Para os apreciadores de pop rock bem feito e acessível, o Ludov é uma grande promessa brasileira. Banda paulista surgida em 95, com quase a mesma formação (exceto pelo baterista), só que atendia pelo nome de Maybees. Após dois discos independentes e vários shows pelo Brasil, os Maybees acabaram em 2001. Mas acabaram se reunindo pouco tempo depois, com um novo baterista. Inicialmente, tentaram usar o nome Supertrunfo, referência aquele famoso jogo (Não conhece? Ah, não f... Você não teve infância?).
Estreando em 2002, escolheram o nome Ludov, com a formação de quinteto Vanessa Krongold nos vocais e violões, Mauro Motoki na guitarra, teclado e voz, Habacuque Lima na guitarra e voz, o baixista Eduardo Filomeno e o baterista Paulo "Chapolin" Rocha. O nome Ludov foi escolhido por ser uma abreviação de "Ludovico", referência ao Tratamento Ludovico do filme/livro Laranja Mecânica, que consistia em uma lavagem cerebral para inibir o ser humano de instintos violentos. Além disso, é o diminutivo de Ludwig, primeiro nome do compositor erudito Beethoven.
Em 2003 lançaram o EP "Dois A Rodar", compostas por sete faixas radiofônicas e facilmente digeríveis. Em 2004, a banda consegue um empresário (Arthur Fitzgibbon) e a abertura para os Pixies no Curitiba Pop Festival (o que muito agradou o baixista Eduardo, fã dos americanos). E em outubro do mesmo ano, a banda angaria o prêmio de melhor videoclipe independente no VMB (Video Music Brasil), com o clipe feito pelo irmão do baixista, Ricardo Filomeno, em seu computador pessoal, para a música "Princesa", um clipe muito bacana, diga-se de passagem, sobre a vida de uma aeromoça. O prêmio foi entregue em mãos por Pitty e pelo lendário 'mutante' Arnaldo Baptista (outro cara que a banda idolatra). E em 2005 a banda assina contrato com a gravadora Deckdisc e lança o disco "O Exercício das Pequenas Coisas", em março.
A mistura bem vinda de Rock e Pop se mostra logo acertada na abertura "Sério", uma canção de letra positiva, teclados empolgantes e uma bateria contida. Uma canção bastante adolescente, com o refrão "Por que você se leva tão a sério?" sendo entregado de bandeja nessa canção de versos felizes que descambam para passagens mais melódicas. Pop dos bons!
"Estrelas", mais agitada que a anterior, com mais presença de instrumentos de cordas que a anterior. Uma lírica romântica é explorada aqui, sobre um relacionamento que aos olhos do eu lírico parece incompleto. "Falta pouco nos seus olhos/(...)/Falta um pouco de amor no seu corpo/E eu não posso te dar, pois em mim faltará também", canta Vanessa docemente. Após muita melodia, a canção fica mais agitada ao seu final.
A próxima é "O Dia Em Que Seremos Felizes" , que segue a linha da anterior, só que pisa mais no freio, com melodias bem relaxantes. Bem poética a letra, cantada em tom alto por Vanessa, que canta a música nesse tom em sua maior parte, apenas aliviando em algumas passagens. O trabalho do instrumental da banda mostra-se extremamente agradável, em uma lírica novamente romântica, na espera pelo dia em que o casal será finalmente feliz. Para os apaixonados, um prato cheio. Para os amantes de pop açucarados, mais ainda.
Serenidade total em "Dorme em Paz", apesar de ainda ser uma canção plugada, e refrão mais pesado que os versos. As horas vão passando, e é hora de deixar os problemas para lá. Agora é hora de dormir. Aposto muito que quem presentear a namorada com esse disco no dia 12 de junho se dará bem... Os últimos versos são mais apaixonados que a letra das anteriores. E mesmo quando a canção fica mais intensa, ainda consegue soar pop e agradável. Mauro Motoki é um compositor de mão cheia.
"Sete Anos" tem um clima brincalhão, em um instrumental e vocais masculinos de Mauro que lembram bastante os Mutantes quando estavam mais românticos, na sonoridade resultante. "Te conheci/E morri de rir da tua risada/Mal percebi e além de ti/Lá não via mais nada", diz uma das partes mais bonitas da música. A canção tem algo de mágica, pois poderia ser apenas mais uma canção pop, bem feita, mas é extremamente cativante. Simples, nostálgica, embalada por teclados e uma bateria que dita o tom divertido da música. Romantismo com diversão, igual a essa música? Penso que sim.
