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    segunda-feira, janeiro 28, 2008
    Junkiebox #7

    (Colaboraram Bêr, Nat e Sam)

    Nação Zumbi – Fome de Tudo: A Nação Zumbi nasceu um fenômeno e morrerá um fenômeno. Poucas bandas conseguem aliar inteligência lírica e melódica com maestria e invariavelmente agradar público e crítica a cada novo lançamento. E eles, para variar, conseguiram de novo. Em “Fome de Tudo”, a banda se desdobra em climas bem mais tropicais e de melodias pop para lá de suculentas, em harmonias vocais de fácil assimilação, em guitarras incansáveis e em uma percussão pra lá de envolvente. O resultado soa sideralmente chapante em “Inferno”, hipnótico e distorcido em “Onde Tenho que Ir”, um arrasa-quarteirão elétrico e pop em “Fome de Tudo”, refinado, profundo e complexo em “Toda Surdez Será Castigada”... E o mundo continua tentando acompanhar a Nação Zumbi.
    Ouça: “Toda Surdez Será Castigada”

    Babyshambles – Shotters Nation: Desde os seus primórdios, o Rock And Roll esteve envolvido no uso de drogas. E as reações sempre foram as mais variadas: carreiras com momentos de glória e decadência, talentos promissores que afundavam e gente que simplesmente não sabia lidar e invariavelmente destruía sua carreira (no caso, a fonográfica). E Pete Doherty, desde a época que cantava nos Libertines, prova ser do grupo que tem dificuldade de lidar com isso. “Shotters Nation”, para variar, é um disco abaixo do medíocre. A tentativa de som de garagem mais uma vez explora clichês batidos executados sem nenhum teor de novidade. Fica até difícil entender como alguém com uma vida pessoal tão agitada consegue produzir discos tão tediosos. Será que Doherty só compõe quando está de rebordosa?
    Ouça: “Side Of The Road”

    The Hives – The Black And White Album: Entre todas as bandas do revival do rock de espírito garageiro, o Hives foi um dos poucos remanescentes. Talvez porque sempre foi mais um grupo moderno com boas referências do que uma banda que repetia clichês nostálgicos. E o disco novo não só agrada como também inova. Há de tudo por aqui: o bom e velho Hives saído das garagens suecas de “Tick Tick Boom” a pulante e cheia de sintetizadores “It Won’t Be Long” e a seqüência “T.H.E.H.I.V.E.S.”, um funk rock em falsete lembrando os Rolling Stones de “Some Girls”. A última grande pérola “You Dress Up For Armageddon” é um marchante punk com refrão digno de ser entoado em um bar inglês ou irlandês. Diante do resultado, não há dúvidas: “os caras” do Rock alternativo europeu atual são Howlin’ Pelle Almqivst e seus capangas. É ouvir e conferir.
    Ouça: “T.H.E.H.I.V.E.S.”

    Black Rebel Motorcycle Club – Baby 81: E os fãs incondicionais do filme “O Selvagem”, de Marlon Brando, com referências indo desde o folk e o blues rústico do início do século vinte, passando por bandas de garagem dos sessenta e chegando ao shoegaze, retornam mais uma vez com seu quarto álbum de inéditas. Rock And Roll vibrante dos bons, o power trio põe o mundo abaixo com fúria folk e melancolia distorcida. Variando entre pancadarias como “Weapon Of Choice”, os arranjos envolventes da cadenciada “666 Conducer”, a tensa “Need Some Air” e o épico rocker de nove minutos “American X”, o álbum mais agrada do que decepciona. As outras não tem o mesmo brilho, porém, raramente irão chatear alguém.
    Ouça: “Need Some Air”

    She Wants Revenge – This Is Forever: Não se engane ao ver que a capa é apenas uma variação cromática do primeiro: a banda não inova em muito, mas fez algo que dificilmente deixará o ouvinte parado ou desatento. Filho de uma mórbida orgia de Bauhaus, Depeche Mode e Joy Division, as violentas letras apóiam-se sobre um som que, apesar de perder a força enquanto caminha entre suas treze canções, ainda reservam boas surpresas, como “What I Want” e a raivosa e ao mesmo tempo melancólica “She Will Always Be A Broken Girl”. Basicamente, é um disco oitentista lançado nos anos 2000: mantém a consistência, mas não espere grande surpresa.
    Ouça: “She Will Always Be A Broken Girl”

    Bruce Springsteen – Magic: Ninguém ganha o apelido de “Boss” à toa. Figura forte na música mundial há três décadas, Bruce solta o quarto registro em cinco anos. Altamente politizado, o patrão não faz feio e utiliza seus riffs invocados, sua grossa voz característica e refrões poderosos e marcantes como utensílio para descer o sarrafo na política norte-americana, mas também arranjando tempo para cantar canções mais introspectivas. É um redondo disco de Rock que flui que é uma beleza, mostrando que fez por onde para ganhar mais de quinze Grammys. É difícil ver um homem beirando os sessenta anos tão produtivo e tão inspirado. Que fiquem avisadas as bandas novas: quem não fizer o dever de casa direito, está despedido.E Bruce tem mais moral que Roberto Justus.
    Ouça: “Livin’ In The Future”

    Autoramas – Teletransporte: Autoramas é uma banda invejável! Estão na ativa há mais de dez anos, lotando shows, e vira e mexe emplacam alguns hits nas rádios. O quarto cd da banda, "Teletransporte", segue na mesma linha dos outros três cds: surf music, new wave, e também influência da jovem guarda. Um cd bom do começo ao fim: a faixa de abertura, "Mundo Moderno", é um rocknroll daqueles que eu tenho que me controlar pra não sair pulando. "A 300 km/h" é uma baladinha pop, com os vocais de Gabriel Thomaz bem mais calmo do que nas outras faixas. Em "Já cansei de te ouvir falar" e "Digoró", Selma Vieira, baixista da banda, também assume os vocais. "Panair do Brasil" e "Guitarrada" mostram toda a influência de surf music da banda. Efeitos, guitarras ótimas, baixo com distorção, bateria impecável: sem dúvidas, um dos melhores cds nacionais do ano que passou. Mais 10 anos de vida ao Autoramas, no mínimo!
    Ouça: "Mundo Moderno" e "A 300 km/h"

