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    domingo, setembro 11, 2005
    Pitty-Anacrônico

    a-na-crô-ni-co adj. 1-Em que há anacronismo; 2-Que está em desacordo com a moda; 3-Avesso aos costumes atuais

    O segundo álbum após um sucesso avassalador... Com certeza a provação máxima para um artista, em que muitos não conseguem sobreviver (pergunte a maioria das boy-bands, e alguns grupos de grunge, ou brit-pop, ou heavy metal 80's). Pitty, anacrônica a essa maioria de artistas, passou pelo batismo de fogo e vem pronta pra queimar.

    O que se ouve em "Anacrônico" é Pitty largando a imagem de menina rockeira do disco anterior e apostando na agressividade. Em "Admirável Chip Novo", Pitty disparava para todos os lados com letras como "Quem não teto de vidro, que atire a primeira pedra","O importante é ser você, mesmo que seja bizarro" e "Eu possuo muitas coisas, mas nada disso me possui", ou nas inteligentes e extremamente críticas letras de "Admirável Chip Novo", "O Lobo","I Wanna Be" e "Do Mesmo Lado". Do mesmo jeito, muitos não insistiam em ver sentido no que Pitty cantava, e se declaravam inimigos mortais da cantora, devido ao enorme sucesso alcançado por ela. Algo muito comum hoje: Odeiam a banda por ser popular mais do que propriamente, pelo som.

    Ok, já feitas as considerações iniciais, vamos para o álbum. Pitty resolveu chutar o balde, esqueceu as melodias rockeiras do primeiro álbum e apostou em algumas influências de bandas rocker alternativas, feito Mars Volta. O instrumental está um pouco quebrado em algumas faixas. A parte lírica está bem mais direta e brusca. Ou seja, agora não tem mais aquela desculpa de "eu não entendo as letras da Pitty"... A não ser que você seja bastante teimoso.

    Vale falar da capa também: pode chocar alguns em primeiro momento a grotesca caricatura da cantora com duas pessoas rindo dela, mas perceba a analogia feita de alguém ridicularizado por não se encaixar normalmente entre as pessoas.

    O time de gravação consiste em Pitty (voz, guitarra, piano), Duda (Bateria), Joe (Baixo) e Martin (guitarra e violão), este último substituindo Peu Sousa.

    A abertura é, ironicamente, a música "A Saideira", que começa extremamente guitarreira, para seguir com um ritmo meio quebrado nos versos. A letra fala (ou parece falar) da urgência de alertar pessoas alienadas em relação ao mundo ("Para alguns isso assusta, mas é tão necessário/ Para ter uma noção do que é real"). A música ganha velocidade em seu final, onde Pitty canta "Mais um copo quase quente/Para pessoas um tanto frias". Um grito termina a faixa.

    "Anacrônico", com um riff pesadão, é iniciada sem dar espaço de tempo para respirar. Portadora de uma letra extremamente ácida ("É claro que somos as mesmas pessoas/Mas pare e perceba como seu dia-a-dia mudou/Mudaram os horários, hábitos, lugares/Inclusive as pessoas ao redor..."). Pitty diz que a música é bastante autobiográfica, mas que também é muito fácil se identificar com ela. É impossível de bom o refrão que versa sobre o inevitável, "Caem um, dois, três, caem quatro,/a Terra girando, não se pode parar".

    Um riff infernal inicia o alerta "De Você", com uma letra inteligentíssima, que diz sobre as pessoas se encherem de proteções, apenas para explodirem dentro de seus lares, como visto em "E quando o caos chegar/Nenhum muro vai te guardar/De você", grita uma furiosa Pitty. A música possui até um breve solo de guitarra, que é um belo complemento para o petardo quase hardcore que é esta música. No final, a música pesa muito, como nunca Pitty fez ("E é com a mão aberta/Que se tem cada vez mais/A usura que te move/Só vai te puxar pra trás") .

