Bandas mais influentes do que propriamente reconhecidas. Delas, o mundo está cheio. O exemplo mais célebre é a célebre blank generation pré-CBGB's, quando grupos como The Velvet Underground, MC5 e The Stooges vendiam quantias irrisórias de seus discos e eram solenemente ignorados e arrasados pela crítica. Mas que, apesar dos pesares, cada um que comprou o disco na época formou sua própria banda e chegando ao topo, fez questão de lembrar-se de suas raízes. E era aí que o grande público entrava em contato com nomes até então obscuros como Lou Reed e Iggy Pop.
Então pense nos grandes nomes da música britânica dos anos noventa. Lembrou de Oasis, Blur, Primal Scream, Pulp, Suede, Manic Street Preachers, The Verve? Pense em nomes recentes classificados pela crítica como New Rave. Lembrou dos Klaxons, Shitdisco, Datarock?
Pois saiba que todos eles admitem influência de uma mesma fonte: de Madchester, movimento musical surgido na cidade de Manchester no final da década de 1980 que combinava punk, new wave, psicodelia, funk, hard rock e eletrônica para criar uma música viajante, experimental, dançante, de pegada roqueira, de melodias etéreas e vocais delirantes. Dentre tantas bandas que se encaixaram nesse caso clássico de injustiça e incompreensão, como Happy Mondays, Inspiral Carpets, The Charlatans, 808 State e A Guy Called Gerald, estavam The Stone Roses, expoente principal do movimento.
Apesar de ter tido certo reconhecimento em seu país de origem e tendo sua obra vista como visionária por muitos críticos, os Stone Roses não conseguiram ir muito além. Mas enquanto esteve ativo, impressionou quem entrou em contato com a contracultura dos hooligans em êxtase; as raves que participavam, picos da Acid House, chegaram a ser conhecidos como o Segundo Verão do Amor - uma combinação de música, drogas, hedonismo e busca pela liberdade, assim como no primeiro, naquele longínquo ano de 1969. O que definia exatamente os Stone Roses: um quarteto de jovens temperamentais, chegados à experimentação e uso de substâncias ilícitas e com uma incrível fome de absorver qualquer som interessante para logo em seguida cuspi-lo em forma de música bastante autoral e inovadora para a época.
Os Stone Roses foram a banda que deu à nova geração do Rock And Roll um duo conflitante de opostos, assim como Lennon e McCartney, Gilmour e Waters e Morrissey e Marr: o vocalista Ian Brown e o guitarrista John Squire. Dois egos tão gigantescos quanto geniais, que eram a força motriz que movia a banda. Ian, um showman de nascença, ousado, inconseqüente e lisérgico como seu papel pedia. Squire, ainda que introspectivo, era um virtuose feroz e um rocker de primeira. Completavam a banda a cozinha do baixista Gari "Mani" Mounfield e do baterista e backing vocal Alan "Reni" Wren.
Controvérsias existem sobre as afirmações acima – é natural. Mas o primeiro álbum, e quem tiver ouvido há de convir comigo elimina toda e qualquer dúvida existente sobre o potencial dos Stone Roses. Auto-intitulado, o álbum estava definitivamente um passo à frente de sua época, o que torna totalmente válido a citação à arte do pintor Pollock na capa. Era uma banda dos anos oitenta com um som já totalmente anos noventa, na atitude, na estética sonora, no conceito e na fome de criação.
“I Wanna Be Adored” surge como um titã em meio a um mar de ruídos, até que o baixo começa a dar corpo à uma canção com um groove hipnótico e guitarras em pleno estado de delírio. “Eu não tenho que vender minha alma/Ela já está em mim/Eu quero ser adorado”, diz um abusivo e insolente Ian Brown afogado nesse mar de pura e gritante psicodelia insana, com uma cozinha seca e direta em constante contraste com suas borbulhantes seis cordas e seus vocais suspirados e excitados.
Tremendamente sexy, esta é “She Bangs The Drums”, com belíssimas bases de guitarra combinadas com algumas das harmonias vocais mais perfeitas da década de oitenta. Entre solos alucinógenos de Squire e um baixo sempre na cara Brown canta sobre uma garota que o deixa fraco quando ele a vê dançando. “Você a viu, você a ouviu? /O jeito que ela toca não há palavras/Para descrever o que eu sinto”.
