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    terça-feira, agosto 29, 2006
    Ramones - Ramones


    "Quatro garotos, ex-delinqüentes juvenis do Queens, New York, uniformizados com calças jeans rasgadas e jaquetas de couro, tocando músicas de dois ou três minutos, falando sobre danos cerebrais e insanidade, como se a sua vida dependesse disto. Garantia de excelente diversão." (Revista Rolling Stone, 1983)

    "Nossa idéia era tirar tudo o que havia de supérfluo no Rock, os solos, as viradas de bateria, tudo que estivesse sobrando, e deixar apenas o que fosse mais cru e direto. Nós estávamos tentando andar para frente, e ao mesmo tempo, resgatar a vibração e a energia que Rock havia perdido desde os anos 50 e 60." (Tommy Ramone)

    Em 1974, sem o grande público saber, o mundo do Rock começou a mudar. Na época, bandas como Pink Floyd, Yes, Genesis e Emeson, Lake And Palmer rodavam o mundo com shows de custo milionário e lançavam discos megalomaníacos (e, muitas vezes, pretensiosos) com músicas que ultrapassavam os dez minutos, ou vinte, ou quiçá meia hora de duração. Então, em Nova York, os rapazes Jeffrey Hyman, um freak alto, feio e desengonçado, Douglas Colvin, um porra-louca filho de alcoólatras, que passara a infância numa base militar americana na Alemanha, John Cummings, um delinqüente juvenil que todos tinham certeza absoluta que acabaria na cadeia e Thomas Ederlyi, filho de imigrantes húngaros e que parecia ser o único com a cabeça no lugar, desde cedo interessado em música e cultura, juntaram-se para tentar formar uma banda. O que parecia estar fadado ao fracasso - pois, como o prório Douglas se divertia ao contar, sabia apenas o acorde Sol e mal sabia como afinar uma guitarra - tornou-se uma das bandas mais influentes de todos os tempos.

    Por um curto período de tempo estruturada com John na guitarra, Douglas no baixo e vocal, Jeffrey na bateria e Thomas mais interessado em atuar como produtor do que músico, logo mudaram de formação após seu primeiro show - que data de 1974, pois como afirma Monte Melnick, tour manager da banda por 22 anos, "Douglas ficou rouco depois de duas músicas, e Jeffrey tocava tão alto que ninguém ouvia nada além da bateria. Juro que achei a pior coisa que já tinha ouvido na vida!". A reestruturação acontece após, alguns ensaios, a banda chegar no consenso que Douglas não sabia cantar. Thomas sugeriu que Jeffrey assumisse os vocais e que a banda fizesse testes para um novo baterista. "Nenhum dava certo", lembra Tommy, "os caras queriam tocar como se estivessem no Led Zeppelin, com viradas e um monte de firulas que só atrapalhavam. Eu imaginava algo mais simples e direto, como o que Charlie Watts fazia nos Rolling Stones". De tanto se intrometer na escolha do baterista, a banda, impaciente, e com o perdão da citação ao AC/DC, acabou tendo a idéia que botaria eles no início longo caminho para o topo para quem quer Rock And Roll: "Tommy, por que você não toca bateria?".

    "Existe essa percepção de que os Ramones eram quatro malucos que decidiram tocar juntos e acabaram dando certo", diz Arturo Vega, um artista, diretor de iluminação, produtor de camisetas e designer gráfico da banda. "Quem estava lá sabe que isso não é verdade. Duvido que tenha exsitido, em todos os tempos, uma banda tão consciente do que estava fazendo. Douglas que criou tudo; foi ele que veio com a idéia de que a banda deveria se vestir como uma gangue, com uniformes. E a inspiriação para as jaquetas de couro e as calças jeans rasgadas veio do filme 'O Selvagem' ("The Wild One", clássico dos anos 50 com Marlon Brando). O mesmo Douglas, certo dia, deu a idéia para o pessoal da banda: contou-lhes o fato que o ex-Beatle Paul McCartney, no início dos Beatles, se hospedava em hotéis com o falso sobrenome Ramón. Então que tal reforçar a idéia de 'gangue' e todos adotarem este sobrenome? Dois coelhos com uma cajadada só: além de arranjar nomes artísticos num passe de mágica, foi escolhido também o nome da banda. Assim surgiam o vocalista Joey Ramone, o guitarrista Johnny Ramone, o baixista Dee Dee Ramone e o baterista Tommy Ramone. Estava formado o Ramones.

    " 'Ramones', o álbum, é uma verdadeira enciclopédia das melhores referências do Rock. Qualquer um capaz de enxergar por trás da crueza do disco vê ali a clara influência dos Beatles, Bo Diddley, Who, rockabilly, Phil Spector, dos coros dos 'girl groups' dos anos 60, das harmonias vocais dos Beach Boys, enfim, de tudo que já existiu de melhor no Rock. Ao mesmo que olhavam pra trás, os Ramones criavam uma música nova, que vislumbrava um futuro em que idéias poderiam ser expressas sem precisar de solos de 15 minutos." (Revista Bizz, Outubro/2005)

    Como a maioria das primeiras bandas punks, o primeiro disco dos Ramones foi um fiasco de venda, não alcançando nem o Top 100. Mas existem obras de arte cuja influência só é sentida após algum tempo. Enquanto a maior parte dos jovens da época preferia dançar ao som de Donna Summer e Bee Gees, outros descobriam um novo universo musical naquele disco de 14 músicas e 29 minutos. Isso se consolidou quando a banda foi tocar na Inglaterra, onde sempre foram melhor recebidos que nos Estados Unidos. Apesar de a banda não ter visto a importância que seus primeiros shows internacionais teriam, considerando-os apenas corriqueiros, os rockers da terra da rainha consideraram uma influência e tanto. Gente como Paul Simonon, Mick Jones e Joe Strummer, do Clash, Sid Vicious e Johnny Rotten dos Sex Pistols, Chrissie Hynde, que faria sucesso nos Pretenders, e o pessoal do The Damned, The Jam, Buzzcocks e X-Ray Spex. Toda a nata do Punk Rock inglês foi influenciado por essa banda destinada a se tornar lenda. Os Sex Pistols e o Clash fizeram seus primeiros shows juntos depois de ver os Ramones. Dois dias depois da estréia ramônica na Inglaterra, o Damned fazia o seu primeiro show. Nos Estados Unidos também não seria diferente, apesar de demorar um pouco mais: logo surgiriam o Dead Kennedys, o Black Flag, o Circle Jerks, o Minor Threat, o Fear, todos citando o momento em que conheceram os Ramones como fato marcante em suas vidas.

    Entre toda a cena nova-iorquina, que incluía Blondie, Talking Heads, Television, Heartbreakers (de Johnny Thunders, ex-New York Dolls) e várias outras, os Ramones foram os que deram mais duro, ensaiando, tocando e fazendo auto-propaganda. Após juntar uma demo com 15 músicas para encher o saco do jornalista Danny Fields, um herói underground que havia sido fundamental na contratação dos Stooges e do MC5 pela Elektra, para ir ao CBGB's - o Country, Bluegrass and Blues, uma casa de shows lendária e cultuadíssima até os dias de hoje, onde várias bandas que no futuro fariam sucesso começaram ali, incluindo os próprios Ramones, que realizaram centenas de shows lá. Quando viu a banda, Fields se ofereceu imediatamente para empresariá-los. "Pela primeira vez em muitos anos, senti uma genuína paixão adolescente pela música. A banda me fez acreditar de novo no Rock.", declarou. Empresariados por Danny, a banda assina com a gravadora Sire, em outubro de 1975. Quatro meses depois, entram em estúdio para gravar seu primeiro álbum, sob produção de Tommy Ramone e Craig Leon, um músico e produtor que tem trabalhado nos últimos 30 anos com artistas díspares, como o new-wave do Blondie, o punk eletrônico do Suicide, o industrial do Front 242, o cantor de ópera Luciano Pavarotti e, claro, os Ramones. Em entrevista à revista Bizz, disse que o objetivo dele com o primeiro LP dos Ramones era soar como uma mistura do blues explosivo dos Stooges e o preciosismo melódico do álbum "A Hard Day's Night", dos Beatles. Segundo Dee Dee, o primeiro álbum da banda levou apenas dois dias para ficar pronto, e custou uma miséria: 6.400 dólares, algo que fugia totalmente do padrão da época, onde as gravações eram milionárias e levavam anos para serem concluídas!

    E, após 30 anos, quem ouve "Blitzkrieg Bop" tem a mesma reação de quem a ouviu em 1976: que a música é um atentado. O primeiro single dos Ramones diferia de tudo na época. No meio da década de 70, o punk não existia oficialmente, apenas como o nome do fanzine criado e batizado por Legs McNeil e seus amigos, ou como gíria de homem que virava mocinha na cadeia... O rock pesado, intricado e complexo reinava; as guitarras medievais de Ritchie Blackmore, as viagens astrais de David Gilmour, o ritmo sombrio e arrastado de Tony Iommi, a megalomania virtuose de Jimmy Page. Então, ouvir Johnny Ramone tocando uma música de poucos acordes, nenhuma virada e nenhum solo, e com um refrão chiclete pra cacete entoado por toda a banda, para o público entoar junto também, chegava a ser uma heresia para a época. Como uma música poderia entrar para os anais da história do Rock com apenas 2:14 de duração? Os Ramones sabiam muito bem como. O ritmo acelerado e insano da canção conta uma história que parece falar da Blitzkrieg, uma espécie de comando nazista, que quem escreveu a música pretende combater. Mas o que mais marca a música é que ela, simplesmente, é a música do "hey, ho! let's go!", refrão que todo mundo que gosta de Rock sabe cantar. Por mais que fale que odeie Ramones, ou que não veja muita graça.

