Anos 60, pra ser especifica o ano era 1966, Mao Tse-Tung trazia a tona a Revolução Cultural da China enquanto os Estados Unidos presenteava seus filhos com a intensificação e expansão industrial juntamente com a cultura de consumo.
Em vários países ao redor do mundo, a juventude substituía a rotina das aulas pelas manifestações e protestos, as flores e os dedos postos em “V” simbolizavam a paz e o amor, os jovens contestavam a mídia e essa mesma consumia suas contestações fabricando modelitos revolucionários. Havia a cultura e a contra-cultura, e no meio de tanta controvérsia surge Frank Zappa que neste mesmo ano marcava sua estréia, junto com sua banda The Mothers Of Invention, composta por Ray Collins; Jimmy Carl Black; Roy Estrada; Elliot Ingber e excelentes músicos de apoio. Com um estilo teatral e performances ao vivo que interagiam com o público, o LP Freak Out!, que também é o primeiro duplo da história do rock, obteve uma boa resposta, sendo um dos álbuns mais originais de todos os tempos.
A loucura e a genialidade toma inicio com a irônica Hungry Freaks, Daddy é uma das melhores músicas de todos os tempos e sintetiza bem a idéia do álbum todo. A melodia animada embala vozes masculinas que cantam em tom quase que didático frases como: “Mr. America try to hide the emptiness that's you inside” e “Philosophy that turns away / From those who aren't afraid to say what's on their minds / The left behinds of the great society”.
O ritmo animado aos poucos aquieta-se e só depois de um solo de guitarra impecável que a música volta a tomar forma, ligando-se rapidamente a segunda faixa do álbum de nome I Ain’t Got No Heart, com um instrumental e vocais marcantes onde uma menina é ‘rejeitada’ recebendo de presente frases como: “What makes you think that you're SO FINE?” e “Girl you'd better go away”. Aos poucos, ao escutar a música, você é transportado para um lado maligno onde, juntamente com o personagem que renega a menina, ri e se anula de quaisquer sentimento.
E tudo termina numa série de ruídos e quase como numa marcha você é levado a ouvir um baixo marcando o inicio de Who Are The Brain Police? Que segue graciosamente, com vocais melodiosos e um instrumental cheio de variações até uma ruptura na melodia graciosa e uma série de ruídos misturado ao som do instrumental fazer a música tomar um rumo interessante, trocando o então questionamento absurdo e aproximando-o de uma falsa realidade, como numa analogia. Mas... Afinal, Quem são os polícias do cérebro? Os ruídos retomam e a pergunta continua na mente... A melodia chega a ser incomoda de tão alucinante...
E é nesse clima de questionamento e inquietação que a quarta faixa e única composta em parceria do álbum todo (Zappa e Ray Collins) se inicia, Go Cry On Somebody Else's Shoulder, chega como uma baladinha irônica que tira sarro das canções de amor e suas infinitas repetições de “I love you” e “I need you”, trocando todo amor pela negação, como que uma pedra no sapato.
O retorno da antiga amada soa irrelevante e a música super sagaz. E aí você esquece de tudo e se entrega no Motherly Love, “Forget about the brotherly and other-ly love” e seu roque pra bater pézinho e ter vontade de escutar várias vezes seguidas, é simplesmente pulsante. Essa é a palavra!
Depois de muitos pézinhos batidos na 5ª faixa você tá doido pra respirar um pouquinho e FZ&TMI te dão essa chance na melancolica porém divertida How Could I Be Such A Fool onde você dá de cara com uma letra sobre um típico amor fracassado, mesmo que de forma irônica, não tem como não se identificar e deixar seu lado abobado emocional sair nessa música, daí chega Wowie Zowie num suspiro pra te tirar da fossa, com seu ritmo divertido e letra que não deixa a desejar no quesito cômico, como boa parte do álbum, aleatóriamente e com boas pitadas de humor negro a música fala sobre uma paixão um pouco insana, terminando com um coro repetindo inúmeras vezes o nome Wowie Zowie e ligando-se enfim a 8ª faixa do álbum que começa como uma reclamação “ You didn't try to call me (...)You're the one, babe / Tell me, tell me / Who's lovin' ya now / 'Cause it worries my mind, / And I can't sleep at all / I stayed home on Friday / Just to wait for your call / And you didn't try to call me” e termina com uma inquietação grande que logo tem fim no começo de Any Way The Wind Blows, com um toque de psicodelia e referencias sarcásticas ao ‘amor incondicional para vida toda’.