    "Memórias" tem início com um riff controlado, que logo desbanca para um rock vigoroso, quase punk. A letra fala sobre se sentir deslocado, fora dos padrões ("Eu sou uma contradição/E foge da minha mão fazer/Com que tudo o que eu digo/Faça algum sentido") e também sobre sentir-se revoltado também sobre dar o melhor de si, mesmo que não aconteça ("Eu dou sempre o melhor de mim/E sei que só assim é que talvez/Se mova alguma coisa ao meu redor")

    Calma e bonita, até, "Déjà Vu" fala novamente sobre não ser alguém que participa dos padrões ("Nenhuma verdade me machuca/Nenhum motivo me corrói...Nenhuma doutrina me convence/ Nenhuma resposta me satisfaz"..."Nenhum sofrimento me comove/Nenhum programa me distrai...E não há razão que me governe/Nenhuma lei pra me guiar). O refrão é explosivo, levemente pesado e doce ao mesmo tempo. O final é extremamente emocionado, com guitarras compondo belas melodias para justamente uma das faixas com mais feelin' do cd.

    Os temas sobre quais Pitty fala parecem sufocá-la, e isso é refletido no hardcore de "Aahhh...!", a faixa mais curta do cd, com versos como "Tá tudo travado, ficou complicado/Daqui estouro feito um balão" e "Tá tudo tão rarefeito e eu longe de ser perfeito".

    "Ignorin'u" chega a ter umas melodias que chegam a lembrar grunge, e é a única música em inglês do álbum, versando sobre a necessidade de se ter liberdade, de fazer as coisas por si mesmo, e de ficar revoltado contra pessoas de certa forma mentirosas ("I will ignore you/'Cause your hear is so full of this shit"..."I am not waiting for/A prince on a white horse just to save me/I know I have to do by myself/And this time I wil be free"). O desempenho vocal de Pitty nessa canção é ótimo, ela realmente prova que é uma grande vocalista.

    Um riff singelo de guitarra inicia a séria "Brinquedo Torto", que tem um andamento calmo e belo. Pitty interpreta sobre ter seu corpo vendido, de ser apenas um brinquedo nas mãos dos poderosos, de ser apenas um objeto para os mais importantes. "Não me diga: "eu te disse", isso não vai resolver"... "E se eu for derrotado, nem sei como me render", interpretando a alienação sobre todos nós somos subjugados. O refrão, no final, é agressivo, mas ao mesmo, depressivo: "Eu me vendo como um brinquedo torto/E eu me vendo como uma estátua". O instrumental no final é como uma bola de neve, fica pesado e intenso.

    "Na Sua Estante" parece o término do amor de "Equalize" do álbum anterior. Pitty diz que não será mais feita de idiota, ou irá permitir que a façam sofrer. Ao mesmo tempo, ela sofre pela pessoa estar presa no próprio mundo, olhando apenas para o próprio umbigo, e não se importando com ela. "Cansei de chorar feridas que não se fecham,não se curam/E essa abstinência uma hora vai passar" e o refrão "Tô aproveitando cada segundo/Antes que isso aqui vire uma tragédia". Pitty canta emocionada, triste, mas sentindo que pelo menos tomou a atitude certa.

    A próxima é "No Escuro", com o riff inicial lembrando uma música do Nirvana (já disseram "Come As You Are", "About A Girl" e "Polly"), com guitarras também bem ao estilo, é uma letra tratando sobre um lugar que é uma fuga da realidade, onde ela não é julgada por ninguém ("Quando tá escuro ninguém repara as minhas meias/É onde eu abro minhas asas, onde eu me sinto em casa"). Pitty berra furiosamente e de jeito rasgado a primeira estrofe no final da música.

    "Quem Vai Queimar?" é perfeita. As melodias de guitarras são cativantes, e as letras transformando em ordens o comportamento cotidiano de todo ser humano preso por um sistema sufocador e alienador... E quando surge alguém diferente? "Queimem as bruxas, deixa queimar!" Mas quem na verdade seriam essas bruxas? "Queimem as bruxas/Quem vai queimar?". Pitty critica tudo-sociedade,família,religião,escola... Como tudo isso é manipulado com mão de ferro por algo chamado Estado. Pitty canta no final "Quem ordena a execução, não acende a fogueira" e backing vocals melodiosos e meio desesperados pedem "Pai, rogai por nós!". Sim, com as caças às bruxas de todo dia, o mundo inteiro vai acabar nas cinzas....

    Uma melodia revigorante é ouvida em "Guerreiros São Guerreiros", que versa-em ritmos pesados e pulantes- que é preciso ser corajoso para poder enfrentar todos os obstáculos da vida, por mais que tudo seja difícil, há sempre de se ter perseverança. Covardia e fácil desistência são graves defeitos-se você tem coragem de ser você mesmo, você vai impor respeito um dia ou outro, queiram os outros ou não. A música termina de maneira calma e melodiosa, até quase sumir.

