a-na-crô-ni-co adj. 1-Em que há anacronismo; 2-Que está em desacordo com a moda; 3-Avesso aos costumes atuais
O segundo álbum após um sucesso avassalador... Com certeza a provação máxima para um artista, em que muitos não conseguem sobreviver (pergunte a maioria das boy-bands, e alguns grupos de grunge, ou brit-pop, ou heavy metal 80's). Pitty, anacrônica a essa maioria de artistas, passou pelo batismo de fogo e vem pronta pra queimar.
O que se ouve em "Anacrônico" é Pitty largando a imagem de menina rockeira do disco anterior e apostando na agressividade. Em "Admirável Chip Novo", Pitty disparava para todos os lados com letras como "Quem não teto de vidro, que atire a primeira pedra","O importante é ser você, mesmo que seja bizarro" e "Eu possuo muitas coisas, mas nada disso me possui", ou nas inteligentes e extremamente críticas letras de "Admirável Chip Novo", "O Lobo","I Wanna Be" e "Do Mesmo Lado". Do mesmo jeito, muitos não insistiam em ver sentido no que Pitty cantava, e se declaravam inimigos mortais da cantora, devido ao enorme sucesso alcançado por ela. Algo muito comum hoje: Odeiam a banda por ser popular mais do que propriamente, pelo som.
Ok, já feitas as considerações iniciais, vamos para o álbum. Pitty resolveu chutar o balde, esqueceu as melodias rockeiras do primeiro álbum e apostou em algumas influências de bandas rocker alternativas, feito Mars Volta. O instrumental está um pouco quebrado em algumas faixas. A parte lírica está bem mais direta e brusca. Ou seja, agora não tem mais aquela desculpa de "eu não entendo as letras da Pitty"... A não ser que você seja bastante teimoso.
Vale falar da capa também: pode chocar alguns em primeiro momento a grotesca caricatura da cantora com duas pessoas rindo dela, mas perceba a analogia feita de alguém ridicularizado por não se encaixar normalmente entre as pessoas.
O time de gravação consiste em Pitty (voz, guitarra, piano), Duda (Bateria), Joe (Baixo) e Martin (guitarra e violão), este último substituindo Peu Sousa.
A abertura é, ironicamente, a música "A Saideira", que começa extremamente guitarreira, para seguir com um ritmo meio quebrado nos versos. A letra fala (ou parece falar) da urgência de alertar pessoas alienadas em relação ao mundo ("Para alguns isso assusta, mas é tão necessário/ Para ter uma noção do que é real"). A música ganha velocidade em seu final, onde Pitty canta "Mais um copo quase quente/Para pessoas um tanto frias". Um grito termina a faixa.
"Anacrônico", com um riff pesadão, é iniciada sem dar espaço de tempo para respirar. Portadora de uma letra extremamente ácida ("É claro que somos as mesmas pessoas/Mas pare e perceba como seu dia-a-dia mudou/Mudaram os horários, hábitos, lugares/Inclusive as pessoas ao redor..."). Pitty diz que a música é bastante autobiográfica, mas que também é muito fácil se identificar com ela. É impossível de bom o refrão que versa sobre o inevitável, "Caem um, dois, três, caem quatro,/a Terra girando, não se pode parar".
Um riff infernal inicia o alerta "De Você", com uma letra inteligentíssima, que diz sobre as pessoas se encherem de proteções, apenas para explodirem dentro de seus lares, como visto em "E quando o caos chegar/Nenhum muro vai te guardar/De você", grita uma furiosa Pitty. A música possui até um breve solo de guitarra, que é um belo complemento para o petardo quase hardcore que é esta música. No final, a música pesa muito, como nunca Pitty fez ("E é com a mão aberta/Que se tem cada vez mais/A usura que te move/Só vai te puxar pra trás") .
