segunda-feira, junho 26, 2006
The White Stripes - Elephant
O White Stripes, apesar de não subverter paradigmas da música como se fossem montinhos de areia que podem ser destruídos e levantados ao bel-prazer, sempre foi uma banda, no mínimo, peculiar: apenas dois integrantes, Jack White, vocalista, guitarrista e pianista, e Meg White, baterista e vocalista; cuja relação já fez muita gente fritar o cérebro para descobrir se são namorados, irmãos, ou simplesmente amigos. Apesar de que Jack já admitiu o fato de os dois serem divorciados um do outro, muita discussão em torno desse mistério ainda continua. Também tem o fato de eles só usarem três cores, tanto na capa de álbuns, quanto nas vestimentas: vermelho, branco e preto. O terceiro fator é a sua sonoridade, que revisita muita coisa feita no decorrer no século passado. Mas ao contrário de outras bandas que fazem o mesmo, como os Vines, Interpol, Rapture, Libertines, e etc., eles conseguem criar todo um conjunto de canções empolgantes, viciantes, que fluem naturalmente e despejam vigor - inverso das bandas citadas, que ao passar das músicas, começam a cheirar naftalina. Ao contrário desses grupos, que compõem poucos hits realmente viciantes, ou seja, optando por sonoridade mais linear, disco por disco o White Stripes só reforça a idéia que são realmente talentosos, sem soar como "uma faixa não-clássica no disco de uma banda idolatrada". Uma mistura agradável daquele blues eletrificado que daria origem ao Rock And Roll, garage-rock, protopunk, folk, cheia de referências, como Bob Dylan, Led Zeppelin, Beatles, Beach Boys, Pixies, Velvet Underground, The Stooges, Pretenders e até Mutantes (de quem Jack já se declarou admirador)... Sonzeira para ninguém botar defeito. " Elephant", quarto álbum da banda, data do ano de 2003, e é meu preferido da banda. Onde eles encontraram sua maturidade, porém não perderam a ousadia (coisa que, infelizmente, acontece com muitas boas bandas). O som pode ser inspirado em coisa que já foi feita há tempo pra cacete, mas ainda transpira juventude. Uma linha de baixo assombrosa inicia " Seven Nation Army", uma canção com uma letra um tanto vingativa e com uma estrutura um tanto hipnotizante, que várias vezes descamba para uma explosão de guitarras, para logo voltar ao som grave e perplexante. O mais curioso é que não há nenhuma menção sobre o baixista que teria gravado a canção... A bateria simplíssima de Meg soa seca, direta e repetitiva, mas de forma agradável. E quem nunca viu o caleidoscópico clipe dessa canção? É... Não vou esticar muito a descrição: um dos clássicos do Rock contemporâneo! " Black Math" é um esporro de energia... Não lembro de ter ouvido uma música tão garage-rock há bastante tempo; algo de protopunk e da primeira geração do hard rock pode ser sentida correndo nas veias dessa música, que diminui e avança de ritmo mais de uma vez, deixando claro uma inspiração zeppeliana. Só que o vocal de Jack não lembra Plant. Tá mais pra um Iggy Pop, cantando uma letra neurótica. Ei, e tanto os White Stripes quanto os Stooges são de Detroit! A próxima é " There's No Home For You There", em uma letra sobre um relacionamento homem-mulher, que mais parece uma espécie de desabafo. Desde melodias que são verdadeiras pérolas-raras, até microfonias, passando por um refrão empolgante e alto, acompanhado de backing vocals no mesmo volume. Algo como se os Stooges resolvessem ter algo de Stones, ou vice-versa. Viagem né? Bem... Só sei que é bom pra cara... A única que não foi composta por Jack White, essa é " I Just Don't Know What To Do With Myself" (êta nomezinho comprido...),uma cover de Burt Bacharach e com um clipe conhecidíssimo, dirigido por Sofia Coppola (filha d'O cara que só perde para Kubrick, o Francis Ford, diretor de " Apocalypse Now" e " O Poderoso Chefão" - ela também não faz feio, dirigiu os filmes " Virgens Suicidas" e " Lost In Translation", além de clipes dos Strokes, mas, deixando o assunsto cinema de lado, voltemos à resenha...), surge aos nossos ouvidos na forma de um blues-rock elétrico e viciante, falando - veja só - de um cara que não sabe o que fazer se não ter o amor da garota dele por perto. O refrão poderoso, explodindo em guitarras enérgicas, que acompanham o vocal de Jack, que vai do mais calmo a uns gritos que a música pedia. Quebrando o clima de guitarras esporrentas, Meg começa a cantar " In The Cold, Cold Night", de acordes repetitivos e linhas vocais grudentas. Agora, os papéis se invertem: a garota que precisa de um fogo brilhante em uma noite fria. Música simples e bonitinha, com todo um carisma próprio. Panela velha é que faz comida boa e... ops, quero dizer... É isso aí: " I Want To Be The Boy To Warm Your Mother's Heart" trata da paixão de um cara por uma mulher mais velha - e, ao que parece, a mãe de um amigo. Os pratos e caixa de Meg tornam-se bastante lineares, mas o folk vem à tona nas melodias de guitarra, que são acompanhadas pelo dócil vocal de Jack White. " You've Got Her In Your Pocket" segue com outra baladinha, com melodiosas e calmas melodias de cordas, com um relaxado Jack White contando a história de um cara extremamente ciumento, que no final da música, revela ser ele mesmo o cara. Pura tranqüilidade o disco nesse estágio, ainda mais com esse refrão açucarado... O garage-rock volta em " Ball And Biscuit", que, se não recupera a velocidade, recupera a eletricidade, com uma sonoridade um tanto quanto bluesy e Jack White cantando com linhas vocais realmente bem postas. Sonoridade bluesy essa que estoura no solo de guitarra de Jack White, bastante distorcido, elétrico e pulsante. A letra realmente segue esse clima, com um cara que parece perto de explodir com a garota com quem está conversando. Essa incrível viagem sonora pode ser curtida por todos os sete minutos de duração, todos esses muito bem gastos com essa música cheia de reviravoltas e influências. Terceiro clássico do rock contemporâneo no mesmo disco, esse é " The Hardest Button To Button", com seu clipe realmente expressionista, e assim como a faixa que abre o álbum, altamente perplexante e criativo. Sua estrutura de guitarra e bateria repetitiva, dançante e pulante já são bem conhecidas, até entre quem não é fã da banda. A engraçadíssima letra fala de neurose em família, que realmente é "o botão mais difícil de abotoar", e o ritmo da música, crescente, decrescente e crescente mais uma vez, só ajuda a reforçar a idéia. É incrível como a faixa ainda soa viciante mesmo se você escutá-la mais de um milhão de vezes - falo por experiência própria. A voz de um cara de nome Mort Crim começa narrando " Little Acorns", e a banda, após teimar em interrompê-lo, explode uma avalanche de furiosas guitarras punks e barulhos de pratos infestando o ar... Para logo depois o ritmo cair, e Jack White começar a cantar uma linha vocal facilmente decorável e cantarolável, por cima de um instrumental abafado... Que então deságua na mesma correnteza elétrica punk mais uma vez... Ótima! Seguindo a cartilha de " Fell In Love With A Girl" do disco anterior, agora temos " Hypnotize", que se é menos rápida, ainda é agressiva e tem o diferencial de ser mais pesada que a canção do álbum anterior (o ótimo " White Blood Cells"). Para uma baterista limitada, Meg mostra bastante pegada aqui nessa pérola que chega a assumir alguns contornos protopunks para virar a porrada que é. " The Air Near My Fingers", que vem descendo a ladeira com fortes guitarras, o mesmo esquemão bumbo-caixa de Meg, e os vocais ora cantados, ora quase discursados de Jack, falando sobre uma garota que faz o 