O White Stripes, apesar de não subverter paradigmas da música como se fossem montinhos de areia que podem ser destruídos e levantados ao bel-prazer, sempre foi uma banda, no mínimo, peculiar: apenas dois integrantes, Jack White, vocalista, guitarrista e pianista, e Meg White, baterista e vocalista; cuja relação já fez muita gente fritar o cérebro para descobrir se são namorados, irmãos, ou simplesmente amigos. Apesar de que Jack já admitiu o fato de os dois serem divorciados um do outro, muita discussão em torno desse mistério ainda continua. Também tem o fato de eles só usarem três cores, tanto na capa de álbuns, quanto nas vestimentas: vermelho, branco e preto.
O terceiro fator é a sua sonoridade, que revisita muita coisa feita no decorrer no século passado. Mas ao contrário de outras bandas que fazem o mesmo, como os Vines, Interpol, Rapture, Libertines, e etc., eles conseguem criar todo um conjunto de canções empolgantes, viciantes, que fluem naturalmente e despejam vigor - inverso das bandas citadas, que ao passar das músicas, começam a cheirar naftalina. Ao contrário desses grupos, que compõem poucos hits realmente viciantes, ou seja, optando por sonoridade mais linear, disco por disco o White Stripes só reforça a idéia que são realmente talentosos, sem soar como "uma faixa não-clássica no disco de uma banda idolatrada". Uma mistura agradável daquele blues eletrificado que daria origem ao Rock And Roll, garage-rock, protopunk, folk, cheia de referências, como Bob Dylan, Led Zeppelin, Beatles, Beach Boys, Pixies, Velvet Underground, The Stooges, Pretenders e até Mutantes (de quem Jack já se declarou admirador)... Sonzeira para ninguém botar defeito.
"Elephant", quarto álbum da banda, data do ano de 2003, e é meu preferido da banda. Onde eles encontraram sua maturidade, porém não perderam a ousadia (coisa que, infelizmente, acontece com muitas boas bandas). O som pode ser inspirado em coisa que já foi feita há tempo pra cacete, mas ainda transpira juventude.
Uma linha de baixo assombrosa inicia "Seven Nation Army", uma canção com uma letra um tanto vingativa e com uma estrutura um tanto hipnotizante, que várias vezes descamba para uma explosão de guitarras, para logo voltar ao som grave e perplexante. O mais curioso é que não há nenhuma menção sobre o baixista que teria gravado a canção... A bateria simplíssima de Meg soa seca, direta e repetitiva, mas de forma agradável. E quem nunca viu o caleidoscópico clipe dessa canção? É... Não vou esticar muito a descrição: um dos clássicos do Rock contemporâneo!
"Black Math" é um esporro de energia... Não lembro de ter ouvido uma música tão garage-rock há bastante tempo; algo de protopunk e da primeira geração do hard rock pode ser sentida correndo nas veias dessa música, que diminui e avança de ritmo mais de uma vez, deixando claro uma inspiração zeppeliana. Só que o vocal de Jack não lembra Plant. Tá mais pra um Iggy Pop, cantando uma letra neurótica. Ei, e tanto os White Stripes quanto os Stooges são de Detroit!
A próxima é "There's No Home For You There", em uma letra sobre um relacionamento homem-mulher, que mais parece uma espécie de desabafo. Desde melodias que são verdadeiras pérolas-raras, até microfonias, passando por um refrão empolgante e alto, acompanhado de backing vocals no mesmo volume. Algo como se os Stooges resolvessem ter algo de Stones, ou vice-versa. Viagem né? Bem... Só sei que é bom pra cara...
