Os irlandeses do My Bloody Valentine seguem aquela cartilha clássica de banda desconhecida pela maioria, mas amada e louvada por seus poucos conhecedores. De importância tremenda no Rock Alternativo, mesmo durando apenas dois álbuns e alguns EP's, quando a banda resolveu lançar "Loveless" eles não eram uma banda tão nova assim: já mantinham atividade desde 1985 e o disco "Isn't Anything" havia conquistado uma certa fama para o grupo e mais reconhecimento para a gravadora Creation, que também foi responsável por lançar ao mundo nomes como Jesus And Mary Chain e Primal Scream.
"Loveless" foi lançado em 1991, no auge da explosão da cena grunge - diga-se de passagem, muitas bandas alternativas como o My Bloody Valentine foram beneficiadas (em matéria de reconhecimento) com o sucesso do Grunge em transformar referências antigas em algo ainda não visto. Do início ao fim, a formação da banda se manteve quase inalterável: Kevin Shields e Bilinda Butcher repartindo vocais e guitarras e a cozinha da baixista Debbie Googe e do batera Colm O'Ciosing. Digo quase porque eles tiveram o vocalista Dave Conway, que cantou na banda até 1987, não chegando a gravar nenhum "full-lenght" com a banda.
Para quem espera ouvir algo com pretensões de genialidade, estará enganado: o álbum viaja em cima de distorções, melancolias e letras extremamente pessoais. As melodias das músicas entre si chegam a quase parecer em certas faixas, porém o que não chega a comprometer. Isso refletiria o comportamento da banda no palco, que viria a ficar famoso, o "estilo Shoegazer" - pouco se importando com a reação ou participação do público, quase que tocando as músicas voltados para si mesmos, "olhando para os próprios pés". Egocentrismo? Não os condeno - há artistas muito mais egocêntricos que fazem questão de cativar o público. E o My Bloody Valentine conquistava por seu romantismo e tranquilidade.
"Only Shallow" abre o álbum, demonstrando uma banda de guitarras pesadas, mas com certo apelo melódico, e passagens mais suaves para o vocal de Bilinda cantar a letra sobre uma garota que não parece ligar para nada, apenas dormir feito uma rainha. Apesar de uma técnica relativamente simples, Colm mostra ser bastante vigoroso na bateria. Sem dúvida, os grandes destaques da canção são as guitarras, que apresentam ótimas melodias, tanto quando pesam, tanto quando suavizam o som.
Segue-se com "Loomer", com guitarras menos melódicas que a anterior, denotando algo um pouco menos suave - mais áspero, talvez? - mas que ainda apresenta melodias cheias de sentimento, em meio a um mundo de distorção e barulheira. É descrito um lugar que parece não ser querido pelas pessoas normais: "Little girls/In the party dresses/Didn't like/Anything there/Pretty boys/With their sunshine faces/Carrying their/Heads down". É relativamente curta, não chega a ter nem três minutos, com os vocais de Bilinda se sobressaindo na canção.
"Touched" é uma instrumental de quase um minuto, com leves distorções dando espaço para melodias belas e climáticas, e até um pouco sombrias...
...Que abrem espaço para "To Here Knows When", que começa em um clima de balada, até que se ouve a bateria quase tribal vindo à tona, se distoando das melodias guitarreiras quase sumidas e constantemente emitindo um delicioso ruído de distorção. Os vocais continuam sublimes, cantando a letra "Kiss your fear/Your red button/Falls from your mouth", oferecendo um clima de total tranquilidade para o ouvinte da canção. O único leve defeito da canção é a sua extensão de cinco minutos e meios, que pode encher o ouvinte que não estiver habituado a ouvir músicas longas demais e sem variação no ritmo. Os últimos 30 segundos da canção é dedicado a uma estranha e distorcida guitarra.
O peso melódico volta em "When You Sleep", com guitarras distorcidas e graves, mas ainda assim acessíveis. Bilinda e Kevin repartem os vocais nessa apaixonada canção, que descreve algo como observar a pessoa amada dormindo feito um anjinho. Ok, não é só isso, a letra fala claramente do relacionamento dessas duas pessoas, do jeito o mais doce possível. Talvez algumas dos melhores momentos guitarreiros do álbum, que compõem momentos realmente empolgantes.