'eu' da música ficar nervoso quando a mesma se aproxima. A música tem várias reviravoltas, mas nenhuma delas é chocante, transpirando vigor e paixão adolescente. Próxima! Essa é a animada " Girl, You Have No Faith In Medicine", com vocais berrados e alucinados de Jack White, com o mesmo execuando uma furiosa base de guitarra, e Meg, mesmo sem sair da linha, toca mais forte e alto dessa vez. Título que descreve a letra. As paradinhas para retomadas ou desfiles de trechos guitarreiros empolgantes constituem essa canção um forte rock-blues garageiro. Infelizmente fechando o álbum, agora temos " It's True That We Love One Another", com o vocal melódico de Jack White, a voz doce de Meg e a voz alta da convidada especial Miss Holly; música embalada por um delicioso piano; os três fazem um ótimo "trieto" (e viva o neologismo...), que mais parece a trilha sonora de um filme ambientado há muuuuitas décadas atrás. Ou seja, diversão e espontaniedade saindo pelos amps. Mesmo que muitos queiram incluir a dupla na onda hype, os White Stripes pouco parecem ligar, e continuam fazendo a sua elétrica, sentimental, criativa e nostálgica música de forma poucas vezes vista, e com um entrosamento que realmente deve dar empolgação o suficiente para lançar tantos discos (cinco - tá, não parece tanto, mas olha a enorme quantidade de músicas de cada um...) em quase uma década de existência, todos de altíssimo nível. Jack White é um compositor muito talentoso, e Meg, mesmo sendo a baterista mais simples possível, é o corpo mecânico do White Stripes, que concede uma base simples para Jack viajar em cima. O talento da banda já rendeu muitos prêmios, sem contar elogios vindos de lendas do Rock (o protopunk Iggy Pop e o postpunk Michael Stipe, do R.E.M.). Sem contar que artistas de respeito na mídia atualmente gravaram covers de suas canções - Joss Stone (bastante aval por ser uma garota bonitinha e fazer um som bem feito) e Audioslave (banda de um ex-Soundgarden e três ex-Rage Against The Machine). Se os White Stripes continuarem com esse alto padrão de qualidade, os críticos vão ter dificuldade tremenda em dizer que o Rock americano está morto, enterrado e sepultado junto com os restos mortais de um loiro que usava camisa de flanela... -Nenhum computador foi usado durante a composição, gravação, mixagem ou masterização desse álbum.(Nota que a banda fez questão de pôr no encarte, só para ressaltar que o espírito garage-protopunk-bluesy é verdadeiro e não mais um hype retrô qualquer...) Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 8:28 PM
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quinta-feira, junho 22, 2006
Deep Purple - In Rock
A partir do ano de 1970, muitas pessoas devem ter começado a ter as mais variadas reações, desde transes hipnóticos até ataques cardíacos fulminantes. Calma... Não era nenhuma substância ilícita pesada não, mas alguns grupos que a terra da rainha lançava para o sucesso mundial. Havia aqueles quatro garotos que cantavam letras de amor sobre um instrumental pauleira, a quem chamavam de Led Zeppelin; uns caras tão sinistros e mórbidos que criaram um som chocante o suficiente para ganharem o singelo apelido de “Quatro Cavaleiros do Apocalipse”, o Black Sabbath; e o virtuosismo e pancadarias sonoras, somados a letras sarcásticas do Deep Purple. Inicialmente uma banda de músicas um tanto chatinhas, que mesclava material próprio e versões de outros artistas, de uma forma um tanto “clássica”, cuja liderança parecia ser de Jon Lord e a principal ênfase do som no seu teclado. Mas, no início do primeiro ano da década de ’70, quando a turma de Jimmy Page já começava a lançar discos fundamentais para o Hard Rock e Ozzy e seus comparsas começavam a fincar na música mundial as bases para o Heavy Metal, o Deep Purple