    "Beat On The Brat" entra mostrando porque os Ramones, além de precursores do Punk Rock, também seriam considerados pais do bubblegum ("chiclete", em uma tradução literal), estilo marcado por músicas grudentas, daí o nome. A letra fala de crianças que apanhavam com taco de beisebol de suas mães, para serem disciplinadas. Em outra parte grudenta, a banda fala desse método cruel de educação: "O que você pode fazer?/Com um taco como aqueles sempre nas suas costas/O que você pode fazer? Perder?"

    Mais um hino, mais um clássico. "Judy Is A Punk" já foi chamada por alguns de pura poesia punk fluindo através dos alto falantes, com guitarras de acordes abafados e a bateria crua e seca, abrindo espaço para a invocada linha vocal de Joey, que canta sobre duas garotas, Jackie e Judy, que foram para Berlim se juntar ao Ice Capades, e que Joey ficou preocupado, pois teme que as garotas morram, e ele próprio parece não saber o motivo de sua preocupação, pois afinal, Jackie é uma punk e Judy uma... anã (!).

    Eis que muito antes dos integrantes das bandas de sonoridade pop-punk-romântico e emo-cornudo nascerem e saírem das fraldas, os Ramones nos apresentavam o romântico punk rock "I Wanna Be Your Boyfriend", talvez o mais perto que os Ramones, na época, conseguiriam chegar perto de uma balada, pois apesar das belíssimas harmoniais vocais e backing vocals sessentistas, a música ainda apresenta uma guitarra bastante elétrica. E tome uma letra sentimental curta e que entrega de bandeja: "Hey garotinha/Eu quero ser seu namorado/Doce garotinha/Eu quero ser seu namorado/Você me ama?".

    "Chain Saw" volta com o Rock rápido e de poucos acordes, com backing vocals grudentos, em uma música que não chega nem aos dois minutos de duração. A letra faz referência à clássica película de terror gore "O Massacre da Serra Elétrica" ("Texas Chainsaw Massacre"). Joey parece sentir um imenso remorso por perder a garota dele nesse massacre, mas ele tenta fazer pose de quem não sente falta: "Sentado aqui sem nada pra fazer/Sentado aqui pensando só em você/Mas você nunca vai sair de lá/Ela nunca vai sair de lá/Não me importo". A letra tambem revela outra interessante característica dos Ramones, ou seja, de que a banda era fã declarada de filmes B.

    Mostrando a decadência que a juventude americana se encontrava na época, temos "Now I Wanna Sniff Some Glue", com pouco mais de um minuto e meio de duração, com uma letra ácida, direta e absurdamente curta, falando sobre o tédio que reinava sobre a juventude: "Agora eu quero cheirar um pouco de cola/Agora eu quero ter alguma coisa para fazer/Todas as crianças querem cheirar um pouco de cola/Todas as crianças querem alguma coisa para fazer".

    "I Don't Wanna Go Down In The Basement" mostra de novo a paixão por filmes trash de terror. Uma banda empolgadíssima e muito bem entrosada conta a história de um menino que não quer ir ao porão porque viu alguma coisa terrível lá. O refrão, assim como em todas as catorze faixas desse álbum, é mais do que empolgante. Os Ramones possuíam um senso único para criar melodias que ao mesmo tempo que soavam brutais e secas demais aos ouvidos frágeis e delicados de quem havia se acostumado e parado no tempo com a psicodelia e o progressivo, também se mostravam pops, uma proficiência pop de uma década atrás, porém que enxergava profeticamente os novos rumos que a música iria tomar.

    Nervosismo puro é encontrado na bad-boy "Loudmouth". A letra continua pequena, mas a música é um pouquinho maior desta vez. "Você é um babaca/É melhor você calar a boca/Senão eu vou te dar porrada/ Porque você é um babaca", grita Joey nitidamente empolgado, e com um tom um tanto fanfarrão na voz. Petardo inesquecível.

    "Havana Affair" é uma música de tom levemente política, na verdade, uma ironia com a censura anti-comunista que comia solta na época lá na terra do Tio Sam devido à Guerra Fria. "Navio-PT a caminho de Havana/Eu fazia como modo de vida, caramba/Pegando a banana/Agora eu sou um espião da CIA/Trabalhando para os USA!" afirma com falso orgulho um irônico Joey, em uma das melhores músicas da bolacha na minha opnião, com um refrão totalmente carismático, uma letra excelente e uma linha vocal inspiradíssima.

    Ouvimos agora "Listen To My Heart", uma canção que, apesar do título e da letra, não tem nada de balada. É justamente o que ouvimos ao longo de todo o álbum: um rockabilly melódico e único. "Na próxima vez eu vou ouvir meu coração/Na próxima vez eu serei mais esperto", canta Joey repetidamente, porém sem nunca cansar, nas muitas letras sobre relacionamentos decadentes que os Ramones fariam.

    "53rd & 3rd" é meio auto-biográfica e meio ficctícia, com Dee Dee como autor da mesma, este que foi o principal letrista da banda ao longo da extensa carreira dos Ramones. Dee Dee fala da época em que fazia programa (o famoso michê) para descolar o dinheiro das drogas que queria cheirar. A parte ficctícia é quando eles cantam sobre um garoto de programa considerado feio e que ninguém escolhe, e por tremenda sacanagem do destino, logo no dia que é escolhido, é assassinado a navalhadadas por um ex-boina verde. O refrão inspirado e marcante dessa música pode não ser de conhecimento público, mas os fãs de Ramones certamente conhecem essa pepita, um dos muitos clássicos presentes aqui. O ritmo da bateria dá todo um charme à música, sem falar das bases de guitarra, onde os acordes graves marcam presença.

    Ouvimos agora a única música que não foi composta pela banda, "Let's Dance", composição de Jim Lee (não, não é o desenhista dos X-Men!), que ganhou uma roupagem tão ao estilo da banda que fica até difícil acreditar que não seja de autoria deles. "Hey amor, não quer pegar a chance?/Diz que você me levará a essa dança?/Bem, vamos dançar, vamos dançar", brada Joey orgulhosamente, talvez por estar honrado um clássico pop dos anos 60, aqueles que passam e são esquecidos pela memória do público, mas que Joey sempre foi um eterno fã.

    Mais um clássico? Pois é. E novamente, tão curto que quando você acaba, você quer ouvir de novo. Dessa vez é "I Don't Wanna Walk Around With You", uma das muitas músicas dos Ramones que falam sobre vontades (com inícios tipo "I Wanna..." e "I Don't Wanna..."). Uma música que fala de antipatia de uma forma nem um pouco poética, mas com uma sonoridade quase inocente e ingênua, apesar de sabermos que de inocentes e ingênuos, os Ramones não tinham nada - e nem poderiam!

    O gran finale vem com "Today Your Love, Tomorrow The World", iniciada com o clássico "One, Two, Three, Four!", onde guitarras invocadas abrem espaço para o bubblegum rápido e furioso de sempre, com a letra falando sobre um garoto alemão nazista facilmente controlado, que está seduzindo a garota com o simples motivo de que, supostamente, ela é parte do seu plano de dominação mundial. Daí Joey cantar "hoje seu amor, amanhã o mundo", no final da canção. E acaba sendo autobiográfica também. Na época, o amor do circuito underground, e agora, o amor do mundo inteiro.

    E lá se vão 30 anos. Trinta anos de alegrias, tristezas, perdas e ganhos, de 15 álbuns e 2263 shows que a banda ainda viria a conhecer. E hoje em dia, são poucos os Ramones que sobreviveram para contar história. Apenas Tommy, Marky e CJ, entre os membros mais conhecidos, sobreviveram para contar história. Joey, Dee Dee e Johnny partiram dessa para uma melhor, pois como disse o próprio Dee Dee, a banda sabia que nunca poderia ter um final feliz. Mas os Ramones decerto encontraram um final feliz: nunca mancharam sua discografia, sempre mantiveram uma consistência surpreendente e sempre bombardearam os fãs com hinos e mais hinos do Punk Rock, que ajudariam a consolidar pelo menos três gerações de músicos. Pergunte para os punks ingleses, à galera hardcore de New York, à galera do grunge, ao Green Day, ao Offspring, ao Rancid... Ao Rob Zombie, ao Tom Waits, ao Zeke, ao Motörhead, ao Kiss, ao Marilyn Manson, aos Red Hot Chili Peppers, ao Soundgarden... Enfim, cara, um batalhão. A importância dos Ramones não pode ser medida em palavaras. Do Punk e Hardcore ao Thrash Metal e ao Industrial, passando pelo Hard Rock e o Rock And Roll, não importa. Em todo ramo há um fã de Ramones. Até na literatura. Stephen King que o diga.

