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    sábado, novembro 17, 2007
    Soundgarden - Badmotorfinger


    Para o bem ou para o mal, o grunge mudou a história do Rock. Assim como o punk rock chutou pro espaço todo o exagero e pompa do rock progressivo e do hard rock, os jovens flaneludos de Seattle ridicularizaram o afetado e performático hair metal. Saíam as referências a Aerosmith e Van Halen utilizados à exaustão e tomava conta o rock gritado com guitarras distorcidas, herdeiros diretos dos tempos áureos dos Ramones, Black Sabbath, Led Zeppelin, Black Flag, entre outros; a tríade "sexo, drogas e rock and roll" dava lugar para letras pesadas abordando depressão, uso de drogas, suicídio, imediatismo, solidão, sensação de não-pertencimento, entre outros temas nem um pouco sutis.

    Muitos dos expoentes são famosos até hoje: o Nirvana, banda-símbolo que ao suavizar os versos, pesar os refrões e ter os miolos de seu principal vocalista explodidos, criou um monolito de grande força e tamanho que até hoje se faz presente em várias bandas atuais; o Pearl Jam, que percorreu a aventura de fundir rock e poesia, nas declamações intensas e político-existencial-filosóficas de seu homem de frente, Eddie Vedder; o Alice In Chains, um mar heavymetálico de angústia e podridão; e a banda evidenciada agora, o Soundgarden, um dos pioneiros a fundir elementos de punk rock, heavy metal e rock alternativo para criar um dos gêneros musicais mais atormentados de que sem notícia. Andamentos esquisitos, afinações baixas, temáticas na lata: o caminho a ser percorrido por quem se aventurasse a ouvir.

    Apesar do grunge ter explodido em 1991, o Soundgarden já vinha de uma longa estrada: seu núcleo base fora formada em 1984, que foi sofrendo alterações de line-up até chegar na formação que estourou, que consistia do homem-sirene Chris Cornell como vocalista, o filho musical de Tony Iommi que atendia pelo nome Kim Thayil, no avassalador Matt Cameron como baterista, e o sempre seguro e preciso Ben Shepherd no baixo. Esses quatro viram o Soundgarden ver as primeiras luzes do sucesso em seu terceiro disco de estúdio, que atendia pelo nome de "Badmotorfinger", do ano da explosão do movimento. O disco em questão é, sem sombra de dúvida, a obra-prima do quarteto de Seattle e confirma com gosto todas as afirmações feitas até agora, superando até o sucessor e mais conhecido "Superunknown" na opinião deste que vos escreve.

    O álbum já desperta a atenção logo na primeira canção: introduzida apenas e unicamente pelo riff de guitarra, "Rusty Cage" logo nasce com fórceps quando entra a forçuda cozinha, pesada e rápida, acompanhando a base rústica e seca. Chris Cornell canta de forma nervosa e por vezes até rasgada uma letra sobre libertação, dizendo "Você atou meu senso de direção e tirou-me o julgamento/Para assistir meu sangue começar a ferver", e então berra no refrão "Mas eu vou quebrar/Vou quebrar minha/Vou quebrar minha gaiola enferrujada e fugir". No desenrolar dos fatos, a banda cai em um andamento mais cadenciado, que serve de pretexto para que Cornell solte ainda mais o vozeirão, atingindo tons cada vez mais altos.

    Quase que interligada , a banda da início ao clássico "Outhsined", um petardo que poderia facilmente ter sido composto pelo Black Sabbath. A pesada e direta guitarra atinge o ouvinte em cheio. A banda acrescenta ainda um toque pessoal ao incluir partes mais cadenciadas e melódicas que servem de ponte para a parte mais infernal da música, enquanto Chris canta de forma rasgada um conflito de egos, uma música sobre pessoas esmagando as outras. Na parte mais forte, afirma: "Eu me sinto sóbrio, mesmo estando bebendo/Não posso ir mais fundo, mas sinto que ainda estou caindo". A pessoa sente-se ofuscada em relação a outra, e esse sentimento de rejeição faz com que a banda aplique um murro cada vez mais forte nos ouvidos.

