A passagem de uma banda tão grande assim não poderia ser simplesmente desprezada. O Pearl Jam é uma das únicas bandas sobreviventes da cena Grunge, ao lado do Mudhoney. Nirvana e Alice In Chains acabaram devido à morte de seus ídolos, o Soundgarden acabou há exatos dez anos por motivos musicais, e o vocal Chris Cornell após tentar uma não muito bem sucedida carreira-solo, resolveu integrar o Audioslave junto aos ex-instrumentistas
do Rage Against The Machine. O Stone Temple Pilots também foi pro saco, afinal já é de conhecimento de todos que Scott Weiland foi tocar Hard Rock junto com ex-membros do Guns N' Roses... Bandas pós grunge também não estão em uma situação muito boa:O Bush foi pro espaço e o Silverchair está há uns dois ou três anos parado. Bandas estouradas que baseavam seu som no grunge como o Creed estouraram e viraram cinzas... Aí que você percebe a sorte do Pearl Jam. E responsabilidade.
Apesar de estar a quatro anos sem lançar nada de novo (os últimos lançamentos foram a coletânea de B-Sides "Lost Dogs", o ao vivo "Live At Benaroya Hall" e o 'best-of' "rearviewmirror"), o Pearl Jam está mais vivo do que nunca, rodando o mundo e levando sua múisica ao encontro dos fãs. E consegue uma fama tremenda mesmo sendo a banda polêmica que é, com clipes sendo contado nos dedos, proibindo a MTV americana de exibí-los, não dando entrevista, raramente tocando em programas de TV (normalmente no David Letterman), arranjando encrenca com a Ticketmaster por ela deixar os ingressos muito caros...
E com isso, o primeiro disco "Ten" é o único disco que pode ser considerado sucesso comercial da banda. Ao lado do sucessor "Vs.", eu considero o melhor da banda. A formação da banda se mantém quase intocada até hoje, sendo nesse disco a voz de Eddie Vedder, as guitarras de Stone Gossard e Mike McCready, e a cozinha do baixista Jeff Ament e do batera Dave Kruse (substituído logo após gravar o álbum por Dave Abbruzeese, e este sendo substituído por Jack Irons, um ex-Red Hot Chili Peppers, e logo depois Jack sairia no disco "Yeld" para dar lugar a Matt Cameron, ex-batera do Soundgarden). Ainda temos a presença extra de Tim Palmer na percussão, Rick Parashar no orgão e no piano e Walter Gray no cello (instrumento também utilizado pelo Nirvana em uma música ou outra do "In Utero").
As letras declamadas e poéticas de Vedder são um grande destaque do disco, tratando de temas como questionamento pessoal, amor, problemas sociais... Tudo envolto em uma camada sonora em que se ouve ecos de Ramones, The Doors, Neil Young entre outros nomes consagrados.
O disco abre em um clima calmo, com uma leve percussão, numa sonoridade quase tribal, até que a música cresce e vira a vigorosa "Once", com um vocal meio rouco de Eddie Vedder e inspiradas bases de guitarra, numa letra um tanto quanto saudosista de uma vida tranqüila e um olhar de desprezo aos novos dias, o que se encaixa perfeitamente no contexto abordado pelas bandas grunge.
"Even Flow" mantém o clima do disco, em um rockão agitado e sustentado por belas melodias e uma pegada bem marcante da cozinha. A letra fala de alguém perdido na vida, pelas ruas, melancólico. Também há críticas a fé cega ("Ajoelhando-se/Olhando para o papel/Apesar de não saber ler/Rezando/Agora para algo/Que nunca mostrou nada para ele"). Outra canção que eu encaixo na categoria "pulsante", por acalmar o instrumental em certas passagens para logo voltar com tudo no refrão. Uma das melhores da banda!
Vem aos nossos ouvidos então o clássico-mor da banda, a magnífica "Alive", que tem um riff doce e belo, sendo emendado pelo vocal de Eddie, que mostra ser um grande cantor, ou ao menos, que passa muito sentimento cantando suas músicas, declamando uma letra que parece ser uma confissão, um pedido de desculpas, um conto de uma história triste, mas que o eu lírico conseguiu se sobressair, no refrão cantando cheio de esperança por Eddie Vedder e que já grudou na cabeça de onze entre dez fãs de grunge: "Ooooh, eu ainda estou vivo..." E para complementar, a música ainda tem um solo inspiradíssimo, coisa de cair o queixo mesmo! Eu considero um dos dez melhores solos de Rock And Roll da década de 90 (os outros nove eu revelo outro dia...). Resumindo: Clássico não é clássico apenas porque recebeu esse título, é porque a banda soube fazer algo que merecesse!
Dá seguimento a feroz "Why Go?", com guitarras agitadas e um vocal de Vedder que chega quase a rasgar em alguns versos, e alcançar uma bela melodia em outros. Solidão novamente é a tônica da letra, descrevendo alguém que todos julgam doente e igual aos outros, mas esse alguém não concorda com isso, resolve ser diferente, não acreditar que seja doente apenas porque os outros dizem. Outra música com um refrão chicletudo, mas que não virou clássico, apesar de ter cacife para tal!