    A banda acabou, mas com certeza um dia nos juntaremos à eles. We're a happy family - todos somos Ramones! Até quando estivermos juntos, e poderemos então cantar com Joey, Dee Dee, Johnny, Tommy, Marky, CJ e quem mais estiver afim de se juntar ao coro: HEY! HO! LET'S GO!

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    posted by billy shears at 7:17 PM | 16 comments

    domingo, agosto 27, 2006
    David Bowie - The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars


    Naquele célebre ano de 1972, o mundo do Rock And Roll andava coloridamente diferente. Após a invasão de sons britânicos nas rádios e televisões de todo o mundo, depois dos hippies protestarem contra a guerra do Vietnã em meio à muita maconha e ácido lisérgico para logo então serem bombardeados por todo aquela cena de hard rock e rock progressivo da Inglaterra e Estados Unidos em sua maioria. Neste ano, então, ocorria a invasão do glam rock, estilo que dava tanta importância ao visual quanto à musicalidade e a lírica. A droga do momento passa a ser a cocaína e a bissexualidade se torna uma moda juvenil bem antes de qualquer "emoboy" ou "emogirl" pensar em nascer. É quando artistas como o T. Rex, Alice Cooper, Sweet, Slade, Gary Glitter, Mott The Hoople, Iggy Pop And The Stooges (em sua segunda fase), Lou Reed, New York Dolls, Queen, e claro, David Bowie encontraram seus dias de glória e momento apropriado para cravar seu nome na história. O movimento tornava-se tão grande que até bandas que não tinham nada a ver com os artistas desse ramo passaram a adotar um visual mais colorido - prova disso é só ver algumas fotos do Black Sabbath nesse período - e alcançava o Brasil, com os Secos e Molhados aliando um som contagiante à androginia, maquiagem e teatralidade.

    David Bowie foi a figura principal do movimento, sem sombra de dúvidas. Enquanto o T. Rex fazia sucesso estrondoso apenas na Inglaterra, Bowie levava o novo e velho mundo à loucura após fazer sucesso considerável com seus excelentes discos "Man Who Sold The World" e "Hunky Dory" , e então crivou pela primeira vez seu nome no grande livro do Rock And Roll com o seu sensacional quarto disco "The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars", em 1972. O guitarrista, tecladista e segundo vocalista Mick Ronson, o baixista Trevor Bolder e o baterista Mick Woodmansey abriam espaço para David Bowie encarnar Ziggy Stardust, um extraterrestre que um dia aterrisa na Terra.

    O disco abre com "Five Years", uma música sombria, com uma bateria sendo golpeada lentamente, com melodias insistentes de piano e cordas. David Bowie canta que, quando Ziggy chega à Terra por acidente, as pessoas haviam acabado de descobrir que o mundo iria encontrar seu fim dentro de cinco anos. Um emocionado refrão vem à tona com David cantando "Nós temos cinco anos, presos nos meus olhos/Nós temos cinco anos, que surpresa/Nós temos cinco anos, meu cérebro está todo machucado/Nós temos cinco anos, é tudo que nós temos". O vocal de Bowie torna-se incessante ao lado de de Mick Ronson repetindo o título da música enquanto a figura principal da banda se esgoela.

    "Soul Love" tem um baixo marcante e uma excelente linha de saxofone por parte de Bowie, ao lado de uma base de guitarra com uma melodia grudenta . A letra fala sobre a relação entre a existência e três amores: o amor pelos que já morreram (o amor de pedra), o amor romântico (o novo amor) e o amor religioso (o amor de alma). Um grande refrão é criado com a frase "Tudo o que eu tenho é meu amor pelo amor/E amar não é amar".

    Em seguida, ouvimos "Moonage Daydream", que apesar de já ter sido lançada antes sob o pseudônimo de Arnold Corns, ganha maior sentido no conceito desse álbum. A influência de Marc Bolan do T. Rex em Bowie já é sentida nessa canção. Bowie já revela como é o alien Ziggy: "Eu sou um jacaré/Eu sou um papai-e-mamãe vindo para você/Eu sou o invasor do espaço, eu serei uma vagabunda do rock and roll para você". A canção atinge um clima contagiante e espacial, cujas reviravoltas com certeza tiveram alguma influência da primeira fase do Pink Floyd, aquela comandada por Syd Barret. Excelente.

    Então, ouvimos agora o clássico por magnificência do álbum; sim, falamos de "Starman", com sua contagiante melodia de cordas e uma linha vocal inspiradíssima. “Há um homem-estrela esperando no céu / ele gostaria de vir nos encontrar / mas ele acha que piraria nossas cabeças”, entoa David no contagiante refrão. A música causou um sucesso tão estrondoso que ganharia até uma versão em português pelos gaúchos do Nenhum de Nós, adaptada para "Astronauta de Mármore". Mas, sem querer ser anti-patriota, a original de Bowie é certamente bem superior. Bowie tem uma performance simplesmente possuída nessa canção, um de seus maiores hinos, isto se não for o maior.

    "It Ain't Easy", que originalmente fechava o lado A do vinil, é a única do álbum que não foi composta por David. O crédito pertence a Ron Davies, e é uma excelente música, de melodia vocal e instrumental incríveis, princiaplmente no refrão. E ainda, a música gera uma certa polêmica, pois muitas vezes questionaram Bowie sobre o motivo de não colocar composições próprias no lugar desta música. David respondeu simplesmente "porque é uma música do caralho". Bem, para o cara interpretar ela assim com tanto gosto... Deve ser mesmo!

    Seguimos com "Lady Stardust", iniciada com uma performance incrível no piano por parte de Mick, em que a letra dá a impressão de falar sobre o movimento glam, nos versos iniciais "As pessoas ficaram estarrecidas com a maquiagem em sua face/Riram de seu grande cabelo negro, sua graça animal/O garoto com jeans azuis apertadas/Pulou no palco/E a senhora Stardust cantou suas canções/De escuridão e desgraça" muito possivelmente fazendo referência à Marc Bolan. Um belo refrão, apoiado por Mick, com David Bowie abusando do gogó, na linha tenuê da voz padrão e o falsete. Tente não sair cantando-a quando a mesma terminar!

    Chega ao ouvido "Star", um rock and roll invocado, com um piano pegando fogo, com backing vocals servindo de pano de fundo para os vocais incessantes de Bowie. A letra reparte momentos em que fala sobre o cotidiano de várias pessoas, para logo o personagem falar si mesmo, onde David entrega de bandeja os rasgados versos "Eu queria dormir a noite como uma estrela de rock.../Eu queria me apaixonar como uma estrela de rock...". A música, ao seu final, torna-se cadenciada, gerando um contraste interessantíssimo.

    "Hang On To Yourself" continua pondo fogo no disco, em um rock balançado e de linhas vocais sexys por vezes, ousadas por outras. Mesmo não sendo muito conhecida, ela parece ser bastante influente, pois Glen Matlock (primeiro baixista do Sex Pistols, antes de Sid Vicious) disse se inspirar nela para criar o infame hino "God Save The Queen". Uma letra convidativa e provocante, totalmente no espírito das bandas da época.

    Chegamos na canção onde o personagem principal é melhor descrito, a canção "Ziggy Stardust", onde David Bowie parece querer criar na letra o deus do Rock definitivo, inclusive dando a ele traços de falecidos rockstars: Jimi Hendrix, fazendo de Ziggy um guitarrista canhoto e Brian Jones, do Rolling Stones, como se ele fosse uma espécie de "gênio incompreendido". No final, Ziggy acaba sendo morto por seus próprios fãs, fazendo um protesto contra os níveis que o fanatismo pode alcançar: "Fazendo amor com seu ego/Ziggy sugou em sua mente/Como um messias leproso/Quando as crianças mataram o homem/Eu tive que acabar com a banda/Ziggy tocava guitarra"...

    "Suffragette City" é mais uma poderosa e inflamada música, com a letra inclusive fazendo uma ligação com o filme "Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick de 1972, ao descrever uma realidade caótica, e expressando isso com clareza no verso "Disse, 'drugue, não quebre aqui/Aqui tem quarto apenas para um e lá vem ela, lá vem ela". Então somos bombardeados por um ritmo cada vez mais acelerado com Bowie gritando o nome da música repetidamente, com todos os instrumentos criando um clima crescente e dançante.

    Chegamos em um dos melhores encerramentos de álbum: "Rock And Roll Suicide", tão perfeita para fechar que Bowie inclusive a utilizava para fechar os shows da turnê desse álbum. Em uma letra romântica de certa forma, David parece falar com uma pessoa que se destruiu, mas quer passar a segurança à ela que ela não está sozinha, onde o camaleão do Rock canta cada vez mais esgoelado, acompanhado de contagiantes backing vocals. O crescimento instrumental repentino fecha o álbum de forma sensacional.

    Cara, eu poderia ficar por aqui elogiando o dia inteiro, puxando o saco, e você não teria idéia da importância dessa bolacha. Para se ter uma idéia, já se declararam influenciadas pessoas como Radiohead, Placebo, Oasis, Blur, Stone Roses, Trent Reznor, Rolling Stones, Kraftwerk, Duran Duran, Boy George, Sigue Sigue Sputnik, Nenhum de Nós, e mais uma cacetada de gente. Até gente que veio antes dele e que o havia influenciado, e Bowie cometeu um ato único, que pouca gente foi capaz de fazer: influenciar suas próprias influências. O último caso que vimos assim foi quando Iggy Pop disse compor influenciado por White Stripes!

