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    domingo, dezembro 24, 2006
    Motörhead - Kiss Of Death


    Caros leitores, tenho o prazer de lhes comunicar em plena véspera de Natal que Papai Noel é o cacete... Os mais chegados em guitarras pesadas e som rápido sabem que o verdadeiro bom velhinho prefere preto a vermelho, usa chapéu de cowboy e não gorro, tem uma eterna verruga na cara e não atende pelo nome de Santa Claus, e sim de Lemmy Kilmister. E todo ano brinda quem se comportou bem no ponto de vista dele (ou seja, enchendo a cara, arrumando encrenca e desfrutando dos prazeres que a noite nos oferece) com algum lançamento de sua potência sonora demolidora de ouvidos frágeis, ou como é chamado na maioria das vezes, Motörhead.

    Há quase 15 anos completos o agora sexagenário Lemmy está sendo acompanhando pela sonoridade insana e frenética do guitarrista Phil Campbell e a bateria estraçalhante de Mickey Dee. E este trio vêm lançando uma cacetada de discos excelentes, todos altamente recomendáveis, feito "March Or Die", "Sacrifice", "We Are Motörhead", "Inferno", e em agosto de 2006, Kilmister e seus comparsas nos brindam com "Kiss Of Death". E novamente, não me decepcionei... Mais um álbum forte feito um rondhouse kick de Chuck Norris, e com letras tão rudes que fariam muito adolescente entrar em choque com um senhor de sessenta anos tão desbocado.

    "Sucker" é a velha porrada Motörheadiana de sempre, com uma pegada fortíssima da cozinha e riffs cortantes e vertiginosos. E Lemmy não perdoa e ruge: "Ninguém sabe se você ganhou ou se você perdeu/No palácio ou na cruz/Na cruz ou no chão/Nós apenas não queremos você aqui/Idiota!". Beirando os três minutos, é bateção de cabeça e diversão garantida.

    A seguinte, "One Night Stand", puxa pro lado mais Rock And Roll do Motörhead, ainda infernalmente pesada e abrasiva . Aqui Phil Campbell detona um solo incrível, além de dar destaque para a letra no geral, onde Lemmy descreve para nós todo o seu sujo estilo de vida na sua boa e velha voz rasgada, rouca e quase gutural, uma das marcas registradas da banda. Um dos melhores refrãos de todo o álbum, impossível não cantar junto.

    E a peteca não cai, e se cair, Mickey Dee enche ela de marteladas... "Devil I Know" tem os pratos soando altos feito trovão, acompanhando a guitarra pesadíssima. Um tratado sobre a destruição sonoramente e um "foda-se" liricamente, onde Lemmy impaciente diz "Não vou mudar nada/Não vou mudar minhas maneiras/Eu não me importo aonde você está/Eu não me importo pra onde você vai/Estou voltando para o diabo que eu conheço". Empolgação pura.

    "Trigger" não perdoa. Tal qual um tanque de guerra correndo na velocidade de um carro de Fórmula 1, quase quatro minutos da melhor violência sonora que só o Motörhead sabe produzir, ainda dando espaço para momentos mais melódicos. "Você sabe que eu sou estranho, eu sei que eu sou estranho/Eu sou louco!/Agora sinta sua espinha tremer/Sorte sua, baby, que eu sou tão folgado/Mas eu vou puxar seu gatilho!", diz a letra, provando que Lemmy não viu o tempo passar, continua achando que é um bad boy com metade da idade... Ainda bem!

    Poucas bandas além do Motörhead conseguem deixar o ouvinte com a sensação de que apanhou por horas em menos de dez músicas. "Under The Gun" é heavy metal primordial, com guitarras distorcidas fincadas no blues, e a voz resmungona de Lemmy, que só enrouquece com o passar dos anos, devido à quantidade exorbitante de cigarros e cervejas consumidos. A lírica perigosa casa muito bem com a sonoridade estraçalhante.

    "God Was Never On Your Side" começa em ritmo de balada palhetada e vai ganhando volume e peso, apesar de continuar cadenciada, contando com a participação de C.C. DeVille, guitarrista da banda de hair metal do Poison. Felizmente, não tem nenhum resquício de balada de hair metal - até no solo, C.C. consegue soar mais como Motörhead e menos como Poison, mesmo sendo um solo mais melódico. E até em low-profile Lemmy continua com seus ataques verbais ácidos e corrosivos...

    E a adrenalina e o peso voltam... "Living In The Past" não deixa você continuar respirando, talvez sendo a música mais pesada do álbum em termos guitarreiros. Até a voz de Lemmy parece estar mais grave, em uma letra que detona hipócritas e pessoas que os renegam a "banda do passando", quando o Motörhead, mesmo passando mais de 30 anos, continua mais vivo que nunca rugindo em velocidade e peso assustadores.

    O rock é trazido de volta ao álbum em "Christine", aquele velho punkmetal and roll que todo fã de Motörhead, ou simplesmente de música agressiva e divertida, adora bater a cabeça e chacoalhar ao som da canção. A letra mostra como Lemmy não se deixa abater pela idade e continua depravado. A letra fala sobre uma mulher linda, perigosa e fatal. O solo é rock puro nas veias. O resultado, creio que você faça idéia...

    "Sword Of Glory" tem uma bateria simplesmente avassaladora e riffs pesados e rápidos. Talvez seja a melhor do álbum - rápida, pesada, áspera, caótica, furiosa... Não que as outras não sejam, mas aqui eles estavam especialmente inspirados. O refrão fica horas ecoando na sua cabeça, assim como o solo e a letram mais política do álbum, com Lemmy tentando abrir os olhos de soldados subordinados, gritando "Soldado, soldado, olhe onde nós estávamos/Você tem que saber da história/Velha ou fria, a vida não é justa/Tem que agarrar a espada da glória".

    Peso cadenciado em "Be My Baby". Com uma guitarra perfurante, que penetra nos ouvidos do ouvinte com um pesado assustador, como se fosse enfiada uma broca de chumbo. Mas Mickey Dee não deixa faltar vigor à canção - menos velocidade não quer dizer menos violência. Pense em uma luta de sumô. E Lemmy ruge novamente uma letra degenerada e suja...

    "Kingdom Of The Worm" ganha velocidade e as guitarras continuam pesadas, graves, alcançando um volume cada vez mais alto, em uma progressão maníaca. Uma das mais pesadas de todo o conjunto, onde Lemmy mostra seu vocal mais agressivo do que nunca. E a raiva de Lemmy contra a sociedade continua afiada como sempre: "reinado do romance/reinado dos mortos/reinado dos vermes/todos os homens merecem sofrer", entre muitas duras críticas à guerra e hipocrisia, que causam apenas tristeza e frustração de sonhos. Campbell manda mais um solo 'do bão' enquanto Lemmy berra.

    E chegamos na última faixa, "Going Down", menos pesada que a anterior, mas com a velocidade aumentando mais ainda. Fará a alegria dos fãs mais tradicionais de Motörhead, pois a banda continua com uma excelente capacidade de criar canções fortes, com solos excelentes e muitos minutos dedicados à boa bateção de cabeça. Como o próprio Lemmy diz na canção, "em nome do Rock And Roll, fogo no céu!".

    A fórmula do Motörhead já datou há muito tempo, isso é fato. Mas com a sua influência tremenda tanto no thrash metal, quanto no death/black metal, no crossover e no punk rock, Lemmy tem todo o direito de continuar com os clichês que ele mesmo criou. E, se o público aprovar, a tendência é melhorar cada vez mais. Não caia no papo que novo álbum de uma ou outra banda é o melhor lançamento de música pesada do ano, pelo menos não até ouvir essa belezinha aqui. Lemmy é a voz da sabedoria pra falar de peso, agressividade e degeneração, e desejo muitos anos mais de Motörhead para que o mau velhinho continue nos presenteando com mais pancadaria.

    Troque o peru por uma carne vermelha sangrando, a Coca-Cola e seus ursinhos polares pela cerveja e todas aquelas musiquinhas felizes de natal por uma leva de cds do Motörhead. Habemus Lemmy, e Feliz Natal!

