(resenha feita em conjunto por Zero e Conrado)
Zero: Final da década de 60, o verão do amor. Na época, o mundo voltava a atenção para a guerra travada entre Estados Unidos e Vietnã, quando milhares de jovens americanos se recusaram a ir lutar (e perder a vida) na guerra e aderiram ao modo de vida hippie, com uma vida regada pela tríade “sexo, drogas e rock and roll” e a dupla “paz e amor”.
Os Beatles na época, já eram um fenômeno musical, que movimentavam milhões de fãs (e dólares) ao redor do mundo. Os filmes “Help!” e “A Hard Day’s Night” foram exibidos à exaustão por todo o globo. Bandas como Monkees, Who, Rolling Stones, Beach Boys e etc. surgiam como concorrência acirrada. A seqüência “Rubber Soul” e “Revolver” já demonstravam a insatisfação da banda com sonoridades convencionais da maioria das bandas e a vontade de fazer algo a mais pelo Rock And Roll. Foram alguns dos primeiros discos a mostrar que Rock poderia ser flexível, maleável, fundido com outros estilos, e principalmente ser utilizado para fazer obras de arte auditivas primorosas.
Mas nada preparou o mundo para a banda do clube dos corações solitários do Sargento Pimenta.
“Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” não é apenas mais um disco. É a representação dos Beatles e do Rock And Roll andando juntos um nível acima. Essa resenha é a mais superficial possível; nenhum não-fã de Beatles iria ter paciência para ler detalhe por detalhe da bolacha.
Com a formação bem conhecida (se você não viveu em uma caverna a sua vida inteira, você deve saber todinha) e produção do quinto beatle George Martin, esse disco causa polêmica até hoje. Na época, nem te conto. Foi capaz de deixar Brian Wilson dos Beach Boys em depressão por não se sentir capaz de concorrer com os Beatles e seu “Sgt. Peppers”.
Zero:Não há ouvido humano que não fique... Como direi? Em êxtase ouvindo a faixa título que abre o álbum? O Rickenbacker no último de Paul, sua voz introduzindo a banda fictícia e os naipes de metais executado por músicos da Orquestra Sinfônica de Londres formam uma atmosfera indescritível. “Nós somos a banda do Sargento Pimenta e seus corações solitários/Esperamos que vocês gostem do show!” cantam John e George. Lennon e Harrison tocavam guitarra-solo, aliados à bateria de Ringo e o órgão de Martin. Ouvir essa música repetidas vezes significa descobrir uma coisa inédita a cada uma delas.
Zero: “With A Little Help From My Friends”, cantada por Ringo, é emendada à anterior, como se fosse um único tema. Embora muito criticado, mr. Starr dá um show, cantando com muita segurança, apoiado pelos backin’ vocals de seus companheiros, com cativantes guitarras, repletas de um ritmo maravilhoso. A banda nessa letra cutucava com vara curta quem acusava os Beatles de estarem começando a se drogar. O verso “Eu fico alto/Com uma pequena ajuda dos meus amigos” é uma prova inegável. Mas, em um contexto geral, é uma linda letra sobre amizade, com Ringo cantando versos de humildade inegável (“Me empreste suas orelhas eu cantarei uma canção pra você/E eu tentarei não cantar fora de tom”).
Conrado: Ouvimos agora “Lucy In The Sky With Diamonds”. Nem é preciso elogiar essa música, pois ela já é elogiada só pelo fato de existir. Efeitos sonoros inovadores para a época (inclusive pros dias de hoje), produzidos por George Martin, levam quem escuta a uma viagem propriamente dita, guiada pela poesia lírica que, antes de tudo, é um marco da psicodelia.
Inspirado fortemente nas obras de Lewis Carrol, John teve a idéia inicial de compôr a letra e melodia devido a um desenho feito por seu filho Julian. Quando John perguntou do que se tratava o desenho, Julian imediatamente respondeu "Lucy no céu com diamantes". John achou isso simplesmente bonito e resolveu escrever a canção, simples assim.
Uma canção inesquecível e insubstituível, que serviu de inspiração pra muitos, e inclusive é citada em muitas outras músicas, como "Let there be more light", do Pink Floyd.
Zero: Após esse verdadeiro e polêmico clássico, temos a quarta faixa, “Getting Better”, com vocais principais de Paul, cantando uma bem-humorada letra sobre um baterista substituto da banda (Jimmy Nichols,que tocou com o grupo quando Ringo operou as amígdalas), que era uma pessoa muito otimista. Um relaxo e uma viagem simultânea, com George Martin tocando as cordas do teclado ao invés das teclas. A música fica na sua cabeça por semanas, é inevitável. Com a adição de bongôs e um exótico instrumento chamado tampura, postas durante a sobreposição dos takes, a textura da música é imensa. Uma das melhores do álbum (se bem que esse adjetivo pode ser aplicada à todas da bolacha).