    O personagem criado por David Bowie nesse álbum foi tão grande que as pessoas criavam uma associação automática entre os dois, não sabiam mais separá-los, até Bowie decidir dar um fim em Ziggy Stardust no final da turnê do álbuim, em um lendário show no também lendário Hammersmith Odeon, onde eles deixou muitos a entender que ele acabaria com a carreira, e não apenas com o personagem. Esse álbum foi só mais um passo para Bowie abalar as estruturas nos anos que ainda viriam, com álbuns como "Aladdin Sane" e "Diamond Dogs", também portadores de vários hinos indispensáveis ao bom ouvinte de música. Enfim, por que prolongar ainda mais o discurso? Corra atrás, conheça-o e entenda por qual motivo Bowie merece tanto reconhecimento.

    "Wham-bam, thank you man!".

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    posted by billy shears at 9:09 PM | 8 comments

    quarta-feira, agosto 23, 2006
    TOP 5: Rock Movies

    Rock e cinema nunca foram duas linhas que nunca se cruzaram. Quando a primeira geração do Rock And Roll surgiu, na década de 50, um dos símbolos da rebeldia do Rock, além do rebolar provocante de Elvis Presley, estava no topete e olhar de deliquente juvenil de James Dean. Sem contar um filme clássico do período que levava o nome "Rock Around The Clock", que chocou muitas famílias na época ao mostrar os efeitos que o Rock poderia desencadear, como subversão, anarquia e recusa à submissão. Ao longo das décasdas, muitos outros filmes sobre o assunto foram surgindo... E alguns até estrelados pelas próprias estrelas! Veja a seguir cinco filmes muito bons que te motivarão a correr atrás de mais filmes sobre o assunto:

    5º Lugar: Escola do Rock (School Of Rock)

    Além de uma das melhores comédias dos últimos anos, "Escola do Rock", de 2003, é um tributo divertidíssimo ao Rock And Roll. O engraçadíssimo Jack Black interpreta Dewey Finn, um cara que é demitido de sua banda por julgarem-no muito exibicionista, que está devendo bastante dinheiro de aluguel, que aceita dar aulas em um colégio particular de disciplina rígida, fingindo ser um professor substituto amigo seu. Ao se deparar com crianças disciplinadas até o limite, Dewey quase desiste, mas vê que as crianças tem muito talento musical; então, resolve ensiná-las a matéria mais difícil de todas, o Rock And Roll, aquele que segundo um rocker daqui, Raul Seixas, não se aprende, nem se ensina; nesse filme é observado que de fato é isso... Rock se desperta! Não faltam citações à bandas clássicas do Rock, como AC/DC, Black Sabbath, Led Zeppelin (este fazendo parte da trilha sonora, inclusive), Pink Floyd, Yes, The Who, entre muitas outras. Dewey inscreve a banda de crianças que formou em um concurso de bandas, cujo prêmio de primeiro lugar é uma considerável quantia em dinheiro. Será que ele conseguirá? Isso você só vai saber assistindo... Mas assista. Um filme que tem "Immigrant Song" do Led e "It's A Long Way To The Top (If You Wanna Rock And Roll)" do AC/DC não pode ser ruim!


    4º Lugar: Tommy - O Filme (Tommy)

    Caros fãs de Rock And Roll em sua forma primordial. Sabe o The Who? Sim, aqueles caras que detonavam tocando o hino rebelde "My Generation" em plena metade da década de 60, e ficaram famosos por quebrar seus instrumentos em cima do palco, levando muitas outras bandas ao longo da história a fazer o mesmo - para ficar em dois exemplos novos, pergunte ao Nirvana e ao Cachorro Grande de onde eles tiraram esse hábito. Pois então, esses caras foram um dos pioneiros no conceito de Ópera rock - nada de rock com vocais líricos e melodias eruditas, e sim um álbum inteiro que suas músicas separadas dizem uma ou duas coisas, e juntas criam uma história com personagens, trama e falas, por vezes. Depois da safada música de dez minutos "A Quick One... While He's Away", divida em cinco partes e que contava a história de uma relação extra-conjugal, o The Who fez "Tommy", um álbum que, apesar de não ser meu preferido da banda, tem valor inegável, principalmente por gerar esse fabuloso filme. O vocalista do The Who, Roger Daltrey, interpreta Tommy Walker, que quando criança presencia a morte de seu pai, causado por sua mãe e seu amante. O garoto fica cego, surdo e mudo. Quando consegue se libertar desse estado, ele vira uma espécie de messias, líder de uma seita, mas seus seguidores acabam se rebelando por causa de suas regras rígidas. Além do próprio The Who atuando - o já citado Roger e Pete Tonshend (como ele mesmo), John Entwistle (idem) e Keith Moon (como Tio Ernie), o filme tem um bando de figuraças do cinema e da música: Ann-Magret, Oliver Reed, Elton John, Jack Nicholson, Eric Clapton, Tina Turner, entre outros. O slogan do filme diz, "os seus sentidos nunca mais serão os mesmos". Primeiro slogan sincero que eu vejo...

    3º Lugar: The Wall (Pink Floyd - The Wall)


    Outra Ópera rock? Pois sim! Pelo jeito, a trama contida no álbum era boa demais para ficar só no áudio. Dirigido por Alan Parker (de "Evita"), Bob Geldof interpreta Pink, um homem que, ao longo da sua vida se decepecionou tanto com o mundo - com a ausência do pai, o superprotecionismo da mãe, a repressão na escola e a infidelidade dos parceiros afetivos - que acabou por construir um muro à sua volta, que torna-se solidificado quando Pink vira uma estrela do Rock, e está tão alienado para o mundo que vai afundando aos poucos em sua depressão. Uma sucessão de imagens metafóricas que nos faz refletir muito sobre o mundo em que vivemos, em que as pessoas ao se decepcionarem com nossa sociedade acabam criando uma "muralha" de proteção para não continuar sofrendo. A parte em que Pink imagina ser um general nazista discursando ao invés de um astro fazendo shows ainda choca muito até hoje quem assiste ao filme, mostrando a opnião, ao menos de Roger Waters, de como ídolos de massa sem conteúdo algum podem ser facilmente comparados à líderes de discurso lobotomizante. Isso sem falar, é claro, que o álbum contém algumas das músicas mais conhecidas do Pink Floyd: "Mother", "Comfortably Numb" e, claro, a mais do que clássica "Another Brick On The Wall, Pt. II" (aquela do "Hey, teacher!"...). Reação inevitável de ficar algumas horas (ou dias) refletindo e lembrando da maioria das cenas.

    2º Lugar: Velvet Goldmine


    Um filme fantástico sobre uma época mais que glamourosa. Todos os personagens são ficctícios, porém, inspirados na realidade: Jonathan Rhys-Meyers é Brian Slade, figura central do movimento glam rock, onde homens e mulheres com maquiagem brilhante se entregam ao prazer da sexualidade livre e o consumo irrestrito de drogas, ao som de um rock contagiante e provocativo. Brian inventa o personagem Maxwell Demon, que morre ao final da turnê, sem deixar pistas do seu paradeiro, como referência à David Bowie. Temos também o andrógino Jack Fairy, inspirado em Lou Reed. Ewan McGregor (de "Trainspotting - Sem Limites) interpreta Curt Wild, inspirado em Iggy Pop e... Ewan está perfeito no papel em que foi colocado - o cara possui os trejeitos de Iggy, o modo de cantar de Iggy, a performance e danças de Iggy... Me pergunto se depois do filme, não aconteceu a mesma coisa que houve a Val Kilmer depois de filmar "The Doors"... Por último, temos Christian Bale, um ótimo ator, apesar de não ser muito conhecido, que interpreta Arthur, jovem que é repreendido por pais e amigos a todo momento pela sua admiração ao Glam Rock, o que a certa hora o obriga a fugir de casa. Na década de 80, ele é designado para fazer uma matéria se Tommy Stone, novo astro da música pop, não seria Brian Slade, que teria forjado o próprio homicídio. Emoção, humor, drama e fidelidade do início ao fim.

    1º Lugar: The Wonders - O Sonho Não Acabou (That Thing You Do!)


    Um retrato mais do que cativante do que foram os anos 60 para o campo do show-business. Tom Hanks escreveu, dirigiu e co-estrelou essa comédia atuando como Mr. White, um empresário da gravadora Play-Tone que contrata o grupo The Wonders (chamado inicialmente de The Oneders) e os arremessa ao estrelato graças ao seu "one-hit-wonder" "That Thing You Do", uma música feita especialmente para o filme. Liv Tyler, filha de Steven, vocalista do Aerosmith, atua como Fayle Dolan, namorada do vocalista e guitarrista James Mattingly II. Outra figura marcante é do baterista de última hora Guy Patterson, um aficcionado por jazz e vendedor frustrado de eletrodomésticos, que entrou na banda para substituir o antigo baterista machucado, mas acabou garantindo lugar fixo ao acelerar a música e torná-la rentável ao grande público. Um filme que mostra toda a inocência de uma época em que as fãs iam em programas de auditório para gritar feito malucas por sua banda, e caras de terninho arrumado e cabelo penteado cantavam dançantes músicas sobre amor e festas. Todos os ingredientes de uma vida na estrada - saída de integrantes, exigências da gravadora, turnês exaustivas, glória, estrelato, decadência e o inevitável fim da banda... Um retrato despretensioso e divertídissmo de uma época que não volta mais, já que os rockers, você sabe, preferiram avançar para a famigerada imagem de gente cabeluda, rebelde entre outros adjetivos, alguns até indecorosos...