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    posted by billy shears at 10:50 AM | 7 comments

    terça-feira, dezembro 19, 2006
    Placebo - Meds


    Quando os Ramones descobriram a fórmula da música rápida, de pouca técnica, sem solos, viradas, firulas e orquestrações, poucas vezes a largaram para tentar algo diferente. Quando o AC/DC descobriu que poderia parir aquele hard rock contagiante, com riffs endiabrados, letras sacanas e refrãos grudentos, a mesma coisa. Oasis e seus sons "Beatles-like", idem. Agora, os novos adotadores da política "em time que está ganhando não se mexe" é o Placebo, em seu novo disco "Meds". O grupo parece ter encontrado satisfação musical e comercial em suas músicas ora agitadas, de toques punk, guitar e grunge, ora em baladas depressivas e melancólicas, com forte influência de The Cure e pós-punk gótico.

    Não que isso seja um defeito no andrógino trio formado pelo belga Brian Molko, o sueco Stefan Olsdal no baixo, guitarra e teclados e do inglês Steve Hewitt na bateria, ou em nenhuma das bandas supracitadas. Até porque todos demoraram bastante para lançar um disco considerado sem toda a inspiração que conquistou fã nos primeiros trabalhos. Como para qualquer coisa, existem casos e casos; o Evanescence, ao querer garantir o mesmo público, já ficou sem idéias logo no segundo disco. Pelo menos, o Placebo, apesar de não arriscar muito, dá alguns tímidos passos para a frente. Apesar de conter mais guitarras que o antecessor "Sleeping With Ghosts", esse quinto disco persiste na característica do anterior de utilizar teclados, efeitos e aproximação com a música eletrônica. Resumindo, um meio-termo entre o novo e o velho, mesmo esse novo e esse velho não tendo lá diferenças relevantes, ou ainda assim, fundamentais... O aspecto lírico, porém, continua excelente, sendo que este sempre foi um dos pontos fortes do Placebo.

    O álbum é iniciado pela música-título e mais recente single, "Meds", que conta com a participação da vocalista Alison "VV" Mosshart da duo The Kills, banda de indie rock que já se apresentou aqui no Brasil no Recife e em São Paulo, no festival Campari Rock. Iniciada com palhetadas insistentes e com ótimas linhas vocais por parte de Molko, a canção toma vigor quando o resto dos instrumentos são introduzidos. O refrão cantando por VV é bem empolgante, mas o maior destaque fica para o vocal de Molko, que vai do tom confesso até o desesperado. Na letra, vemos uma pessoa atordoada, assustada com o mundo, sentindo-se em queda livre, não entendendo o por que disse... Aí descobrimos a causa de tudo quando Alison canta, interpretando outra pessoa, "Baby, você esqueceu de tomar seus remédios?".

    "Infra-Red", o terceiro single, mostra efeitos eletrônicos nem um pouco discretos, porém, bem inseridos. À medida que vai se aproximando do refrão, a música vai ganhando guitarras, até ficar com uma parede sonora das mesmas . A letra tem um tom totalmente vingativa, o que é ajudado pela soturna voz de Brian nos versos, sendo que estes apresentam trechos feito "Uma última coisa antes que nós comecemos o último embate/Sou eu quem te verá cair/Por isso eu vim pra te ferrar e ver você ir à falência/Alguém chame a ambulância! Pois vai haver um acidente". O marcante refrão, apesar de conter seu tom de ficção científica, não foge da temática da canção.

    A próxima é "Drag", que tem uma cozinha muito bem evidenciada, mostrando o lado mais pós-punk da banda, que cresce em seu refrão, ganhando uma guitarra quase inesperada e um certo contorno grunge, mais por causa da estrutura do que propriamente por causa do som. Também há bastante evidência dos teclados. A canção fala claramente sobre inveja, com o eu-lírico falando estar sempre atrás de outra pessoa, e se sente um derrotado por isso, porque a pessoa parece ser a melhor do mundo, e ele, sempre se arrastando atrás dela.

    O álbum vai ficando cada vez mais sombrio, e entra "Space Monkey" começando mais uma vez com efeitos eletrônicos e um dos vocais mais soturnos que Molko apresenta ao longo do álbum, seja enquanto sussurra, seja enquanto impõe sua voz. A letra parece misturar romantismo e crítica à evolução da tecnologia humana. A alternância é bem agradável, fazendo da canção uma bela pisada no freio.

    "Follow The Cops Back Home" é outra balada, com a bateria mais reta e teclados bem melódicos. Novamente um tom em crítica aos tempos modernos se enxerga em versos como "O chamado das armas nunca/foi verdade/Vamos dar uma volta e deixar isso pra lá/Triste animação pendurada/Ponham a culpa no apartheid". Na canção, a voz de Brian é bem linear, cantando quase que em apenas um tom de voz. O instrumental, com várias cuidadosas nuances, é um dos destaques, mostrando a faceta 'dark' da banda.

    Em "Post-Blue", somos apresentados a um ruidoso início e a introdução de melodias tão gélidas e carregadas de efeitos que chegam a lembrar superficialmente o som de Marilyn Manson na época "Mechanical Animals". E, por falar em rock industrial, essa talvez seja uma das músicas mais eletrônicas de todo o álbum e da carreira do Placebo. As temáticas de remédios, raiva dos tempos atuais e amor obssessivo mistura-se aqui, o que resulta em um refrão que faz jus ao seu tema: romântico e obsessivo.

    O primeiro single chama-se "Because I Want You", que com sua bateria surgindo com força, já denuncia: o lado rocker do Placebo aparece novamente. A bateria segue reta, mas as melodias de guitarra são bem volúveis, assim com um teclado um tanto 'espacial' que surge no meio da canção. A letra é tão bonita quanto triste, dividindo romance, drama e encorajamento. Não preciso nem comentar da voz do vocalista, afinal, quem é fã sabe que é uma das marcas registradas da banda...

    "Blind" mostra que o ouvinte foi enganado: a eletrônica volta, em ritmo arrastado, junto a teclados, que acaba descambando em uma guitarra sinuosa e crescente. A letra encontra um meio-termo entre a metáfora e o realismo, falando sobre um relacionamento levado com muito ardor, com Brian tomando consciência que a pessoa já está em pedaços, e os dois estão em um beco sem saída, mas ele pede para não ser abandonado e não ficar cego, sem contar o doído verso "Se eu pudesse te arrancar desse beco sem saída/Eu sei que outros melhores já tentaram/Eu preencheria cada suspiro seu com um significado/E encontraria um lugar para nós nos escondermos".

    Ouvimos então "Pierrot The Clown", onde tristes teclados vão surgindo e somam-se aos vocais melancólicos de Brian, que canta sobre uma pessoa com quem já teve um romance ou relação muito próxima, e que descobriu que a pessoa não passa apenas de alguém superficial, que quebra suas promessas e joga o eu-lírico no chão. A mais lenta do álbum. Seu ocasional crescimento não é nem em velocidade, nem em peso, mas sim em densidade.

    A segunda participação do álbum é do ícone Michael Stipe, vocalista do R.E.M., na canção "Broken Promise", uma música que começa com uma das melhores linhas de teclado do álbum e o vocal sussurrado de Michael. Porém, em uma canção que tinha de tudo para ser uma balada lenta, explode em peso guitarreiro no refrão cantando por Brian. Tanto quando cantam separados quanto cantando juntos, eles compõem uma grande canção equilibrada entre culpa e revolta, primeiro falando sobre as próprias promessas quebradas, e em seguida falando da decepção com outros.

    "One Of A Kind" novamente viaja em efeitos sincopados, somados à bateria grooveada, apesar de lenta. Seguindo a cartilha adquirida de pós-punk com nuance s eletrônicas e contornos grunge, a canção cresce no refrão, apesar de voltar a carregar nos efeitos nos versos. O refrão é bem marcante e repetido à exaustão, com uma letra confusa e atordoada.

    O que se ouve em "In The Cold Light Of The Morning" são os melhores teclados do álbum, em uma canção triste e sombria feito uma manhã de inverno. Seguindo à risca o título. A letra fala sobre ainda estar acordado após uma noite de sexo, drogas e rock and roll enquanto todos ainda estão bocejando e saindo de suas camas após uma boa noite de sono. Daí o tom quase robótico de Molko, em uma ambientação solitária que parece que vai sumir a qualquer momento. A mais discreta do álbum.

