Não tenho antipatia por hypes. Sou um rato de internet (ou de lojas) que sempre está procurando a next-big-thing. Mas, quando os Strokes surgiram, eu não simpatizei com os caras. Calma! Claro que "Is This It" e "Room On Fire" tem os seus méritos e músicas marcantes - mas ao longo do disco, acabava surgindo a sensação de repetição de idéias, clichês já vistos em outros discos de outras bandas. Certo que "nada se cria, nada se copia", e raras vezes na história do Rock vimos algo que fosse totalmente original, desprendido de algo que vinha sendo feito antes.
Vamos interpretar os títulos; o primeiro denunciava que o som da banda era aquilo mesmo, cru e fresco, apesar de reaproveitado. O segundo foi a travessia de um mal famoso dos anos '90, o "batismo de fogo" que atrapalhou a carreira de muita banda (e que, em um caso strokeano, deu mais certo em termos de vendas que em termo de música...). Agora, descobrindo as "primeiras impressões da Terra", os Strokes dão os primeiros sinais do que a banda pode vir a se tornar.
O vocalista Julian Casablancas, os guitarristas Nick Valensi e Albert Hammond Jr., o baixista Nikolai Fraiture e o baterista brasileiro-criado-americano Fabrizio Moretti elaboraram um disco com uma pegada bem diferente do que foi feito anteriormente. Claro que não estamos em frente a um Strokes que piraram na batatinha, muita coisa do 'velho' (forçando o termo) Strokes ainda está lá; mas a banda está visilmente mais forte, pesada e encorpada, sabendo mesclar com sabedoria (algo raro em bandas jovens) tais características com melodias e linhas vocais de tino pop, feitos para conquistar o ouvinte à primeira ouvidela.
A melódica abertura "You Only Live Once", guiada por bases grudentas e linhas vocais marcantes, já chega conquistando o ouvinte, cheia de graça. Uma letra romântica, sobre um desejo intenso de ficar junto, surge na voz limpa e diferenciada de Julian: "Oh, não não saia/Eu não consigo ver o brilho do sol/Eu estarei te esperando, baby/Porque estou cansado", entre outros versos. Ótima abertura.
Em "Juicebox", a banda prova que quer matar o ouvinte do coração: uma linha de baixo incrível, ressonante e ousada, controla a música onde vocais caóticos de Casablancas ficam entre os gritos e um timbre doce, ou alguns com uma entonação mais irônica. A letra, engraçada, conta sobre um rápido caso que o 'eu' da música parece ter tido com uma garota: "e eu disse 'libere'/você nunca me escolhe/por um momento até que foi bom/mas é hora de dizer adeus"... "você está fria, você está tão fria!". Um dos carros-chefes do álbum, nota dez.
"Heart In A Cage" chega a ter uma introdução ameaçadora, em uma música mais cadenciada, mas que denota bem mais peso pela base instrumental. Julian canta, com uma linha vocal realmente cativante, se encaixando muito bem em mais de um andamento sofrido pela música. Uma música que cresce e diminui, deixando o ouvinte já simpatizado realmente envolvido.
Seguindo, temos a mais melódica "Razorblade", com bases de guitarra acessíveis e despreocupadas, bem leves. Para ouvir-se despreocupadamente, uma letra que parece falar de um sentimento bem famoso aqui no Brasil com o nome de "dor de cotovelo". A textura da música cria um clima realmente atraente, convencendo até os mais radicais anti-hypes a sentar para ouvir (nem tanto, mas até que é simpática...).
Com uma das levadas das mais marcantes do álbum, "On The Other Side", tem um vocal mais deprê e rouco de Casablancas, com uma letra às voltas com amor, ódio e bebida. Além da puta levada (com guitarras grudentas e um baixo que te faz bater o pé, balançar a cabeça ou dançar toscamente), o ótimo refrão, com voz bastante junkie, ajuda a colorir a música, de cores bem contrastantes, porém combinando.
"Vision Of Division", apesar do início punk-rocker, em sua maior parte, é lenta, com baixo sobressaindo, com guitarras voltando no refrão, construindo uma balada bem interessante, com um novamente rouco Julian cantando uma letra novamente dor-de-cotovelo.... Mas espera! A música cresce para um clima mais rápido, insano e caótico - com a guitara prensando o seu pescoço na parede, para logo após massagear seus ombros... Para então te deixar com vontade que eles façam isso de novo.
Em "Ask Me Anything", a banda parece pisar no freio, com um belo trabalho de harmonia , com o vocal apenas acompanhando o calmo som. Melodias mais dóceis aparecem aqui e ali, com uma letra falando sobre auto-afirmação, timidez, e ânsia por felicidade. Uma balada de primeira, mostrando que o gritador Casablancas pode ser uma vozinha bonitinha quando quiser.
Retomando a veia punk e rock setentista que a banda absorveu mais que em outros discos, temos "Eletricityscape", com a melhor performance por parte de Fabrizio, que mostra um ritmo bem balançado na batera. Apesar de ainda não voltar a gritar, com uma lírica bem urbana, falando aparentemente sobre experiências na vida. Boa música em sua síntese.