também deu sua contribuição para ambos os gêneros, ao adotar como som um rock pesado, rápido, mas também muito virtuoso. Para tal empreitada, além de contarem com os viajantes teclados de Lord, a guitarra memorável da lenda Ritchie Blackmore e a técnica assombrosa da bateria de Ian Paice, foram convocados reforços: o marcante baixo de Roger Glover e toda a potência do influente vocal Ian Gillan, que já teve o apelido de “Silver Voice” – só o apelido já dá uma idéia do talento do homem, não? “ Deep Purple In Rock”, de junho de 1970, foi o momento da guinada na sonoridade da predestinada banda. O grupo combinou sólidas composições com uma elevada técnica para criar algumas das mais poderosas canções do Rock and Roll em geral. A intensidade de sua música os tornou uma das bandas mais bem-sucedidas e influentes da década de 70. Poucas músicas fazem tanto jus ao nome como “ Speed King”, rápida em todos os sentidos, tanto na letra que enaltece a velocidade, como na matadora sonoridade, possuindo uma guitarra furiosa, e um refrão que todo fã de Deep Purple (e de Hard 70’s) conhece... E delira ouvindo. A música tem um momento mais lento, onde o teclado tem seu destaque, mas, entrando na metáfora da banda, eles provam que realmente são “reis da velocidade” e não deixa o ouvinte viajar muito na música, e injetam adrenalina novamente. Hard Rock em estado bruto. Perdendo a velocidade, mas não o peso, essa é “ Bloodsucker”, que conta com bases grudentas e ásperas, combinadas com uma cozinha dura como uma parede e berros simplesmente matadores do monstro Ian Gillan. Tanto Blackmore quanto Lord têm seus momentos de destaque nessa canção de alto calibre, que parece falar sobre uma mulher (aparentemente uma prostituta) que é uma verdadeira “sanguessuga” do eu lírico. Gillan é um dos melhores vocalistas de todos os tempos e penso que “ Child In Time” é uma das provas cabais de tal afirmação. Verdadeiro clássico (o maior do disco em questão), que quebra o ritmo pauleira das canções anteriores para produzir um épico de dez minutos totalmente viajante. Tudo nessa música é um show de talentos; todos têm seu momento de destaque, principalmente por parte de Ian e Blackmore – os caras parecem estar em transe! Canção cheia de reviravoltas, desde o mais completo transe hipnótico até uma repentina explosão melódica que mais parece uma chuva de meteoros... Já falei muito sobre a música, e creio que é um “pouco impossível” descrever o que deve ser ouvido... Já ouviu a expressão “orgasmo auditivo”? Eis um dos casos. “ Flight Of The Rat” não decepciona, apesar de não ser uma epopéia, e sim um rápido hard rock de 7 minutos (não falo de duração, e sim de velocidade…). A música conta com várias freadas, que não cortam nem um pouco a empolgação, pelo contrário, abre espaço para um show de guitarras e teclados, algo simplesmente, com o perdão pela falta de etiqueta, fodido. Ian Gillan não dá um show dessa vez, mas não deixa a peteca cair. E… Se você nunca achou o batera Ian Paice lá grandes coisas, cuidado para não cair para trás quando a banda o deixa tocar sozinho, onde ele desfila toda a sua técnica e pegada. A próxima é “ Into The Fire”, com uma inesquecível e deliciosa introdução, onde, novamente fazendo jus ao nome, a banda pega fogo. A letra fala de alguém que vai acabar se dando mal, acabando no fogo. Não é a mais rápida do disco, porém, é a mais curta, mas o ardente refrão e o solo de Blackmore chutam o pau da barraca. Se você sobreviver ao início de “ Living Wreck”, com o teclado de Jon Lord rugindo feito um leão faminto, tente ler a letra e ver porque o Purple fez sucesso: suas letras se distanciavam dos papos-cabeça da galera rockeira da época: “Você disse que era uma virgem/cheia de promessas e mistérios/mas eu sei que você/vai me encrencar/pois