    O álbum fecha com o seu segundo single, "Song To Say Goodbye", que de um início típico do Placebo, com teclados agudos e ritmo se arrastando, surpreende o ouvinte com uma canção em tom psicótico, que cresce para um refrão até raivoso, em uma canção que denuncia o fim de um relacionamento, lamentando que no início eles eram tão puros e hoje estão se separando. Não é todo dia em que vemos canções com versos tão fortes como "Você é um dos erros de Deus/Você chorando, desperdício trágico da pele", logo na introdução. "E a voz que me fez chorar/É uma canção para dizer adeus", repete Molko enquanto a canção cresce em seu tom triste e furioso.

    Não podemos dizer que é um disco mais do mesmo; porém, não podemos dizer que é uma total reviravolta na carreira do Placebo. Ao invés de tentar algo novo, eles apenas resolveram fazer um pouco de tudo que já tinham feito, ou seja, as sonoridades às quais eles já estavam mais habituados. Mesmo não estando ao nível de discos como o fantástico "Without You I'm Nothing" e o primeiro, auto-entitulado, um lançamento do Placebo é sempre algo digno de nota, e que não pode ser desprezado, dada a sua excelente musicalidade que os fez de uma das melhores bandas dos últimos dez anos. E que não decepciona os fãs após ser o primeiro lançamento de inéditas após a coletânea de singles "Once More With Feeling", que comemorava a primeira década da banda. Talvez a banda esteja caminhando para ser uma banda madura, um candidato à novo dinossauro do rock na próxima década; ou então, pode estar preparando algo grandioso atrás das cortinas. Mas é como eu disse: não ficou ruim, nem um pouquinho, mas não esperem encontrar o melhor da banda.

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    posted by billy shears at 9:57 PM | 7 comments

    domingo, dezembro 17, 2006
    My Chemical Romance - The Black Parade


    O My Chemical Romance é uma banda da maior cidade de New Jersey, Newark. Com cinco anos de estrada e lançando um álbum a cada dois anos, a banda estourou em seu segundo álbum "Three Cheers For Sweet Revenge", fazendo sucesso em vários países. Devido à sua sonoridade com origens no punk e hardcore, somada com melancólicos contornos góticos e até mesmo resquícios de heavy metal em algumas músicas, a banda nunca praticou um estilo puro e intocado; mas devido à suas atormentadas músicas, o forte apelo teatral (contando com uso uniformes, maquiagem e pinturas faciais; e clipes com enredo, personagens e coreografias) e o fato de seus integrantes não seguirem estereótipos visuais feitos o "punk decadente" ou o "headbanger malvado", fez muitas pessoas rotularem pejorativamente eles como Emo, estilo descendente do hardcore com letras mais emocionais e passivas, que apesar da grande fama do termo, as bandas que se encaixariam corretamente em todos as características do gênero nunca ganharam grande notoriedade. Mesmo assim, o MCR foi colocado ao lado de bandas com as quais sua sonoridade não tem pouco ou absolutamente nada a ver - vide Good Charlotte e Simple Plan.

    É certo que a banda tem raízes no punk e hardcore, mas o som se desdobra em uma grande colcha de retalhos. Principalmente no novo álbum deles lançado nos últimos dias de outubro deste ano, "The Black Parade". Sonoramente, uma obra que funde inúmeras influências, desde o punk e o hardcore até o hard rock e o classic rock e passando pelo rock alternativo. Tudo regado às habituais letras da banda - nem um pouco sutis; se no último álbum eles falavam de temas como depressão, perda e decepção amorosa, aqui eles produzem um álbum conceitual, contando a história de um personagem chamado O Paciente, que vitimado pelo câncer, começa a refletir sobre sua própria vida, partindo da cama do hospital e do tratamento de quimioterapia, passando pelos aspectos mais importantes. Assim como nos álbuns anteriores, tudo é tratado com o peculiar sarcasmo lírico da banda, ou então com sua mórbida tristeza. Vendo o resumo geral da história, é quase de imediato um brasileiro perguntar: será que eles andaram lendo "Memórias Póstumas de Brás Cubas" do nosso Machado de Assis?

    Acompanhe então a nova aventura do performático vocalista Gerard Way, a dupla de guitarristas Ray Toro e Frank Iero, o baixista Mikey Way (irmão de Gerard) e o baterista Bob Bryar, sob a batente do produtor Rob Cavallo (o mesmo do primeiro álbum conceitual de raízes punk e referências mil, "American Idiot" do Green Day, que foi para o rock mainstream atual o que "Tommy" do The Who foi para os anos setenta - uma obra inovadora que abriu portas para outros tentarem o mesmo e marcou a geração de jovens da sua respectiva época).

    O álbum começa pelo fim da história, na curta abertura "The End", que começa com o sinal de um monitor cardíaco avisando que um coração deixou de funcionar, que confunde-se com a introdução do violão, ambos abrindo espaço para a voz de Gerard convidando o espectador para o triste evento de sua morte. As guitarras, em tom pomposo de abertura, acompanham o ritmo da voz de Gerard, ora cantando, ora gritando. No final, ele começa a implorar para ser salvo...

    ...E abre-se espaço para a pancadaria de "Dead!", uma canção de guitarras pesadas, riffs caprichados e com um refrão que conta com toda a banda acompanhando em backing vocal, em um clima ironicamente animado e feliz, onde ele recebe a triste notícia que só tem mais duas semanas de vida. Em meios a infantis "la la la", Gerard acha espaço pra cantar "se a vida não é uma piada/por que estamos rindo?". A canção acaba com a morte do personagem.

    "This Is How I Disappear" tem um começo em suspenso, que vai descendo ladeira abaixo até abrir espaço para uma bateria com batida vigorosa e graves bases de guitarra, dando espaço para vocais ora calmos, ora gritados. Imagina se um grupo de hard rock fosse tocar punk rock, ou vice-versa. É assim que a canção soa - marcante, com guitarras pesadas, com refrão grudento e parte mais cadenciada que volta à pancadaria, e até um pesado solo. Na letra, o Paciente sente-se culpado apenas por apenas magoar sua amada, e resolve abandoná-la. E começa a sentir-se como se estivesse desaparecendo.

    A seguinte é "The Sharpest Lives", que começa monocórdica e só começa a ter variações quando o vocal de Gerard, e o melódico riff é introduzido aos poucos. A música então cresce para um refrão excepcional, muito empolgante. As linhas vocais, muito variadas, são todas ótimas. Sem dúvida, uma das melhores do disco. Na letra, mostra um relacionamento difícil, onde o Paciente se revela uma pessoa auto-destrutiva; ao que parece, chegou bêbado de um show, pedindo para ser deixado em paz e falando que "você pode me assistir corroer como uma besta em repouso" e pedindo para que a pessoa atire nele, para ele ser liberado de toda a dor que sente.

    Freddie Mercury ressucitou, e resolveu montar uma banda de punk rock, com músicos de rock alternativo. Entendeu? Senão, vamos lá: a quase música-título "Welcome To The Black Parade" é uma mescla de Queen com rock alternativo. Ela começa na voz e no piano, até ganhar sua parte punk e começar a se dividir entre a alternativice dos vocais e as guitarras do Queen. Lá, seu pai começa a falar que tem um grande destino, mas voltando ao presente ele canta "um dia eu o deixarei/um fantasma para conduzí-lo no verão/para unir-me à parada negra". Entre a indignação e a obrigação dos outros de se conformarem, o Paciente afirma que é apenas um homem comum. Pela letra trágica, pela estrutura imprevisível e a megalomania, pode-se afirmar: é a "Bohemian Rhapsody" do Punk Rock.

    Transbordando raiva, essa é "I Don't Love You", iniciada no piano e ganhando guitarras leves e doces, onde o My Chemical Romance impõe uma balada-hard-pop de respeito. A canção passa a idéia do título, com Gerard cantando de forma doce versos fortes como "mas, meu amor, quando te derrubarem/no chão e te jogarem fora/é lá que você deve ficar". Em relação aos álbuns anteriores, a instrumentação também ganha um carisma especial - pois antes, o pilar principal era apenas a voz de Gerard. E, veja só! A canção apresenta até um bonito solo, que antecipa o momento mais soturno da música.