"Killing Lies", cheia de melodia por parte das cordas, com Julian cantando docilmente sobre mentiras que podem vir a se tornar um incômodo na vida das pessoas. A bateria, calma, ajuda a preencher todos os cantos da música. A música muda sutilmente de andamento mais de uma vez, constituindo um andamento deveras acessível, recomendável para quem ainda não conhece Strokes.
A energia começa a voltar em "Fear Of Sleep", apesar de ter mais melodia do que peso, com um vocal meio baixo de Julian. A 'insônica' letra, apesar de sugerir que a música tenha que ser lerda toda a vida, não deixe ela te enganar, pois a despinguelada rouca de voz no refrão não vai matar de ninguém de surpresa. Ninguém atento.
"15 Minutes Of Pain", com as melodias de guitarras mais bonitas e dedilhadas do álbum, com a voz de Julian mais limpa. A letra parece ser autobiográfica sobre a carreira da banda: "Eles pegaram pra mim eu sei/Não é que eu não te ame realmente/É só que eu realmente não sei/As coisas detestáveis que você pensa que quer dizer/O tempo as tornará em piadas", parecendo ser uma reflexão dos 15 minutos de dor sob as luzes da ribalta que toda banda sofre, acaba restringindo sua criatividade por ser rotulada de "salvadora" e "messiânica". Julian rasga a voz de maneira impressionante assim que o ritmo da música aumenta, mostrando que o rótulo que os rapazes menos querem é de "salva-rock-and-roll".
Seguindo, "Ize Of The World", com um estilo-Strokes de agir musicalmente - andamentos melódicos, bridges mais melódicos ainda, refrão que pesa tudo... Mas tudo feito na tentativa de não soar clichê, com uma sonoridade quase soando como uma new-wave mais pesadinha. A letra merece ser vista por inteiro, criticando conceitos obsessivos da sociedade. Para complementar... O melhor solo do álbum, coisa de fazer brilhar os olhos.
Outra que parece ser um testemunho do showbizz é a penúltima música, "Evening Sun", que parece retratar o comportamento da mídia mainstream com os rapazes: "Encorajando/E assistindo você caminhar assustado e sozinho/Apesar da intimidação/Satisfeito em ver você dançar sozinho", mostrando que eles se orgulham de, mesmo sendo largados de mão por uma mídia que os colocou no topo e logo então foi procurar mais gente para colocar no altar do rock-and-roll. A música atrai bastante pela sonoridade também, com uma bateria bem sobressalente, vocal limpo, e guitarras post-punk, tocadas com pegada renovada.
"Red Light" vem como encerramento, com uma guitarra que soa como um alarme, uma levada extremamente memorizável da bateria e um vocal bem caracaterístico ao que Julian apresentou ao mundo, com uma letra romântica, piegas até - mas, ao longo da história da música popular mundial, é visível que isso é um tema que nunca perde a idade. Um encerramento válido - se é o melhor que eles poderiam ter arranjado, ninguém sabe. Mas que consegue ser interessante.
Pois bem, jogue mais peso e energia, adicione punk rock ao tempero rock dos rapazes, e veja o que sai: uma banda se reinventando, para a melhor, fazendo até quem não gostava do que eles fizeram anteriormente enxergar com um olhar mais interessado, e o melhor de tudo: sem precisar sacrificar a sua boa qualidade musical. O disco prova que os Strokes não se tornaram velhotes do Rock em menos de meia década; uma prova definitiva que eles não vão se deixar abater apenas porque surgiram uns tais Arctic Monkeys "que-serão-a-nova-salvação-do-Rock" (nada contra os Arctic Monkeys, muito pelo contrário - apenas contra esses críticos chatos!). O Strokes não salvou o Rock, mas se depender de discos como esses, o estilo de música mais polêmico e ouvido no mundo ainda está em uma posição confortável e segura.
Marcadores: Resenhas
7 Comments:
taí, adorei esse blog (L)
vou dar uma olhada no que tem de mais, gostei da critica do cd do strokes :D
*.*
;**
eu comeria o casablancas.
tá, é mentira, eu não comeria.
Eu não sou fã dos Strokes, nem destas salvações do Rock vindo dos EUA muito menos da Inglaterra. The Libertines, Belle & Sebastian, agora o Arctic Monekys, eu passo longe.
Na verdade, estou realmente focado no cenário Sueco, que é - na minha opinião - muito pouco falado, somente o The Hellacopters e o Backyard Babies (e tem também o The Hives que creio ser sueco mas pra mim o som deles está mais puxado para os Strokes do que as bandas que citei). Mas temos outras excelentes bandas como Crucified Barbara, Swedish Erotica e etc. O meu lance é rock n'roll barulhento, visual carregado, atitude barraqueira e desbocada.
Abraços
Luis
luismilanese.wordpress.com
Blé
eu gostava do Strokes daquele CD que tem 12:51, qual é mesmo o nome?enfim...
essas músicas de agora são tão sem graça, é totalmente igual as outras 893272498749864437 bandas desse estilo que apareceram esse ano...
é o que eu acho :X
só eu gosto de strokes.. e juicebox é viciante³
Sem duvida o strokes evoluiu pacas dos albuns anteriores para cá... já tava na hora né? hhuahuauhuhaahu
Vamos ver se continua assim ou cai nos braços da mainstreanzice =\
resenha coolz
x@@
Resenha legal, talvez eu baxe esse CD
Postar um comentário
<< Home