A única que não foi composta por Jack White, essa é "I Just Don't Know What To Do With Myself" (êta nomezinho comprido...),uma cover de Burt Bacharach e com um clipe conhecidíssimo, dirigido por Sofia Coppola (filha d'O cara que só perde para Kubrick, o Francis Ford, diretor de "Apocalypse Now" e "O Poderoso Chefão" - ela também não faz feio, dirigiu os filmes "Virgens Suicidas" e "Lost In Translation", além de clipes dos Strokes, mas, deixando o assunsto cinema de lado, voltemos à resenha...), surge aos nossos ouvidos na forma de um blues-rock elétrico e viciante, falando - veja só - de um cara que não sabe o que fazer se não ter o amor da garota dele por perto. O refrão poderoso, explodindo em guitarras enérgicas, que acompanham o vocal de Jack, que vai do mais calmo a uns gritos que a música pedia.
Quebrando o clima de guitarras esporrentas, Meg começa a cantar "In The Cold, Cold Night", de acordes repetitivos e linhas vocais grudentas. Agora, os papéis se invertem: a garota que precisa de um fogo brilhante em uma noite fria. Música simples e bonitinha, com todo um carisma próprio.
Panela velha é que faz comida boa e... ops, quero dizer... É isso aí: "I Want To Be The Boy To Warm Your Mother's Heart" trata da paixão de um cara por uma mulher mais velha - e, ao que parece, a mãe de um amigo. Os pratos e caixa de Meg tornam-se bastante lineares, mas o folk vem à tona nas melodias de guitarra, que são acompanhadas pelo dócil vocal de Jack White.
"You've Got Her In Your Pocket" segue com outra baladinha, com melodiosas e calmas melodias de cordas, com um relaxado Jack White contando a história de um cara extremamente ciumento, que no final da música, revela ser ele mesmo o cara. Pura tranqüilidade o disco nesse estágio, ainda mais com esse refrão açucarado...
O garage-rock volta em "Ball And Biscuit", que, se não recupera a velocidade, recupera a eletricidade, com uma sonoridade um tanto quanto bluesy e Jack White cantando com linhas vocais realmente bem postas. Sonoridade bluesy essa que estoura no solo de guitarra de Jack White, bastante distorcido, elétrico e pulsante. A letra realmente segue esse clima, com um cara que parece perto de explodir com a garota com quem está conversando. Essa incrível viagem sonora pode ser curtida por todos os sete minutos de duração, todos esses muito bem gastos com essa música cheia de reviravoltas e influências.
Terceiro clássico do rock contemporâneo no mesmo disco, esse é "The Hardest Button To Button", com seu clipe realmente expressionista, e assim como a faixa que abre o álbum, altamente perplexante e criativo. Sua estrutura de guitarra e bateria repetitiva, dançante e pulante já são bem conhecidas, até entre quem não é fã da banda. A engraçadíssima letra fala de neurose em família, que realmente é "o botão mais difícil de abotoar", e o ritmo da música, crescente, decrescente e crescente mais uma vez, só ajuda a reforçar a idéia. É incrível como a faixa ainda soa viciante mesmo se você escutá-la mais de um milhão de vezes - falo por experiência própria.
A voz de um cara de nome Mort Crim começa narrando "Little Acorns", e a banda, após teimar em interrompê-lo, explode uma avalanche de furiosas guitarras punks e barulhos de pratos infestando o ar... Para logo depois o ritmo cair, e Jack White começar a cantar uma linha vocal facilmente decorável e cantarolável, por cima de um instrumental abafado... Que então deságua na mesma correnteza elétrica punk mais uma vez... Ótima!
Seguindo a cartilha de "Fell In Love With A Girl" do disco anterior, agora temos "Hypnotize", que se é menos rápida, ainda é agressiva e tem o diferencial de ser mais pesada que a canção do álbum anterior (o ótimo "White Blood Cells"). Para uma baterista limitada, Meg mostra bastante pegada aqui nessa pérola que chega a assumir alguns contornos protopunks para virar a porrada que é.
"The Air Near My Fingers", que vem descendo a ladeira com fortes guitarras, o mesmo esquemão bumbo-caixa de Meg, e os vocais ora cantados, ora quase discursados de Jack, falando sobre uma garota que faz o 'eu' da música ficar nervoso quando a mesma se aproxima. A música tem várias reviravoltas, mas nenhuma delas é chocante, transpirando vigor e paixão adolescente.