    Mas não pense que esses são os únicos filmes, não senhor! Caso você goste desses, procure ver também, só para começar, o já citado "The Doors", de Oliver Stone, com Val Kilmer; "Stoned", filme biografia do falecido gênio Brian Jones, dos Rolling Stones; "Hair", um feliz e chapado musical sobre a época hippie; e o resto... cabe a você descobrir, caro colega. Longa vida ao cinema, longa vida ao Rock And Roll!

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    posted by billy shears at 9:08 PM | 12 comments

    quinta-feira, agosto 10, 2006
    Nine Inch Nails - The Downward Spiral



    São vários os motivos que tornam o Nine Inch Nails uma banda única. O primeiro fato, sempre o mais lembrado, é que é uma banda de um homem só. Esse homem, Trent Reznor. Um dos artistas mais tristes e sinceros que alcançaram renome na história da música contemporânea e, diga-se de passagem, o mais auto-destrutivo de todos. Há quase 20 anos o homem chamado Trent produz uma música cerebral e emocional, cheia de texturas e paisagens depressivas e pesadas, agressivas e desesperadas.

    Em 1994, com o álbum que é resenhado agora, nesse post, no mesmo ano em que Kurt Cobain morria, não aconteceria uma contraposição de espírito como vinha acontecendo anteriormente - com o rock and roll básico dando lugar ao progressivo e ao glam, que logo era substituído pelo punk/hardcore, que eram então substituídos pelo hard rock farofa... Nesse vai e vem de intelectualidade, revolta e alienação, a tristeza em forma de música mostrada por The Cure, Joy Division e Bauhaus deu lugar ao grunge, que por mais que tivesse bandas de sonoridades totalmente diferentes, suas letras falavam sobre temas bastante sérios, deixando para trás o hedonismo e diversão do rock farofa. Após a queda do Muro de Berlim e o colapso da antiga União Soviética, atual Rússia, com o capitalismo selvagem dos Estados Unidos sendo a única alternativa econômica para a maioria esmagadora dos países ao redor do mundo. No Brasil, éramos atingidos por duros golpes como o caso Collor mesmo depois de o sonho das Diretas Já serem alcançados.
    Após uma multifacetada década de 80, ainda esperançosa de dias melhores, os anos 90 não pareciam serem muito promissores para a humanidade. Quem dera para os jovens, que começaram a prestar atenção em problemas como drogas pesadas, violência familiar e escolar, depressão e outras doenças psicológicas, etc. Após o auge do movimento flaneludo de Seattle, tinha chegado a vez do Industrial. Da tristeza terminal de Reznor, da acidez corrosiva de Marilyn Manson, entre outros da música pesada eletrônica, como o KMFDM, Rob Zombie e Ministry.

    "The Downward Spiral", considerado por muitos fãs a obra prima de Trent, onde ele começou a angariar a lenda que existe em torno da sua pessoa, e é uma representação fiel desse período da história tão incerto e vazio, sem quaisquer perspectivas. Reznor gravou o álbum na mansão onde os seguidores da seita de Charles Manson cometeram o assassinato da atriz Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski (de "O Bebê de Rosemary"). O "gênio da auto-destruição" produziu uma atordoada e difícil obra conceitual sobre um homem que desiste de viver, mas que antes de abandonar a prória existência se desliga aos poucos de tudo - da religião, da vida social, do sexo, do amor, entre outras coisas. Um dos trabalhos mais influentes do que convencionou-se a chamar de industrial.

    Tais afirmações podem ser sentidas logo na primeira música, a fenomenal "Mr. Self-Destruct", onde Reznor introduz o personagem principal da história: alguém extremamente dependente, que se deixa ser controlado por qualquer coisa. Uma pancadaria infernal quase incessante, com Trent no limite do nervosismo, gritando "Eu te levo onde você que ir/Eu te dou tudo o que você precisa saber/Eu te deixo fraco e te esgoto/Senhor Auto-Destruição" no refrão. Ao longo da letra, vemos que a pessoa desenvolveu dependência pelo seu lado destrutivo, a ponto de não conseguir largá-lo em momento algum - todas as crenças e todos os fatos parecem estar ligado ao "senhor da auto-destruição".

    O clima é quebrado subitamente quando entra "Piggy", canção com baixo marcante e um vocal arrastado e mórbido de Trent, onde ele se mostra cada vez mais decidido na sua escolha, ao cantar insistentemente "nada pode me parar agora/porque eu não me importo mais". Ao longo da letra, vemos que o título da canção é em referência à uma pessoa que fez ele perder tudo e que degradou o estado emocional dele, forçando o eu-lírico a tomar a escolha de não se importar com mais nada.

    "Heresy" simboliza o rompimento de Trent com a fé em Deus e a religião. Dos versos mais calmos, onde Trent canta de jeito fino e oprimido nos versos para cantar com fúria e indignação no refrão "Deus está morto/E ninguém se importa/Se existir um inferno/Te vejo por lá!". Na letra, ele ataca a grande manipulação promovida por instituições religiosas nos versos "Ele tem as respostas para acalmar minha curiosidade/ele sonhou com deus e chamou de cristianismo" e então questiona, nos últimos versos da música, se a pessoa morreria por um deus hipócrita, que demandou vírus, morte, sofrimento e dor através da devoção, mantendo o rebanho de ovelhas na linha através da fé cega.

    Outro impacto fortíssimo segue com um clássico da banda, "March Of The Pigs". Uma música com contrastes fortíssimos, passeando por um peso monstruoso com vocais no limite da indignação, dando uma freada total em momentos que o teclado segue a voz arrastada e sinistra de Reznor. Na letra, Trent demonstra grande desprezo pela sociedade em geral cantando "todos os porcos estão alinhados/eu te dou tudo que você quer/(...)/os porcos ganharam essa noite/agora eles podem todos dormir sonoramente/e tudo então está bem". Uma avalanche de ódio que dá momentos para respirar apenas para logo voltar com a pancadaria insana.

    "Closer" entra com seu ritmo dançante, revelando a música mais famosa no disco, um tratado do autor sobre a obsessão sexual. De novo, o personagem principal revela ser uma pessoa bastante dependente das outras, dependendo da pessoa por quem ele é obsessivo para qualquer coisa. Essa obsessão destrói ele aos poucos, como no eternizado verso "Eu quero te foder como um animal/Eu quero te sentir por dentro/Eu quero te foder como um animal/Toda a minha existência é violada".

    O clima de destruição segue com a neurótica "Ruiner", com todos os seus ruídos e efeitos entremeados entre batidas pesadas e guitarras violentas. Reznor questiona como ele deixou que uma figura destruidora entrasse na sua vida, como ele deixou se levar com tanta facilidade, como ele repete no refrão "Como você ficou tão grande?/Como você ficou tão forte?/Como isso ficou tão difícil?/Como isso ficou tão longo?". Da amargura à revolta, os vocais da música e os climas transmitidos pelo instrumental da mesma proporcionam uma verdadeira viagem atormentada. Ao final da canção, o personagem reafirma sua convicção de não poder ser interrompido: "Você não me machuca, nada pode me machucar/Você não me machuca, nada pode me parar agora".

    "The Becoming" é tensa, com um início soturno e crescente que descamba para as batidas eletrônicas pesadas e sequenciadas do industrial fazendo pano de fundo para a voz de Trent se sobressair na canção. Na letra, o personagem principal vê ele próprio tornar-se um monstro. Ele declarar poder tentar escapar disso, mas afirma que está preso à sua causa, que está consumindo ele, tornando ele alguém diferente. Uma das partes mais atormentadas diz: "Isso não vai acabar, isso me quer morto/Que inferno esse barulho na minha cabeça", contrastando com um vocal sumido e mórbido e batidas cadas vez mais altas.

    Cada vez mais distante e frio, em "I Do Not Want This" mostra o personagem principal como alguém inseguro, ciente da própria fragilidade e admitindo estar perdendo o jogo. A sequência da bateria eletrônica, com um som totalmente seco, entra em contraste os vocais mórbidos de Trent e as melodias depressivas que aparecem discretas. A suavidade de Reznor sussurrando "Eu não quero isso" logo torna-se uma avalanche de ódio onde ele grita com todo mundo que cerca ele: "Não me conte como eu me sinto/Você não sabe como eu me sinto!". O ideal frustrado de ter tudo sob o seu controle aparece nos versos finais, em "eu quero conhecer tudo/eu quero estar em todo lugar/eu quero foder todos no mundo/eu quero fazer algo que importe", que parece refletir como era o espírito desesperado dos jovens na época, imersos em um mar de tédio ao se defrontarem com um esquálido futuro.