    Ludov – Disco Paralelo: Confesso que gostava muito do Maybees (antigo nome do Ludov, com composições em inglês), mas depois do lançamento desse último álbum até esqueci da existência do antigo projeto da banda. O "Disco Paralelo" chega a ser um dos melhores discos de pop rock nacional que já ouvi. Nada daqueles álbuns com uma ou duas músicas boas: o Ludov veio pra ficar, e todo aquele aquele agora-ou-nunca ficou para trás. Melodias bem feitas, riffs marcantes e contagiantes, e o melhor de tudo: letras inteligentes. "Ciência" abre muito bem o disco, uma das músicas mais contagiantes e enérgicas, com um refrão que deixa uma pergunta no ar: quanto vale um segundo, quando os metros são muitos a percorrer? "Conversas em Lata" é a mais tensa do disco, enquanto "Noite Clara" poderia ser trilha de qualquer novela das oito, daquelas que se passam no Rio de Janeiro. Em "Delírio (Sob as Asas)", Mauro Motoki assume os vocais de Vanessa Krongold, fazendo uma das canções mais lindas do disco. Por fim, "Urbana", que assim como "Ciência", contagia! Ludov! Guardem bem esse nome.
    Ouça: "Urbana"

    Foo Fighters - Echoes, Silence, Patience & Grace: Dave Grohl é um rockstar! Não satisfeito em ter sido o baterista do Nirvana, ele ainda monta uma das bandas mais bem sucedidas da atualidade. "Echoes, Silence, Patience & Grace" é o sexto álbum da banda. Um disco furioso e ao mesmo tempo delicadamente pop. "The Pretender", primeiro single, é daquelas músicas que ninguém se esquece. Um rock de verdade. Uma porrada. Gritos. Bem Foo Fighters mesmo, o que também acontece com "Let it Die" e "Erase/Replace". "Long Road To Ruin" e "Cheer Up, Boys" não possuem tantos gritos quanto às outras, mas os riffs são maravilhosos. E no meio de tanta distorção e gritaria, se encontram duas faixas acústicas para dar um descanso aos ouvidos. Assim como "Come Alive" e "But, Honestly", que começam calma, clean, e depois vai se entregando, terminando como músicas dignas do Foo Fighters. Um álbum excelente, com muita distorção, gritos, violão e até piano. Afinal, eles podem.
    Ouça: "The Pretender" e "Long Road To Ruin"

    Ryan Adams - Easy Tiger: Depois de passar 2005 em fúria e ter lançado 3 álbuns no mesmo ano, Ryan volta um pouco mais centrado, digamos assim. Easy Tiger traz Ryan no melhor estilo country rock, aquele que só ele sabe fazer. Canções objetivas, claras, não ultrapassando os 40 minutos de duração do disco. "Tears of Gold" e "Pearls On A String" me lembra um pouco Neil Young."Halloweenhead" é a mais rock, com direito a distorção e tudo mais, enquanto "I Taught Myself How To Grow Old", última faixa, tem uma gaita angustiante. Uma obra prima pra quem gosta de country rock: boas melodias, excelentes linhas instrumentais, baladas folks, e Ryan Adams fazendo o que faz de melhor.
    Ouça: "Everybody Knows"

    Eddie Vedder - Into the Wild : Quando começaram a aparecer as notícias que Eddie Vedder iria lançar um cd solo, nunca que imaginei que seria um disco tão diferente em relação ao Pearl Jam. Em apenas 33 minutos (duração do disco), conhecemos outro lado de Eddie: nada de gritos, distorção e guitarras. No lugar disso melodias lindas, violões e até banjo tomam conta de todo o álbum. "Setting Forth" e "Far Behind" são as mais agitadas, enquanto The Wolf é sombria. No Ceiling e Rise mostram que além de bom guitarrista, Eddie também manda bem no banjo. "Society" me lembra algumas canções do próprio Pearl Jam: “society, you're a crazy breed...” Um disco folk, tranqüilo, pop, grandioso. Uma afirmação de que Eddie Vedder é um dos melhores compositores dos últimos anos. Vale a pena ouvir. Ouça: Setting Forth

    Serj Tankian - Elect The Dead: Serj Tankian, diferente de Eddie Vedder, não fez um trabalho que tenha se diferenciado muito da antiga banda. Tudo neste disco traz lembranças do System of a Down: letras com apelo político, riffs criativos, bateria marcando presença, e não menos importante, o vocal agressivo e inconfundível de Serj. Não que isso seja ruim, mas quando se trata de carreira solo sempre espero por algo um pouco mais diferenciado. Porém, musicalmente, temos aqui um álbum extremamente rico: Serj gravou quase todos os instrumentos, dos pianos até as guitarras distorcidas, fazendo um instrumental invejável a qualquer músico. Além disso, as letras políticas trazem informações, críticas e protestos. Merecem destaques "Empty Walls", com um refrão grudento do caramba; "The Unthinking Majority" que traz linhas melódicas bem diferentes, e "Lie Lie Lie" que é uma das mais legais do álbum.
    Ouça: "Empty Walls" e "Lie Lie Lie"

    Dir en Grey - THE MARROW OF A BONE: "Cansativo" é a palavra pra definir o álbum. É surpreendente uma banda desse porte, fama e responsabilidade com a música japonesa produzir um álbum tão sem sal. Não sou um profundo conhecedor, mas sei que os caras conseguem fazer coisas centenas de vezes melhores que essa, vide "Vulgar", "Gauze", entre outros. Nem "CLEVER SLEAZOID" salva, já que ganhou uma versão inédita e bem diferente do single.
    Ouça: "CLEVER SLEAZOID"

    BUCK-TICK - Tenshi no Revolver: O melhor álbum de j-rock lançado em 2007, segundo algumas enquetes. Não é exagero, não. BUCK-TICK, uma das bandas pioneiras do Visual Kei, mostra que ainda consegue se manter na ativa mesmo carregando 20 anos nas costas. Pra variar, BUCK-TICK inovou sem perder a identidade, abandonando o tipo de som mais sombrio adotado no "13kai wa Gekkou" e fazendo algo mais movimentado e divertido, chegando a lembrar músicas como "Candy" e "21st Cherry Boy".
    Ouça: "Mr. Darkness & Mrs. Moonlight" e "Alice in Wonder Underground"

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    posted by billy shears at 9:49 PM | 6 comments

    domingo, janeiro 20, 2008
    Serge Gainsbourg - Histoire de Melody Nelson



    Melodias delirantes, baixo e bateria esfregando-se como dois corpos, assim como nos melhores dias da música negra americana, uma voz masculina grave e rouca carregada de cigarro e álcool e uma voz feminina frágil e sensual. Um resultado final que mesmo tendo visto a luz dos holofotes há mais de trinta anos, ainda é tido por muitos como pervertido, subversivo e amoral.