    "House Of Wolves" começa rápida e cai em velocidade nos versos, apesar da voz de Gerard, que inicia-se melódica, vai ganhando cada vez mais contornos agressivos, partindo novamente para a pancadaria. A canção conta inclusive com um momento quase heavy, com paradas para os berros animalescos do vocalista. Ele já apresenta a canção de forma reflexiva: "Bem, eu sei uma coisa sobre remorso/Porque eu tive bastante para dividir", e então começa a atacar a pessoa que tanto o faz sofrer, chegando a fortes versos como "Bem, eu acho que vou queimar no inferno/Todo mundo queima a casa agora".

    Vamos então para "Cancer", que é guiada grande parte por piano e voz, com o resto dos instrumentos surgindo apenas com o decorrer da canção. É uma música atormentada sobre alguém que descobriu que está com câncer, onde ele sente-se atormentado, juntando suas coisas, contando para a sua família, e não quer ser visto por ninguém, pois seus cabelos começaram a cair, e ele já conta os seus dias, com consciência que nunca estará por muito tempo com alguém. E clama "Isso não é viver/E só espero que você saiba/Que se você dizer adeus hoje/Peço que seja sincera/Pois a parte mais difícil disso, é deixar você". Uma das canções mas atormentadas da década.

    "Mama" surge do silêncio com o violão sendo insistentemente golpeado, e mostra-se uma canção cheia de sessões diferentes - desde o pseudo-reggae, passando pelo rock de riffs grandiosos, a voz e o piano, e até a pancadaria pesadona, onde mãe e filho parecem discutir, onde ele diz que deveria ter criado uma menina, e ela diz que ele deveria ter sido um filho melhor. E Gerard repete insistente, como resposta à sua mãe nessa troca de acusações: "Mamãe, nós todos vamos para o inferno". Até um vocal feminino com ar materno se faz presente na canção por um breve período, para exercer ainda mais a teatralidade.

    Vozes parecidas vir de um rádio acompanham um melódico piano na introdução de "Sleep" canção com um riff pesado e dramático, com Gerard desempenhando uma grande performance vocal, entre a calmaria e a raiva. E ele oferece um drinque pelo seu horrível momento, para as monstruosidades que ele fez, e sua "apatia inapológica", como diz a letra, totalmente indiferente ao perdão. E se pergunta como a pessoa ainda consegue chorar por ele. Pede para ela lhe dar um beijo de boa noite e dormir, porque ele não se sente mal a respeito disso. A canção vai tomando proporções cada vez mais dramáticas, com seu amargurado riff crescendo cada vez e Gerard berrando.

    Uma música com um título de "Teenagers" já dá para adivinhar como deve ser: com clima juvenil, com guitarras abafadas e dançantes, lembrando bastante uma das maiores bandas de glam rock, o T. Rex. O solo é o momento mais rock and roll do álbum. A letra, também bastante adolescente, fala sobre o eterno conflito de gerações, e a acusação que a mídia controla os jovens por medo deles - ainda ironizando os que se deixam influenciar, avisando "os garotos e garotas na moda/os nomes horríveis que eles usam/você não vai se misturar bem, rapaz" e interpretando no refrão os mais velhos gritando sobre o pânico que os mais jovens causam neles.

    "Disenchanted" é a música mais leve e acessível do álbum, mesmo não sendo single. Mesmo com as guitarras e bateria entrando e acrescentando mais vigor, a música continua com contornos pop - e mesmo não parecendo com a maioria esmagadora das músicas da banda, eles se saem muito bem! Soa como se o The Calling finalmente tivesse encontrado inspiração para fazer baladas não tão assassinas de diabéticos. Mas o "fator MCR" também dá um colorido na história, ainda que um colorido negro, cinzento e triste. Ele sente o momento chegando e pede para a pessoa amada sair dali, e ainda dizendo "outra música triste, com nada a dizer/sobre uma vida longa de espera para uma estadia no hospital/se você acreditar que estou errado, isso nunca irá afetar você".

    E chegamos à música final, "Famous Last Words", onde as guitarras surgem pausadamente, junto ao tom indignado da voz de Gerard. E então entra a parte mais pesada da música, ainda que cadenciada. Um hard rock mais lento, onde ele finalmente se despede, diz que não pode mais ser detido na sua volta para casa, e vê as luzes começando a brilhar. E entra o melhor solo do álbum, fazendo da canção a música mais Alice Cooper que uma banda que começou punk poderia produzir.

    E ainda tem uma canção extra, escondida, chamada "Blood", em um zoação com as músicas dos anos 50, com uma letra onde ele comenta da hipocrisia das pessoas e dos médicos, incentivando a total cooperação dele e determinando quando ele deve sorrir, mas no estágio em que O Paciente se encontrava, foi o bastante para proferir frases como "não consigo me controlar, pois não sei como sorrir" e "os médicos e as enfermeiras me adoram tanto/mas é meio preocupante porque eu sou um canalha".

    Um dos discos do ano, com certeza. Bem composto, com músicas muito interessantes, letras fortes, referências inusitadas e a ironia e melancolia de todo morimbundo. Pode não ser a maneira mais politicamente correta e positiva de falar da morte e da vida, mas sem sombra de dúvida, é bastante realista. Mostraram, assim como o Panic! At The Disco, que comercialismo e ambição artística podem casar muito bem, desde que a combinação seja realizada pelo grupo certo. Infindáveis horas de boa companhia - ainda que seja um disco que fale sobre a morte, de uma das bandas mais queridas da atualidade - ainda que seja carinho por um bando de caras vestidos de preto que não tem pudor nenhum ao tocar em um assunto em que as pessoas evitam...

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    posted by billy shears at 1:48 AM | 11 comments

    terça-feira, dezembro 12, 2006
    Matanza - A Arte do Insulto



    Um estranho no ninho. Quando querem pensar que a galera rockeira do Rio é de paz, sentimental ao extremo, terra do punk/hardcore melódico e sentimental, do Darvin, Forfun, Emo. e Ramirez, do mpb com samba com indie rock de letras mais sentimentais ainda do Los Hermanos... Surgem o vocalista Jimmy London, o guitarrista Donida, o baixista China e o baterista Fausto, sob o nome de Matanza.

    Fazendo um som destruidor sonora e liricamente, esse terceiro álbum de inéditas só reforça a idéia do que é o Matanza: uma banda que funde country, punk e hardcore de forma nem um pouco sutil, uma salada de Johnny Cash, Ramones, Toy Dolls, sem contar as referências particulares de cada um: Jimmy é fã de folk irlandês como The Pogues, Flogging Molly e The Dubliners, enquanto o guitarrista Donida não dispensa ouvir bandas de black metal como Nargaroth e Judas Iscariot. Em clima de Velho Oeste americano, as engraçadíssimas letras, repletas de humor negro e cinismo, também não são sutis: alcoólicas, anti-sociais, auto-destrutivas, briguentas e hedonistas. Essa fórmula já rendeu discos como "Santa Madre Cassino" e "Músicas Para Beber e Brigar", além do tributo "To Hell With Johnny Cash" que, apesar do título, homenageia o saudoso "man in black" em versões countrypunkcore. E para ofender ainda mais, o Matanza resolve ficar mais "core" ainda, e lançam "A Arte do Insulto".

    O resultado é o de sempre, e como também costumeiro, tocado com teor de novidade: como se Jason, Freddy Krueger, Leatherface, Michael Myers ou outro mau-encarado (ou mal-encarnado) do cinema resolvesse aprontar na terra do western spaggheti. A Globo nem cogitaria a ínfima possibilidade de ter usado o disco como trilha sonora da novela temática "Bang Bang". As senhoras ficariam por demais ofendidas e os espectadores jovens iriam postar no Orkut que preferem CPM 22 a "essa banda de rock pauleira"...

    O disco já começa inflamado com a faixa-título "A Arte do Insulto". Os instrumentos surgem pausadamente até entrar em uma porradaria insana. Jimmy solta voz contra alguém que não gosta nem um pouquinho, passando por versos como "Bebe demais/Fala demais/Mas na real não diz merda nenhuma" e "Só fica aí/Cheio de si/Mas não resolve as cagadas que arruma" até culminar no excelente refrão "Enquanto você fica aí arrumando tumulto/Eu vou me aprimorando na arte do insulto". Boca-suja e ensurdecedora, ao gosto dos fãs.