    "Slaves And Bulldozers", em poucas palavras, é uma das melhores músicas de toda a carreira da banda. De início mórbido, com um baixo soturno soando alto, logo começa uma música cadenciada e intensa. Chris está um monstro, simplesmente; de tom ousado e desafiador, vai crescendo sua voz ao ritmo da música, que tal qual uma bola de neve, assemelha-se um trator comandado por alguém ensadecido. A letra também não deixa pedra sobre pedra, tirando uma relação opressiva a limpo, em que o eu-lírico está tremendamente revoltado com toda a sujeira do mundo. "Comprando mentiras e roubando brincadeirinhas/E rindo o tempo todo da minha sufocação/Oferencedo o tempo todo o que você pegou/Agora eu sei por que você levou", diz Cornell. Kim, inspiradíssimo, debulha um solo elétrico, ruidoso e com fome de destruição. Ao seu final, a música vira uma pilha de raiva, por parte de um possuído Cornell todos os outros instrumentistas. Perfeitos sete minutos, sem tirar nem pôr.

    Mais cacetada! "Face Pollution" é rápida, frenética e brutal. Não chegando nem a dois minutos e meio, a canção é pauleira pura do início ao fim, com a guitarra de Kim imprimindo um riff maníaco, Matt Cameron socando a bateria, Ben impondo seu ritmo sempre forte e Cornell... Bem, o que dizer? O homem grita, berra, se esgoela, vai do vocal limpo ao rasgado, alcança tons altíssimos... Cantando uma letra sobre uma pessoa que está cansada de usar máscaras. Sem piedade nenhuma em qualquer quesito.

    "Jesus Christ Pose" é outro clássico de responsabilidade. E explicita o velho dilema do grunge: pesada demais para ser punk, suja e visceral demais para ser heavy metal ou hard rock. Nada nessa música parece ser coisa desse mundo. Um cometa virulento e psicótico, a cozinha invocando um tribalismo esquecido pela sociedade contemporânea, a guitarra soando como um alarme lancinante, e Chris cantando no limite da tensão, dando falsetes doentios. A letra novamente arrasa, com o eu-lírico cansado da pose cristã que várias pessoas utilizam, tratando-o como um fardo, revoltado de como elas deixam se levar por isso. "Mas você fica me encarando como se eu precisasse ser salvo com sua postura de Jesus Cristo...". E então a música some, tão caótica quanto começou.

    Não espere ter descanso. Mais um momento Sabbathico é ouvido em "Somewhere", com cozinha mastodôntica e guitarras matadoras, e Chris abusando do gogó, gritando o máximo que consegue no refrão e não deixando por menos no resto da canção, porém, sem nunca perder o pique. Na letra, ele vê-se sozinho e desorientado, sem ver sentido para a sua existência. E a banda segue queimando lenha.

    "Searching With My Good Eye Closed" é outro épico Soundgardeniano que ultrapassa os seis minutos. O riff surge do silêncio, de forma até assustadora, pois a medida que os atordados e ruidosos compassos aceleram, onde uma voz em tom irônico e ruídos estranhos abrem espaço para um ritmo cadenciado e um Cornell mais contido na voz, porém com Matt Cameron imprimindo força tremenda na bateria. O refrão é pesadíssimo, porém, cresce naturalmente. Na letra, novamente uma perda de sentido das coisas, uma falta de chão atordoante, como grita o refrão "Ele chega até o céu e cai?/Procurando pelo chão com o meu olho bom fechado...". E, só para variar, a música no final perde as estribeiras e todos os envolvidos chegam ao máximo de frenesi musical possível.

    A seguinte, "Room A Thousand Years Wide", é uma das mais pesadas de todo o disco, com Kim abusando das afinações baixas. A aproximação com o rock alternativo barulhento é evidente, com Cornell cantando que descobriu alguém que vive enquanto os outros apenas mentem, descrevendo o futuro como um continuum que apenas repete o passado. O amanhã gera amanhã. Alternando entre os vocais limpos e contidos e os falsetes rasgados e momentos quase guturais, Chris sabe como fazer um refrão empolgante, enquanto a muralha de força que atende pelo nome de banda é truculentamente indescritível.