    Assim como sua música, monsieur Serge Gainsbourg cercou sua carreira de polêmica. Adepto apaixonado da tríade bebida, mulheres e música, incontáveis foram as vezes que foi censurado, sofreu ameaça de excomunhão e ameaças semelhantes, incomparável foi a beleza de suas amantes e incontestável foi a importância que suas composições tiveram para a chanson française. O filho de judeus russos era um incurável workaholic que compôs para e gravou com os principais nomes da música francesa no século vinte. As divas Françoise Hardy, France Gall, Catherine Deneuve, Brigitte Bardot e sua esposa Jane Birkin devem alguns dos principais sucessos de sua carreira fonográfica a este homem também responsável pela trilha sonora de mais de quarenta filmes.

    Já consagrado como crooner na França, Serge passou por um período atribulado ao final dos anos sessenta. Além de ter seu espaço na gravadora diminuído desde o início do sucesso do Rock e do Twist, havia acabado de terminar um relacionamento com a deusa loira Brigitte Bardot e tendo a gravação com a mesma para a música “Je T’aime (Moi Non Plus)” proibida de ser lançada, já que Bardot temia que gerasse polêmica.

    Geraria, mas não com ela. Depois de Marianne Faithfull recusar o convite, Gainsbourg conheceu a atriz Jane Birkin, protagonista do primeiro nu frontal do cinema, no clássico “Blow Up – Depois Daquele Beijo”, do mestre Michelangelo Antonioni. Mesmo não se interessando de início, os dois acabaram engatando uma das mais tórridas relações da história da música pop. Foi com ela que “Je T’aime (Moi Non Plus)” foi regravada e lançada, encontrando sucesso mundial como a primeira famosa ou famigerada “música de motel”.

    Porém, não contente com tão pouco, o versátil Serge foi além. Influenciado pelo jazz, pelo soul, pelo rock psicodélico, pela música de sua pátria, e por bandas inglesas como Rolling Stones, The Kinks e The Pretty Things, Gainsbourg compôs e gravou aos quarenta e três anos ao lado de Birkin uma de suas maiores e mais ambiciosas obras primas, mas nunca perdendo o gosto pela quebra de tabus, que mais uma vez fez um disco envolvendo taras, sensualidade, assassinato, misticismo... Mais uma vez dando um passo à frente de seu tempo.

    E em março de 1971, o mundo testemunhava o nascimento do irmão mais velho de Charlotte Gainsbourg: o álbum conceitual “Histoire de Melody Nelson”. O encontro de vários mundos musicais digeridos e regurgitados em forma de arte é de uma beleza, sensibilidade e sensualidade únicas. A união da provocadora deusa Birkin com o elegante bardo marginal Gainsbourg é uma das parcerias mais fenomenais da história da música. E, creia, o álbum a seguir é a maior prova disso.

    Tudo começa nos sete longos minutos de “Melody”, iniciada por uma bateria discreta, um baixo lento e corajoso, e o vocal falado de Gainsbourg, que quase sem o ouvinte perceber, começa a ser acompanhado por guitarras regadas a psicodelia. Serge canta sobre uma vista que fez em seu Rolls-Royce de vinte e seis cavalos de potência até a zona mais perigosa e isolada da cidade e quando menos percebeu, atropelou uma linda jovem de cabelos vermelhos naturais.”Princesa das sombras, arcanjo maldito/Amazona em um estilo moderno que o escultor/Em inglês, a chamou de Espírito do Êxtase”, descreve antes de anunciar que perdeu o controle do carro. As orquestrações, junto com a guitarra, descrevem o momento mais intenso da música e o momento da primeira conversa dos dois. O instrumental é moderno o suficiente para a época para estar no disco de qualquer banda emergida de Woodstock.

    Ballade de Melody Nelson” é novamente introduzida pelo baixo, e Serge canta torturado sobre doces cordas e acompanhado do ao mesmo tempo provocador e ingênuo vocal de Jane Birkin. “Um pequeno animal/Essa Melody Nelson/Uma adorável pequena garota/E uma garota tão deliciosa/Que eu só conheci/Por um instante”. E mesmo estando possessivamente apaixonado e obcecado por Melody, sabe que a pobre garota tem seus poucos dias de existência contados para terminarem bem cedo. Um delicado tormento da rouquenha voz.

    “O sol é raro/A felicidade também/O amor se perde pela vida”, assim Gainsbourg inicia “Valse de Melody” com as orquestrações em ritmo de valsa dando espaço para que o crooner diga que apenas nos braços da garota é que o mundo se move. Em um minuto e meio, em uma letra verdadeiramente poética, Gainsbourg soa triste, carregado, quase sombrio, fazendo desta uma canção com poder incrível, mesmo com a curta duração.

    Ah! Melody” novamente é uma canção com menos de dois minutos, sendo esta talvez a música mais doída da bolacha, em que o amor possessivo de Serge alcança seu ápice: “Oh, Melody/Você não sabe o que é o amor/Você me disse isso/Mas tudo que você diz é verdade?” e “Se você mentir para mim eu farei/Algo insano/Eu não sei o que farei com você” são versos que atestam um indivíduo à beira da psicose, por mais que seja a beleza de suas harmonias vocais e suas melodias, apesar de tristes, nunca ofenderem os ouvidos.

    Um baixo desafiador introduz o sexy rock psicodélico “L’Hotel Particulier”, onde Gainsbourg, em lugar de cantar, volta a sussurrar e falar com o ouvinte, dessa vez descrevendo um hotel que atende a qualquer pedido seu. A firme bateria, a envolvente harmonia do piano e orquestrações que golpeiam com classe abre espaço para Gainsbourg cantar “Acima dessas escravas negras de ébano/Que observarão silenciosamente essa cena/Enquanto o espelho nos reflete/Eu lentamente abraço Melody”.

    Poucas vezes na história da música pop viu-se música tão sensual e provocativa quanto “En Melody”, guiada por um delirante riff de guitarra e uma cozinha desenfreada, que desce o braço em companhia às seis nervosas cordas. Quase instrumental, a música é composta apenas de instrumental e os risos, gritos e gemidos excitados e frenéticos de Jane Birkin. O solo se entrega aos ensinmantos de Jimi Hendrix. Não precisou de nem das palavras do velho safado francês. Que, a propósito, surge no final para dizer “Melody quis revisitar o céu de Sunderland/Ela pegou o 707, o avião da noite/Mas o piloto automático no comando da máquina/Cometeu um erro fatal para Melody”.