    "Clube dos Canalhas" tem versos mais lentos, com guitarras evidenciando o lado mais pesado da banda, um verdadeiro convite à bateção da cabeça. A letra, cara-de-pau e cínica, fala sobre todos os canalhas do mundo, caras infiéis, que querem "todo dia tudo isso que a vida tem de bom". O refrão ganha uma velocidade maior, em crescimento natural. Sem esquecer o poético verso "Farra para tudo é um bom remédio/Só um idiota completo morre de tédio"...

    E a bebedeira volta a dominar as paradas com "O Chamado do Bar", um hardcore porrada, frenético e insano, com poucos mais de dois minutos, e uma letra curta, que culmina com um refrão chamando a pessoa pro bar, com destaque para a educada e polida estrofe "Não devo nada pra ninguém/Bebo se estiver afim/Minha vida é minha/E a sua que se foda". Para ouvir quebrando o pescoço, de preferência bêbado.

    A próxima é "Sabendo Que Posso Morrer", uma retomada ao hardcore de melodias de country que consagrou o Matanza como uma das melhores do cenário nacional nos últimos anos. Na letra, um bêbado reflete sobre seu jeito auto-destrutivo de levar a vida, culminando no refrão "Coisas que eu faço sabendo que eu posso morrer/Coisas que eu faço na hora que penso em você". O lado mais romântico do Matanza, se bem que está muito mais para um caminhoneiro apaixonado do que para um emo tristonho.

    "Quem Perde Sai" é um testemunho punk sobre a jogatina - aposta, pôquer, e tudo mais. Jimmy mostra toda sua perícia como jogador, e também toda sua alta graduação em esculachar os seus semelhantes - basta conferir versos como "Aproveita agora pra fazer piada/Por que você vai sair daqui sem nada/E como você vai voltar pra casa,eu não sei". Divertidíssima.

    E o espírito de bad boy persiste... "Meio Psicopata" tem uma letra engraçadíssima, com um instrumental totalmente ensandecido em termos de velocidade fazendo jus ao título. O personagem principal da música não consegue aceitar reclamações, partindo logo para a porradaria. E mesmo assim, ele não assume a culpa: "É impressionante como eu nunca faço nada/É sempre a confusão que vem até aqui/Falo isso para o meu psiquiatra/Mas é claro, ele não entende". O solo é breve e simples, porém, empolgante.

    E a banda mostra ser mais anti-social o possível em "Eu Não Gosto de Ninguém", diminuindo a velocidade, mas redobrando o peso. A canção transborda fúria e rudeza, com Jimmy rosnando versos como "Eu nunca disse que faria o que é direito/Não se conserta o que já nasce com defeito" e o refrão "Eu espero que você entenda bem/Eu não gosto de ninguém". Desagradável? Ora, o próprio Jimmy já argumenta na letra: "Como se fizesse diferença o que você acha ruim/Como se eu tivesse prometido alguma coisa pra você".

    "O Caminho da Escada e da Corda" volta ao Velho Oeste, onde é contada a história de um condenado à morte. Mas o cara não está nem um pouco arrependido: "não importa o que aconteça/eu volto do inferno pra pegar todos vocês". Na letra, uma música mais cadenciada, mas ainda assim cheia de peso saindo pelas caixas de som, como um elefante sem pernas se arrastando (e falando um monte de palavrões...). "Não sinto remorso, muito menos medo/Não contei os mortos, não guardei segredo/Não existe nada em que eu acredite/A minha verdade era a dinamite". Redundante a piadinha, mas a música é mortal.

    "Ressaca Sem Fim" retoma a velocidade e o lado hardcore da banda, com guitarras carregadas. Jimmy mostra como é um bêbado consciente e irreparável. Quando é gritado o nome da canção no refrão, ela fica com um peso monstruoso. E ainda mostra a triste realidade dos caninhas profissionais: "Convivendo com a verdade do dia seguinte/As idéias que eram boas são insuportáveis/A mulher que era linda vai ficando muito feia/Os que eram meus amigos são apenas miseráveis". Pois é, tem gente que não tenta curar com água, e sim com mais gin...

    O ritmo frenético cai em "Tempo Ruim" com melodias evidenciando o western, apesar do lado punk da banda ainda se fazer fortemente presente. A canção tem um ar de despedida, uma pessoa que se despede de todos pois vai andar pelo mundo. E ainda temos direito a uma parte melódica, que começa falsamente bonita para terminar verdadeiramente cínica: "Quero que a estrada venha sempre até você/E que o vento esteja sempre a seu favor/Quero que haja sempre uma cerveja em sua mão/E que esteja ao seu lado, seu grande amor".

    Quando acabar, você nem de ressaca vai ficar, vai querer prolongar o porre que é ouvir essa coleção de pérolas. "Quem Leva A Sério O Quê?" não deixa a peteca cair. Detona quem adora discutir inutilmente, por pura encheção de saco. E Jimmy questiona no refrão: "Quem leva a sério o quê?/Quem quer saber de quê?/Quem pode me dizer/Como exatamente tudo deveria ser?". Poderia ser uma outra música educadinha sobre gosto pessoal, mas é um verdadeiro hino do "eu gosto do que eu quero e não venha encher o saco".

    "Whisky Para Um Condenado" é a última porrada do disco, com os tradicionais riffs contagiantes, bateria rápida e refrão mais empolgante ainda. Na letra, um cara que só tem meia hora de vida restante resolve compensar toda a sua vida até agora... Enchendo a cara! Aqui se fazem presentes versos geniais como "O pouco tempo que me resta/Que seja bem aproveitado/Não faço questão de festa/Mas quero estar embriagado" e "Adeus meu bom amigo/Adeus e muito obrigado/Espero beber contigo/No bar que há lá do outro lado".

    E, encerrando o disco, temos uma balada-folk-irlandesa com direitos à bandolins e um clima totalmente de velhos lobos-do-mar. Essa é a impagável "Estamos Todos Bêbados". A letra é uma das mais impagavéis que eu já tive a oportunidade de ler, onde presenciamos histórias como a de um açougueiro que decepou o próprio dedo ao trabalhar bêbado e a de um pescador que nunca consegue pescar nada por estar sempre embriagado. E um dos refrãos mais contagiantes dos últimos cinco anos: "Nós estamos todos bêbados/Bêbados de cair/E todos que não estiverem bêbados/Dêem o fora daqui".

    Rock alcoolizado, boca suja, anti-social, politicamente incorreto. Nem um pouco sentimental, nem um pouco leve, com nenhuma preocupação se o ouvinte vai ficar feliz, triste ou ofendido ao ouvir a banda e o novo álbum. Hegemonia emo? Não se depender do Matanza. Treze músicas em trinta e cinco minutos, produzidas por Rafael Ramos, um dos melhores produtores brasileiros, que só aumenta seu nível produzindo algumas das melhores bandas de nossa terra, estando o Matanza entre elas. Então, levantem seus canecos, caros amigos embriagados, e um brinde ao Matanza... E todos que não estiverem bêbados, dêem o fora daqui!

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    posted by billy shears at 8:46 AM | 10 comments

    sexta-feira, dezembro 08, 2006
    New York Dolls - One Day It Will Please Us to Remember Even This


    "A música tinha ficado muito empolada. Todos aqueles caras remanescentes dos anos sessenta estavam tocando em estádios, sabe como é, sendo tratados e agindo como se fossem gente muito importante. Não era rock and roll, era uma espécie de espetáculo que não passava de luzes e poses. Com os Dolls foi simplesmente como trazer a rua pro palco, entende?" (Richard Hell)

    "Eu era dellinqüente, e ali estava uma banda que parecia feita para mim." (Dee Dee Ramone)

    "Os Dolls criaram uma cena extraordinária e era a última moda ir vê-los. Assim, quando tocaram no Mercer Arts Center foi uma das raras vezes em que o lugar da moda era de fato o lugar certo pra se estar, porque era o melhor rock & roll em muito tempo. Rock & Roll de verdade." (Leee Childers)

    Little Richard foi o primeiro andrógino do Rock. Stooges, MC5 e Underground foram os precursores do punk. Mas sem os também americanos New York Dolls, nenhuma das duas tendências iria para a frente. Os britânicos David Bowie e Marc Bolan criavam bastante polêmica devido à aparência delicada e comportamento bissexual, mas os Dolls não causavam apenas polêmica - eles deixavam as pessoas em estado de choque. Quando surgiram, pareciam mais travestis pobres do que modelos da Vogue. Travestis furiosos. Homens de batons, descabelados, em roupas apertadíssimas. E tocando um rock dos mais inflamados.