    Inspirando certo suspense de início, "Mind Riot" abre com guitarras noise e a cozinha guiando a música seguramente, para que o vocal inicie acompanhando as melodias arrastadas e brutais, tal qual como ver em câmera lenta uma briga onde tos os envolvidos se machucam seriamente. Porque mesmo cadenciada, a música consegue esbanjar um senso puro de violência, com Cornell desesperado cortando o ar com agudos. A letra fala sobre alguém que chegou ao fundo do poço, e tenta libertar sobre todo esse clima de paranóia quanto a guerras mundiais, repressão policial, mortes em massa, síndrome do pânico, além de várias metáforas poéticas, dizendo "Eu estou amarrado por dentro/Eu sou o último fósforo aceso pelo destino/Em meio a uma tempestade".

    "Holy Water" vem com o fantasma do Black Sabbath encarnando no riff, com a cozinha esbanjando técnica e precisão. A religião é massacrada sem dó nem piedade, com o eu-lírico dizendo que está se sentindo violentado por "outro macaco bizarro de circo". O ganho de melodia no refrão não diminui nem um pouco a força da canção, que não perde o tom de denúncia indignada em nenhum momento. Sustentando notas altas à vontade, Chris Cornell demonstra com folga que o rock tem mais homens-sirenes além de Ian Gillan, Ronnie James Dio e Bruce Dickinson...

    O álbum então é fechado pela pérola "New Damage". Uma das músicas mais corrosivas do álbum, com a bateria cadenciada fazendo com que o resto da banda acompanhe em andamentos quase sombrios, com a guitarra caminhando entre um peso hard rocker e melodias com um quê alternativo. "Quando o novo desastre acontecer/Será o prenúncio de uma calamidade/Uma nova ordem mundial/Um novo mundo para se odiar", exclama o raivoso vocal. Os ares psicodélicos e barulhentos do solo de Kim são de hipnotizar. Um encerramento perfeito. "Os destroços estão afundando/Saia antes que você se afogue!".

    O Soundgarden muitas vezes só é lembrado pela balada alternativa "Black Hole Sun", o que é uma tremenda injustiça. Tal fato fez com que grande parte do público da época não soubesse como a banda poderia ser maravilhosamente inventiva, primal, diferenciada e pioneira. Sempre acabam ganhando menos destaque quando postos no mesmo patamar de Nirvana e Pearl Jam. Poucos mergulharam fundo na usina de poder que a banda demonstrou ser desde a primeira metade da década de oitenta que, quem sabe, chegava até a ser melhor que seus companheiros de cena. Como acontece com Tom Waits e New York Dolls, o tamanho do reconhecimento quase nunca vem na altura do tamanho do talento. Mas quem já percorreu esses caminhos... Ah, meu amigo, pode ter certeza - não tem a mínima vontade de voltar atrás.

    Marcadores:

    posted by billy shears at 4:26 AM

    6 Comments:

    Blogger gabriel disse:

    Soundgarden é muito foda, e eu gosto de todas essas bandas ditas grunge, menos Nirvana aeuhauehaue

    9:51 PM  
    Blogger Andyhilator disse:

    OS PRIMEIROS TRABALHOS DO SOUNDGARDEN ERAM MUITO BONS MAS OS ÚLTIMOS ERAM UMA MERDA ¬¬

    10:08 PM  
    Blogger natália; disse:

    bons tempos do Chris!
    se a carreira dele tivesse parado por aí, eu até teria um pouco mais respeito com ele huauhaha :D

    nunca ouvi esse cd inteiro. acho que tenho umas 4 faixas dele só, que por sinal estavam gravadas num cd FODA, que eu devo ter perdido huuhahu.

    12:13 PM  
    Blogger Leonardo Ribeiro disse:

    agora me deu vontade de ouvir...

    5:58 PM  
    Blogger Unknown disse:

    Soundgarden teve sua importância, pra quem curte o estilo, é muito boa. mas eu prefiro Audioslave :B

    12:06 AM  
    Blogger Carmem Luisa disse:

    Pô, reconheço a importância e coisa e tal, má não sou muito de ouvi-los.

    8:32 PM  

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