Próxima! Essa é a animada "Girl, You Have No Faith In Medicine", com vocais berrados e alucinados de Jack White, com o mesmo execuando uma furiosa base de guitarra, e Meg, mesmo sem sair da linha, toca mais forte e alto dessa vez. Título que descreve a letra. As paradinhas para retomadas ou desfiles de trechos guitarreiros empolgantes constituem essa canção um forte rock-blues garageiro.
Infelizmente fechando o álbum, agora temos "It's True That We Love One Another", com o vocal melódico de Jack White, a voz doce de Meg e a voz alta da convidada especial Miss Holly; música embalada por um delicioso piano; os três fazem um ótimo "trieto" (e viva o neologismo...), que mais parece a trilha sonora de um filme ambientado há muuuuitas décadas atrás. Ou seja, diversão e espontaniedade saindo pelos amps.
Mesmo que muitos queiram incluir a dupla na onda hype, os White Stripes pouco parecem ligar, e continuam fazendo a sua elétrica, sentimental, criativa e nostálgica música de forma poucas vezes vista, e com um entrosamento que realmente deve dar empolgação o suficiente para lançar tantos discos (cinco - tá, não parece tanto, mas olha a enorme quantidade de músicas de cada um...) em quase uma década de existência, todos de altíssimo nível. Jack White é um compositor muito talentoso, e Meg, mesmo sendo a baterista mais simples possível, é o corpo mecânico do White Stripes, que concede uma base simples para Jack viajar em cima.
O talento da banda já rendeu muitos prêmios, sem contar elogios vindos de lendas do Rock (o protopunk Iggy Pop e o postpunk Michael Stipe, do R.E.M.). Sem contar que artistas de respeito na mídia atualmente gravaram covers de suas canções - Joss Stone (bastante aval por ser uma garota bonitinha e fazer um som bem feito) e Audioslave (banda de um ex-Soundgarden e três ex-Rage Against The Machine). Se os White Stripes continuarem com esse alto padrão de qualidade, os críticos vão ter dificuldade tremenda em dizer que o Rock americano está morto, enterrado e sepultado junto com os restos mortais de um loiro que usava camisa de flanela...
-Nenhum computador foi usado durante a composição, gravação, mixagem ou masterização desse álbum.
(Nota que a banda fez questão de pôr no encarte, só para ressaltar que o espírito garage-protopunk-bluesy é verdadeiro e não mais um hype retrô qualquer...)
Marcadores: Resenhas
7 Comments:
ah, White Stripes!
esse cd é ótimo, quando ouvi pela primeira vez fiquei mô empolgada! hahaha
as músicas são maravilhosas, desde as mais calmas até as mais pesadas.
ótimo cd, recomendo.
I Just Don't Know What To Do With Myself... (8)
white stripes. todo mundo diz amá-los, grande parte por seven nation army. mas nunca viram a magia das 3 cores, das roupas classicazinhas. e quando criticam é 'falta um baixo'
num falta NAAAAAAADA.
caram, white stripes é tudo! :}
Hum, nunca ouvi White Stripes, mas parece ser uma daquelas bandas pseudo-underground que você acha a torto e a direito por aí, algumas boas outras ruins.
Vai saber, nunca ouvi mesmo pra tirar uma conclusão mais aprofundada, só o que li na resenha e talz.
Bandas underground geralmente são legais.
Adoro essa banda!
Muito boa a resenha!
Beijão e abraço.
é... ws é bonzinho...
aehiea
gosto da última faixa,
só por causa da holly golightly.
"infelizmente fechando o álbum, agora temos "It's True That We Love One Another", com o vocal melódico de Jack White, a voz doce de Meg e a voz alta da convidada especial Miss Holly;"
holly golightly salva o disco!
haha
Postar um comentário
<< Home