    Com sua formação mais consagrada, eles tiveram em suas fileiras integrantes feito Billy Murcia (que durou pouco tempo na banda, morrendo de overdose na primeira turnê internacional, fazendo dele um dos primeiros mártires do rock) e Johnny Thunders (um dos junkies mais idolatrados de todos os tempos, também integrante dos Heartbreakers). E lançaram dois registros: "New York Dolls", de 1973 e "Too Much Too Soon" de 1974, que fizeram escola, inauguraram a cena punk novaiorquina (a "Blank Generation"). Mas como uma considerável parte dos discos mais influentes (o primeiro do Velvet Underground, o primeiro dos Stooges, o primeiro dos Ramones), os dois foram um fracasso retumbante. Mas quem ouviu, nunca esqueceu. A mistura do rock sujo dos Stones, do barulho ensurdecedor dos Stooges, dos elementos pop das girls groups, e a maquiagem de Bowie e Bolan até hoje impressionam as gerações posteriores.

    E, 32 anos anos após o último álbum, a saga continua. "One Day It Will Please Us To Remember Even This", lançado pela Roadrunner Records (algo inesperado, pois é uma gravadora essencialmente de Heavy Metal), é aquele mesmo rock endiabrado que conquistou Dee Dee Ramone, que fez Joey Ramone se vestir de mulher (cena esta que prefiro não imaginar), com toda a temática Rock And Roll que sempre cercou os Dolls - amor, festas, cigarros, bebedeira e a realidade nua e crua das ruas. O vocalista e gaitista David Johansen, os guitarristas Sylvain Sylvain e Steve Conte, a cozinha do baixista Sami Yaffa e do baterista Brian Delaney, com o tecladista Brian Koonin completando o line-up produziram outro álbum de rock and roll cru e feroz de dar gosto - só que ao invés da vivência da violência, caos e substâncias ilícitas, entra a experiência - as crônicas urbanas da caótica New York retratada em suas letras e filmes como "Taxi Driver" ganham uma profundidade extra - se antes servia como uma denúncia, hoje torna-se um documentário bem primal e áspero.

    "We're All In Love" é introduzida pelo baixo, até que os outros instrumentos começam a entrar também, incluindo uma ótima gaita de Johansen. O melódico refrão já acontece antes do primeiro minuto completar-se e cai naquele rock supersônico que doutrinou tantos. A divisão de melodia e aspereza torna a música muito interessante, e a voz sempre desafiadora de David continua sendo um dos "algo a mais" dos Dolls após mais de três décadas. Simplesmente irresistível o refrão.

    A seguinte é "Runnin' Around", um rock cheio de balanço, tipicamente Stoniano, influência que as bonecas de Nova Iorque nunca negaram. Os backing vocals de Sylvain estão muito bem encaixados, repetindo o nome da música em alternância ao vocal de David. Exceto se a pessoa for surda ou tiver um coração de pedra, a canção contagia qualquer um. Uma das melhores do novo disco.

    "Plenty Of Music" é introduzida por guitarras e bateria freadas e teclado em destaque, revelando uma música mais cadenciada, que ao seu decorrer vai ganhando mais vigor, com boas harmonias vocais. David é bem eclético em matéria de vocalizações, com sua voz servindo tanto para porradas quanto para músicas mais lentas.

    A pancadaria volta em "Dance Like A Monkey", com um início tão tribal que tem direito até a sons de macacos. Após versos mais lentos, a música ganha grande velocidade e força no refrão, com backing vocals falseteados que acompanham David pedindo para as pessoas dançarem feito macacos. As guitarras são contagiantes, e a parte em que a bateria ganha seu momento solo junto aos backing vocals e outro belo complemento para essa música literalmente selvagem.

    "Punishing World" é mais rápida que a anterior - pois já inicia dessa maneira. A dupla de guitarras manda bala enquanto a voz incessante de David se faz ouvir. E aí entra um dos melhores refrão de todo o álbum, que mesmo sendo apenas o nome da música repetido à exaustão, é dito com intensidade - característica esta que também se encontra no instrumental. A música mais curta do álbum, com pouco mais de dois minutos e meio.

    É ouvida "Maimed Happiness", uma balada. A música até ganharia mais destaque se fosse melhor posicionada, pois quebra todo o clima da pancada anterior... É uma balada pop básica, com refrão que cresce, piano em destaque, a parte de cordas acompanhando, e o vocal de David tentando soar meloso. Não fede, nem cheira.

    Então entra "Fishnets And Cigarettes", que retoma a eletricidade, mesmo tendo passagens mais melódicas, ainda assim traz um refrão contagiante ao estilo que tantos gostam na banda. Um meio-termo entre a pancada e a melosidade, com aquele toque roqueiro tão típico da banda, que faz o solo de Sylvain ganhar destaque, pois é muito bem executado. Refrão chicleteiro para sair cantarolando.

    "Gotta Get Away From Tommy" é introduzida pelo piano soando altíssimo, que logo dá destaque para as guitarras surgirem e começarem a apostar corrida. A música é uma das melhores do álbum, e o refrão justifica isso - aquela cruza de Stones e Bo Diddley que a banda soube eternizar com maestria. Quando a música cai de ritmo, é apenas para as guitarras começarem a rugir e voltarem para o ataque. Para quem gosta de Rock, é indispensável.

    Com quase o dobro da duração da anterior, "Dancing On The Lip Of A Volcano" começa com teclados soando ambientais, até que entras as guitarras e o vocal de David, que vão ganhando consistência até cair numa estrutura lenta, mas dançante; melodisa, porém elétrica. Para dançar mais devagar, mas nem por isso dançar menos - isso é New York Dolls, cara! E como é bom saber que 32 anos depois, com seus integrantes sobreviventes estando entre 50 e 60 anos, ainda sejam elétricos o suficiente para honrar as notas que tocavam no início de sua carreira.

    "Ain't Got Nothin'" é outra balada, iniciada por uma gaita e os vocais desprentesiosos de David. Como era de esperar, é uma música com refrão mais intenso que o resto da canção, mas pelo menos o refrão dessa soa mais grudento, com uma letra até reflexiva. Eles vão diminuindo o ritmo de forma gradual, ao contrário da balada anterior. O que a torna relaxante de ouvir.

    E o agito volta em "Rainbow Store", essa mais dançante que outra coisa. E o refrão é inflamado - a bateria cresce, o vocal é mais imposto, as guitarras ganham peso. E o resto da canção não deixa a desejar... Quem gosta de Rock, vai acabar levantando-se para dançar. Afinal, Rock And Roll causa esse tipo de reação nas pessoas. E os Dolls são legítimos representantes do mesmo.

    "Gimme Luv And Turn On The Light" é outro rock safado, com guitarras rugindo, harmônica soando alto, com ótima performance na bateria por parte de Delaney. O ritmo às vezes ameaça cair... Para logo a pancadaria das boas voltar... Impossível ficar indiferente. Ou você adora e começa a botar os demônios pra fora, ou foge assustado de tamanha montanha de barulho. Cá entre nós, a coisa sempre melhora quando eletricidade e adrenalina são postos na receita...

    O álbum é encerrado com "Take A Good Look At My Good Looks", música stoniana, com guitarras bluesy tão ao gosto de Otis Reding e Sonny Boy Williamsom. Aos poucos, a música assume contornos de balada, mas ainda destilando belas melodias de guitarra - o que a torna a melhor música lenta do álbum, e com um refrão grudento. Não tenho o que reclamar da última canção... Excelente!