todo mundo diz que você é uma puta…”. As bases de guitarra são hipnotizantes, e Ian Paice está arrancando pedaços. Que baterista duca! “ Hard Lovin’ Man”, dedicada ao lendário produtor Martin Birch (que já trabalhou com o Black Sabbath), traz um poderoso Ian Gillan, abusando do berreiro, e a guitarra e o teclado criando um clima que vai do áspero ao viajante. Apesar de seguir uma linha meio linear, mestre Paice tem um desempenho chocante – poucas vezes sua bateria soou tão seca e direta quanto nessa música. Blackmore não deixa por menos e despeja nos ouvidos humanos dois solos de deixar boquiaberto. Pode parecer exagerado de minha parte, mas aposto que os fãs de Purple concordam: Ritchie não parece ser desse mundo… E acabou. Só sete faixas que valem por um milhão de músicas de muita banda por aí… Enfim, disco clássico, banda entrosada, obrigatório para todo fã do bom e velho rock setentista. Rock alto e de bom gosto, especialmente para toda a turma que ama os anos 70, tendo vivido neles ou não. Anos loucos esses que não voltam mais. É, nostalgia pura, mas qual outra década soltou discos do nível de “ Paranoid”, “ Led Zeppelin IV”, “ Machine Head” e “ Dark Side Of The Moon”? Não me culpe, vá… Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 7:17 PM
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domingo, junho 18, 2006
Música de Metrô: Maldita - Mortos Ao Amanhecer
Com perdão da redundância, mas há muito tempo não se via um disco de Rock tão maldito quanto “ Mortos Ao Amanhecer” da banda carioca Maldita. Numa época onde dizem que (supostamente) não se pode criar mais nada de inovador, polêmico e ultrajante, os Maldita vem com uma proposta poucas vezes utilizada na história do Rock: a do Rock-Horror, assim como o primeiro disco do Black Sabbath, toda a carreira de Rob Zombie e o terrorpunk dos Misfits. Um disco extremamente intenso, guiado por guitarras assustadoras, pesadas e cortantes, ora arrastadas e ora brutais, executadas pela dupla Luís e Pussy Man. O baixo de Magrão inspira horror, enquanto o batera Vitor, mesmo não sendo um baterista de técnica complexa demais, cumpre o papel satisfatoriamente. Sinistros climas guiados pelo tecladista Léo abrem espaço para Erich cantar, com o seu vocal peculiar, sussurrado, gemido, chorado, lamentado, muitas vezes lembrando Marilyn Manson (especialmente nos vocais mais arrastados). Não espere nada aqui senão um serviço de primeiro mundo, a dar inveja para muito gringo. As letras de Erich discorrem sobre assassinato, canibalismo, dependência, ódio, deacadência. No meio de todo esse clima caótico, também há muitas vozes falando ao fundo mensagens ora sinistras, ora nonsense. Um arraso, de deixar qualquer um com medo, perturbado, ou enojado, não interessa – o trabalho do Maldita não deixa espaço para meio-termo. Os vocais carregados e o refrão violento de “ Asas de Inseto”, a mórbida “ Estrela de Fogo”, a história contida em “ Anatomia”, e toda a violência sonora, lírica e climática de “ O Homem do Rosto Cortado”, que já ganhou um vídeo, que, diga-se de passagem, é algo de primeira qualidade. Fugindo do marasmo ou dos rótulos fáceis, essa banda se chama Maldita, e é EXTREMAMENTE recomendável se você quiser ouvir algo diferente. Aposto que essa banda só não faz sucesso porque executivos de grandes gravadoras não querem se sentir culpados por afetar gente emocionalmente sensível. Maldita - Mortos Ao Amanhecer(Nikita Music - Produzido por Nilo Romero e Damien Sette; 2004) 1.Motel 666 2.Asas de Inseto 3.Que Eu Odeio 4.Estrela de Fogo 5.Ossos Brancos 6.Anatomia 7.O Homem Com O Rosto Cortado 8.Malachi 9.Falsidade 10.Os Híbridos 11.Carne Para Uma Rainha Mais faixa interativa multimídia com vídeo clipes e fotos. __________________________________________ Ei, psit, ficou interessado? Então entre nesses links abaixo: http://www.maldita.fnd.br/http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=243048E aproveite... ou trema de medo, no caso! Marcadores: Música de Metrô