“Elephant Stone” começa com uma guitarra tão distorcida que pode fazer com que ouvinte pense que irá desaguar em uma regravação do mestre Hendrix. Ledo engano. De pegada pulsante, de vibração única e um belo refrão, com uma letra viajada digna de figurar nos discos das melhores bandas hippies dos anos sessenta: “Estourar no paraíso/Beijo nas nuvens do algodão /Folhas do ártico e campos do trigo/Eu não posso parar de vir para baixo”, a música cativa pelo senso pop único do qual a banda não parava de demonstrar canção após canção.
De início sutil, dividido entre o vocal permanentemente chapado do vocalista e as guitarradas transcendentais de John Squire, “Waterfall” ganha grande pegada com a introdução da cozinha, com direito a intermezzos, e desenvolvimento de estrutura rocker. A letra fala sobre uma garota que é uma verdadeira queda d’água, sempre levando tudo consigo. E qualquer dúvida da técnica e a criatividade de Squire como guitarrista acaba aqui – mesmo não executando as mais complicadas peças do mundo, é capaz de criar momentos literalmente de tirar o fôlego, tal qual sua guitarra cantasse em dueto extasiado com Ian.
“Don’t Stop” inicia uma muralha sonora viajante com guitarras ressonando e vocais etéreos de Ian Brown sobre uma cozinha de marcação constante, em contraste com as volúveis seis cordas. “Não pare/Não é engraçado como você brilha?”, pergunta o refrão, em uma letra que mistura indignação, dor e tristeza. O desfecho quase tribal encerra a canção de forma envolvente.
Com ares nostálgicos na introdução, “Bye Bye Badman” reparte momentos cadenciados e instantes crescentes, volúveis, fortes e dançantes. “Eu tenho uma má intenção/Eu pretendo te derrubar/Essas pedras que eu jogo/Oh, esses beijos franceses/Foram a única maneira que eu encontrei”, canta um torturado Brown no marcante refrão sendo guiado pela pegada direta e na lata.
Em menos de um minuto, Ian aproveita as doces cordas de “Elizabeth My Dear” para cantar “Me divida em pedaços e ferva os meus ossos/Eu não descansarei até ela perder o trono/Meu alvo é verdadeiro, minha mensagem é clara/São cortinas para você, Elizabeth, minha querida”, em uma heresia revoltada vertida em harmonias pop digna dos Smiths em seus melhores dias.
Então pense nos grandes nomes da música britânica dos anos noventa. Lembrou de Oasis, Blur, Primal Scream, Pulp, Suede, Manic Street Preachers, The Verve? Pense em nomes recentes classificados pela crítica como New Rave. Lembrou dos Klaxons, Shitdisco, Datarock?
Pois saiba que todos eles admitem influência de uma mesma fonte: de Madchester, movimento musical surgido na cidade de Manchester no final da década de 1980 que combinava punk, new wave, psicodelia, funk, hard rock e eletrônica para criar uma música viajante, experimental, dançante, de pegada roqueira, de melodias etéreas e vocais delirantes. Dentre tantas bandas que se encaixaram nesse caso clássico de injustiça e incompreensão, como Happy Mondays, Inspiral Carpets, The Charlatans, 808 State e A Guy Called Gerald, estavam The Stone Roses, expoente principal do movimento.
Apesar de ter tido certo reconhecimento em seu país de origem e tendo sua obra vista como visionária por muitos críticos, os Stone Roses não conseguiram ir muito além. Mas enquanto esteve ativo, impressionou quem entrou em contato com a contracultura dos hooligans em êxtase; as raves que participavam, picos da Acid House, chegaram a ser conhecidos como o Segundo Verão do Amor - uma combinação de música, drogas, hedonismo e busca pela liberdade, assim como no primeiro, naquele longínquo ano de 1969. O que definia exatamente os Stone Roses: um quarteto de jovens temperamentais, chegados à experimentação e uso de substâncias ilícitas e com uma incrível fome de absorver qualquer som interessante para logo em seguida cuspi-lo em forma de música bastante autoral e inovadora para a época.