    A mais curta do álbum aparece na brutal "Big Man With A Gun", que abre com ruídos e batidas ensurdecedoras para logo crescer e virar uma música corrida e mórbida, onde ele declara ser um homem perigosíssimo, totalmente alucinado e, como nós já vimos, perigosíssimo por não se importar com mais nada, como ele grita "Atire, atire, atire/Estou cercando todos vocês/Eu e minha arma fodona!", podendo ser entendida como um ataque violento e armado à toda sociedade, ou então mais uma música sobre a perversão sexual do autor. Sugiro a leitura das letras à parte dessa resenha, pois elas poderão gerar mais de uma interpretação. Uma verdadeira bola de neve de revolta sobre alguém que desistiu de tudo e partiu para o ataque.

    "A Warm Place" surge como um alívio aos ouvidos em relação à faixa anterior. É uma instrumental climática e muito depressiva, como se após o ataque de ódio, começasse a surgir na consciência do "senhor auto-destruição" os primeiros sinais de arrependimento e remorso por romper laços com a sociedade de forma brutal, sem se importar com nenhuma consequência. "Um lugar quente" no meio de todo o banho frio de sangue que o personagem construiu à sua volta.

    De toda essa suposta calmaria, "Eraser" surge aos poucos, com ruídos pertubadores e murmuros que não preparam o ouvinte para as batidas que começam repentinamente, sem aviso algum. Trent, muito espaçadamente fala das necessidades dele, calmamente: "Te usar/Sonhar com você/Encontra você/Te provar/Te foder/Te usar/Te cicatrizar" para depois se auto-flagelar em um acesso súbito de fúria, onde a música vira um inferno de peso e dor: "Me perder/Me odiar/Me amassar/Me apagar/Me matar". Uma música que causa um verdadeiro suspense no ouvinte, deixando ele despreparado para as próximas reviravoltas que ocorrerão a sguir.

    "Reptile", a mais longa do disco, é também uma das canções mais atormentadas e culpadas que eu já tive a oportunidade de ouvir. Em uma canção que parece um mastodonte caminhando de tão pesada. Com a mente torturada, Trent deseja a garota de qualquer jeito, diminuindo-se a si mesmo para que sua obsessão só aumente: "oh, minha bela mentirosa/oh, minha puta preciosa/minha doença, minha infecção/eu sou tão impuro". Figuras místicas como demônios e anjos surgem na letra como uma metáfora ao verdadeiro labirinto que está a mente do personagem principal, que faz ele cada vez mais ter certeza das suas decisões.

    Chegamos então à faixa-título, "The Downward Spiral", uma música mais do que sinistra, com um dedilhar desesperançoso de cordas, com uma vibração que parece ser algo escorrendo insistentemente. Reznor fala com uma grave entonação de voz: surgem então versos como "ele não podia acreditar como era fácil/ele colocou a bala dentro da sua face" e "problemas tem soluções num único flash". O barulho de escorrimento torna-se cada vez mais forte ao que Trent fala "Tudo é azul nesse mundo/A mais profunda das pragas azuis/Tudo confuso/Vazando para fora de minha cabeça". Então, surge o barulho da roleta de um revólver sendo girada insistentemente...

    ...Fazendo continuidade com a então última faixa, uma das músicas mais conhecidas do álbum. "Hurt". Uma melodia arrastada de cordas acompanha Reznor enquanto o mesmo canta "Eu me machuquei hoje/Para ver se eu ainda sinto/Eu me concentro na dor/É a única coisa real...". Uma canção que mostra o final da história da espiral descendente: o arrependimento. De deixar tudo para trás, de não se importar com ninguém. Ele pensa culposamente "Que diabos eu me tornei/Meu doce amigo/Todos que eu conheço vão embora no final" e afirma, no final, "Se eu pudesse começar de novo/A milhões de milhas daqui/Guarda-me-ia/Eu acharia um caminho". À esse ponto, o personagem da história está tão deprimido, que, ao falar na voz de Reznor, sua voz quase praticamente não sai. Muitas vezes, as calmas melodias de cordas e pianos encobrem seu vocal. Até seus gritos tornam-se apáticos. No final, a música cresce em tensão, em uma explosão elétrica, apenas para sumir ao som do vento.

    Mais do que uma obra-prima do Metal Industrial, ou do Rock And Roll, é um dos mais complexos artefatos da música contemporânea. Um dos poucos álbuns conceituais onde as canções são totalmente independentes entre si, e que, organizadas na sequência em que estão, revelam uma história que realmente faz pensar. Se realmente vale a pena encarar os problemas de frente, ou desistir de tudo. Se é melhor ter a oportunidade de consertar tudo que há de ruim, ou conviver com o arrependimento amargo e frio.

    Não hesito em chamar Trent Reznor de um gênio. Não um gênio musical, apesar de ter desenvolvido uma música única, mas pelas obras que consegue criar, sempre revelando nosso lado ruim e atordoante, sempre nos provocando reflexões. Impossível ficar indiferente à todas as obras de Trent. Mesmo sendo de um gênero musical com um estereótipo extremamente "monstro", o industrial, a música de Reznor soa humana. Soa realista. Talvez, a única monstruosidade seja revelar o lado atormentado do mais antigo de todos os monstros, aquele com quem convivemos todos os dias. O próprio ser humano.

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    posted by billy shears at 12:44 AM | 11 comments

    segunda-feira, agosto 07, 2006
    Marilyn Manson - Holy Wood (In The Shadow Of The Valley Of Death)


    Nesse álbum Marilyn Manson voltava furioso. Ao que parece, cansado de ser acusado por uma sociedade hipócrita que supostamente suas canções influenciassem jovens supostamente com a mente fraca para se livrar de qualquer culpa, Manson lança o primeiro capítulo que paradoxalmente fecha sua trilogia: “Holy Wood (In The Shadow Of The Valley Of Death)”.

    Tudo aqui transpira revolta nos vocais ora explosivos e indignados, ora carregados e depressivos de Mr. Manson, na bateria raivosa de Ginger Fish, nos riffs e andamentos pesados de Jonh 5, o marcante e bem colocado baixo de Twiggy Ramirez e com Madonna Wayne Gacy enchendo a música com seus teclados que não são apenas complemento e sim, parte integrante do som.

    O primeiro ciclo “In The Shadow”, provavelmente uma referência à hipocrisia escondida e não revelada da maioria da sociedade, é aberto pela faixa “Godeatgod”, que começa com ruídos de fundo e um início melancólico dando espaço para Manson cantar ironicamente “Querido Deus, você quer arrancar seus dedos e se segurar? /Querido Deus, você pode subir naquela árvore em forma de um “T”?”, fazendo uma comparação entre a ambição humana de ser o melhor e ambição falsamente divina criada pelos homens. Manson dispara sustentando por um baixo marcante “Os únicos sorrisos são vocês, bonecas que eu fiz/Mas vocês são de plástico, e seus cérebros também”. A canção termina repentinamente.

    A irônica “The Love Song” começa com uma bateria marcante e um refrão ácido como se perguntasse à sociedade americana, que responde em coro: “Você ama suas armas? (SIM!), Deus? (SIM!), O governo? (É CLARO, PORRA!)”. As bases de Jonh 5 estão pesadíssimas e o vocal de Manson está instigante. Manson interpreta uma “bala” (na verdade, um cidadão americano pronto para disparar por qualquer coisa) enganada pelas autoridades.

    Talvez a melhor do álbum, um riff pesadão inicia o disparo “The Fight Song”, com Manson liquidando “Isolamento é a máscara de oxigênio que você faz para que seus filhos sobrevivam” e então explodindo no refrão: “Eu não sou escravo de um Deus que não existe/Eu não sou escravo de um mundo que não vale nada”, uma crítica que mistura ataques contra a idolatria religiosa e a hipocrisia social. “Quando éramos bons você fechou seus olhos/Mas quando somos maus/Vamos cicatrizar suas mentes”, diz Manson, quase retratando o ocorrido em Columbine de forma indireta.

    Disposable Teens” começa industrial e furiosa, criticando toda a futilidade de uma geração perdida em meio a um consumismo exagerado e idéias tendenciosas. “Você disse que queria revolução/O macaco foi um grande hit/Você diz que quer revolução, cara/E eu digo que você tem merda na cabeça”. A cozinha de Ginger e Twiggy está bem marcante na música, e como não comentar o verso “Realmente nunca odiei um Deus único e verdadeiro/Mas o Deus das pessoas eu odiei”? Uma literal pancada, que arrasa qualquer moral.

    O ciclo “The Androgine” começa com “Target Audience”, com guitarras melancólicas, vocal neurótico e partes que ficam mais pesadas, novamente ironizando o controle imposto pelo velho Estado: “E eu vejo todos os jovens fiéis/Seu público alvo/Eu vejo todos os velhos enganadores/E todos nós vamos cantar as músicas deles”. Uma pérola do industrial, com melancolia e peso fundidos num mar de revolta e ironia. No final, a música parece crescer em intensidade feito uma bola de neve, com Manson sussurrando “Você não passa de uma cópia de uma imitação“, criticando a perda de identidade.