posted by billy shears at 12:51 PM
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quinta-feira, junho 15, 2006
Scorpions - Love At The First Sting
Não consigo entender como tem pessoas que acham que a Alemanha é um país arrogante e sério. Tudo bem, é a terra de gente como Bach, Beethoven e Eistein, é a terra-natal do Rammstein, banda que usa um visual que de fato invoca uma imagem malvada (mas que, acompanhando a banda, vê-se que eles tem sua veia humorística. Maior prova disso é a música " Te Quiero, Puta!" do último álbum, " Rosenrot"...). Além disso, muita gente se lembra da Alemanha apenas como o país do cara com bigode e penteado engraçados e que gritava "Hail!". Mas na Alemanha também surgiram paixões mundiais como a cerveja e a salsicha, entre outras coisas, como a polca, o acordeão e a gaita de boca. Mas é terra também de Nina Hagen e do Helloween (no caso dos 'pais-do-power-metal', não há uma entrevista que se faça com eles sem ter a certeza que, se não fossem excelentes músicos, seriam ótimos humoristas). Os Scorpions, uma das únicas bandas não britânicas ou norte-americanas a alcançar um megasucesso mundial, façanha igualada somente por pouca gente, como Sepultura, Nightwish, Angra, Accept e os já citados Rammstein e Helloween, começaram a tocar no final dos anos 70 com o nome de Nameless ("Sem Nome" - sérissimos eles, não?), mas só alcançanram o sucesso a nível global lá para os anos 80. O disco " Love At The First Sting", datado do ano de 1984, um ano antes da banda apresentar-se no primeiro Rock in Rio, tem a formação de Klaus Meine nos vocais, Michael Schenker e Matthias Jabs nas guitarras, e a cozinha do baixista Francis Buchoholz e do baterista Jürgen Rosenthal. A banda já havia gravado pelo menos dois discos famosos (" Lovedrive" e " Blackout"), mas só nesse disco aqui que os Scorpions iriam sagrar as suas três maiores contribuições à história do Rock mundial... O disco já começa com seu terceiro maior hit, " Bad Boys Running Wild", puxado por um riff que ajudou a definir os Scorpions como uma das grandes bandas de hard-heavy, tornando a faixa bem característica pela ótima marcação do baixo e umas paradinhas para lá de cativante. A letra, falando sobre garotos perigosos com quem era melhor não se meter. Agora, o refrão é uma coisa de louco, marcado por belas melodias de guitarra e a banda toda gritando o nome da canção. Uma fórmula-padrão dos Scorpions, que tornou a banda bem famosa na época. O segundo maior sucesso da carreira dos Scorpions tem uma das introduções mais famosas da história do Rock: " Rock You Like A Hurricane" tem a introdução de guitarra tão famosa quanto "Smoke On The Water" do Deep Purple ou "Stairway to Heaven" do Led Zeppelin. Os vocais sussurrados e guitarras controladas logo se tornam. Klaus Meine declama na letra uma animada noite na vida de um rocker, com aquele famoso refrão: "Here I Am/Rock you like a hurricane", absorvível desde a primeira audição, e que faz qualquer apreciador de Hard Rock vibrar da ponta dos cabelos da cabeça até o dedo mindinho do pé. O solo de guitarra de Matthias é delirante, de deixar os fãs do estilo em êxtase. Êxtase esse só não superado pelo que o do refrão causa... Mais um rockão... " I'm Leaving You" faz quem tem o Rock nas veias ter uma súbita vontade de querer dançar e sacudir o esqueleto a noite inteira. Perto de tantos hits que o álbum carrega, acaba tornando-se meio apagada, mais a letra, que é um desenvolvimento do tema do título, faz a música não ser percebida devido aos dois petardos anteriores seguirem fórmula de construção parecida: riff empolgante+refrão extasiante+solo hipnotizante. Mas é inegável que a música tem suas virtudes, apesar de sua fama se restringir aos fãs da banda. Após tanta pancada em cima de pancada, os Scorpions mostram um clichê que eles ajudaram a registrar: uma balada lenta para relaxar (olha, rimou!)