Os Stone Roses foram a banda que deu à nova geração do Rock And Roll um duo conflitante de opostos, assim como Lennon e McCartney, Gilmour e Waters e Morrissey e Marr: o vocalista Ian Brown e o guitarrista John Squire. Dois egos tão gigantescos quanto geniais, que eram a força motriz que movia a banda. Ian, um showman de nascença, ousado, inconseqüente e lisérgico como seu papel pedia. Squire, ainda que introspectivo, era um virtuose feroz e um rocker de primeira. Completavam a banda a cozinha do baixista Gari "Mani" Mounfield e do baterista e backing vocal Alan "Reni" Wren.
Controvérsias existem sobre as afirmações acima – é natural. Mas o primeiro álbum, e quem tiver ouvido há de convir comigo elimina toda e qualquer dúvida existente sobre o potencial dos Stone Roses. Auto-intitulado, o álbum estava definitivamente um passo à frente de sua época, o que torna totalmente válido a citação à arte do pintor Pollock na capa. Era uma banda dos anos oitenta com um som já totalmente anos noventa, na atitude, na estética sonora, no conceito e na fome de criação.
“I Wanna Be Adored” surge como um titã em meio a um mar de ruídos, até que o baixo começa a dar corpo à uma canção com um groove hipnótico e guitarras em pleno estado de delírio. “Eu não tenho que vender minha alma/Ela já está em mim/Eu quero ser adorado”, diz um abusivo e insolente Ian Brown afogado nesse mar de pura e gritante psicodelia insana, com uma cozinha seca e direta em constante contraste com suas borbulhantes seis cordas e seus vocais suspirados e excitados.
Tremendamente sexy, esta é “She Bangs The Drums”, com belíssimas bases de guitarra combinadas com algumas das harmonias vocais mais perfeitas da década de oitenta. Entre solos alucinógenos de Squire e um baixo sempre na cara Brown canta sobre uma garota que o deixa fraco quando ele a vê dançando. “Você a viu, você a ouviu? /O jeito que ela toca não há palavras/Para descrever o que eu sinto”.
“Elephant Stone” começa com uma guitarra tão distorcida que pode fazer com que ouvinte pense que irá desaguar em uma regravação do mestre Hendrix. Ledo engano. De pegada pulsante, de vibração única e um belo refrão, com uma letra viajada digna de figurar nos discos das melhores bandas hippies dos anos sessenta: “Estourar no paraíso/Beijo nas nuvens do algodão /Folhas do ártico e campos do trigo/Eu não posso parar de vir para baixo”, a música cativa pelo senso pop único do qual a banda não parava de demonstrar canção após canção.
De início sutil, dividido entre o vocal permanentemente chapado do vocalista e as guitarradas transcendentais de John Squire, “Waterfall” ganha grande pegada com a introdução da cozinha, com direito a intermezzos, e desenvolvimento de estrutura rocker. A letra fala sobre uma garota que é uma verdadeira queda d’água, sempre levando tudo consigo. E qualquer dúvida da técnica e a criatividade de Squire como guitarrista acaba aqui – mesmo não executando as mais complicadas peças do mundo, é capaz de criar momentos literalmente de tirar o fôlego, tal qual sua guitarra cantasse em dueto extasiado com Ian.
“Don’t Stop” inicia uma muralha sonora viajante com guitarras ressonando e vocais etéreos de Ian Brown sobre uma cozinha de marcação constante, em contraste com as volúveis seis cordas. “Não pare/Não é engraçado como você brilha?”, pergunta o refrão, em uma letra que mistura indignação, dor e tristeza. O desfecho quase tribal encerra a canção de forma envolvente.
Com ares nostálgicos na introdução, “Bye Bye Badman” reparte momentos cadenciados e instantes crescentes, volúveis, fortes e dançantes. “Eu tenho uma má intenção/Eu pretendo te derrubar/Essas pedras que eu jogo/Oh, esses beijos franceses/Foram a única maneira que eu encontrei”, canta um torturado Brown no marcante refrão sendo guiado pela pegada direta e na lata.
Em menos de um minuto, Ian aproveita as doces cordas de “Elizabeth My Dear” para cantar “Me divida em pedaços e ferva os meus ossos/Eu não descansarei até ela perder o trono/Meu alvo é verdadeiro, minha mensagem é clara/São cortinas para você, Elizabeth, minha querida”, em uma heresia revoltada vertida em harmonias pop digna dos Smiths em seus melhores dias.
