A sete de julho de 2006, o mundo do rock 'n roll perdeu um dos seus grandes homens: Roger Keith Barret, vulgo Syd, morreu aos 60 anos, aparentemente por complicações de diabetes. Diz-se que morreu tranqüilo, sereno. Esquizofrênico, como é patente, teve problemas com drogas lisérgicas no final dos anos 60 que o deixaram sem condições de continuar na banda que fundara, o mítico grupo inglês Pink Floyd. Syd então foi viver na casa de sua mãe, dedicando-se à jardinagem e a atividades domésticas. Sobre ele, após sua morte, seus vizinhos diriam que era agradável, gostava de crianças e as encantava com trocadilhos e recursos lúdicos.
Nesse meio tempo, o Pink Floyd, que já balançara as bases da música com seu primeiro e lisérgico registro (praticamente todo composto por Barret) "The piper At The Gates of Dawn" (1967), tendo este se tornado junto ao "Sgt. Pepper's lonely hearts club band", ao "Freak out!", de Frank Zappa e a alguns outros registros menos conhecidos de bandas como Spirit e Moody Blues o arcabouço do que viria a ser rock progressivo, foi lançando bolachas que paulatinamente lhe auferiram a reputação de uma das grandes bandas de rock de todos os tempos. Capitaneada então pelo baixista, vocalista e excelente letrista Roger Waters e com o talentoso mancebo guapo (como diria Fernando Sabino) David Gilmour no lugar de guitarrista, que coubera a Syd, o Pink Floyd foi ganhando seu espaço.
Depois de álbuns mais obscuros e psicodélicos, tais quais o "Saurceful of Secrets" (1968) e o "Ummagumma"(1969), a banda registrou álbuns clássicos do rock progressivo, tais quais "Atom heart mother" (1970) e "Meddle" (1971). Foi em 1973, porém, que a banda se granjeou o seu status imarcescível de uma das maiores e mais influentes bandas de rock de todos os tempos. O álbum conceitual "The Dark Side of the Moon" levou a banda ao cânone do rock, tornou-se um dos álbuns mais vendidos e todos os tempos e músicas como "Time" e "Money" viriam a embalar gerações de gente de todo tipo, idade, credo e cor.
Pois bem; enquanto Roger Waters, David Gilmour, Richard Wright e Nick Mason ganhavam o mundo, Syd Barret estava recolhido a uma vida frugal e doméstica. Alguns anos antes, conforme já foi dito, após tristes evidências de que ele estava totalmente xarope e que não tinha mais condições de levar o Floyd adiante, foi afastado do grupo que formara uns anos antes com os então amigos de faculdade. Ora, nada mais justo que a então megabanda prestar suas homenagens a seu fundador inválido, não? "Wish You Were Here" nada mais é do que uma grande homenagem a Syd Barret, feita magistralmente por Roger Waters & cia.
Para se ter idéia do estado de Syd, conta-se que quando o Pink Floyd gravava o álbum a que se reporta esta resenha, Barret apareceu no estúdio tão gordo e maltrapilho que os próprios amigos e homenageadores demoraram para reconhecer aquele triste pedaço de gente rotundo e mal-vestido, e que no entanto, era o cara que menos de uma década atrás fora o idealizador da banda que então o mundo adorava.
A faixa que abre o álbum, a primeira parte da longa "Shine on You crazy Diamond (Part I-V)", é talvez a forma mais poética e tocante que alguém poderia encontrar para descrever a triste decadência daquele homem: Remember when you were young (Lembre-se de quando você era jovem)/ you shone like the sun (você brilhou como o sol)/ Shine on you crazy diamond (continue brilhando, seu diamante doido!)/ Now there's a look in your eyes (agora tem um olhar no seus olhos)/ like black holes in the sky (como buracos negros no céu)/Shine on you crazy diamond (continue brilhando, seu diamante doido!). É uma faixa longa e suave, em compasso ternário, com uma bela melodia, que começa com simples acordes no sintetizador e vai progressivamente encorpando. David Gilmour confere à música belas linhas de guitarra além de se mostrar um vocalista extremamente competente. Os back vocals femininos caem muito bem à canção, lhe dando mais suavidade ainda. No final, um belo solo de sax termina a extasiante faixa de mais de 13 minutos que abre o registro melhor do que qualquer outra o faria.
O álbum prossegue com "Welcome to the Machine", uma faixa com ambiente tétrico, que lhe é emprestada principalmente pelos vocais plangentes, e que é marcada pelos sintetizadores de Rich Wright. Se a faixa não faz refências tão diretas a Syd, podemos inferir que ela se lhe reporta pelo que diz o eu-lírico para um filho seu.
