Depois da explosão dos Sex Pistols, uma banda que pregava destruição, niilismo e rebeldia, houve um “boom” na música. O Rock Progressivo ia para debaixo do tapete após levar um soco na cara de rapazes de cabelo espetado. O Glam Rock quase morria devido ao ataque anárquico da juventude empobrecida e raivosa.
A música, após o Punk, tomava três vertentes: o Post Punk (ou New Wave), que aliava à simplicidade técnica do punk com as melodias fáceis e leves do pop; o Gothic Rock, que atuando como ressaca dos punks, pregava depressão, desistência e tristeza. E desenvolvendo o que os Sex Pistols oportunamente fizeram maquinados por um empresário oportunista, o Hardcore. A sonoridade evoluía a premissa básica do Punk: um som infernalmente rápido, pouca ou nenhuma técnica e vocais podres e cuspidos. A diferença é que, liricamente, eles abandonavam a destruição pura e simples dos Pistols; eles pegaram o que o The Clash vinha fazendo, ou seja, letras politizadas e críticas, verdadeiros tapas na cara da velha sociedade. Porém, longe da arte e poesia do Clash, só sobrava violência sonora de suporte para letras inconformadas.
Um dos meus grupos preferidos dessa leva do Hardcore são os Dead Kennedys; uma das primeiras bandas a tocar Hardcore, que nessa época dispensava o uso de melodias. Uma banda politicamente incorreta o suficiente para não serem contratados por NENHUMA gravadora, obrigando ao líder Jello a abrir o selo próprio Alternative Tentacles para conseguir lançar seus discos.
“Fresh Fruit For Rotting Vegetables”. Quer nome mais ácido do que esse? O primeiro disco da banda do vocal Jello Biafra (que na época conseguiu tantos seguidores, que se candidatou a prefeito de San Francisco, ficando em quarto lugar), a dupla de guitarras de East Bay Ray e 6025 (ninguém sabe o nome do cara até hoje – entrou para a história do Rock como um número!), e a cozinha do baixista Klaus Flouride e do batera Bruce Slesinger data de 1980, começando os anos 80 dando uma pisada na cara do American Way Of Life.
TUDO de condenável e repugnante, porém aceito era esculachado sem dó nem piedade pelos “Kennedys mortos”: as diferenças sociais, os políticos belicistas, liberais conservadores, racistas, polícia, igreja e qualquer forma de poder.
“Kill The Poor”, um hino da ironia e humor negro, é uma música em tom de discurso, tanto as guitarras ameaçadoras e a bateria marcante. “Eficiência e progresso é o nosso de novo/Agora temos a bomba de nêutrons/É legal, rápida, limpa e faz as coisas ficarem prontas”, diz essa bem humorada música possuidora de um refrão viciante e uma ironia tremenda ao pensamento de todos os políticos e sua vontade do que realmente querem fazer com os pobres. Magnífica!
Outra porrada inspirada é a seguinte, “Forward To Death”, que não deixa a peteca cair, com um instrumental rápido e cortante e vocal de Jello acompanhando: “Eu não preciso de seu modo de vida/Eu não posso aceitar suas atitudes (...) Eu não preciso da porra desse mundo”... Pouco mais de um minuto dessa pancada!
Iniciada por um baixo e igualmente veloz, porradeira e irônica, falamos de “When Ya Get Drafted”, com Jello cantando “Você está acreditando nos jornais matutinos/A guerra está voltando com estilo”. Com vocais satíricos, a letra satiriza toda a paranóia que as pessoas sentiam com uma guerra iminente prestes a estourar.
“Let’s Lynch The Landlord” tem um dos vocais mais grudentos e marcantes, e também uma das melhores sessões instrumentais. A letra fala de inconformismo, sobre não aceitar ordens de ditadores insanos... O que resta a ser feito é linchar o senhor da terra! A música ainda conta com um solo de guitarra bem curto e simples.
“Drug Me” é uma das mais rápidas de todo o álbum, com vocais rapidíssimos de Jello Biafra e com guitarras ressonando em tom de alerta. Dessa vez, é ironizado o fato das pessoas se entupirem de remédios e drogas para esquecer dos problemas do mundo. O clima neurótico da música é perfeito!
Uma das melhores letras do álbum se encontra em “Your Emotions”, com Jello Biafra, extremamente irônico, diz que nós somos educados por família e escola a fazer o que eles querem, e no final da música Jello grita mais ácido do que nunca: “Suas emoções te tornarão um monstro!”, advertindo em tom de sacanagem que se você demonstrar ser alguém com coração, mente e alma, você é um monstro para a sociedade. Ponto para o furioso instrumental também.