“(Song For My) Sugar Spun Sister” tem um dos riffs de guitarra de ares mais positivos até então, destoando da maior parte das criações de Squire, em sua maioria lisérgicos, viajantes, cadenciados e de ares quase soturnos. A letra é uma das mais impactantes até então, tratando ora sobre uma paixão por uma conturbada garota, ora em estrofes de cunho político como “Até o céu ficar cinza/O gramado tem várias sombras de azul/Todo os membros do Parlamento cheiram cola”. Apesar do contraste melódico, a estruturação rítmica é típica dos Stone Roses, com a cozinha sempre precisa.
Uma das baladas mais melancólicas dos anos oitenta, “Made Of Stone” vem embarcando em melodias sombrias, vocalizações emotivas e forte bateria. O mote da canção é a solidão, com seu protagonista em primeira pessoa dizendo versos como “Quando as ruas estão frias e solitárias/E os carros queimam atrás de mim/Você está sozinho?/Você é feito de pedra?”, em um delirante e envolvente refrão digno de nota. John Squire de novo merece nota dez por outro solo abusando de transcendência psicodélica.
“Shoot You Down” começa só com a cozinha, com o baixo se sobressaindo, mas logo John Squire trata de inserir sua trip melódica. Ian Brown, lunático e provocativo, dispara uma letra violenta ainda que cantando em perfeitas harmonias vocais. “Você sabe isso/Você mostra isso/E o tempo chegou/De atirar em você/Mas que som/E quando o dia estiver acabado/E tudo tiver funcionando/Eu adoraria fazer isso, você sabe que você sempre teve isso vindo”. Vingativo, sarcástico e amargo: uma aula de como ser docemente ultrajante.
De início pesado, com as guitarras soando alto e a bateria com o mesmo impacto de um martelo chocando-se contra os tímpanos, “This Is The One” reparte linhas vocais calmas e tranqüilas, rápidas explosões de pancadaria e momentos quase sussurrados. Ian diz que de todos os seus planos, essa era o que uma garota estava esperando há tanto tempo. Deixar o país, dando certo ou não... É o plano que os dois esperavam. Mesmo repetindo o título da canção à exaustão, a banda nunca faz disso algo enjoativo. Faz disso um convite para submergir no mar colorido da banda.
E fechando o disco, “I Am The Ressurrection”, uma obra prima de oito minutos e indubitavelmente uma das melhores músicas dos Stone Roses e, conseqüentemente, dos anos oitenta. Tudo funciona bem: desde os acordes envolventes de Squire, passando pelo baixo soando alto e na frente, a bateria matadora, e para variar, mais vocalizações perfeitas e marcantes de Ian Brown, que se acaba no refrão, gritando indignado “Eu sou a ressurreição e eu sou a vida/E eu não posso nem ao menos trazer a mim mesmo/Para odiar você do jeito que eu gostaria”. A música sofre reviravoltas mil, com solos dignos de Jimi Hendrix chocando-se com uma cozinha Soul, crescendo para explosivos momentos quase hard rockers. Puro êxtase auditivo, com a banda em transe convidando o ouvinte a fazer o mesmo. Duvido que alguém da Madchester recusasse.
A banda, por triste ironia do destino, acabou em 1996, o ano em que seus seguidores chegavam ao poder e roubavam o cetro, a coroa e o trono de Kurt Cobain. Mesmo não sendo reis, criaram uma dinastia sangue azul das mais potentes da história da música. E ainda deixaram um belo legado próprio neste primeiro álbum. E, com novos expoentes da música citando os Stone Roses como referência, dá pra dizer que o álbum ainda é visionário, juvenil e envolvente mesmo quase vinte anos após seu lançamento. Deixe o quarteto que quase dominou o mundo abrir suas portas da percepção. Segundo as sábias palavras de William Blake, é a única maneira de ver além.
Marcadores: Resenhas
3 Comments:
Stone Roses é uma das melhores coisas que já existiu. e o impressionante é que mesmo sabendo que a influência deles é menor do que bandas como Nirvana por exemplo, é muito mais fácil vc ouviru ma banda e dizer "pô, tem muito de Stone Roses aí!"
esse disco é muito, mas muito bom mesmo. pena que a banda não produziu muitos outros trabalhos demonstrando todo o seu potencial.
bah, eu nunca ouvi muito Stones Roses :/
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