    Cargo Culte” é, talvez, a maior obra-prima do álbum. Abre em compassos lentos, com Serge mais rouco do que nunca, dizendo de maneira invocada que invocou um feitiço xamânico aprendido na Nova Guiné, fazendo com que o avião caísse. Em meio a lembranças nostálgicas do místico país, um mórbido coro, um baixo hipnótico e a guitarra ainda ousada, a peça mais rica em detalhes do álbum é trágica lírica e musicalmente, de uma dramaticidade poderosa e chocante o suficiente. Todo o álbum parece vir em flashback com os sussurros de Birkin e o coro indo do ápice ao enfraquecimento em uma nota suspensa quase transcendental, unindo os muitos mundos musicais que fecham o álbum até encontrar seu final em esvanecimento.

    Serge, muito mais que a maior estrela da chanson, bem mais que apenas um artista pervertido, encarnou como ninguém os excessos com classe, elegância e libido. Serge era agonia e sexo, angústia e prazer, dor e gozo saindo pelas caixas de som sem a mínima vergonha. A quem ouvir, Gainsbourg recepciona com uma rosa em uma mão, uma arma na outra, um cigarro entre os dedos e um microfone, um copo de cerveja e Jane Birkin onipresentes. Violência, sexo e ebriedade. É disto que é feita esta genial obra, uma das que melhor capturam o universo e inferno particular de uma lenda que inspirou e até hoje inspira nomes como Mano Negra, Pulp, Suede, My Bloody Valentine, Nick Cave, Mike Patton, Cibo Matto, Sonic Youth, Beck, Franz Ferdinand, Placebo e Massive Attack. Mas querer sintetizar o universo de Serge chega a ser uma pretensão quase ofensiva. Seja guiado, seja violado, seja maravilhado... Seja bem-vindo à escória mais classuda de todas.

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    posted by billy shears at 5:20 AM | 8 comments

    quinta-feira, janeiro 17, 2008
    No New York


    Houve uma vez o Punk.Estilo que remou contra a maré que imperava na época, cheia de bandas pretensiosas de rock progressivo e a atitude excessivamente festeira da música pop em voga na época. Estilo que resgatou a simplicidade instrumental e o imediatismo abrasivo daqueles idos anos e acrescentou guitarras distorcidas, fúria subversiva, irreverência e hedonismo. Acompanhando de perto, vinha a New Wave, um punk mais palatável para as grandes massas. Ou melhor, o punk que não assustaria muito os mais velhos.

    E no meio de toda aquela efervescência musical de New York, nos subterrâneos, havia os não punks.Segundo eles, o punk não havia revolucionado coisa alguma. Não havia trazido nada de novo. Para eles, riffs de Chuck Berry tocados de forma rápida e anfetamínica continuavam sendo o que sempre foram: apenas música antiga. E não contentes em apenas criticar, eles foram lá armar sua própria revolução. O nome dessa nova onda? Nenhum. Ou como entrou para história, No Wave.

    E tal movimento entrou para a história graças ao esforço de um homem: o músico, compositor e produtor britânico Brian Eno, famoso pelo seu trabalho com o Roxy Music e com nomes como David Bowie, Robert Fripp e U2. No final dos anos setenta, havia acabado de produzir um disco da banda Talking Heads, mas permanecia na cidade maravilhado com tanta variação artística em um mesmo lugar. Porém, foi em um bairro sujo e decrépito, repleto de viciados e prédios abandonados de Manhattan que Eno foi achar aqueles jovens insatisfeitos com a vida. E com a música.

    Subcultura da cultura punk que sentia náuseas de seus progenitores, a No Wave buscava total liberdade artística, o que dava origem às mais variadas bandas, mas todas com um ponto em comum: a insatisfação com a cena musical da época. Qualquer formato musical pré-definido criado até então era jogado sem mais delongas na lixeira. O que Brian Eno fez foi escolher quatro das melhores bandas do local em sua opinião e produzir quatro canções de cada uma. E assim, em 1978, chegou ao mundo o manifesto oficial daqueles que negavam o punk, negavam o conservadorismo travestido de revolução, e não obstante, negavam sua própria cidade natal. “No New York” era o título do disco.

    Quem abre o disco é a banda James Chance And The Contortions. Assim como o pessoal do resto da coletânea, James Chance era uma figura exótica. Um psicótico vocalista e saxofonista fã de Charlie Parker e James Brown que tinha como saudáveis hábitos injetar heroína em cima do palco e brigar com o público.Tocando seu saxofone de maneira desordenada e dissonante combinado com uma cozinha mórbida e riffs maníacos de guitarra, o maluco grita frases violentas e niilistas, contra si mesmo e contra o mundo, imprimindo escrotidão nos esporros de “Dish It Out” e “Flip Your Face”, na gemida, torturante e perturbadora rebordosa de “Jaded” e no quase palatável e pra lá de histérico pesadelo de “I Can’t Stand Myself”. De fazer os moralistas tremerem nas bases antes mesmo de lerem as letras.

    A partir daí, o buraco é cada vez mais embaixo. O segundo universo atormentado que chega aos ouvidos é da caótica cantora, poeta, compositora e atriz Lydia Lunch, futura colaboradora de Nick Cave, Sonic Youth e David Lynch, cantando à frente da banda Teenage Jesus And The Jerks. Quanto ao som, bem... O que você espera de uma banda cuja frontwoman falava nas entrevistas abertamente sobre seu vício e apreço por heroína? Nada menos que um som doentio. Talvez seja a única maneira possível de definir a assustadora antimusa. As guitarras de “Burning Rubber” são liberadas aos poucos, como em uma tortura feita por descarga elétrica, enquanto Lydia se acaba no microfone, com passagens do baixo e da bateria montando o mais torturante hardcore. “The Closet” é barulho desnaturado, inconseqüente e claustrofóbico, com a voz cortante de Lunch sendo um complemento perfeito para a muralha sonora tão ruidosa que mais parece feita de areia movediça. “Red Alert” é uma atualização de “L.A. Blues” dos Stooges que só dura trinta segundos. E “I Woke Up Dreaming” fecha o espaço de Lydia em meio à pancadaria arrastada de forma esplêndida, com seu baixo crescente que destoa da bateria hipnótica e da guitarra que mais parece uma trovoada condicionada. Talvez a banda mais autodestrutiva do movimento No Wave.

    Antes do Nine Inch Nails, antes do Big Black, existia o Mars. Uma banda de som visionário, que vislumbrava as torturas eletrônicas de Trent Reznor e a sujeira escrota de Steve Albini em um som confuso, cheio de ruídos, bateria frenética e um vocal agudo, desesperado e quase esquizofrênico. Que o digam a perdição sonora de “Helen Forsdale” e a truculência quase desmaiada de “Hairwaves”. E não pense que acabou. A banda abusa novamente na tempestade elétrica e furiosamente discursada de “Tunnel”, com o vocalista Sumner Crane cantando de forma quase vomitada seus murmúrios retardados. A banda encerra sua parte no um minuto e pouco da bad trip marginal “Puerto Rican Ghost”.