"I Only Said", apesar de letra curta, é uma das mais longas do álbum, com vocais novamente quase sumidos e a distorção das guitarras se sobrepondo aos demais instrumentos. A letra segue a temática que a banda aborda no álbum, não destoando muito das demais canções. A banda alcança um nível viajante nessa canção, que é para ser ouvida de olhos fechados, deixando a mente vagar por aí.
Peso melódico de novo em "Come In Alone", bem menor que suas antecessoras, mas sem perder o nível do álbum, com os vocais não destoando muito do que foram ao longo do álbum. A letra parece falar de superação, e de um relacionamento problemático, com o 'eu' da música querendo ficar sozinho. Há uma bela guitarra se sobrepondo às distorções, que dá um gosto extra à música.
As guitarras mais elétricas, e um pouco menos melódicas do álbum, vêm à tona em "Sometimes", com fracos vocais de fundo do Kelvin, mas ainda ouvíveis. A letra é bem simples, sem grandes poesias, mas ainda assim bem emocional, mais uma vez tratando sobre relacionamentos, repartindo distorções ruidosas com uma melodia bela e arrastada.
"Blown A Wish" é um dos começos mais agitados do álbum, com as guitarras lá no alto, e com os vocais finalmente deixando de ser pano de fundo para ser um complemento importante a música. Bilinda parece revoltada com a pessoa: "Falls apart my bleeding heart/Nothing left to do/Once in love/I'll be the death of you". Ainda assim, a canção cai nas passagens melódicas e arrastadas, porém dessa vez as distorções quase não estão presentes. Talvez a melhor do álbum.
"What You Want", dessa vez, é o começo mais agitado do álbum, com um grande riff de guitarra, bem melódico e marcante, sendo base para os vocais gravados em volume baixo novamente. "Oh, I go back to/A memory again/What you want/But you know that you I'm alive", fala Kevin, adocicando bastante seus vocais, acompanhando pelos backings de Bilinda.
A mais longa do álbum é a que o encerra, a fantástica "Soon", com o melhor riff do álbum, que começa sozinho, sem muitos climas distorcidos ao fundo. Bilinda canta, doce e se entregando à emoção como sempre. "Wake up, don't fear/I want to love you". De fato, um grande encerramento para o disco, que não decaiu em nenhuma canção.
Se você quer entender o que é o universo indie, eu considero esse álbum como indispesável, junto ao "Goo" do Sonic Youth e o "Pablo Honey" do Radiohead. Mesmo não estourando na época em que lançaram este clássico, a sua música foi ouvida por gente famosa; Se não me engano, Billy Corgan, o gênio-obsessivo-perfeccionista-melancólico do Smashing Pumpkins, começou a banda por ter gostos musicais parecidos com a baixista dos Pumpkins D'arcy - entre essas bandas incluía o My Bloody Valentine. Só para você sentir a "pouca" importância dos caras - influenciar os Pumpkins não é pra qualquer um...
Marcadores: Resenhas
6 Comments:
Nunca ouvi a banda,baixarei o album!
eeeee :D
ah, quem liga pra entender as letras, não é verdade?
vou colocar aqui que a dos mutantes tá fera tambem, viu!
Ahã, pode colocar, à vontade ;)
Pusta cena essa do shoegazer e suas distorções de guitarra. Injusto que pouca gente discuta sobre o MBV, o Ride, a fase inicial do Teenage até tinha um pouco disso. Vale a ouvida...
mbv é legal, baixei umas músicas, mas meu, eu tô virando indie cara :O HUAHUAHUAHUAHUHUAHUA
a resenha ficou foda, as o-ber-servações (ahá trash isso) ficaram mto boas, mas só um detalhe: desde de qndo mbv é indie? O.o
Sua resenha está muito boa(oh, claro que não está...!).
O único problema do Loveless é que ele não é "fácil" de ouvir.Só deitando na cama e só tendo atenção para a música.
E caraca, O Corgan foi influenciado por eles.Eu nem sabia.(=
Postar um comentário
<< Home