    Se valeu a pena esperar? Se não está tão bom assim porque não tem Johnny Thunders ou Jerry Nolan? Convenhamos, é um lançamento histórico. Os Dolls já haviam voltado faziam dois anos, mas eles lançarem um álbum de inéditas é algo melhor ainda que um retorno. Bom saber que mesmo após três décadas, mesmo todos estando bem mais velhos, ainda são os mesmos bad-boys, originários das ruas podres e decadentes da Grande Maçã, vestidos em roupas apertadas e duvidosas. O título diz tudo. Obrigado David e Syl por relembrarem essa festa de rock and roll setentista em pleno ano de 2006, e não serem apenas uma banda retrô... E sim uma das originais.

    "HEY, YOU STUPID MOTHERFUCKERS, GET UP AND DANCE!"

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    posted by billy shears at 5:37 PM | 11 comments

    quinta-feira, dezembro 07, 2006
    Bob Dylan - Modern Times


    Um dos fatos mais cruéis em nossa condição de humanos é a passagem do tempo. O tempo tira seus amigos, te ensina lições, deixa marcas indeléveis em sua personalidade. Se há 40 anos atrás você, apesar de refletir sobre a vida, ainda caía na fanfarra e no hedonismo, as quatro décadas mudam radicalmente sua vida. O ambiente a sua volta muda. A sua aparência muda. Alguns assuntos pelos quais você se interessa também mudam. É o amadurecimento que as décadas de sobrevivência a um mundo caótico e mutante trazem, que também faz sua maneira de encarar o mundo mudar. Você continua com o mesmo nome, mas se suas opiniões não forem substituídas por novas, elas ganharão novas perspectivas.

    Na música contemporânea, isso é uma verdade e tanto, especialmente para homens feito Bob Dylan. Conhecido inicialmente como o maior ativista político do mundo da música na década de '60, legítimo herdeiro e discípulo da "máquina de matar fascistas" Woody Guthrie. De músicas como "Like A Rolling Stone" e "Knockin' On Heaven's Door" e discos feitos "The Times They Are A-Changin'", sua perspectiva de mundo foi mudando. Ele viu os Beatles acabarem, os Rolling Stones perderem Brian Jones, perdeu seus amigos e ídolos feito o próprio Guthrie, George Harrison, Johnny Cash e Roy Orbinson, viu Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Doors nascerem e desaparecerem e teve a importante passagem de Joan Baez em sua vida. À medida que envelhecia, o 'homem de preto' Johnny Cash conversava amargamente com o ouvinte sobre a morte que se aproximava. E Dylan, totalmente fora da velocidade desses tempos modernos, leva cinco anos para registrar esse "Modern Times", onde ele prossegue escrevendo suas experiências que cada vez mais aumentam o legado que ele deixará quando um dia ele resolver partir. A velocidade não importa mais. Como disse seu último registro do século 20, o tempo está fora da mente.

    "Thunder On The Mountain" abre o disco pausadamente, até tomar substância e transformar-se em mais um folk tão característico de Bob Dylan, com seus quase seis minutos e habitual letra gigantesca. O primeiro verso já denuncia uma visão apocalíptica "Raio na montanha, então há fogo na lua", sinceramente sobre si mesmo e a forma como vê o mundo, até descambar na estrofe "Todos estão indo e eu quero ir também/Não quero ter uma chance com alguém novo/Eu fiz tudo o que pude, eu fiz isso certo e então/Eu realmente confessei, não preciso confessar de novo".

    A próxima é "Spirit On The Water" tem o ritmo com um pé no freio, em uma linda (e comprida) canção de amor com um clima até inocente em sua parte sonora. A canção é extremamente reflexiva, e porque não dizer, amarga até. Uma perspectiva realista, que Dylan sempre colocou nos seus discos, fazendo questão de dizer que o amor não é sempre algo justo ou prazeroso. Mas a canção ainda apresenta certa felicidade, pois não se chega aos 65 anos com um coração de pedra.

    "Rollin' and Tumblin'" destoa da anterior, pois Dylan injeta eletricidade no seu folk (sua ousadia sonora tão odiada inicialmente) e acrescenta mais velocidade na mistura. A letra mistura amor e raiva, tempo e romance, tristeza e promessas de felicidade, numa das características crônicas sonoras do músico que nem sempre paixão é um sentimento normal, puro e intocável, justificado e previsível. "Eu levantei essa manhã, vi o sol nascente retornar/Bem, eu levantei essa manhã, veja o sol nascente retornar/Mais cedo ou mais tarde, você merece queimar", canta Dylan em um dos versos mais impactantes.

    Então, o clima cai de novo na delicada balada "When The Deal Goes Down", onde em uma contraposição à anterior, o amor volta, em meio a uma letra ambientada nesse mundo moderno que, se retirarmos a tecnologia crescente, não tem muita diferença do anterior - os costumes e valores mudam lentamente, e o hedonismo e vontade de "viver rápido para morrer jovem" não atinge a todos. É o cara que ainda dá uma rosa quando poderia mandar um buquê virtual por email. É a chuva noturna que segue o trem, que assim como Dylan ainda está nos trilhos impassível com a passagem do tempo, recebendo uma chuva já detectada meterologicamente.

    Seguimos então com a quinta música, "Someday Baby", onde senhor Zimmerman, sem a melodia da anterior, mostra ao ouvinte outro folk de respeito, dissecando relacionamentos que se desgastam com o tempo, apesar de ainda amargarem ambas partes, como se podem ver em versos como "viver desse jeito não é uma coisa natural de se fazer/por que eu nasci para amar você?/algum dia, baby, você não se preocupará mais comigo".

    "Workin' Man Blues #2" é iniciada por uma das melhores presenças do piano em todo o álbum, que logo dá espaço para a voz de Dylan. Uma letra extremamente observadora, onde vemos que o espectro político de Dylan ainda não se enterrou totalmente, apesar de ultimamente dar maior lugar para as reflexões pessoais. Uma das críticas mais fortes por parte de Bob se encontra em um dos últimos versos "Tenho uma vestimenta nova e uma vida nova/Eu posso viver de arroz e feijão/Algumas pessoas nunca trabalharam um dia em suas vidas/Não sabem nem o que trabalho significa". Mesmo assim, o personagem da canção está mais para um inconformado amargurado do que um inconformado revoltado.

    Vamos para "Beyond The Horizon", com seu clima até meio feliz, com uma melodia mais feliz que triste, apesar de lenta. Apesar de todo o conteúdo lírico que nos apresentou até agora, como já disse, Dylan ainda tem esperança, aqui representada pelo refrão mais ensolorado: "Além do horizonte/Na primavera ou no outono/O amor espera para sempre, para um e para todos". Particularmente falando, uma das minhas favoritas.

    "Nettie Moore" apresenta uma ótima performance do pandeiro, ainda que de forma discreta, onde uma percussão lenta e fixa guia a música, que aos poucos ganha melodias emocionantes, e a auto-análise continua a acontecer em "Eu sou o filho mais velho de um homem louco/Eu estou numa banda cowboy/Tenho uma pilha de pecados para pagar e não tenho tempo para esconder/Eu teria andado através do fogo, baby, se soubesse que você estava do outro lado". Cheia de personagens que ganham vida nas crônicas de Dylan para povoar as memórias que ele transforma em música. A música é contida, mas é outra das melhores.

    O álbum vai se encaminhando para o final quando ganha velocidade de novo em "The Leeve's Gonna Break", onde a percussão apesar de reta apresenta maior ritmo, e os acordes repetidos servem de base para que Dylan cante em uma lírica tipicamente viajada e experiente, perfil de letra que Dylan tanto ajudou a personificar. Um refrão bem marcante para uma coisa que também é marcante e não percebemos - o cotidiano, o corriqueiro.

    E "Ain't Talkin'" é a encarregada da vez de encerrar o álbum, com seus quase nove minutos. O piano inicia a canção, até que o vocal entre, e por sua vez, entram também violão, pandeiro e percussão. Dylan parece amargurado, em silêncio, mas ainda gritando por dentro, com o coração ainda queimando. Apesar de afirmar que o sofrimento é inacabável, ele ainda procura chances para redimir. Tocantes melodias permeiam todo o conjunto. Com certeza um grande encerramento.