    President Dead” começa com um riff meio hard, meio industrial, com Manson criticando a influência violenta que um presidente belicista tem sobre o povo. “Isto é para o povo, eles querem você/crescendo na violência, baby”. Uma bateria feroz contracena com ótimas bases e caprichadas linhas vocais e backing vocals bem sutis. Uma crítica cáustica sobre a influência que as autoridades têm sobre os cidadãos.

    Ruídos estranhos dão lugar ao inicio melancólico de “In The Shadow Of The Valley Of Death”, que corre toda nesses andamentos tristes, com Marilyn lamentando por também não ser hipócrita feito todos, mas cantando isso em tom de ironia. Em certa parte, a bateria entra lenta, dando espaço para que todos os instrumentos façam belos desempenhos e Manson cante fracamente “Morte é o padre/Morte é o estéreo/Morte é a TV/Morte é o tarô/Morte é um anjo e/Morte é nosso Deus/Matando todos nós”. A música termina dessa forma intensa e crítica.

    Cruci-Fiction In Space” tem o inicio mais carregado, lento e pesado de todo o álbum, parece um mastodonte esmagando tudo com seus passos impiedosamente. “Isso é a evolução/O macaco/O homem/E depois a arma”, canta Manson no inicio e no refrão, fazendo um pesado ataque contra o progresso do homem, que no final, só resulta mesmo em violência, tristeza e destruição. “Estamos mortos e o amanhã está cancelado!“

    Fechando o ciclo, temos “A Place In The Dirt”, com um baixo repetitivo e um vocal lento de Manson, com ele cantando sobre a plastificação do nosso mundo. “Vista-me no seu desfile de carros/Me ponha na parada da morte/Me vista e me leve/Me vista e me faça/Seu Deus moribundo”. É uma das faixas mais intensas de todo o álbum, até que a alienação acaba de forma dolorosa... “Anjos com agulhas/Furando nossos olhos/Deixe a luz feia do mundo entrar/Não somos mais cegos”. A música acaba lenta assim como começou.

    O ciclo “Of Red Heart” tem início pelo hino “The Nobodies”, com melodias mórbidas de guitarra e uma bateria bem simples de acompanhamento, com Manson lamentando “Hoje eu estou sujo/Eu quero ficar bonito/Amanhã, eu sei que estarei sujo”, um retrato exato do fenômeno bullying, com jovens fora dos padrões desesperados por serem humilhados, o que os leva a cometer vingança, como descreve o refrão “Somos inúteis/Queremos ser alguém/Quando morrermos/Eles realmente saberão quem nos somos!”. Columbine novamente é descrita com intensidade pelos gritos de Manson “Algumas crianças morreram outro dia/Nós alimentamos as máquinas e então rezamos/Regurgitamos para cima e para baixo numa fé mórbida/Você deveria ter visto os índices de audiência naquele dia...”. A musica é encerrada pelo mesmo andamento de bateria.

    The Death Song” é iniciada com efeitos eletrônicos instigantes e Manson cantando um monte de ironias sobre violência e alienação. “Cantemos a canção da morte, crianças/Porque não temos futuro/E queremos ser iguais a vocês”. Nesse refrão, as guitarras pesam, a bateria aumenta em velocidade, a eletrônica quase ensurdece e Manson berra revoltado como nunca. “Nós éramos o mundo/Mas não temos futuro/E queremos ser iguais a vocês”, diz ele no final.

    Todo álbum de Manson tem uma balada excelente, e nesse não é diferente. A balada “Lamb Of God” é cheia de emotividade, com versos como “Se você morrer quando ninguém estiver vendo/Então seus índices de popularidade cairão/E você será esquecido/Mas se você morrer na TV/Você é um mártir e um cordeiro de Deus”, diz a letra, que canta sobre a banalização da morte de milhões. E Manson lamenta, sem mais esperanças, cantando carregado e intenso “Nada vai mudar o mundo, Nada vai mudar o mundo, nada vai mudar o mundo...”.

    Um início ao vivo e guitarras intensas começam com “Born Again”, com Manson retomando a ironia, cantando “Sou outra pessoa/Sou alguém novo/Sou alguém estúpido feito você!”, berra um violento e descontrolado Manson. Marilyn indica, a alienação subjuga tudo e a todos que se deixam influenciar. A ironia da letra retrata que quando deixamos de ser revoltados e nos tornamos simples cordeirinhos, nascemos de novo para a sociedade.

    Burning Flag” inicia com guitarras pausadas, pesadas e esquisitas, que contracenam com uma bateria insana e segue para um dos andamentos mais pesados do álbum, senão o mais pesado. Uma das melhores estrofes do álbum esta presente aqui “Multiplique sua morte/Divida por sexo/Some a violência/E qual o resultado? / (...) /Somos todos apenas estrelas na sua bandeira em chamas”, referência óbvia à bandeira dos Estados Unidos. A letra retrata como as pessoas se tornam alvos móveis, manipulados pela vontade superior. A bateria é a mais rápida do álbum.

    The Fallen” é o ciclo final, os lamentos e indignações finais sobre a sociedade hipócrita.

    Ele é iniciado por “Coma Black”, a contraposição de “Coma White“ do álbum anterior. Começa melancólico, na primeira parte “Eden Eye”, como se fosse o fim da alienação do coma branco e o inicio de um mundo negro de desespero. “Eu queimei todas as coisas boas no Olho do Éden/Éramos muito idiotas para correr e mortos demais para morrer”. Melancolia e peso têm seus momentos de brilho nessa grande canção. O depressivo e desesperado refrão diz “Esse nunca foi meu mundo/Você levou meu anjo embora/Eu iria me matar para fazer todos pagarem”. A segunda parte, “The Apple Of Discord”, é tristeza ao extremo nos vocais de Manson. “O coração dela é um ovo manchado de sangue/Nós tomamos conta dele com cuidado/Está quebrado e sangrando/E nunca poderemos consertar”.

    Valentine’s Day” tem um início arrastado e ameaçador nas guitarras, com Marilyn cantando sobre a morte de ídolos e a perda fútil que eles representam para uma sociedade que os amam tanto. “Ela era da cor da TV/Sua boca era em espiral como uma cobra de metal/Embora Holywood estivesse triste/Eles iriam lembrar disso como o Dia dos Namorados”. O refrão pesadíssimo e lento abre espaço para Manson cantar “Moscas estão esperando/na sombra do vale da morte”.

    The Fall Of Adam” é relativamente curta, com uma letra do mesmo tamanho, com um acompanhamento lento e palhetado, que dão espaço para uma parte que pesa uma tonelada e Manson grita como um ditador. “Quando um mundo acaba/Algo novo começa/Mas sem gritaria/Apenas um suspiro porque/Começamos tudo de novo”, diz Marilyn, fazendo referência à futilidade das perdas e renovações. Nada mais comove a humanidade.

    O inicio pesado é retomado em “King Kill 33”, com uma bateria sendo espancada de forma quase marcial. Marilyn canta sobre quem o difama, que a única coisa que faz é continuar criando ovelhas alienadas, mas que ele acaba deixando os difamadores sozinhos ao mostrar a verdade para as ovelhas. “E eu não estou com pena, eu não estou com pena/É isso que vocês merecem“. A musica acaba repentinamente.

    O disco encerra triste com “Count To Six And Die”, com um inicio belíssimo e melodioso no teclado. Para quem quer se rebelar e acaba sendo oprimida pela máquina de alienação, uma das únicas saídas acabou se tornando o suicídio para poder escapar de todo esse esmagamento psicológico provocado pelas autoridades. Mas ele se recusa a passar para o lado deles “Eu tenho um anjo no saguão/Ele está me esperando para me por na linha/Eu não vou pedir perdão/Minha fé acabou”. A musica encerra insistente com os versos “E o ponteiro gira (1,2,3)/E todos nós deitamos (4,5,6)/Alguns vão rápido/Alguns fazem melhor em menores intervalos”. O disco encerra com o som da roleta de um revólver rodando perturbadoramente. Quando parece chegar no “6” e a bala está prestes a ser disparada, o álbum acaba deixando o ouvinte perplexo.

    Sim, todos os discos de Manson são pesados tematicamente, mas "Holy Wood" talvez condense a revolta e ironia de “Antichrist Superstar” e a melancolia e o sarcasmo de “Mechanical Animals”, acrescidas de indignação contra a alienação e a hipocrisia. Um grande disco, mostrando que Manson se renovou com glórias, injetando mais peso e menos eletrônica, demonstrando com orgulho que não é um artista de hits fáceis, e sim, um artista realmente com conteúdo, diferente de tantos hoje em dia. Inteligência e boa música podem caminhar juntas? Sim, e esse disco é uma prova sincera.

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    posted by billy shears at 7:37 PM | 10 comments

    sexta-feira, agosto 04, 2006
    Deathstars - Synthetic Generation


    Curioso esse Deathstars. Banda que funde heavy metal, gothic rock e música industrial para produzir o seu som, um fato que surpreende é o fato de todos os seus integrantes terem um passado dentro da música extrema, vindo de bandas como o The Haunted, Swordmaster, Revolution Riot e Dismember. Ao gosto de muitas bandas do Metal Industrial (como Marilyn Manson, por exemplo), os membros criaram um pseudônimo para se apresentarem artisticamente; daí surgiram o vocalista Whiplasher (Andreas Bergh), o baixista Skinny (Jonas Kangur), o baterista Bone W. Machine (Ole Öhlman) e o guitarrista Nightmare Industries (Emil Nödtveidt).