"Memórias" tem início com um riff controlado, que logo desbanca para um rock vigoroso, quase punk. A letra fala sobre se sentir deslocado, fora dos padrões ("Eu sou uma contradição/E foge da minha mão fazer/Com que tudo o que eu digo/Faça algum sentido") e também sobre sentir-se revoltado também sobre dar o melhor de si, mesmo que não aconteça ("Eu dou sempre o melhor de mim/E sei que só assim é que talvez/Se mova alguma coisa ao meu redor")
Calma e bonita, até, "Déjà Vu" fala novamente sobre não ser alguém que participa dos padrões ("Nenhuma verdade me machuca/Nenhum motivo me corrói...Nenhuma doutrina me convence/ Nenhuma resposta me satisfaz"..."Nenhum sofrimento me comove/Nenhum programa me distrai...E não há razão que me governe/Nenhuma lei pra me guiar). O refrão é explosivo, levemente pesado e doce ao mesmo tempo. O final é extremamente emocionado, com guitarras compondo belas melodias para justamente uma das faixas com mais feelin' do cd.
Os temas sobre quais Pitty fala parecem sufocá-la, e isso é refletido no hardcore de "Aahhh...!", a faixa mais curta do cd, com versos como "Tá tudo travado, ficou complicado/Daqui estouro feito um balão" e "Tá tudo tão rarefeito e eu longe de ser perfeito".
"Ignorin'u" chega a ter umas melodias que chegam a lembrar grunge, e é a única música em inglês do álbum, versando sobre a necessidade de se ter liberdade, de fazer as coisas por si mesmo, e de ficar revoltado contra pessoas de certa forma mentirosas ("I will ignore you/'Cause your hear is so full of this shit"..."I am not waiting for/A prince on a white horse just to save me/I know I have to do by myself/And this time I wil be free"). O desempenho vocal de Pitty nessa canção é ótimo, ela realmente prova que é uma grande vocalista.
Um riff singelo de guitarra inicia a séria "Brinquedo Torto", que tem um andamento calmo e belo. Pitty interpreta sobre ter seu corpo vendido, de ser apenas um brinquedo nas mãos dos poderosos, de ser apenas um objeto para os mais importantes. "Não me diga: "eu te disse", isso não vai resolver"... "E se eu for derrotado, nem sei como me render", interpretando a alienação sobre todos nós somos subjugados. O refrão, no final, é agressivo, mas ao mesmo, depressivo: "Eu me vendo como um brinquedo torto/E eu me vendo como uma estátua". O instrumental no final é como uma bola de neve, fica pesado e intenso.
"Na Sua Estante" parece o término do amor de "Equalize" do álbum anterior. Pitty diz que não será mais feita de idiota, ou irá permitir que a façam sofrer. Ao mesmo tempo, ela sofre pela pessoa estar presa no próprio mundo, olhando apenas para o próprio umbigo, e não se importando com ela. "Cansei de chorar feridas que não se fecham,não se curam/E essa abstinência uma hora vai passar" e o refrão "Tô aproveitando cada segundo/Antes que isso aqui vire uma tragédia". Pitty canta emocionada, triste, mas sentindo que pelo menos tomou a atitude certa.
A próxima é "No Escuro", com o riff inicial lembrando uma música do Nirvana (já disseram "Come As You Are", "About A Girl" e "Polly"), com guitarras também bem ao estilo, é uma letra tratando sobre um lugar que é uma fuga da realidade, onde ela não é julgada por ninguém ("Quando tá escuro ninguém repara as minhas meias/É onde eu abro minhas asas, onde eu me sinto em casa"). Pitty berra furiosamente e de jeito rasgado a primeira estrofe no final da música.
"Quem Vai Queimar?" é perfeita. As melodias de guitarras são cativantes, e as letras transformando em ordens o comportamento cotidiano de todo ser humano preso por um sistema sufocador e alienador... E quando surge alguém diferente? "Queimem as bruxas, deixa queimar!" Mas quem na verdade seriam essas bruxas? "Queimem as bruxas/Quem vai queimar?". Pitty critica tudo-sociedade,família,religião,escola... Como tudo isso é manipulado com mão de ferro por algo chamado Estado. Pitty canta no final "Quem ordena a execução, não acende a fogueira" e backing vocals melodiosos e meio desesperados pedem "Pai, rogai por nós!". Sim, com as caças às bruxas de todo dia, o mundo inteiro vai acabar nas cinzas....