    Teclados aparecem na última faixa, a rápida passagem "Querer depois", questiona a tudo e a todos sobre a ganância do homem: "...e depois, então, que conquistar o último desafio/quando aprender a voar/quando achar que já tem tudo/o que vai querer depois?"

    Creio que já sabemos a resposta, não?

    Enfim, depois de certos lançamentos infelizes no mercado nacional de Rock por um monte de bandinhas sem sal, Pitty prova que sabe o que faz e ataca em um progresso natural do primeiro álbum, só que mais pesado, mais agressivo e mais direto, que certamente irá revigorar um mercado meio capenga em matéria de qualidade feito o Rock mainstream brazuca atualmente.

    Pitty ainda não fez seu álbum definitivo, mas ouça o que eu digo: Ela está muito, muito perto mesmo.

    Marcadores:

    posted by billy shears at 9:26 PM

    9 Comments:

    Anonymous Anônimo disse:

    Eu não ouvi nenhuma música desse CD, então seria feio falar mal :x
    Mas eu não gosto da voz da Pitty, e acho que às vezes ela é meio repetitiva nos temas que escolhe, fala demais sobre as mesmas coisas...
    Mas enfim, a resenha tá linda ;*

    7:05 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    Para salvar a Pitty aki..la vem eu! huhuhu eu antigamente não gostava do som dela.....mais ela tem um som cativante....q nem nirvana(que eh uma banda q eu nao gosto mto nao =P)tem sons simples.....letras simples e diretas...gosto disso....alem...a pitty ainda tem q aprender mto...mais pra fazer 2 albuns desses diretos....ela jah sab mto ^^

    7:06 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    Não ouvi esse cd todo,mas pelo que ouvi a Pitty está melhor!Adoro as letras dela,bem diretas,ela non enrola,manda na lata!
    Hum,mas não posso falar muito do cd,pois só ouvi três músicas,que por sinal gostei muito!
    =*

    7:06 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    Então Ber, eu fui no Go Music, e uma das apresentações foi a da Pitty, e uma coisa eu tenho q resaltar: ela é realmente cativante no palco, faz a mulecada toda pular nas suas musicas e tal.

    Agora vc sabe que eu não gosto nem um pouquinho do som iAUEHiuheiuhEIUAUIAEhu, mas pelo que eu vi na resenha, as letras são bastante criativas.

    Um abraço.

    7:06 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    as letras de cd são boas sim, sao legais
    não que eu seja fã da pitty, longe disso OIEAHIO
    mas eu gosto até, da pra ouvir de boa e tal xD
    prefiro the cure, mãs até a pitty chegar aos pés do robert smith está longe o/
    SALVE THE CURE

    bela resenha :]
    : @@@

    7:06 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    Pitty é foda e isso não se descute.rs
    Ok, arrogância à parte. =P
    Nha, eu gostei bastante desse novo CD dela... XD
    E faltam poucos dias pro show dela no Canecão. Uhu! o/
    Lá vou eu! n.n

    7:07 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    A voz da cantora é sofrível, principalmente ao vivo.
    E, francamente, não vejo inteligência em músicas que copiam as palavras exatas de ditos populares que nossas avós já gritavam aos quatro ventos há décadas atrás...tudo o que ela canta é clichê e se resume a filosofia de boteco, e a disseminação desses temas como sendo fontes de genialidade e reflexão social só reforça a mediocridade das pessoas. Acontece que nós nos contentamos com qualquer trabalho em razão da pouca expressividade do rock brasileiro...viva Cazuza. Esse sim sabia o que estava fazendo.

    2:38 PM  
    Anonymous Anônimo disse:

    cazuza? D:
    sai fora.

    1:46 AM  
    Anonymous Anônimo disse:

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Por mais q eu adore cazuzu, afinal todos sabemos que ele era a genialidade carnificada, não penso que pitty seja repetitiva ou menos ainda, so mais uma cantora pop, dizendo só o que rola em barzinhos...
    Ela tem um vocabulário incrível, uma genialidade incontestável, e o melhor, em uma época que realmente apareceu muito trash na música.
    Cazuza foi um gênio, e isso não se discute.
    Pitty está viva, e isso não se discute

    12:33 AM  

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