    Logo em seu primeiro álbum, “Synthetic Generation”, que data de novembro de 2003, a banda mostra uma mistura que agrada em cheio quem gosta de bandas industrais como Kovenant e Rammstein e de bandas góticas como o Type O’ Negative, principalmente pela voz de Whiplasher, que em alguns momentos chega a lembrar a de Peter Steele.

    O álbum abre com “Semi-Automatic”, uma canção de refrão forte e marcante, sem contar pelo instrumental denso e carregado. A letra tem uma mensagem claramente crítica, com versos como “Eu não sou o escravo que você é/Eu não sou mais um desse tempo”. No refrão, a banda ordena que destruam e matem os ministros, como uma solução final para o caos do mundo em que vivemos. Grande abertura!

    O álbum segue com a faixa-título “Synthetic Generation”, uma bordoada industrial alternando momentos calmos e outros momentos pesadíssimos, com uma letra fazendo jus ao título com versos como “Eu jogo de inferno, você joga de céu/Eu sou a pequena estrela da morte”, que desemboca no excelente refrão “Eu sou deus, e então o anticristo/Eu sou abençoado, e então amaldiçoado/Eu sou um caído, e então ressuscitado/Eu sou tudo de nada!”. Para quem aprecia o estilo, uma música mais que recomendada. Uma avalanche de poder do que a banda pode fazer.

    New Dead Nation”, na seqüência, é outra das melhores do álbum, com toda a banda gritando o nome da canção no refrão. Outra coisa que marca é o extremo bom gosto no tratamento de guitarras, além da letra, com versos como “Você sentiu como o sistema atirou em você/9mm através da merda da sua cabeça” e “Eu tenho a alma de um holograma, eu tenho a língua de um escravo/Nós somos os pregadores de hoje – nada verdadeiro pra pregar de qualquer jeito”. Extremamente niilista e destrutiva.

    Apesar de não ter o refrão tão marcante quanto suas antecessoras, diga-se de passagem, inspiradíssimas, “Syndrome” não irá decepcionar os admiradores da banda. A letra fala de um vírus, uma síndrome que corre por baixo da pele da pessoa, que revela sua origem nos versos “Uma síndrome violenta até a sua espinha/Isso é uma tempestade de vírus e isso é nascer”. A sonoridade quebra o ritmo, mais sombria e lenta que as anteriores, com a banda caprichando nos efeitos eletrônicos.

    Modern Death” continua com clima pesado, denso, sombrio e com mensagens niilistas, porém, retomando as partes rápidas ausentes na anterior. Nessa faixa, gritam em destaque os versos “Sem espelho para a geração cega, ou para essa verdade fodida/Sem corações para a vontade de viver, de mais do que esse mundo pode oferecer, /Eu não me importo, não/Com nada, Eu não me importo com nada”. As bases de guitarra são ótimas, caprichadíssimas, e o refrão volta a grudar na mente.

    Próxima canção surge com “Little Angel”, que não é uma canção ruim, mas não é marcante assim como as outras, apesar do grande refrão. Aos passar do álbum, você vai se acostumando com a linearidade sonora da banda, que condiz com suas destrutivas letras. A letra dessa canção fala sobre um pequeno anjo, que parece ser frágil demais para o mundo que a pessoa que fala com ele vive. Lenta e carregada, com guitarras mais do que arrastadas.

    Apesar de menos conhecida, “The Revolution Exodus” é fantástica. Guitarras pesadas e tensas mais a lírica entonada pela voz grave de Whiplasher discursando sobre revolução compõem uma pérola. “Você sonha com anjos e nós te trazemos o inferno/ Revolução, o êxodo das almas/Êxodo da revolução, o paradoxo da mente/Evolução”, diz uma das melhores letras do álbum.

    Damn Me”, apesar de passar meio despercebida, não desagrada. Todos os elementos sonoros que fazem do Deathstars o que ele é, com uma letra vingativa, contra uma pessoa que parece ter trazido só desgraças e querido usurpar o que a pessoa tinha de bom: “Eu nunca pedi pelo mundo que você me trouxe, eu nuca quis isso/Eu nunca pedi por essa mentira, então me amaldiçoe enquanto eu digo adeus”. Ao ser ouvida com mais atenção, revela um refrão marcante, que algumas pessoas não percebem de imediato pela similaridade entre as faixas, mas à medida que o álbum é digerido, torna-se uma grande canção.

    Outra de minhas preferidas, essa é “The Rape Of Virtue”, pesada na letra e na sonoridade. A lírica descreve uma tortura de alguém cansado de discursos corretos e, aparentemente, hipócritas. Um dos melhores refrãos do álbum surge com Whiplasher cantando com intensidade o refrão “Enquanto eu estupro sua alma virtuosa/Eu sou o deus da luxúria e da dor/Escuro e frio, enquanto eu mato a sua alma virtuosa/Você é um escravo da carne e do pecado”.

    Genocide”, uma literal bordoada, com guitarras pesadíssimas e letra apocalíptica, contando com vocais quase guturais de Whiplasher no refrão, com a letra dizendo no refrão “Assista enquanto nós quebramos as leis deles/Glória aos funerais/E banquete nas mentes deles/Dor pura, as amargas almas continuam sangrando em vão”. Todo o trabalho, instrumental e poético, é de primeiro nível.

    O álbum encontra seu final em “No Light To Shun”, um grande encerramento para uma grande estréia, com Whiplasher cantando sobre sofrimento, como pode ser visto no refrão “Sem luz para evitar/É ruptura, é dor, são corpos sangrando na chuva”. Todos os instrumentos tinindo compõem um final satisfatório.

    Para os sortudos que acharem uma versão especial do álbum, ganharão duas musicas a mais “Our God The Drugs”, uma faixa típica do Deathstars, com toda a eletrônica sombria contracenando com guitarras pesadas, e “White Wedding”, cover de Billy Idol, creio eu, melhor até que a original. Convenhamos, Billy Idol é beeem furreca...

    De fato, com o passado deles, o Deathstars não poderia fazer feio; mesmo sendo uma faceta que não esperavam que músicos com tais antecedentes explorassem, eles compõem com segurança, com ótimas letras, bastante idealizadas, com uma sonoridade que é adequada às suas mensagens. Uma das grandes revelações do industrial nesses últimos anos.

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    posted by billy shears at 12:35 AM | 8 comments

    quarta-feira, agosto 02, 2006
    Música de Metrô: Bonde das Impostora

    (Post feito originalmente por Sam)

    Indie Rock, Funk, Heavy Metal, uma rixa com o Bonde do Rolê e letras cômicas, esse é o Bonde das Impostora. Banda(ou seria bonde?) composta pela MC Barbara Chuta-Caixa-Dagua, MC/DJ Cello Arrebenta-Laje e MC Vicky Rasga-Puxadinho. Apesar de ainda não possuirem um álbum ou trabalho de estúdio, eles já fizeram vários fãs e shows pelo Brasil.


    A sonoridade da banda mistura elementos de Funk carioca em todas as músicas, além de colocar também batidas de outras músicas, como “Take Me Out” dos escoceses do Franz Ferdinand e até mesmo riffs metálicos!


    Entre as músicas mais conhecidas estão "King dos Blasé" que zoa com a cara de indies metidos a alternativos e drogados e "Não Cansei de Ser Sexy", essa última satirizando uma banda que todo mundo conhece bem (que inclusive já foi resenhada aqui no blog). Além dessas, também temos letras que satirizam metaleiros, emos, fotologgers e até mesmo o Bonde do Rolê, banda cuja vocalista é namorada do DJ Cello Arrebenta-Laje.


    Mesmo cheios de odiadores, e-mails enchendo o saco e outras coisas mais, eles não se cansam de fazer mais e mais músicas humorísticas, divertidas e até mesmo dançantes(ops!). Tomara que demore pra acabar, porque se não, quem vai zoar com a cara de todo mundo e ser sem vergonha o suficiente pra jogar na internet?

    Divertido e descontraído, logo, vale a pena ouvir!


    "Imagine só, o popozão de uma carioca, a cachorrada de uma curitibana e a ingratidão de um paulistano, movidos pela vontade de falar mal dos outros, sejam indies, metaleiros, hippies, funkeiros, todos, e mais uma péssima índole impostora, sem-vergonha e oportunista. Isso é Bonde das Impostora." (Auto-definição)

    Música lançadas até o momento:
    Bicha Designer
    Funk da Biscate Caminhão
    Metal Nation Army
    Funk do Batão
    King dos Blasé
    Rolê de Cu é Rola
    Satanás Aplaude(Pauno Kuda UDR)
    Fotologger Diva
    Curitiba Funk City
    Não Cansei de Ser Sexy

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    Se interessou? Então agora é por tua conta e risco:
    -> http://www.tramavirtual.com.br/artista.jsp?id=43345
    -> http://www.myspace.com/bondedasimpostora
    -> orkut.com/Community.aspx?cmm=12347321

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    posted by billy shears at 1:35 AM | 12 comments

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