Não tem livro que represente mais a carreira do Sepultura do que o clássico literário "A Divina Comédia", de Dante Aligheri. Em mais de vinte anos de carreira a banda conheceu de tudo - céu, purgatório e inferno. Dos difíceis anos como banda underground para o reconhecimento mundial como uma das maiores bandas de thrash/death do mundo, - e a maior do Brasil - com vários álbuns servindo como consagração, dos mais tradicionais até os mais experimentais, passando pela traumatica saída do vocalista Max Cavalera, da adaptação do novo vocalista Derrick Green, de dois álbuns ignorados pela mídia e vítimas da má vontade das gravadoras... Até uma lenta retomada do espaço que sempre lhes foi merecido com o lançamento de "Roorback". E agora, nos deparamos com o lançamento de um álbum conceitual e a saída de Igor (agora grafado como Iggor) Cavalera. Pois é, ser do Sepultura não deve ser nada fácil...
Em "Dante XXI", o Sepultura mostra mais uma vez o seu espírito inquieto e inventivo, de nunca cair em meios-termos e lugares-comuns que tantas bandas de metal extremo se perdem conscientemente ou não. É um disco tenso e forte - as guitarras de Andreas Kisser estão furiosíssimas, brutais, como manda um disco de metal para os dias de hoje. Iggor, mesmo menos complexo que antigamente, senta a mão no seu intrumento sem dó nem piedade, soando praticamente como uma locomotiva humana. As quatro grossas cordas de Paulo Jr. prendem ao ouvinte aos trilhos da ferrovia de tal locomotiva... E aí surge Derrick Green, "the Predator", um fulano de quase dois metros de altura que atropela o ouvinte com sua voz potente, rasgada, gutural e mórbida.
A desesperada introdução "Lost", perturbadora, com uma voz mórbida e um zumbido estranho, dão lugar a "Dark Wood Of Error", uma porrada no pé da orelha, onde sentimos toda a potência do pedal de Iggor e todo o peso da guitarra de Andreas, que por um bom tempo batem contra nosso ouvido até Derrick explodir cantando "Eu perdi meu caminho/Na madeira negra do destino", em uma rápida letra onde ele anuncia sua chegada ao inferno, cheio de violência, sendo rondado pela besta americana e a besta inglesa.
E então surge, sem dar tempo para respirar, "Convicted In Life", uma das melhores de todo o álbum, iniciada com um curto e forte solo de bateria de Cavalera, seguindo com um riff de guitarra pesadíssimo e marcante, com os vocais rasgados de Derrick Green à beira da explosão, que dispara: "Abandone toda a esperança ele que incorpora aqui/A dor eterna que os funcionamentos entre o perdido/Ele é a ficção da vida/O que você é, é o que você vive" e "Culpado na vida/Ficção na vida/Vítima na vida", sobre uma pessoa totalmente perdida, que a vida da mesma não passa de uma mentira, uma piada de mau gosto. A quebrada de ritmo no meio da música, para logo então a retomada da mesma, dá um toque interessantíssimo.
"City Of Dis" começa parecendo que vai dar tempo para amansar, até que a bateria de Iggor começa a rugir de novo e logo as guitarras tornam-se mais graves. E então entra um gutural Derrick criticando a descrença nos dias de hoje, "Não seja uma vítima/Nesse sistema sangrento/Alma perdida, você queimará pela sua crença", uma crítica contra toda as crueldades do sistema. Entram ácidas frases como "Fogos não queimarão nosso direito de ter opniões" e o refrão "Eu posso viver, comigo mesmo/Eu tenho fé em mim mesmo".
De introdução exótica, "False" descamba para um thrash metal rapidíssimo e furioso, com Igor quebrando tudo, o riff de Andreas botadno a casa abaixo e Derrick cuspindo contra toda a falsidade, fazendo jus ao título. Um protesto contra o poder abusivo, a hipocrisia, e as pessoas que se julgam poderosas. A canção subitamente pára, para então retornar mais pesada do que nunca.
O dedilhado de "Fighting On" não engana... Mais porrada vem aos nosso ouvidos, em uma muralha de guitarras distorcidas de Andreas. A canção parece falar de perseverança e responsabilidade, como diz o refrão "Do primeiro aniversário de nascimento/Até nosso último suspiro/Você nunca pensa que você pode tornar isso algo distante/Nós não paramos, nós continuamos lutando", mais invocado do que nunca. As passagens cadenciadas alternadas com momentos de maior porradaria deixam a música simplesmente fantástica.
Saindo do inferno, entramos no purgatório, na instrumental "Limbo", onde são explorados orquestrações, costurando um clima caótico, apesar de calmo. Aí nasce a pancada "Ostia", nascido do riff da anterior, criando uma ligação. A crítica à sociedade novamente aparece em versos como "Esses idiotas são aqueles em que a gente vota para/Reis e ditadores da negligência/Pegando uma nação para liderá-la à decadência/Uma sombra anunciando outra lei". No meio da música, nasce um lindo solo de violino, bastante emotivo... Que então dá lugar para a pancadaria que reina no resto da música.
"Buried Words" tem um início assustador, que, aos poucos, dá lugar para o thrash tão característico e consagrado da banda tome conta do pedaço. A linha de bateria de Igor é um dos destaques da canção, além da mesma conter um dos melhores riffs do álbum. As mentiras voltam a ser o tema da canção, com Derrick berrando guturalmente no refrão "As suas palavras estão mortas/Eu as enterrei/Estão mortas". E acaba em suspenso.