    A última banda, D.N.A. conta com a liderança de um compatriota nosso: Arto Lindsay, nascido nos Estados Unidos e crescido no Brasil, durante a época da Tropicália e colaborador de David Byrne, Gal Costa e Caetano Veloso. Talvez a banda menos doentia da coletânea, mas ainda assim, totalmente insana e barulhenta. Basicamente nos faz imaginar uma jam de John Cale e Ron Asheton em uma fábrica, com ruídos de máquinas a pleno vapor soando ao fundo, e muitas vezes, na frente dos instrumentos. A agressiva e pirada “Egomaniac’s Kiss” abre espaço para a metralhadora de disparos noise “Lionel”. Daí em diante, ouvimos os vocais chorosos de “Not Moving”, que golpeia o ouvinte de forma mecânica e impiedosa. E tudo acaba em “Size”, que apesar do início quase punk, em poucos segundos já virou uma massa vacilante, feroz e mórbida. O vocal rasgado, berrado e desafinado deixa a música mais não palatável ainda.

    Apesar de ter surgido e encontrado seu fim antes mesmo de explodir (cá entre nós... impossível ser reconhecido por um grande público), o movimento No Wave foi um dos mais influentes da história da música do século vinte. Chocante, sem direção definida, mas com uma noção enorme de propósito, a No Wave faz ouvir seu ecos até hoje. Desde os próprios anos setenta, quando Joy Division, Suicide e Pere Ubu apresentavam sonoridades igualmente ousadas, passando pelos anos oitenta, em que foram lembrados por The Birthday Party, Big Black, Jesus And Mary Chain e Sonic Youth e chegando aos dias de hoje, onde ouvem-se seus rastros em Yeah Yeah Yeahs, Trail Of Dead e Flaming Lips.

    Para quem quer noção do que é realmente arte de vanguarda, essa coletânea é indispensável. Tão indispensável quanto “Tropicália ou Panis Et Circenses” e “Nuggets”. A falta do medo de errar, a ausência de coleiras, tudo isso regado à muita heroína, auto-comiseração e um ruído inovador. E haja colhões de ridicularizar o principal ridicularizador da época.

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    posted by billy shears at 2:51 AM | 2 comments

    quarta-feira, janeiro 16, 2008
    Aniversário do Dangerous Music!


    Mais um ano que se passa e certos bastardos se recusam a morrer... Como todo bom vaso ruim se recusa a quebrar, o Dangerous Music segue firme e forte na missão que escolheu de escrever sobre música, nunca esquecendo o bom humor e a paixão pela música, sempre se empenhando em melhorar e agradar seu público alvo.

    E mais uma vez, obrigado a todos os que lêem, acompanham, comentam, concordam, discordam e principalmente apóiam. That's what rock and roll is about!

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    posted by billy shears at 12:30 AM | 10 comments

    sexta-feira, janeiro 11, 2008
    The Stone Roses - The Stone Roses


    Bandas mais influentes do que propriamente reconhecidas. Delas, o mundo está cheio. O exemplo mais célebre é a célebre blank generation pré-CBGB's, quando grupos como The Velvet Underground, MC5 e The Stooges vendiam quantias irrisórias de seus discos e eram solenemente ignorados e arrasados pela crítica. Mas que, apesar dos pesares, cada um que comprou o disco na época formou sua própria banda e chegando ao topo, fez questão de lembrar-se de suas raízes. E era aí que o grande público entrava em contato com nomes até então obscuros como Lou Reed e Iggy Pop.

    Então pense nos grandes nomes da música britânica dos anos noventa. Lembrou de Oasis, Blur, Primal Scream, Pulp, Suede, Manic Street Preachers, The Verve? Pense em nomes recentes classificados pela crítica como New Rave. Lembrou dos Klaxons, Shitdisco, Datarock?

    Pois saiba que todos eles admitem influência de uma mesma fonte: de Madchester, movimento musical surgido na cidade de Manchester no final da década de 1980 que combinava punk, new wave, psicodelia, funk, hard rock e eletrônica para criar uma música viajante, experimental, dançante, de pegada roqueira, de melodias etéreas e vocais delirantes. Dentre tantas bandas que se encaixaram nesse caso clássico de injustiça e incompreensão, como Happy Mondays, Inspiral Carpets, The Charlatans, 808 State e A Guy Called Gerald, estavam The Stone Roses, expoente principal do movimento.

    Apesar de ter tido certo reconhecimento em seu país de origem e tendo sua obra vista como visionária por muitos críticos, os Stone Roses não conseguiram ir muito além. Mas enquanto esteve ativo, impressionou quem entrou em contato com a contracultura dos hooligans em êxtase; as raves que participavam, picos da Acid House, chegaram a ser conhecidos como o Segundo Verão do Amor - uma combinação de música, drogas, hedonismo e busca pela liberdade, assim como no primeiro, naquele longínquo ano de 1969. O que definia exatamente os Stone Roses: um quarteto de jovens temperamentais, chegados à experimentação e uso de substâncias ilícitas e com uma incrível fome de absorver qualquer som interessante para logo em seguida cuspi-lo em forma de música bastante autoral e inovadora para a época.

    Os Stone Roses foram a banda que deu à nova geração do Rock And Roll um duo conflitante de opostos, assim como Lennon e McCartney, Gilmour e Waters e Morrissey e Marr: o vocalista Ian Brown e o guitarrista John Squire. Dois egos tão gigantescos quanto geniais, que eram a força motriz que movia a banda. Ian, um showman de nascença, ousado, inconseqüente e lisérgico como seu papel pedia. Squire, ainda que introspectivo, era um virtuose feroz e um rocker de primeira. Completavam a banda a cozinha do baixista Gari "Mani" Mounfield e do baterista e backing vocal Alan "Reni" Wren.

    Controvérsias existem sobre as afirmações acima – é natural. Mas o primeiro álbum, e quem tiver ouvido há de convir comigo elimina toda e qualquer dúvida existente sobre o potencial dos Stone Roses. Auto-intitulado, o álbum estava definitivamente um passo à frente de sua época, o que torna totalmente válido a citação à arte do pintor Pollock na capa. Era uma banda dos anos oitenta com um som já totalmente anos noventa, na atitude, na estética sonora, no conceito e na fome de criação.