"Have a Cigar", a faixa seguinte, é uma canção sobre drogas, obviamente relacionada a Barret. Também nessa faixa se vê uma grande presença de sintetizadores, além de linhas de guitarra muito originais por parte de David Gilmour.
Eis que surge a faixa-título. "Wish You Were Here" é, unanimamente, e sempre será, uma das músicas mais belas do rock. Apesar de ter uma significação específica, a de homenagear Syd, como disse Fernando Pessoa, cada qual entende a poesia conforme seus próprios sentimentos momentâneos. "Wish you Were Here" marca vidas, relacionamentos; lembra pessoas especiais que não estão mais entre nós, ou que estão longe. É difícil não se emocionar com a canção de quase 6 minutos, tanto pela letra quanto pela melodia envolvente, ainda mais com o belo solo de violão solfejado de Gilmour no meio da música. É-me particularmente raro não sentir emoções e querer cantar a plenos pulmões ao ouvir os belos versos de Waters: "How I wish, how I wish you were here/ We're just two lost souls swimming in a fish bowl/ year after year/ running over the same onld ground/ What have we found/ the same old fears/ Wish you were here".
Tal qual a primeira parte enceta o "Wish You Were Here", a parte final (VI - IX) de "Shine On You Crazy Diamond" é incumbida de fechar a grande homenagem àquele insano diamante que fundou uma das maiores, influentes e significativas bandas do rock.
Que podemos dizer? Shine on You crazy Diamond!
Marcadores: Resenhas
15 Comments:
Poxa, fiquei arrepiada.
PS: Adorei o "mancebo guapo"
Muito bom!
Me passa o site que você usou para dar Ctrl c? usahSUHSUASHushUSAHSuaS
De boa, ficou muito legal, parabéns!
uhsuahsaushaushu Belo comentário (y)
lalalalala
ooo legal pra carai... ja ouvi esse troço um milhao de vezes hahaha
faltou uns comentarios:
wish you were here - a musica numero 1 das rodinhas de violao internacionais e de quem nunca ouviu pink floyd huahauauhuhaah
have a cigar - caralho, essa eh foda!
boa, Castor! com essa resenha aí dá vontade de ouvir pink floyd o dia inteiro @.@"
Senhor Castor
(gerenciar)
31/01/2007 07:14
Comentem!
:D
excluir
hands down
é, pink floyd não é pra mim
mas como se pode ver, o castor está aí abusando do talento literário dele
:BB
Muito bom, Castor!
Linda resenha =D
Mas só para você saber, Have a Cigar e Welcome to the Machine são referências ao Mainstream, a indústria e tals. Como você sabe, o Waters é um socialista lunático e ele sempre tem que mostrar isso.
"Crazy Diamond" era o apelido do grande Syd Barrett.
A, outra coisa:
Para dar mais idéias para os leitores, o Syd Barrett não começou a usar drogas por causa de seus amigos da banda, e sim pelas pessoas que ele dividia um apartamento na época em que a banda era dura. E só para saber, teve uma época que o Syd chegou a tomar chá de cogumelo todo café da manhã. E nos ensaios e nos shows ele simplesmente apagava.
E diz o Waters que ele não gostava muito nem de puxar um baseado, e o fazia pouquíssimas vezes. Já o Wright e o Gilmour eram maconheiros XD
O resto da banda ficou super mal, porque pensou que os culpados do Syd ter ficado mal assim, foram eles, visto que eles nunca acharam que deveriam se interferir no vício de Syd (era careta na época).
Leia o livro Dark Side of the Moon do John Harris, é muito bom e esclare diversas coisas=D (desculpa pelo português ruim)
E diz o Waters que ele não gostava muito nem de puxar um baseado, e o fazia pouquíssimas vezes. Já o Wright e o Gilmour eram maconheiros XD
Aqui eu quis dizer que o WATERS não puxava.
O Waters é mó cuzão.
esses baixistas puxa saco...
né Keane? hahahahhahahaha
shine on you crazy diamond sempre será uma das minhas preferidas deles; e wish you were here sempre a mais bela o/
parabéns, Castor.
Acho que "Have a Cigar" está muito mais para a relação gravadora-banda do que para drogas.
Vale destacar os ótimos vocais feitos pelo Roy Harper.
tipo, Have a cigar is soooo not about drugs...
é, como disse o cara aqui de cima, sobre a relação entre uma gravadora e uma banda. tipo a letra cara,
"... It's a hell of a start, it could be made into a monster, if we all pull together as a team.."
mas de resto o texto ta legal...
A melhor música do pink floyd e a echoes. Mas deste album a melhor é shine on crazy diamond
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