas esperanças e expectativas/Buracos negros e revelações".
E aí vem a grande surpresa do disco: "Supermassive Black Hole", a primeira canção que vazou na internet, e que causou altas polêmicas entre os fãs sobre que rumos sonoros a banda estaria tomando... Porque, contrastando com o resto do disco, a canção não tem momentos melódicos e pesados entrando em conflito emocional: é uma mistura de Parliament-Funkadelic de George Clinton, lenda do Funk americano, com vocais emulados de Prince e com um refrão pra lá de repetido. E vem uma letra tratando de um amor que consome o eu-lírico por inteiro, o que se vê em versos como "eu pensei que eu não era idiota para ninguém/mas, baby, eu sou um idiota por você" e "Geleiras se derretem numa noite morta/você deixa minha alma iluminada/E as estrelas estão indo para... o grandioso buraco negro".
"Map Of The Problematique", que entra grave e ruidosa, com o piano de Matthew agindo em contraste com esses climas, construindo uma canção pesada, mas com bastante melodia, mostrando-se um tanto exótica. A letra mistura amor, crítica e desespero novamente, onde cansado de medo e pânico e cheio de vontade de ser livre, o eu-lírico sente-se dependente de uma pessoa.
A mais curta do álbum, tanto em letra quanto duração, esta é "Soldier's Poem", música guiada pela batida lenta de Dominic, e os pianos e vocais melódicos de Matthew, e surge novamente uma canção de revolta apesar do bonito ambiente: "E você acha que você merece a sua liberdade/Não, eu não acho que você merece/Não há justiça nesse mundo/E nunca houve".
"Invincible" surge do desaparecimento da anterior, com a bateria nascendo em ritmo de marcha, e os pianos surgem construindo uma atmosfera contrastante. Na letra, a banda fala que a união é capaz de derrotar qualquer coisa que venha a pôr alguém perigo, e que não importa quantas humilhações a pessoa passe, a alma dela é inquebrável, e juntos, somos invencíveis.
E o peso e a pancadaria chegam de vez em "Assassin" guiada por riffs intensos e uma bateria com muita pegada. A música freia levemente nos versos, torna-se mais melódica no refrão e então volta à pancadaria frenética. O tom fortemente crítico de forma social, onde Matthew com sua perturbada voz diz "Oponha-se e discorde/Destrua a democracia".
"Exo-Politics" surge com uma estrutura repetida que constrasta com os vocais melancólicos, mas que cresce para um instrumental de certo peso, apesar de contido. A intensidade da canção cresce no refrão, que entre outros detalhes revela um repentino solo de guitarra que diferencia-se totalmente da estrutura grooveada da música.
Com um início palhetado, "City Of Delusion" logo deixa o baixo de Chris dar um corpo extra na canção, que revela-se a com maiores reviravoltas do álbum, indo do grooveado quase industrial às melodias agudas do rock clássico, correndo também por passagens melódicas noventistas, deixando-se ser invadida pelo peso no seu decorrer. A existencialista letra aconselha: "Destrua essa cidade de desilusão/Destrua essas paredes/Por que nós encaramos?/Justifique minhas razões com sua mão sangrenta".
"Hoodoo" tem um início inusitado, primeiro parecendo que entrará uma música de tourada espanhola (!), para então ouvirmos uma canção quase silenciosa, onde notas melódicas e calmas são disparadas enquanto Matthew canta lentamente. A bateria entra quase que imperceptível, apenas imprimindo um ritmo lento e triste na música. Crescem os teclados em certa parte, e em conseqüência, toda a canção. A temática existencialista vem à tona, mostrando um eu-lírico arrependido. As batidas aumentam em força, construindo um clima cada vez mais tensas.
A canção mais extensa do álbum é a que o encerra; "Knights Of Cydonia" onde o Muse concentra as suas forças em um espécie de Rock progressivo atualizado com referências alternativas e hard-rockers (que aliás, é um estilo de som que o Muse vem desenvolvendo em conjunto com outras bandas alternativas, como o The Mars Volta) - onde sons espaciais abrem espaço para uma bateria segura e grooveada, e com melodias diferenciadas entrando em conflito. E vem a letra, que é um ataque contra a apatia, um incentivo à revolta: "E como nós podemos ganhar/Quando tolos são os reis", "Você e eu temos que lutar pelos nossos direitos/Você e eu temos que lutar para sobreviver". Na melhor música do álbum, surgem altas e belas harmonias vocais, que praticamente cobrem o instrumental. O peso então entra disputando espaço com essas harmonias, fazendo um grande acabamento na canção. Excelente!
Depois que o Radiohead andou meio que sumido de cena, o Muse revelou-se uma das melhores bandas do mainstream britânico, revelando-se criativa, cheia de referências e sem medo de ousar. Caso você não tenha enxergado algumas das referências citadas no início da resenha, apenas se lembre que, em primeiro lugar, eles foram muito embebidos em suas referências progressivas e alternativas. Os garotos ingleses não pariram outro álbum definitivo, mas talvez esse tenha sido uma transição para um próximo. Então, se depender do Muse, o rock mais alternativo, experimental e existencialista ainda tem prazo de validade bem longo. É aguardar e ouvir. E ir ouvindo, claro...
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7 Comments:
AE! foda! \o/
MUSE É FODA!
mas ainda quero uma resenha do Absolution hein xD
:**
fodastico MESMO. ,mas eu ainda quero uma resenha do origin of simmetry auhauhauha xD~
ber, voce é o cara. uhauhauha
sem palavras.
Muse é ótimo,
dá vontade de pular, gritar, explodir ao som de qualquer música deles.
e quanto a esse cd
muito bom :D
é daqueles que não saem do radinho.
ótima a resenha ber. \o
*dá a baixa*
Olha, eu não conheço isso aí não, pq som alternativo não é comigo, aqui é THRASHHARDCOREGRINDMETALPAUNOCU NA VEIA! tem essas boiolices de experimental não, mas.. legal a resenha :D
som alternativo é bacana... ainda mais quando tem traços de radiohead, vai e queen
taí, agora eu quero uma resenha de Steve Vai.
auehaheiuae
ber, o sr.pegador-internacional.
--'
Um rock experimental com guitarras explodindo nas músicas dançantes. Uma mistureba doida. Atacando pelos cantos? Melhor ainda.
Bem, farei uma crítica ao album : devo dizer que me frustrei um pouco, apesar do album ser magnífico, após o sublime Absolution esperava algo que conciliasse o peso com a criatividade mais experimental deles. o que não aconteceu. Mas se para o próximo cd conseguirem conciliar as duas coisas, teremos um novo Ok Computer, já que todos gostam de comparar com Radiohead =]
Exagerei ?
ótima resenha
hasta luego
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