O que se tem a seguir é a apocalíptica “Chemical Warfare”, a faixa mais pesada do álbum, com guitarras fortes e com Jello cantando com nítida fúria sobre uma guerra química e uma população em pânico. Sem dúvida, uma das melhores do disco, e com um refrão para ser cantado de pé e berrando. Sem contar com suas passagens finais extremamente satíricas... Ouça e ria, mas também reflita com a letra.
“California Uber Alles”, a mais longa do disco (er... menos curta, 3 min: 26s) atacava o então governador da Califórnia, Jerry Brown, que os Dead Kennedys taxavam-no de fascista, hipócrita, ditador e outras coisitas más. Sonoramente, é uma das mais lentas (mas ainda assim bem veloz), com guitarras pesadas, ferozes e cortantes somadas a um refrão cuspido e violento.
Os Dead Kennedys eram uma das bandas mais politicamente incorretas e irônicas de todos os tempos. “I Kill Children” é uma das músicas mais rápidas e destrutivas da bolacha. Na letra, um psicopata mata criancinhas cruelmente e rindo sadicamente, afirmando que como americano, tem direito à oportunidade de ser rei por um dia. Um dos muitos hinos da curta carreira dos Kennedys, diversão pura!
Eles realmente queriam botar medo nos americanos, e “Stealing People’s Mail” é prova cabal disso (Roubar correspondência é um crime grave nos EUA). Vocais rápidos, guitarras mais ainda, bateria espancada sem dó nem piedade... A música é velocidade pura. No final da letra, eles receberão o tratamento convencional para loucos ou criminosos: serem drogados e eletrocutados até virarem Cristãos renascidos. Acidez corrosiva!
“Funland at the Beach”. Êta música infernal. E bem ao estilo desenvolvido pelos Kennedys: curta, esporrenta e brutal, com os vocais discursados de Jello. A música parece falar de alienação, sem ligar para nenhum problema (“Olhe as crianças gordas chupando pirulito/Um monte de bandeiras e balões/Mas alguém sabotou a montanha russa ontem à noite!”).
A próxima é “Ill The Head”, que entra pegando fogo, com Jello berrando uma letra revoltada, com um final sincero, até: “Eu quero minha própria casa/Eu quero minha própria garota/Me ajude a odiar o mundo”. Um dos finais mais caóticos do álbum.
Mais um clássico da carreira dos Dead Kennedys: “Holiday In Cambodia”. Com um baixo bem marcante e uma guitarra até meio soturna. A voz de Jello chega até a estar mais rouca. A letra trata sobre a hipocrisia dos americanos, ignorando as pessoas pobres e marginalizadas, ouvindo Jazz no estéreo... Mas usam válvulas de escape para esconder o vazio existencial: “É um feriado no Cambodja/Onde pessoas se vestem de preto/Um feriado no Cambodja/Onde você beija bunda ou crack”. O reinado dessas pessoas é destruído e atacado nessa música longa e violenta, com um dos melhores refrões do álbum.
Quem fecha o álbum é “Viva Las Vegas”, outra porrada irônica, com um clima pulante, divertido até, mas com uma letra que mostra que os Kennedys estavam mais furiosos do que nunca, criticando a cidade de Las Vegas (claro, né?), a terra das oportunidades artificiais. Gritar “viva Las Vegas” no meio de uma letra tão irônica só torna tudo mais sarcástico ainda.
Um marco na história do Rock, representando um dos rumos que a música tomaria nos anos 80. Sonoridade tosca e acintosa, letras sarcásticas, críticas e bem-humoradas, tudo resultando em muita urgência de serem ouvidos. Uma das bandas mais perseguidas pela censura apoiadora de morais e bons costumes. Não quero ser saudosista, odeio saudosismo, mas que falta os Dead Kennedys fazem no dia de hoje!
“Um show dos Dead Kennedys no dia 22 de novembro, aniversário da morte de John Kennedy, não seria de mau gosto? Claro! Mas assassinatos também não são de mau gosto?” – East Bay Ray.
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9 Comments:
Pena que não gosto da banda.
Com certeza um show deles no dia 22 de novembro iria abalar qualquer estrutura!
Porra, caralho, cacete!!!!
Não tem o que dizer, é Dead Kennedys! Os caras eram muito fodas, o som é contagiante, as letras são óóótimas apesar de serem simples... Muito bem escolhido esse cd, e Dead Kennedys merecia estar aqui no blog ^_^
parabéns!
essa banda é foda
sim, dead kennedys eh foda!
otima resenha!
abraços
Dead Kennedys, faz mto tempo que não ouço, deu até saudades agora \õ/
letras bacanas, instrumental sem mtas frescuras... bahhh é ótimo!
show no dia 22 de novembro iria ser ótimooo \o/
mto boa a resenha. ;)
Dead Kennedys foda *_*
Cd foda *_*
resenha foda *_*
(y)
Kenndys > Mundo
é..
Falta uma resenha do nosso grande Suicidal Tendencies q eu poderei fazer =D
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