E "Nuclear Seven" tem início, com seu início lento e carregado, com os bumbos de Iggor rasgando o tímpano do ouvinte. Talvez uma das mais arrastadas de todo o conjunto, com Andreas detonando junto com Paulo, fazendo um som intenso. Derrick canta sobre uma busca de um caminho melhor, pois como diz a música "Nesse novo mundo, sem um passado/Merda atômica para foder nossas cabeças/Nesse novo mundo, que está cheio de crack/Nossas crianças choram, elas estão perdidas e loucas". E no final, mais invocado que nunca, berra "Me conte o caminho, eu preciso saber, me mostre a estada".
A avalanche se torna cada vez maior com "Repeating The Horror", com um início mais melódico que acaba voltando ao som 'sepulturístico' de sempre, que conta com algumas paradas minimalistas para Derrick gritar o refrão. A canção ataca o conformismo, não o aceitando de jeito nenhum e exigindo uma atitude, como diz o último verso "Melhor começar alguma coisa/Melhor que nada/Não se pode continuar vendo/Todos esses horrores". Uma canção cheia de reviravoltas e violentíssima, com Igor sendo destaque absoluto da canção em suas "paradas".
A intro "Euno..." tem pouco mais de dez segundos, contando com orquestrações graves, que dá lugar à brutal "Crown And Mitter", onde Derrick, em um thrashcore de quebrar pescoços, cospe, vocifera, em uma letra o mais autobiográfica o possível: "Durou muito para chegar aonde estamos/Não foi fácil ,mas nunca é/A grandes passos continuamos nos movendo/Eu tenho meus dois pés e não preciso dos seus para me mover", e no refrão volta o grito que há um caminho para se salvar. As orquestrações voltam por um brevíssimo momento para então a brutalidade tomar contar do final da canção.
Outra intro, com o nome "Primium Mobile", marca a entrada no céu, em um início nervoso que dá espaço para "Still Flame" em que um coro em forma de mantra surge, compartindo espaço com um nascento instrumental tenso... Para logo as batidas de Iggor compartilharem belíssimos momentos com orquestrações, sendo esta uma das músicas mais sofisticadas de todo o álbum. Sem nunca explodir em um thrash furioso, a densa canção ainda vem com intensos ruídos. O peso vem chegando ao final da canção, com uma cara de trilha sonora de filme, onde instrumentos de sopro cada vez mais altos partilham audição com uma guitarra thrash... E então Derrick grita o nome da canção repetidamente nos últimos segundos da música. E a canção acaba, junto com ela o álbum.
Há de se elogiar todo o trabalho que o Sepultura fez com o produtor André Moraes, que produziu trilhas de cinema em sua maioria, incluindo aí a criação de toda a trilha sonora do filme "Lisbela e O Prisioneiro". Fez a banda acertar em cheio ao deixar a tribalidade brasileira um pouco de lado e surgir com sopros, violinos, e demais adições no heavy metal do Sepultura. Um trabalho visionário, que mostra uma banda que insiste em sempre se recriar, sem medo nenhum de perder os fãs - pois, como todos sabem, um fã não é um mero traíra que abandona a banda preferida em um momento difícil como má distribuição de discos ou troca de integrantes. À estes fãs, o Sepultura os brindou mais uma vez com brutalidade de alta qualidade, sofisticada, bem planejada, em um dos melhores discos do ano, do heavy metal e do rock em geral.
Esta é a banda que influenciou Killswitch Engage, Slipknot, Ektomorf, e demais bandas do cenário new metal e metalcore. E que continuará doutrinando e angariando fãs. Esta é a banda responsável por mostrar ao mundo a qualidade da música pesada brasileira. Sem estes caras, nossa cena estaria mais do que atrasada. Por essa perseverança e seus mais de vinte anos remando contra a maré eu digo, parabéns e muito obrigado, Sepultura. O novo álbum está imperdível.
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10 Comments:
Simplismente foda.
Realmente Sepultura e Sepultura..e com Max ou não..com Igor ou sem Igor..ele nao perdeu sua força.
Esse cd prova claramente isso...
SEPULTURA!! \m/
O Sepultura vem contribuindo com um thrash metal gritado, violento e, o principal, inquieto em relação aos problemas. Não é qualquer banda alienada de thrash metal, e sim, uma banda que agride a hipocrisia e abre nossos olhos para o mundo exterior. Podemos confirmar isso ouvindo este álbum.
Eu não gosto de Sepultura, mas a capa tá mto show. Tá meio rústica, mas tá bonita e a sacada da Divina Comédia também foi ótima!
=***
Eu achei mais ou menos...
Hail Sepultura!
e tbm Hail as bandas influenciadas (Slipknot, KsE e Ektomorf) q são mto boas tbm!
e por ultimo Hail Metalcore e New Metal claro! uahauahu
yeaaaaaaaa
Confesso q não curto muito a fase mais atual do Sepultura. Mas está bem melhor q há alguns anos. Embora muitos gostem, acho q a época mais decadente foi o Roots. Hj tá um som mais metal e menos modernoso. Só q um certo saudosismo com relação aos discos não me deixa gostar 100% do q vem sendo feito. A parte temática deles também tá boa. Muito por sinal!
nao curto muito sepultura.. apesar dos ótimos musicos e tal
de qqer jeito é impossivel nao respeitar a banda haha
e a resenha, mais uma vez, ficou ótima hah
flw cara, té+
Bom... eu nunca fui muuuuito fan do sepultura não mas parece q pelo menos a idéia desse album ta dahora... se bobiar dou uma aprofundada hehuhuehuehue
resenha fico porreta!
x@@@
É o melhor disco que eles fizeram desde a saída do Max.
A banda toda estava muito bem, a bateria bem forte do Igor, bons riffs do Andreas e a melhor performance de Derrick desde que entrou na banda.
Eu pessoalmente achei muito bom.
A ideia de fazer um disco tematico foi otima. Nao me crucifixem mas gostei pra carai da parte do inferno e do purgatorio :P
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