... É ruim, hein? " Comig Home" só é balada até a sua metade. Depois disso, entram guitarras furiosas e melódicas, deixando os desavisados de plantão desarmados devido ao poderio da canção, com sua letra nostálgica, solos estridentes e bateria vigorosa. "We go wherever you like/To rock'n'roll"... " The Same Thrill" é outro hard rock daqueles, com um riff que mais parece um alarme, complementado por cozinhas e vocais rápidos. A letra, mais Rock And Roll impossível, fala de um cara que era rebelde na escola, que não queria estudar, queria era tocar guitarra. "Me conte outra alternativa/Para o que eu estou fazendo/ Mas eu acho que não há outro estilo de vida/Forte feito esse", canta Klaus Meine. Jürgen maltrata a bateria ao final da música. Outro hit do álbum... " Big City Nights", uma das três contribuições da banda ao Rock mundial (depois de "Rock You Like A Hurricane" e "Still Loving You"), tem fila cativa em coletâneas de Rock, ou coletâneas brasileiras do Rock in Rio. Novamente uma letra típica da vida perigosa de um rock'n'roller, um aventureiro das "noites da cidade grande". Tudo que marca o Scorpions está lá... Se voce ainda não sacou, leia as descrições das outras músicas lá em cima. Um dos melhores solos do álbum, chegando a brilhar mais que o riff das guitarras. Mas, se o riff da anterior não era tão mais empolgante assim, o de " As Soon As The Good Times Roll", uma aula de música divertida. O vocal de Klaus está mais melodioso que nunca, uma de suas performances vocais mais chamativas no álbum. Uma das poucas letras mais 'reflexivas' do álbum, com o refrão "Tempos duros vão/Enquanto os bons tempos vão rolando". A banda pode não conter nenhum virtuose, mas o desempenho vocal de Klaus e o desempenho de Matthias no solo são, no mínimo, para se respeitar. Mostrando que a banda não trata apenas de diversão, a penúltima faixa " Crossfire" é uma canção de letra política, com uma bateria tocada de forma marcial, falando do desperdício de vidas sob fogo cruzado em uma guerra inútil, com o refrão "Compreenda/Nós não queremos lutar/Nós somos muito jovens para morrer/ Ninguém ira sobreviver/Nós amamos nossa vida". Pode não ser o hard rock típico da banda, mas vale pela criatividade e pela mensagem. Jürgen faz um belo trabalho no ritmo da bateria, enquanto as melodias da guitarra também estão muito boas. Os backing vocals são feitos de forma a soarem emocionantes. " Still Loving You"... a música mais famosa dos Scorpions, uma das baladas rockers mais famosas de todos os tempos, com melodias tão famosas, uma letra tão apaixonada e doída, um refrão tantas vezes repetido ao longo desses 20 e poucos anos desde que o álbum foi lançado... Mas... clássico é clássico. Essa música comprova que rockeiros também amam, e quando amam, ficam melosos que nem todo mundo. Pelo menos as declarações são mais poéticas do que coisas como "Se ela dança/eu danço...", "Ô menina deixa disso/Quero te conhecer..." e coisas assim... Quem nunca ouviu a interpretação magistral e emocionada de Klaus Meine nessa canção? Quem nunca ouviu o solo cheio do famoso fílin, digo, feeling? Quem que gosta de Scorpions nunca chorou ouvindo, mesmo sabendo que os amigos iriam chamar de "brega"? Pooois é... Ao longo dos tempos, você pode tornar-se um cara mais exigente, e poderá começar a achar que os Scorpions se repetem demais... Que os riffs empolgantes são sempre empolgantes... Que as baladas bonitas são sempre bonitas... Mas o valor dos caras é inegável. Hoje em dia, eles não tem 50% da fama que tinham no passado, mas acho que eles já lucraram o suficiente para não poderem reclamar de nada, certo? Enfim, não custa nada constatar que quem gosta de Whitesnake, Kiss, Rainbow, UFO, provavelmente também adora Scorpions. O nome da banda ser citado entre os principais nomes do bom e velho Hard Rock já faz valer a pena uma ouvidela em seus discos antigos... Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 1:51 PM