Zero: Os vocais de “Fixing A Hole” são magníficos, assim como seu instrumental, misturando baixo, cravo e maracas, em outra letra polêmica, que os “construtores de mitos” dos Beatles dizem ser sobre o uso de drogas, mas Paul declara que estava se referindo a um conserto em sua fazenda. Não apenas pela polêmica, mas por toda a sua maravilhosa estrutura. Os Beatles estavam um nível além das outras bandas da época.
Zero: Cordas, harpas, violinos, violoncelos montam a emocionante “She’s Leaving Home”, uma das baladas mais comoventes. Sério! Sem querer ser fã cego, mas a beleza dessa canção é inegável. John e Paul, carregado de sentimento, despejam todo o talento de seus gogós sobre essa canção, capaz de arrancar lágrimas dos mais sensíveis, versando sobre uma jovem rica que deixou a casa de seus pais. A voz de John, gravada duas vezes, adquire um curioso efeito metálico, tornando a canção ainda mais única.
Conrado: “Being For The Benefit Of Mr. Kite”. Ah, a melhor canção do álbum! Sinto-me até indigno de comentar sobre ela, e ao mesmo tempo com muita vontade de fazê-lo, pois essa música me marcou desde a primeira vez que eu a ouvi.
Maravilhosamente surrealista, ela transporta a "platéia" a um típico circo ilusionista dos anos 50, com um toque preciso de surrealismo, captando a essência real do circo, que é criar a ilusão (ou de certa forma tornar realidade) de um mundo criado pelos limites da imaginação do espectador, quebrando qualquer lei ou regra do dito "mundo real".
Os arranjos sonoros são absolutamente magníficos, e a letra cai como uma luva. O único defeito que eu citaria, seria o fato de ela ser muito curta.
Conrado: Entramos em “Within You Without You”, melhor música composta por George Harrison, em minha opinião. Logo de início se ouve George Martin abrindo a música e Harrison complementando a abertura, tocando a sua citara maravilhosamente, acompanhado por Ringo nos bongos. A letra pra mim é um dos melhores discursos sobre o universo e a forma como ele realmente funciona, algo que foi esquecido há muito tempo. Inigualável, sem dúvidas. "With our love, we could save the world / If they only knew"
Zero: “When I’m Sixty Four” foi composta por Paul em homenagem ao seu pai, que completava 64 anos na época, com um clima inocente, e uma letra dócil, com um tratamento meio de Big Band de Jazz dos anos 20 e 30, misturando piano, baixo, guitarra, clarinetes e backin’ vocals em uma canção de rara pureza, com um significado enorme para o baixista. Clássica por demais!
Zero: Lá vamos para a experimentação em “Lovely Rita”, com Paul cantando sobre uma “meter maid” (moças que controlam o estacionamento), de uma forma muito bem humorada, com um toque genial: George, John e Paul friccionando pentes contra papéis para produzir um efeito “cha cha cha”, que constrói uma canção que assim como todas aqui, surgiam anos-luz à frente de quase toda a cena musical da época.
Conrado: Em “Good Morning Good Morning”, temos uma das músicas de John em que se imagina ele sentando em uma calçada e observando a vida. Nessa em particular ele trata de assuntos específicos da agitada vida urbana, onde tudo acontece muito rápido, incluindo sentimentos e emoções. O que mais se nota nessa música em questão de sonoridade é a bateria agitada e muito bem tocada por Ringo (e ainda tem quem ouse chamá-lo de medíocre), seguido pelos solos da guitarra de George, e os instrumentos de sopro que eu acredito que sejam cornetas, mas não sei direito, e também não sei quem toca.
Zero:O bis “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (Reprise)”, iniciado com uma contagem de Paul, sem o naipe de metais e com a banda toda cantando, maracas acompanham sutilmente essa versão mais rock da faixa-título, com um final explodindo em aplausos, abrindo espaço para os primeiros acordes da faixa mais polêmica de todo o disco...
