Você já deve conhecer o Gram. De repente nem sabe o nome, mas muito provavelmente você deve ter assistido o clipe do gatinho que se suicida seis vezes para ficar com a gatinha que só tinha uma vida, gatinha esta que o trai com um pato e fazem o pobre gatinho se suicidar pela última e definitiva vez... Acho que você deve ter se lembrado do maior hit da banda até o momento, "Você Pode Ir Na Janela", uma balada doída e arrastada sobre uma pessoa que não dá a mínima para quem a coloca em um pedestal (e doíam os corações dos apaixonados ao ouvir "você só me fez mudar, mas depois mudou de mim"...).
Porém, em seu primeiro disco, o Gram era lembrado pela maioria como um pastiche de Los Hermanos, apenas uma repetição do que a banda de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante toca. E tal comparação irritante parece ter chegado aos ouvidos da banda. Tanto que a referência Los-Hermânica foi abandonada, e um som que funde Keane, Coldplay e Legião Urbana pós-"As Quatro Estações" chegam aos ouvidos roqueiros mais sensíveis e românticos chega no formato de um disco lançado neste mês de Outubro sob o nome de "Seu Minuto, Meu Segundo", lançado pela Deckdisc.
Nesse disco, a banda formada pelo vocalista, guitarrista e pianista Sérgio Filho, Marcelo Pagotto no baixo e no vocal, Luiz Ribalta e Marcelo Loschiavo nas guitarras e Fernando Falvo na bateria está longe de decepcionar os fãs arrebanhados pela fragilidade emocional e som delicado da banda, porém, está longe de fazer o disco definitivo. O leque temático se abriu, deixando de falar exclusivamente sobre relacionamentos, e a banda, segundo Sérgio, tenta parecer menos intelectual e mais comercial, "como os Beatles em início de carreira", sem abrir mão da música sentimental que fez a mídia brasileira voltar os olhos para os paulistas.
O álbum começa com "O Rei do Sol", possuidora de uma delicada melodia de guitarra e um ótimo piano como complemento. A bateria é tocada lenta e suavemente. Sérgio Filho começa a cantar em uma ótima performance vocal sustentada pelo marcante instrumental, onde na letra conta a história contida em um livro de um homem que vendeu o amor para comprar o mundo. Após afirmar "O Rei do Sol é frio", ele questiona "Quem é seu rei?/Quem é você?/Que explora o sol/Mas é tão frio?", junto com o crescimento instrumental, na maior força da bateria e um clima denso no resto dos instrumentos.
"Você Tem" já começa com Sérgio cantando, em um instrumental mais emocionado ainda, onde as agudas guitarras se somam com um lindo piano e abrem espaço para versos como "Você passou e riu/Me fez pensar que sim/Sempre quero alguém/Que jamais olhou pra mim"... Diz que a pessoa é um filme com final feliz, mas já que não olha para ele, o filme não tem final nenhum. Sérgio Filho cria um estilo vocal muito próprio, pelo menos no cenário nacional. Os backing vocals soam discretos e contidos.
Vamos para "Antes do Fim", que começa com as guitarras antes do piano, que invade a estrutura de maneira lenta, e enfim os outros instrumentos e o vocal de Sérgio entram. A bateria de Fernando tem um ótimo ritmo, mesmo seguindo um ritmo linear. Na letra, é contada a história de uma pessoa que tem tudo, mas que, antes, depois, longe ou perto do fim, está presa em solidão. O crescimento vocal no final da canção acompanha um ótimo solo de guitarra.
Com o começo mais agitado, ouvimos "Parte de Mim", com uma guitarra aguda com um ótimo efeito, e então a música cresce no refrão. A temática da ingratidão amorosa aparece novamente em versos feito "Quando te enchi de razão/Você me chamou de fraco e velho", e o refrão "E parte de mim/Quer te ver feliz/Parte de mim/Te expulsa e morre". Uma das mais belas canções do disco.
"Melhor Assim" volta à calmaria, apesar de os bumbos por vezes ainda soarem fotes, revelando uma estrutura pulsante, indo de melodias soturnas à doces momentos, passando por paradas instrumentais. "Você é a mais comum/Do seu mundo tão feliz/Mas se diz madura pois se deu/É a maior mentira que eu vi" (...) "Sendo assim, eu não quero mais pedir/Permissão pra respirar". Do peso apaixonado à doceria frágil, a canção convence.
Entra "Vivo de Novo", com um começo lento, quase em ritmo da trilha sonora, que entra com piano discretíssimo somado com melodias densas e carregadas, e a participação de um coral de crianças que dá um tom infantil em meio à bateria que cresce quase tribal e as guitarras que rugem querendo surgir. "Vivo feliz e a vida insiste/Eu quero a coisa mais triste" e "Ela se foi/Aquela vida se foi/Vivo de novo" revelam uma reflexão sobre uma pessoa querendo se convencer que está feliz de não ter mais dores no coração, mas que revela preferir essas dores do que não sentir nada. A música mais doída do álbum.