    I Wanna Be Adored” surge como um titã em meio a um mar de ruídos, até que o baixo começa a dar corpo à uma canção com um groove hipnótico e guitarras em pleno estado de delírio. “Eu não tenho que vender minha alma/Ela já está em mim/Eu quero ser adorado”, diz um abusivo e insolente Ian Brown afogado nesse mar de pura e gritante psicodelia insana, com uma cozinha seca e direta em constante contraste com suas borbulhantes seis cordas e seus vocais suspirados e excitados.

    Tremendamente sexy, esta é “She Bangs The Drums”, com belíssimas bases de guitarra combinadas com algumas das harmonias vocais mais perfeitas da década de oitenta. Entre solos alucinógenos de Squire e um baixo sempre na cara Brown canta sobre uma garota que o deixa fraco quando ele a vê dançando. “Você a viu, você a ouviu? /O jeito que ela toca não há palavras/Para descrever o que eu sinto”.

    Elephant Stone” começa com uma guitarra tão distorcida que pode fazer com que ouvinte pense que irá desaguar em uma regravação do mestre Hendrix. Ledo engano. De pegada pulsante, de vibração única e um belo refrão, com uma letra viajada digna de figurar nos discos das melhores bandas hippies dos anos sessenta: “Estourar no paraíso/Beijo nas nuvens do algodão /Folhas do ártico e campos do trigo/Eu não posso parar de vir para baixo”, a música cativa pelo senso pop único do qual a banda não parava de demonstrar canção após canção.

    De início sutil, dividido entre o vocal permanentemente chapado do vocalista e as guitarradas transcendentais de John Squire, “Waterfall” ganha grande pegada com a introdução da cozinha, com direito a intermezzos, e desenvolvimento de estrutura rocker. A letra fala sobre uma garota que é uma verdadeira queda d’água, sempre levando tudo consigo. E qualquer dúvida da técnica e a criatividade de Squire como guitarrista acaba aqui – mesmo não executando as mais complicadas peças do mundo, é capaz de criar momentos literalmente de tirar o fôlego, tal qual sua guitarra cantasse em dueto extasiado com Ian.

    Don’t Stop” inicia uma muralha sonora viajante com guitarras ressonando e vocais etéreos de Ian Brown sobre uma cozinha de marcação constante, em contraste com as volúveis seis cordas. “Não pare/Não é engraçado como você brilha?”, pergunta o refrão, em uma letra que mistura indignação, dor e tristeza. O desfecho quase tribal encerra a canção de forma envolvente.

    Com ares nostálgicos na introdução, “Bye Bye Badman” reparte momentos cadenciados e instantes crescentes, volúveis, fortes e dançantes. “Eu tenho uma má intenção/Eu pretendo te derrubar/Essas pedras que eu jogo/Oh, esses beijos franceses/Foram a única maneira que eu encontrei”, canta um torturado Brown no marcante refrão sendo guiado pela pegada direta e na lata.

    Em menos de um minuto, Ian aproveita as doces cordas de “Elizabeth My Dear” para cantar “Me divida em pedaços e ferva os meus ossos/Eu não descansarei até ela perder o trono/Meu alvo é verdadeiro, minha mensagem é clara/São cortinas para você, Elizabeth, minha querida”, em uma heresia revoltada vertida em harmonias pop digna dos Smiths em seus melhores dias.

    (Song For My) Sugar Spun Sister” tem um dos riffs de guitarra de ares mais positivos até então, destoando da maior parte das criações de Squire, em sua maioria lisérgicos, viajantes, cadenciados e de ares quase soturnos. A letra é uma das mais impactantes até então, tratando ora sobre uma paixão por uma conturbada garota, ora em estrofes de cunho político como “Até o céu ficar cinza/O gramado tem várias sombras de azul/Todo os membros do Parlamento cheiram cola”. Apesar do contraste melódico, a estruturação rítmica é típica dos Stone Roses, com a cozinha sempre precisa.

    Uma das baladas mais melancólicas dos anos oitenta, “Made Of Stone” vem embarcando em melodias sombrias, vocalizações emotivas e forte bateria. O mote da canção é a solidão, com seu protagonista em primeira pessoa dizendo versos como “Quando as ruas estão frias e solitárias/E os carros queimam atrás de mim/Você está sozinho?/Você é feito de pedra?”, em um delirante e envolvente refrão digno de nota. John Squire de novo merece nota dez por outro solo abusando de transcendência psicodélica.

    Shoot You Down” começa só com a cozinha, com o baixo se sobressaindo, mas logo John Squire trata de inserir sua trip melódica. Ian Brown, lunático e provocativo, dispara uma letra violenta ainda que cantando em perfeitas harmonias vocais. “Você sabe isso/Você mostra isso/E o tempo chegou/De atirar em você/Mas que som/E quando o dia estiver acabado/E tudo tiver funcionando/Eu adoraria fazer isso, você sabe que você sempre teve isso vindo”. Vingativo, sarcástico e amargo: uma aula de como ser docemente ultrajante.

    De início pesado, com as guitarras soando alto e a bateria com o mesmo impacto de um martelo chocando-se contra os tímpanos, “This Is The One” reparte linhas vocais calmas e tranqüilas, rápidas explosões de pancadaria e momentos quase sussurrados. Ian diz que de todos os seus planos, essa era o que uma garota estava esperando há tanto tempo. Deixar o país, dando certo ou não... É o plano que os dois esperavam. Mesmo repetindo o título da canção à exaustão, a banda nunca faz disso algo enjoativo. Faz disso um convite para submergir no mar colorido da banda.

    E fechando o disco, “I Am The Ressurrection”, uma obra prima de oito minutos e indubitavelmente uma das melhores músicas dos Stone Roses e, conseqüentemente, dos anos oitenta. Tudo funciona bem: desde os acordes envolventes de Squire, passando pelo baixo soando alto e na frente, a bateria matadora, e para variar, mais vocalizações perfeitas e marcantes de Ian Brown, que se acaba no refrão, gritando indignado “Eu sou a ressurreição e eu sou a vida/E eu não posso nem ao menos trazer a mim mesmo/Para odiar você do jeito que eu gostaria”. A música sofre reviravoltas mil, com solos dignos de Jimi Hendrix chocando-se com uma cozinha Soul, crescendo para explosivos momentos quase hard rockers. Puro êxtase auditivo, com a banda em transe convidando o ouvinte a fazer o mesmo. Duvido que alguém da Madchester recusasse.