Conrado: “A Day In The Life”. A música mais singular do álbum, com certeza. Muitos a consideram a melhor dos Beatles, e muitos a consideram a melhor desse álbum (eu particularmente acho que ela divide esse posto com Mr. Kite). Mas alheio às considerações, é uma das músicas feitas com o maior cuidado pelos Fab, com uma instrumentação magnífica, realizada por uma orquestra completa, mais os arranjos do 5º Beatle, mr. George Martin. Toda essa cautelosa instrumentação combinada com uma das melhores letras de John Lennon(mais duas estrofes de Paul, que se encaixam perfeitamente), com um tema puramente cotidiano, três notícias de jornal, que ele mesmo havia lido no dia em que compôs. Aparentemente algo "simples", mas que explora, junto com o espectador, todo um consciente humano, com sons dos mais inusitados, que fazem interpretar tudo o que ocorre numa mente humana numa simples manhã útil, lendo o jornal enquanto toma o café para ir pro trabalho. Um grande momento da música(dois, na verdade) são os dois "orgasmos sonoros", como John mesmo chamou, antecipado pela frase "I'd love to turn you on". Simplesmente um toque de gênio.
Zero: Depois desse álbum, a banda só ficou inspirada a romper cada vez mais barreiras. Dentre outros lançamentos, podemos destacar facilmente o "The Beatles" (ou "White Album") e o "Abbey Road", que demonstravam uma banda no auge de sua maturidade musical e no ápice de sua genialidade.
Mas, inexplicavelmente, "Sgt. Peppers" é o que mais se destaca em toda discografia dos Beatles. É difícil resumir tudo que o álbum representa nas veias da música e na vida de todos que tiveram seu coração e ouvidos desbloquados, modificados e alterados. Resumidamente, é o que podemos falar de Sgt. Peppers. Completamente, é impossível. Você terá de ver por si só.
Conrado: "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" é o álbum mais importante da história da música (embora o melhor pra mim seja o "Abbey Road", nada supera esse disco), influenciou TUDO, ABSOLUTAMENTE TUDO que surgiu depois disso e se auto-intitulou "Rock and Roll", além de ter influenciado mais uma infinidade de estilos, cravando a sua marca pra sempre na história. As gerações futuras certamente não acreditarão que tal perfeição foi criada por seres humanos de carne e osso. Mas para os que viveram e presenciaram, serve para que percebam que a arte não tem limites, nunca.
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19 Comments:
"influenciou TUDO, ABSOLUTAMENTE TUDO que surgiu depois disso"
Com certeza. Nas entrevistas de músicos sensatos, esse álbum sempre aparece como uma de suas grandes influências musicais.
Abraço
O Stg. Peppers pra mim foi um divisor de águas na carreira dos Beatles. De uma banda de rock n'roll com bons e (sem desmerecer) "hits comerciais" para uma banda de rock que faz jus à fama que leva. Maravilhoso disco, indispensável.
Um abraço,
Luis
luismilanese.wordpress.com
Conrado pediu, eu comentei, (y), ta legal esse 'fotolog' ou algo do gênero, falou ae.
Esse disco com certeza é o melhor. As músicas são simplesmente fodas.
beatles owna!
só acho os cortes de cabelo meio ultrapassados.
hahah
(y)
=*
esse disco é muito bom, e tem uma das capas mais criativas que existem
apesar de tudo isso não consigo gostar =(
mas respeito /o//////////
;***
gosto demais desses caras!
xD~
beijão.
pra mim esse é o segundo melhor album da década de 60, só perde pra pet sounds
;)
deu até vontade de ouvir a faixa 07.
essa é a capa mais foda!
e o paul é uma farsa :B
blog novo?!?!?!?! bunito amei o template... quem eh o concorrente??????
bjao desculpa mas nao consegui ler tudo,... se eu lembrar o end ou se vc por como comentario no meu flog... eu leio amanha
achei tbm bem criativo... enfim.. amei!!!
bjs tava com saudade
Ah, é bom, é ótimo....mas não é um dos albuns que eu maaaais gosto, apesar de reconhecer a importância dele e dos Beatles em geral para a música.
Eu gosto muito da Lucy in The Sky, é muito foda @.@
Mas enfim, ber, te amo =D
:***
pro rapaz que disse que Pet Sounds é melhor,
eu fui ouvir esse album pq disseram que competia com Sgt. Peppers, e cara, na boa, NÃO SEI ONDE
pet sounds é medíocre perto de Sgt. Peppers, a única música realmente marcante e legal é Wouldn't it be nice, de resto, tudo muito bom, mas não é nada de mais
Sem Palavras para definer oq é ou oq foi Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band.
Disco Perfeito, to ouvindo direto!
Comentários controversos, pessoais e infelizes... Mas tirando isso, quebra um galho...
para Conrado...
poha, vc não pode dizer pro cara q está fazendo o favor de comentar de medíocre...
cara netrop!ik@lista, obrigado por adorar a resenha, mesmo não achando ela nem um pouco jornalística. não foi esse objetivo mesmo. :*
apesar de ser um disco phoda e revolucionário não consegue derrubar Pink Floyd
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