Seguimos então para "Me Trai Comigo", com a letra mais submissa e passiva do álbum. O dedilhar da guitarra abre espaço para outra balada, que começa em ritmo corajoso, guiada por uma linha sinuosa de guitarra e uma cozinha densa. Sérgio, sofrido, canta "Mas se você falhar/Volta pra casa/Já tanto faz/Vai me ver sorrindo pra te enfeitar/E me trai comigo/E descansa em paz" sustentando a voz enquanto a bateria cresce - aliás, grande trabalho da cozinha. Discretamente, no ritmo abafado da cozinha, acompanham-se ofegações dos backing vocals que dão todo um charme à canção. "Se alguém vier falar/Não brigue por mim/Só diga que sou/Um problema seu".
"Lupado" revela-se também sofisticada, onde a melodia volúvel contrasta com a linha reta da bateria. O eu-lírico revela-se uma pessoa que entrou em um pessoa com um tanto de questões existenciais, aparentemente induzidos pela insônia: "Ei, acordo amanhã/Depende se eu me sonho mal/Ei, não durmo amanhã/Deve estar me sonhando acordado". A canção com mais climas do álbum, indo do instrumental crescente acompanhados de uma risada sádica até a calmaria absoluta.
A interessante "Em Nome do Filho" trata de uma interessante questão, a da adoção, explorando o relacionamento entre pai e filho. Um violão marcante inicia a canção, marcada pelo vocal doce e correto de Sérgio, e tal violão ganha força ao decorrer da canção, construindo uma música inusitada e bela para uma poesia muito bela. A melhor letra do álbum. "Eu não tenho a cor de seus cabelos/Eu não herdei um gesto seu/Mas eu sou um filho da atenção/Gesto que só pude ver em você". Ponto pro Gram.
O começo mais elétrico vem em "Vale a Pena", de sonoridade roqueira em suas guitarras e a bateria soando crescente ao decorrer da música. Solidão, masoquismo emocional e questionamento existencial surgem ao longo da canção, como diz o refrão "Quem vale mais?/Quem é que sabe viver?/O feliz ou o não?". Reduzindo-se quase que somente ao piano em certos momentos, a canção logo volta às guitarras. O final é, ao mesmo tempo, belo e enigmático.
"Tem Cor", segundo Sérgio, remete à sua infância, e tem uma mensagem de esperança nesses tempos de incerteza. Em um instrumental inseguro, que apesar de tentar se conter, às vezes compete volume com a voz do cantor. No refrão, Sérgio canta ao lado do instrumental com maior corpo e densidade: "Quando alguém vier pra te mudar/Lembra bem que seu olhar/Apesar de grande ainda tem cor", em um misto de saudosismo e esperança, nostalgia e positividade.
Chegamos à faixa-título, "Seu Minuto, Meu Segundo" nasce elétrica e contida assim como há duas faixas atrás, porém, ao entra a bateria em ritmo programado, revela-se uma balada-electro-pop, que volta com a bateria natural no refrão em ritmo mais rápido que as batidas dos versos. "A vida é hoje/E é com ou sem você/Espero demais/Vou fazer seu minuto, meu segundo", afirma Sérgio. Novamente, o desprezo volta em versos como "Você me enxerga mal/E só você não vê". E aí temos, talvez, a melhor canção do álbum, fazendo jus a ser título do álbum, com um refrão mais pop e menos balada que os anteriores, porém, inserido-se em melodias emocionadas, cria uma inovação silenciosa, que nem todo mundo que ouve percebe pela familiaridade que o som chega aos ouvidos.
O Gram, com certa rapidez, alcançou um patamar de revelação do underground e soube não se perder ao dar um passo a mais em uma carreira que começa a ser traçada sem ousadia, porém com sabedoria. Inovações discretíssimas tem menor importância para dar espaço à poesia e à delicadeza. Ainda não cometeram seu disco definitivo, quem sabe estejam perto, quem sabe não. Talvez o Gram não queira ser a maior banda do Brasil... Talvez a única vontade seja fazer música para quem quiser ouvir, se identificar, e por conseqüência natural, se emocionar. Se esse for o caminho pretendido, que continue assim.
Marcadores: Resenhas
10 Comments:
ahmm, só ouvi "você pode ir na janela" e nao gostei AHUhau
mas vou procurar mais, suas resenhas sempre dão vontade de ouvir a banda em questão XD
hum, não conheço
mas esotu comentando mesmo assim porque faz décadas que não comento aqui, haha =P
E eu já vou procurar alguma coisa desses caras pra baixar ^^
interessante, vou ouvir e te digo o que achei
Li a resenha, vi o clipe e fiquei curioso; esse disco vai para a lista de downloads.
eu amei esse cd do Gram
cara
mto bom!
esse cd é uma das salvações do Rock nacional
e eu tbm postei Gram lá no blog
errrrrrrr
\o
haha
nunca ouvi.
mas vou procurar...com certeza!
;***
Ahh Grammm! *-*~ cara, inesquecível o clipe do gatinho! huashusaas curti mto o som deles quando ouvi. E não ouvi esse cd ainda, mas a resenha me deu vontade de conhecer... ^^
bjo ber =*
po, gosto muito! :D
Oi gente to doido por este CD ,
alguem sabe ondi faço o download -valeu ...
souza.164@gmail.com
Oi gente to doido por este CD ,
alguem sabe ondi faço o download -valeu ...
souza.164@gmail.com
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