A música termina dando um espaço quase imediato para a clássica baladona "Black" ("A" balada dos anos 90), com belas e melancólicas guitarras e um vocal limpo e emocionado por parte de Eddie. Ele olha tudo à sua volta, achando todas as coisas tremendamente vazias, porque a pessoa amada não está presente na vida dele, e agora tudo parece estar sendo tatuado de preto aos olhos dele. E qual o fã de Pearl Jam que não vai concordar comigo que a parte em que Vedder canta "Eu sei que um dia você terá uma vida maravilhosa/Eu sei que você será uma estrela/Mas no céu de um outro alguém/Mas por quê?/Oh, por que não poderia/Por que não poderia ser no meu?" desesperado e transbordando de tristeza não é de arrancar lágrimas até de quem tenha o mais duro e impenetrável coração de pedra?
"Jeremy", o terceiro clássico que vem aos nossos ouvidos, diverge totalmente da anterior, tratando sobre um caso de Bullying. As guitarras repartem riffs e bases inspiradas, e a bateria aqui está com uma pegada contagiante. Jeremy era um garoto que vivia em seu próprio mundo, desenhando figuras de um mundo onde tudo era perfeito e nada nem ninguém o fazia sofrer. A situação de bullying fica clara no verso "Eu lembro, claramente/Perseguindo o garoto... Parecia uma sacanagem inofensiva!/Mas nós libertamos o leão". Somado ao fato de que seus pais não lhe deram atenção, Jeremy foi até a sala de aula e cometeu suicídio na frente dos colegas (pelo menos é a idéia que a letra e o clipe passam). Em uma triste ironia, Eddie revela que um dos poucos momentos que Jeremy parece ter falado com alguém foi esse momento crítico e trágico: "Jeremy falou na aula hoje...", repete ele melancólico.
"Oceans" é outra música belíssima, carregada pelos violões de Stone e Mike, e uma leve percussão, somado a um ótimo vocal de Vedder, cantando com uma voz meio distante. Eddie fala como alguém estivesse sentado, olhando para o oceano, pensando e refletindo na vida, com uma tremenda esperança de dias melhores.
O agito volta em "Porch", onde nota-se uma certa veia punk da banda, numa canção com guitarras que contrapõem momentos melodiosos e ferozes, com Vedder super indignado: "Para que porra esse mundo está indo?/Você não deixou uma mensagem/Ao menos eu poderia ter aprendido sua voz pela última vez/Campo minado diário, essa poderia ter sido minha vez, e você?/Você me atingiria?". Uma grande música, que mesmo desconhecida do público, tem seus méritos.
"Garden" é uma canção melódica, com um vocal novamente distante, meio sumido até, onde o grande destaque fica por conta da letra, que incentiva a luta e não desistência. "A desistência da alma/Estonteantemente rápida/Eu não questiono nossa existência/Eu apenas questiono nossas necessidades modernas". Não há grandes variações de melodias, mas ainda assim, a melodia que sustenta a música é muito bonita.
"Deep" tem o riff e o refrão mais pesados do cd, com Eddie repartindo vocais calmos com outros mais rasgados e animalescos, falando sobre alguém que sempre foi considerado um nada por todos e agora parece querer se vingar. Apesar de não gostar muito da descida de ritmo que há em certa passagem da música (com apenas ruídos da guitarra, o vocal de Eddie e a bateria repartindo espaço), a música compensa por seus momentos agitados. Também há nitidamente a melhor perfomance de batera no cd, mostrando que Dave Kruse mesmo sendo desconhecido tem seu valor como instrumentista.
O álbum fecha com "Release", com melodias doces e esperançosas de guitarra repartindo espaço com uma bateria calma e um vocal carregado de Eddie. Todos os fatos apresentados do álbum parecem vir à cabeça do eu lírico, em uma letra emocionada ajudada por um vocal cheio de sentimento. Mesmo não sendo nem clássico, nem uma música conhecida da banda, cumpre seu papel de fechar um dos álbuns definitivos da década de 90 com chave de ouro. Ah sim, ainda tem a passagem tribal "Master/Slave", que chega a ser hipnótica.
Com certeza, um grande disco, que todo fã de Rock deveria ter e ouvir pelo menos algumas vezes por ano. O Pearl Jam mostra ser uma banda de cacife. E um álbum quase perfeito desses daria espaço para "Vs.", esse muito próximo da perfeição. Mas isso é assunto para outra resenha. Quem sabe qualquer dia desses!
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7 Comments:
falaram tdo o/
não há nada o que comentar haisuahsiuahsiahsa
=°°°°
Ebaa! =D a resenha q eu pedi tá ai! hsuahsuahs
Realmente, disse tudo, não há o que comentar... esse disco é simplesmente foda, um clássico.
quero que o PJ volte pro Brasil pois eu não fui em nenhum dos shows ;_;
bjo!
=*
Massa essa Resenha, to baxando esse CD por causa dela.....
muito boa a resenha, e esse álbum é um dos melhores que eu já ouvi, inclusive foi por ele que eu conheci pearl jam, e comecei a me interessar por música de qualidade.
stone temple pilots é do caralho! vai desgraça atualiza agora
eu queria ter ido no show, pearl jam é muito bom
ahh eu queria tanto ter ido ao show ver a gegrunzada chorando ouvindo black!
e agora tá na hora de fazer resenha de um outro disquinho de 91, da capa bonitinha cor-de-rosa, hein =D
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