Uma das minhas preferidas: "Kriptonita", canção de versos melódicos e refrão quase-elétrico, com vocais doces e serenos de Vanessa. "Eu tenho o mundo inteiro para salvar/E pensar em você é Kriptonita/Você é tão bonita de se admirar/Tão bonita", entrega ela emocionada. Um ótimo solo de guitarra complementa a música. Simplicidade trazendo bons resultados.
"Supertrunfo" reparte momentos quase soturnos com um rock/pop muito bem feito, com palmas ritmadas e "uh uh uh" vindo dos vocais. Bem descontraída, de bater o pé, acompanhar as palmas, e com o nome da canção fazendo uma referência a própria história da banda.
Outra belezinha pop, outra pérola bem vinda aparece em "Gramado", em uma canção bastante metafórica sobre inveja ("Se o gramado ao lado esverdeado/Parecer melhor que o seu/Tome mais cuidado com esse mau olhado/Não venha cuspir no meu!"), com ótimas melodias de guitarras, realmente viciantes. Vanessa fala para a pessoa deixar de ser tão insegura e olhar para as próprias qualidades e parar de reparar nos defeitos dos outros ("Deixe de ser tão inseguro/A casa está cheia de flores e você nem percebeu"). A estrofe final é um desdobramento poético daquele ditado famoso "você colhe o que você planta". Se a sonoridade não é a mais inovadora do mundo, as letras são inegavelmente criativas.
Com os primeiros versos parecendo conectados à anterior, temos a bela "Mais Uma Vez", uma canção divertida, combinando guitarras levíssimas e teclados relaxantes, com juras de amor de nunca deixar a pessoa amada. Certas bandas sabem criar a trilha sonora de determinado lado da vida. O Ludov fez do romance. A letra pode parecer meio piegas aos mais exigentes (sei lá, vai ver que tem acha que se uma letra é realmente romântica, tem que ter trechos sobre cortar os pulsos e matar alguém para conquistar a pessoa de seus sonhos - tem gosto para tudo...). O uso dos teclados é muito inteligente. Dão um toque muito charmoso às músicas.
O pop pesado "Elastano" começa com algumas falas em espanhol, com o baixo em destaque no som, e uma bateria uniforme, com guitarras mais pesadas que as músicas anteriores entrando em destaque sempre que Mauro para de cantar. Dessa vez, a banda segue uma fórmula ao contrário: aos poucos, a canção vai suavizando. Uma canção sim, novamente romântica! E com uma letra total mea culpa.
"Todo Esse Ar" é um descarrego. Não, nada a ver com Igrejas Universais, seu engraçadinho! Vanessa retoma os vocais nessa canção composta com rara suavidade e letra reflexiva sem soar nostálgica. Saudade é o tema que domina e tem influência sobre todas as estrofes. Vanessa está bastante contida nos vocais, compondo uma atmosfera realmente relaxante, quase como uma massagem mental.
A próxima é "Tudo bem, Tudo bom", retomando um pouco de eletricidade, mas não deixando as melodias de lado. Os teclados deixam a música meio atmosférica em alguns pontos, mas logo a eletricidade volta à música, com uma letra bem divertida, e não abandonando os temas que a banda tanto adota: "E eu no meu quarto assistindo a TV sem som/Ouvindo os discos do Ziggy Stardust/E o que eu queria era ficar com você/(...)/Mas tudo bem, tudo bom/Uns têm, outros não/Uns vêm, outros vão". Vanessa divide naturalmente seus vocais entre os mais doces e os mais altos, nunca chegando a berrar. Para ajudar, um belo solo, que torna a canção algo mais que um simples pop de letra urbana.
"É Só Saudade" começa quase pesada, mas logo freia para cair em doçura, com guitarras surgindo aqui e ali, compondo uma ótima estrutura, fazendo a canção ter melodias repetidas sem soar chata ou enjoativa. Uma letra curta - se você adivinhar sobre o que trata a letra, você ganha um brinde (E esse brinde será comentar interpretando a letra!). Apesar da saudade, o eu lírico não quer que tudo volte. Prefere ficar nostálgico. Teclados dão um clima todo especial à música, junto com as guitarras.