Uma melodia revigorante é ouvida em "Guerreiros São Guerreiros", que versa-em ritmos pesados e pulantes- que é preciso ser corajoso para poder enfrentar todos os obstáculos da vida, por mais que tudo seja difícil, há sempre de se ter perseverança. Covardia e fácil desistência são graves defeitos-se você tem coragem de ser você mesmo, você vai impor respeito um dia ou outro, queiram os outros ou não. A música termina de maneira calma e melodiosa, até quase sumir.
Teclados aparecem na última faixa, a rápida passagem "Querer depois", questiona a tudo e a todos sobre a ganância do homem: "...e depois, então, que conquistar o último desafio/quando aprender a voar/quando achar que já tem tudo/o que vai querer depois?"
Creio que já sabemos a resposta, não?
Enfim, depois de certos lançamentos infelizes no mercado nacional de Rock por um monte de bandinhas sem sal, Pitty prova que sabe o que faz e ataca em um progresso natural do primeiro álbum, só que mais pesado, mais agressivo e mais direto, que certamente irá revigorar um mercado meio capenga em matéria de qualidade feito o Rock mainstream brazuca atualmente.
Pitty ainda não fez seu álbum definitivo, mas ouça o que eu digo: Ela está muito, muito perto mesmo.
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9 Comments:
Eu não ouvi nenhuma música desse CD, então seria feio falar mal :x
Mas eu não gosto da voz da Pitty, e acho que às vezes ela é meio repetitiva nos temas que escolhe, fala demais sobre as mesmas coisas...
Mas enfim, a resenha tá linda ;*
Para salvar a Pitty aki..la vem eu! huhuhu eu antigamente não gostava do som dela.....mais ela tem um som cativante....q nem nirvana(que eh uma banda q eu nao gosto mto nao =P)tem sons simples.....letras simples e diretas...gosto disso....alem...a pitty ainda tem q aprender mto...mais pra fazer 2 albuns desses diretos....ela jah sab mto ^^
Não ouvi esse cd todo,mas pelo que ouvi a Pitty está melhor!Adoro as letras dela,bem diretas,ela non enrola,manda na lata!
Hum,mas não posso falar muito do cd,pois só ouvi três músicas,que por sinal gostei muito!
=*
Então Ber, eu fui no Go Music, e uma das apresentações foi a da Pitty, e uma coisa eu tenho q resaltar: ela é realmente cativante no palco, faz a mulecada toda pular nas suas musicas e tal.
Agora vc sabe que eu não gosto nem um pouquinho do som iAUEHiuheiuhEIUAUIAEhu, mas pelo que eu vi na resenha, as letras são bastante criativas.
Um abraço.
as letras de cd são boas sim, sao legais
não que eu seja fã da pitty, longe disso OIEAHIO
mas eu gosto até, da pra ouvir de boa e tal xD
prefiro the cure, mãs até a pitty chegar aos pés do robert smith está longe o/
SALVE THE CURE
bela resenha :]
: @@@
Pitty é foda e isso não se descute.rs
Ok, arrogância à parte. =P
Nha, eu gostei bastante desse novo CD dela... XD
E faltam poucos dias pro show dela no Canecão. Uhu! o/
Lá vou eu! n.n
A voz da cantora é sofrível, principalmente ao vivo.
E, francamente, não vejo inteligência em músicas que copiam as palavras exatas de ditos populares que nossas avós já gritavam aos quatro ventos há décadas atrás...tudo o que ela canta é clichê e se resume a filosofia de boteco, e a disseminação desses temas como sendo fontes de genialidade e reflexão social só reforça a mediocridade das pessoas. Acontece que nós nos contentamos com qualquer trabalho em razão da pouca expressividade do rock brasileiro...viva Cazuza. Esse sim sabia o que estava fazendo.
cazuza? D:
sai fora.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Por mais q eu adore cazuzu, afinal todos sabemos que ele era a genialidade carnificada, não penso que pitty seja repetitiva ou menos ainda, so mais uma cantora pop, dizendo só o que rola em barzinhos...
Ela tem um vocabulário incrível, uma genialidade incontestável, e o melhor, em uma época que realmente apareceu muito trash na música.
Cazuza foi um gênio, e isso não se discute.
Pitty está viva, e isso não se discute
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