O ínicio, o meio e o fim de um relacionamento aparentemente fantástico dão lugar a uma das músicas mais marcantes do álbum, seja pelo coro de “Yeah!” que aparece entre uma estrofe e outra, pelo refrão marcado, pela inovação musical ou até mesmo pela letra desanimadora, a questão é I’m Not Satisfied é diamante raro esculpido a mão. Simplesmente fantástica!...
O “Bop Bop Bop Bop Bop Bow” de You're probably wondering Why I'm here marca o fim das pseudo-canções de amor do Freak Out!, Zappa agora está mais feroz em suas letras, muito mais feroz! E é aí que Trouble Every Day entra, com vocais marcantes e uma letra impecável com frases picantes como “Our country isn't free” tratando de problemas sociais e o comodismo criado ao redor deste. Frank Zappa mostra mais uma vez sua genialidade como letrista e compositor, além de uma letra forte a música, com fortes influencias de blues é uma das poucas do álbum que de cara não causa estranhamento ao ouvinte pouco acostumado ao experimentalismo do músico, corretamente direta a música não polpa palavras e sarcasmo ao falar dos Estados Unidos nos anos 60.
E se Trouble Every Day poupa no quesito estranhesa, Help I’m A Rock não tem medo de chocar, com vocais mesclados ao instrumental intenso e aos ruídos, Zappa reafirma para o que veio! A música por horas soa macabra, e a letra insana, mas um insano positivo... insanamente verdadeira e insanamente necessária aos anos 60.
Com um pulso marcante de gemidos, risadas e instrumentos que It Can’t Happen Here inicialmente poupa instrumentos e aposta num coro de vozes zumbindo onomatopéias e blablando frases, mas logo é interrompido por um instrumental jazz impecável...
E novamente a blablação toma inicio, e prossegue até que uma série de diálogos nos apresenta a personagem Suzy Creamchease, na voz de Jeannie Vassoir, em The Return Of The Son Of Monster Magnet onde o experimentalismo e a psicodelia ficam ainda mais fortes.
FZ: Suzy?
Suzy: Yes
FZ: Suzy Creamcheese?
Suzy: Yes
FZ: This is the voice of your conscience baby, uh . . . I just want to check one thing out with ya, you don't mind, do ya?
Suzy: What?
FZ: Suzy Creamcheese, honey, what's got into ya?
É só o ínicio de uma viagem musical alucinante, que encerra, de maneira brilhante um dos CDs mais impressionantes da história da música.
Freak Out! é de arrepiar pela sua contemporaneidade e originalidade. Afinal, quem ia imaginar que um narigudo magrelo fã de Edgar Varèse, jazz e r&b fosse se tornar o que se tornou? Frank Zappa é sem dúvida um dos maiores gênios que pisaram no planeta Terra e por mais suspeita que eu seja pra falar, se você não escutou Freak Out!... O que ta esperando? Vai lá, compra, baixa ou coloca o ouvido na porta da casa do seu vizinho inteirado em música. Seja para odiar, seja para amar. É um disco imperdível e é impossível ficar indiferente. Vai te causar uma série de sentimentos e os sintomas são permanentes... A pergunta é: Ta preparado? Então... Boa sorte!
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8 Comments:
Boa resenha, Lu, restou te digo por msn
Olha eu aí!
HAUOFSHUA
"Freak Out!" é um clássico. Como eu disse na resenha anterior, um dos arcabouços do rock progressivo.
não conheço todas as músicas desse álbum. Hungry Freaks, Daddy é realmente muito boa. e Motherly Love é bem viciante :B
boa resenha ;)
grande zappa.
Nada meu para quem está apenas começando...
Boa sorte, xará.
* mau
Frank Zappa não é «Freak out».
Não basta dizer que esse albúm é giro/curtido ou bué da fixe, a mensagem que frank zappa tentou passar a quem o ouvia, foi: não sejam acríticos de merda, sempre mais preocupados com o que os outros pensam daquilo que sois, pensais e/ou fazeis.
Um mundo de arquétipos à procura da respectiva prateleira dos catalogados/arrumadinhos.
Eu gosto de pensar que Frank Zappa (e outros) ajudou-me a ser o que sou, um comunista que, com a sua acção, está a contribuir para a transformação deste velho e bárbaro mundo, num SÍTIO ONDE POSSAMOS VIVER SEM SERMOS PARASITADOS POR MEIA DÚZIA DE DÉSPOTAS CAPITALISTAS .
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