    A banda, por triste ironia do destino, acabou em 1996, o ano em que seus seguidores chegavam ao poder e roubavam o cetro, a coroa e o trono de Kurt Cobain. Mesmo não sendo reis, criaram uma dinastia sangue azul das mais potentes da história da música. E ainda deixaram um belo legado próprio neste primeiro álbum. E, com novos expoentes da música citando os Stone Roses como referência, dá pra dizer que o álbum ainda é visionário, juvenil e envolvente mesmo quase vinte anos após seu lançamento. Deixe o quarteto que quase dominou o mundo abrir suas portas da percepção. Segundo as sábias palavras de William Blake, é a única maneira de ver além.

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    posted by billy shears at 11:55 PM | 3 comments

    terça-feira, janeiro 08, 2008
    Algo de Novo No Front - Especial Sulista

    Derivados
    Vinda de Porto Alegre e formada por Maurício Círio nos vocais e guitarra, Roberto Menezes nas guitarras e backing vocal, Pedro Brauner no baixo e Lucas Vitória na bateria, os Derivados levam o nome à sério na hora da composição de suas canções: Rock And Roll, Blues e Pop dos idos tempos constituem a base da maior parte das canções. A temática é variada, indo desde a introspecção dos relacionamentos, caso de "Recepção a Dois" até hinos de exaltação ao estilo mais rebelde da música contemporânea, tal qual "Blues And Roll". Apesar da técnica excelente, a banda não esquece de sua premissa básica: um som de fácil assimilação, direto e de bom gosto. Atualmente, a banda está gravando seu primeiro álbum com o produtor Ticiano Paludo.

    >http://mauriciocirio.blogspot.com/
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    Anna Lógica



    Ao contrário da maioria esmagadora das bandas sulistas, o power trio Anna Lógica - formado pelo vocalista e guitarrista Bruno Rosa, o baixista Thiago Suiça e o baterista André Guilherme - não procura os pilares de seu som nos anos sessenta, em viagens psicodélicas ou melodias da british invasion. O lance da banda é de trinta anos depois, as guitarras distorcidas e a cozinha bem trabalhada servindo de suporte para harmonias vocais marcantes e de fácil memorização. A banda já tem um primeiro álbum, auto-intitulado, lançado em 2007, que conta com onze músicas. A banda tem potencial para acertar em cheio no gosto de fãs de bandas como Foo Fighters, Stone Temple Pilots e Audioslave. Influências estas que resplandecem tanto nas guitarradas invocadas de "Psicótica" quanto na balada "Telégrafos na Lua", que poderia ser muito bem o produto final de uma composição em conjunto de Scott Weiland e Dave Grohl. E o melhor: Não soam datados em nenhum momento.

    >www.myspace.com/annalogica
    >http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/annalogica/
    >http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=23770
    >www.youtube.com/watch?v=lEJa1zkdJh8
    >http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=2373002
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    No News Found


    Com quase 4 anos de existência, a banda No New Found evoluiu rapidamente de banda cover até uma banda com músicas próprias. Guto (Voz e Guitarra), Lucas( Baixo), Marcos (Guitarra) e Leo Hawkins (Bateria) praticam um rock de influências variadas, indo desde riffs pesados e certeiros até solos em vôos quase progressivos, passando por melodias cheirando a indie rock. O resultado final é extremamente bem vindo, e por menos eclético que seja o leitor, o peso de uma música como "Believe It" já é um argumento forte o suficiente para convencer o leitor a dar uma ouvida.

    >www.nonewsfound.com
    >www.myspace.com/nonewsfound
    >www.fotolog.com/nonewsfound
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    Fat Pride




    Mais uma filha da cultura do Skate,o Fat Pride tira de bandas como NOFX, Lagwagon e Bad Religion a força motriz para fazer seu som nascer. O resultado é hardcore veloz e furioso, melódico e introspectivo, fazendo jus às outras bandas do gênero e, mesmo com letras pessoais, não caem em chororô barato e autodepreciação desnecessária. "Recomeçar" confirma todas as afirmações feitas até agora, sendo esta um cartão de visitas bastante apresentável. Os apreciadores do gênero, definitivamente, não vão se decepcionar. Na verdade, após os cinco primeiro segundos de música, já imagino pessoas pogando...

    >www.fatpride.com.br
    >www.fotolog.net/fatpridehc
    >www.purevolume.com/fatpride
    >www.myspace.com/fatpride2002
    >www.tramavirtual.com.br/fat_pride

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    posted by billy shears at 5:27 PM | 6 comments

    sábado, janeiro 05, 2008
    the jesus and mary chain - psychocandy


    desconsidere a leitura dessa resenha se você não ouviu o álbum, a menos que o faça depois de ler. obrigado.

    já ouviu velvet underground? espero que sim. e beach boys, já? stooges, sex pistols, bubblegum pop? sons que nada têm a ver um com o outro, na maioria das vezes: pop bobinho e punk de guitarras distorcidas. imagine isso tudo misturado, com chiados o tempo todo, distorção ao máximo e, ao mesmo tempo, melodias harmoniosas e letras simplistas. se situe: estamos em 1985, o punk rock estourou há pouco, mas precisamos de outra banda para revolucionar o rock, este que está meio moribundo com toda essa onda de new wave e disco. agora, por um minuto, pense que existe alguém que, com o tal som maluco, quebre as barreiras do rock e crie um disco maravilhoso. estamos falando de the jesus and mary chain. e do álbum "psychocandy".

    os irmãos william e jim reid passaram a infância ouvindo tudo de mais pop e de mais vanguardista que existia nos anos '60. nos anos '70, se explodiram junto com os punks. na década seguinte, resolveram montar uma banda. chamaram o futuro líder do primal scream, bobby gillepsie, p'ra tocar a bateria (na verdade, ele pegava dois bumbos e batucava, mesmo ao vivo). douglas hart, futuro diretor de videoclipes, foi escolhido como baixista. william ficava com as guitarras, jim com os vocais, embora se alternassem nesses dois papéis.

    depois do single ''upside down'' e de algumas apresentações históricas ao vivo, em que tocavam de costas ao público visivelmente chapados e/ou embriagados, resolveram lançar em um lp todas as músicas que já provocavam furor em glasgow, na escócia. decidiram chamá-lo de "psychocandy", como chamavam uma das canções do seu repertório.

    e quem ouvisse esse lp iria se surpreender com a bateria do começo. é realmente hipnotizante. ao ouvir o jorro de acordes e ecos, junto com a voz que murmura sobre uma garota que, ''enquanto dá meia volta no mundo'' é ''igual a mel'', ''just like honey''. é difícil conseguir não ser tomado por um sopro de calmaria e romantismo enquanto william reid transforma a harmonia em viagem: aconselho não tentar.

    porrada nos ouvidos! se a primeira faixa era uma viagem astral, essa é um esporro de fúria e velocidade. ''the living end'' é punk rock puro, com uma chiadeira do início ao fim, tudo soando distante e ao mesmo tempo pulsante. uma letra que se ajusta, falando sobre correr de motocicleta, transforma dois minutos e dezesseis segundos em um verdadeiro acidente sonoro. cuidado com o volume, é suscetível a danos irreparáveis.