    É certo que a juventude atual é bem diferente da juventude de quarenta anos atrás - o que torna Dylan mais que um revolucionário, ativista, ou herdeiro da máquina de matar fascistas. Ele se tornou um grande personagem sobrevivente do pop. Ele não pereceu e adquiriu a condição de mártir, e assim como Paul McCartney, continuou fazendo sua música, nem tão revolucionária nesses dias onde a música é desconstruída e reconstruída a cada lançamento, mas com certeza de valor histórico inegável; a lembrança que os dinossauros ainda caminham pela Terra. E tem tantos sentimentos quanto os seus sucessores e descendentes. E isso se aplica a qualquer disco que Dylan, McCartney e os Stones venham a lançar - já ganha o status de marco. De coragem, de autenticidade e recompensa por tantos anos de ganhos e perdas, sorrisos e lágrimas. A velhice também faz parte do ser humano, e Dylan demonstra isso aqui... E após 44 anos de discos e mais discos, Robert Allen Zimmerman ainda tem muito a dizer, com palavras que ganham um significado maior a cada ano que se passa - feito uma pedra rolante.

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    posted by billy shears at 12:04 AM | 7 comments

    segunda-feira, dezembro 04, 2006
    Cat Power - The Greatest


    Chame-a como quiser. Charlyn Marie Marshall, Chan Marshall, ou como é melhor conhecida, Cat Power. O que importa é que há 11 anos essa garota vem fazendo música leve e emocional, doce e atormentada, cantando e tocando guitarra e piano, com algumas contribuições para dar mais cor ao álbum. Cor esta muitas vezes cinzenta. Mas agora, em 2006, o dourado e o rosado da capa já parecem querer denunciar algo novo no ar.

    "The Greatest", lançado pela Matador Records, é um trabalho que se afasta bastante daquilo que o Cat Power fez antes, nos ótimos "You Are Free" e "Moon Pix". Chan pode ter feito as pazes com seus fantasmas... Ou não. Cheia de raízes negras conquistadas em Memphis, gravada no Arden Studios ao lado da formação Teenie Hodges (guitarra), Leroy Hodges (baixo) e Steve Potts (bateria), todos estes medalhões do Memphis Rythm Band, responsável por gravações de lendas do jazz e do soul feito Al Green e Booker T. & The MG's. Também tem suas pinceladas de country e alt-country, mas não cai na chatice feito outras bandas do gênero.

    O álbum é iniciado pela faixa título "The Greatest", com um piano desarmador e uma ótima cozinha. A voz de Chan dá um colorido para a música, falando sobre uma pessoa que um dia quis ser a maior de todas, a mais durona e racional... Mas que deixou levar-se pelos sentimentos. O refrão tem grande beleza e é bem acessível. Uma ótima balada para abrir o álbum.

    "Living Proof" é outra que mostra como Chan Marshall acertou a escolher os músicos. Iniciada por uma bateria vigorosa, é acompanhada por um piano e uma performance com ar positivo de Chan, onde ela destila todo seu potencial melódico. A letra é bem reflexiva, falando sobre relacionamentos e ciúmes. Uma das melhores do álbum, e também uma das mais acessíveis.

    A próxima é "Lived In Bars" que freia um pouco o ritmo da anterior, levada principalmente por voz, piano e bateria. Mas instrumentos de sopro surgem discretamente, contribuindo com novamente outra boa música. A letra é nostálgica, e a música cresce durante seu decorrer, e Chan canta "Nós vivemos em bares/E dançamos nas mesas/Hotel, trens e barcos que navegavam/Nós nadamos com tubarões/E voamos com aviões no ar".

    "Could We" parece tornar o álbum uma alternância. Com vigor de bateria e guitarras, exercendo um ritmo repetido, enquanto Chan e seu teclado compõem um clima doce e romântico, e também feliz; a música mais feliz do álbum, e quem sabe do Cat Power, falando do encontro de Marshall com um garoto, com a conseqüente despedida no final e a promessa de se encontrar de novo.

    A quinta música "Empty Shell" mostra o quanto a música de raiz vem afetando a sonoridade Chan. Uma pérola adocicada, apesar da letra, que fala sobre o fim de um relacionamento, que só parece trazer alguma satisfação porque o mesmo enquanto durava, oprimia os dois, como se vêem nos versos "mas eu não te conheço/e eu não preciso de você/e eu não preciso mais de você".

    "Willie" é a canção mais longa do álbum, beirando os seis minutos, com vocais baixos e por vezes agudos por parte de Marshall, com uma das melhores melodias de piano do conjunto; e ela conta uma história recheada de personagens; os namorados Willie Deadwilder e Rebbeca, o compositor John... E ela mesmo, pedindo que não a deixe triste nem a deixe ir, porque o coração dela é muito inseguro. Apesar de não ser a melhor do álbum, transpira beleza.

    E ouvimos agora "Where Is My Love", outro destaque no piano, com uma letra simples e romântica; com um vocal despretensioso e emocional; onde ouvem-se os versos "Onde está meu amor/Cavalos galopando/ Trazendo ele para mim"; e assim vai, sem muitas variações. A mais romântica do álbum, e apesar de ser uma das mais lentas, com uma das letras mais positivas.

    Talvez Chan ainda não tenha feito as pazes com ela mesmo totalmente. "The Moon" é guiada por bateria e teclado, que abrem espaço para o vocal de Marshall cantar sobre uma reflexão que ela chegou: "A lua não é apenas bonita/Ela está aqui para ficar/A lua não é apenas gelo frio/Está aqui para ficar". Sincera como sempre foi, e mais simples, dando sinal de que os discos anteriores ainda permanecem vivos na memória da cantora.

    "Islands" é iniciada por uma frase dita por uma voz masculina, que logo dá espaço para uma canção que vai mais no ritmo do álbum, em uma canção que nem dois minutos dura, onde Chan, romântica feito nunca, declara "Eu não quero diamantes pesados/E perólas para enfeitar meus dentes/Eu apenas quero meu marinheiro de volta para mim". Incrivelmente inocente.

    A próxima é "After It All", também mergulhada e nadando no clima do álbum, com grande presença de todos os instrumentos, com um clima lento porém animador, com assobios de fundo. "Depois de tudo isso/Quando isso está dito e feito/Você vai voltar para mim/E me dizer isso/Isso nunca vai acabar para mim ou para você", diz a letra. Quanto à performance de Chan... Não preciso nem falar. Ela é uma das que provam definitivamente que não são apenas vozeirões que valem a pena ouvir; as vozes baixinhas e doces, feito a dela, também são um imenso prazer de se escutar.

    "Hate" é um retorno à melancolia que tanto a marcou. Marcada por acordes repetidas e por uma forte letra, onde Marshall conta uma história sobre uma garota que se autodestruiu, que talvez seja ela mesma. "Você acredita que ela disse isso/Você acredita que ela repetiu isso/Eu disse Eu me odeio e quero morrer e eu/Eu disse Eu me odeio e quero morrer". Uma das composições mais fortes de todo o álbum, mesmo sendo lenta, arrastada, sem nenhuma distorção ou sujeira. Apenas um acorde repetido e um vocal intenso, porém cantado de forma frágil.

    E chegamos ao final com "Love & Communication", a mais Rock de toda a bolacha. Aqui aparece um belo trabalho da banda, compondo um clima crescente, com direito até à guitarras um pouco mais pesadas (ou um pouco menos leves?) para dar um diferencial, fazendo a música ter alguma variedade. E a letra, quase uma contraposição da anterior, combina com os crescimentos rítmicos que a música toma por vezes; pois transborda amor, de duas pessoas que não conseguem ficar separadas senão ficam arrasadas, e quando voltam a se falar, as cores voltam a existir.

    Exceto para os mais radicais, este disco não choca em nada. É um sucessor natural de "You Are Free" de três anos atrás, e como boa artista que olha para frente quando compõe, Chan acrescenta variações, gera uma obra multifacetada mas que você sempre sabe o que vai ouvir: sentimentos expostos sem nehuma vergonha, na cara dura para quem quiser ouvir. Agradáveis ou não, realistas ou românticos, características essas que formam uma mais forte: vida. Do amor ao ódio, da felicidade à tristeza... "The Greatest" tem tudo isso, vividamente sincero. Só nos resta agradecer à Chan por mais um companheiro de momentos solitários ou romanticamente acompanhados. Aproveitem.

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    posted by billy shears at 2:56 AM | 11 comments

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