O encerramento vem com "Princesa", principal hit da banda até o momento. Quem andou vendo MTV ano passado, provavelmente viu esse clipe, feito em animação. A letra fala de uma pessoa cheia de pressões da vida social, mas que quando chega em seu apartamento, ela esquece do mundo, toma um banho, relaxa... O dueto de Vanessa e Mauro está ótimo, sendo embalado por palmas, teclados e bem compostos e variados arranjos. Merece sim ser o maior hit da banda até o momento!
Enfim, para quem não tem restrição quanto aos gêneros, e quer esquecer de como o mundo é um lugar cruel só por alguns minutinhos para não pirar de vez, o Ludov compôs um disco apaixonado, acessível, cantarolável, com várias músicas assobiáveis, cheio de referências ao melhor do pop e do pop-rock. Sim, você vai dizer que bandas que falam de amor estão cheias por aí ultimamente... Mas, mais da metade delas não conseguem em nenhum momento bater o Ludov em termos de romantismo, pois eles transpiram vivência do que está sendo cantado. A música absorvível, mas com estrutura e composta por gente que sabe o que está fazendo, só ajudam. Enfim, esse disco prova que existe vida inteligente na pop music, existem boas canções açucaradas que não fazem parte de temas de novela e que São Paulo não serve apenas para ser refúgio de visitantes franjudos do Atari Club. Um bom álbum de Música, com letra maiúscula, antes de qualquer julgamento.
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9 Comments:
Nossa XD vo estrear a parada... bom... sei lá... qdo eu ouvi esse cd ele passo tão reto pelo meu ouvido q pareceu q eu não ouvi nada hauhuahuahuahuauha xDDDDDD mas eu tenho em algum backup porai.... sei la... eu ando superfaturado desse tipo de coisa pra desenvolver alguma opinião interessante sobre o romantismo atual XDDDD
mas as letras são boas sim...
abraço
x@@
ludov. meu irmão curte...
e é bom haha.
Eu ia justamente te pedir pra tu me passar alguma música dessa banda. Te ''vi'' ouvindo ela durante um período e fiquei curiosa...
Porra de Atari! =P
Parabéns, Beer!
Hum... Ludov, nunca ouvi, mas como várias outras bandas do gênero e de um gênero próximo, eu não iria gostar..
Apesar de não parecer nada tão ruim assim, mas é que eu não consigo engolir muito bem esses tipos de música sabe.
Ainda mais por causa da letra e do ritmo, eu gosto de música alta, e ritminhos pop-rock não são suficientes pra isso. E (nada contra quem gosta)eu não gosto mesmo de letras de amor e etecétera.
Acho que você podia fazer uma resenha de umas bandas de metal.
Tipo Blind Guardian, Avantasia... :P
Não sou muito desses caras ecléticos por aí, que nem ocê, que ouve trash e pop-rock.
Mas é issaê, se você fizer uma resenha de Blind Guardian (que tal do disco Nightfall at Middle-Earth? :D), eu vou encher essa tela de comentário até... enfim, hehehehe.
É isso aí, e só pra falar denovo:
Parabéns Ber.
=)
Leve em consideração meu pedido! ^^
As resenhas de metal em maioria sou eu q faço, e tpw Blind Guardian e Avantasia e metal melódico eu nem passo perto, a não ser q o Ber abra uma excessão e ele faça uma resenha de metal melódico, o que eu acho muito pouco provavel, o que chegaria perto pra ele fazer seria C.O.B., ou uns Heavyzão antigo diretão tpw Black Sabbath.
Abraço ae colega.
Opa Ber, abração, nem li a resenha não pq não faz meu estilo + enfim... deve estar ótima como suas resenhas sempre estão, abração ;@@@@@
Não gosto de ludov e não vou ler :D
aeuiheauiheauiae xD
Muito boa a análise desse álbum.
Laranja Mecânica na formação? Que legaL. xD~
Vou ouvir depois
Parabéns por mais esse trabalho.
Beijos.
Ludov é sem duvida uma das melhores bandas do país na atualidade...
Ludov é muito bom! Umas das melhores bandas brasileiras... Esse cd está muito bom, e o ep "dois a rodar" também é ótimo... e as músicas da época do Maybees são excelentes também.
simplificando: banda perfeita!
Adorei o post!
Té mais!
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