    ''taste the floor'' é caos puro, destruição. mais lenta mas não menos pesada que a anterior, numa parede de arranhados e microfonias, descreve uma sucessão de catástrofes, com pitadas metafóricas como em ''e o sol não brilha/e todas as estrelas não brilham/e todos os muros caem/e todos os peixes se afogam''. acredite, essa sensação de entrar dentro de um tema vai se repetir ainda algumas vezes enquanto ouvir jesus and mary chain...

    ''eu nunca pensei que esse dia chegaria/ quando suas palavras e seus toques me deixam anestesiado''... uma das melhores canções de amor de todos os tempos: ''the hardest walk''. outro ponto para a qualidade lírica: ''a caminhada mais dura que você pode dar/ é a caminhada que você dá de a para b para c''. num êxtase puro, em que todos os instrumentos e os vocais parecem atingir um clímax, jim canta com rara sinceridade: ''não quero que você me queira/ não quero que você precise de mim''... ninguém escreveu uma música tão boa sobre o quanto é difícil se expressar desde ''i want to tell you'', dos beatles.

    cordas calmas e elementos vocais pop, uma atmosfera esfumaçada, dominada por um eco sutil. jim balbucia um monte de simbologias líricas, suspira em meio a esse amontoado de colagens sonoras... e funciona. é incrível o quanto ''cut dead'' é bonita. enquanto quem ouve se afoga nessas ondas de som, a música acaba.

    a distorção de william acorda o dito em poucos segundos, na punk ''in a hole''. a letra não fará sentido se você não se afundar na loucura dentro dela. não aconselho ouvi-la em momentos de choque emocional, porque ela não é exatamente o que eu chamaria de ''alegre''. jim reid grita no refrão, ''espíritos grudentos/ na minha alma/ tem algo morto dentro do meu buraco''. em vez de esconder as tristezas, aprofunde-se nelas, desbrave-as dentro de um buraco.

    ''quebra do amanhacer/ cindy está se movendo/ falando cindy p'ra todo mundo/ até ela ter sua diversão''. ou ''taste of cindy'' vai fazer com que você se pergunte do que diabos ele está falando, com uma sonoridade bela mas crua, ou fará com que você consiga ver a cindy ao seu lado.

    um som chiado luta contra uma harmonia maravilhosa, ganha em alguns momentos mas perde com a fúria dos vocais, que choram: ''nunca entende, você nunca me entende''. ''never understand'' é mais ou menos tudo que temos por dentro, a raiva, a beleza, a calmaria... tudo em um constante conflito.

    não perdemos esse sentimento profundamente triste, mas belo, na próxima canção. ''inside me'' tem um tema claustrofóbico. enquanto as guitarras parecem se fechar em volta de você, jim faz uma espécie de lista das coisas que lhe parecem incomodar, para depois dizer que tem algo dentro dele... o quê? pode ser qualquer coisa. pergunte a si mesmo.

    ''eu vejo pessoas caindo'' é a frase ouvida entre batidas e cordas, ''e eu não deveria estar sozinho/ e eu deveria estar no telefone''... depois de toda a pancada das músicas anteriores, em ''sowing seeds'' eles se redimem e pedem paz, literalmente: ''eu estou doente com as batidas de todo mundo/ eu quero paz/ eu estou plantando sementes''... uma canção linda, no mínimo. the jesus and mary chain consegue fazer isso, às vezes.

    ''my little underground'' parece pulsar entre versos que falam sobre correr, viver, procurar um lugar que não seja frio... a guitarra aqui tem a incrível capacidade de animar com facilidade até a mais triste das almas. não há porquê descrever mais, ouça e sinta.

    ''you trip me up'' tem um lirismo belo e triste, com uma linha de baixo incrível, guitarras que soam como uma canção pop (de maneira bizarra, claro), e uma letra típica você-me-engana-eu-te-amo, mas sem cair no lugar-comum: ''mas você me quebra em dois/ e me empurra p'ra longe/ me bate nas costas/ vou ter um ataque cardíaco'', com o refrão ''você me engana''... poucas bandas conseguem criar algo realmente bonito sobre um assunto tão comum.

    o riff de ''something's wrong'', junto ao seu ''doo doo doo doo'', faria dessa faixa um pop dos anos '60, se não fosse pelo eco insistente e a guitarra, que vomita distorção por todo lado, e a bateria, que mais parece um coração batendo que um elemento musical. é meio difícil de interpretar, mas provavelmente fica mais fácil se cada um entender a seu modo. o título diz que ''algo está errado''. mas o quê, exatamente, fica a cada um de nós descobrir.

    ''it's so hard'' termina o disco de maneira plena, numa faixa fortemente influenciada pelo post-punk e, se me permitem dizer, provavelmente com um teco de joy division. ainda mais obscura que o comum, aqui a guitarra parece mais com um barulho propositalmente irritante, e a voz não canta, mas murmura. ''é tão difícil/ não ser como uma boneca/ andar e não rastejar''... talvez seja essa a mensagem final do jesus and mary chain, mas não acho que seja o caso. uma obra dessas não pode ser resumida.

    em resumo: psychocandy é o melhor disco dos anos oitenta. ponto final. não precisam acreditar, ouçam e comprovem. podem até discordar, mas vai ser difícil você ouvir isso e continuar pensando do mesmo modo - sobre qualquer assunto. the jesus and mary chain, em 1985, lançou um álbum revolucionário e entrou na seleta lista de bandas que podem mudar o mundo. não tente resistir, não procure defeitos - viaje com jim, william, bobby e douglas. adentre seus medos profundos, jogue suas paixões em forma de enigmas, passe a ver o mundo de maneira mais esfumaçada. entregue-se. ouça.

    n.d.a.: antes que algum imbecil pergunte onde está ''some candy talking'', essa canção não foi resenhada porque não estava na versão original do disco, mas apenas numa edição de 1986 e no lançamento em cd de 1997 (embora apenas no reino unido). ela pode ser encontrada na coletânea 21 singles. obrigado.

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    posted by Gabriel M. Faria at 3:06 AM | 14 comments

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