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segunda-feira, junho 12, 2006
Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables
Depois da explosão dos Sex Pistols, uma banda que pregava destruição, niilismo e rebeldia, houve um “boom” na música. O Rock Progressivo ia para debaixo do tapete após levar um soco na cara de rapazes de cabelo espetado. O Glam Rock quase morria devido ao ataque anárquico da juventude empobrecida e raivosa. A música, após o Punk, tomava três vertentes: o Post Punk (ou New Wave), que aliava à simplicidade técnica do punk com as melodias fáceis e leves do pop; o Gothic Rock, que atuando como ressaca dos punks, pregava depressão, desistência e tristeza. E desenvolvendo o que os Sex Pistols oportunamente fizeram maquinados por um empresário oportunista, o Hardcore. A sonoridade evoluía a premissa básica do Punk: um som infernalmente rápido, pouca ou nenhuma técnica e vocais podres e cuspidos. A diferença é que, liricamente, eles abandonavam a destruição pura e simples dos Pistols; eles pegaram o que o The Clash vinha fazendo, ou seja, letras politizadas e críticas, verdadeiros tapas na cara da velha sociedade. Porém, longe da arte e poesia do Clash, só sobrava violência sonora de suporte para letras inconformadas. Um dos meus grupos preferidos dessa leva do Hardcore são os Dead Kennedys; uma das primeiras bandas a tocar Hardcore, que nessa época dispensava o uso de melodias. Uma banda politicamente incorreta o suficiente para não serem contratados por NENHUMA gravadora, obrigando ao líder Jello a abrir o selo próprio Alternative Tentacles para conseguir lançar seus discos. “ Fresh Fruit For Rotting Vegetables”. Quer nome mais ácido do que esse? O primeiro disco da banda do vocal Jello Biafra (que na época conseguiu tantos seguidores, que se candidatou a prefeito de San Francisco, ficando em quarto lugar), a dupla de guitarras de East Bay Ray e 6025 (ninguém sabe o nome do cara até hoje – entrou para a história do Rock como um número!), e a cozinha do baixista Klaus Flouride e do batera Bruce Slesinger data de 1980, começando os anos 80 dando uma pisada na cara do American Way Of Life. TUDO de condenável e repugnante, porém aceito era esculachado sem dó nem piedade pelos “Kennedys mortos”: as diferenças sociais, os políticos belicistas, liberais conservadores, racistas, polícia, igreja e qualquer forma de poder. “ Kill The Poor”, um hino da ironia e humor negro, é uma música em tom de discurso, tanto as guitarras ameaçadoras e a bateria marcante. “Eficiência e progresso é o nosso de novo/Agora temos a bomba de nêutrons/É legal, rápida, limpa e faz as coisas ficarem prontas”, diz essa bem humorada música possuidora de um refrão viciante e uma ironia tremenda ao pensamento de todos os políticos e sua vontade do que realmente querem fazer com os pobres. Magnífica! Outra porrada inspirada é a seguinte, “ Forward To Death”, que não deixa a peteca cair, com um instrumental rápido e cortante e vocal de Jello acompanhando: “Eu não preciso de seu modo de vida/Eu não posso aceitar suas atitudes (...) Eu não preciso da porra desse mundo”... Pouco mais de um minuto dessa pancada! Iniciada por um baixo e igualmente veloz, porradeira e irônica, falamos de “ When Ya Get Drafted”, com Jello cantando “Você está acreditando nos jornais matutinos/A guerra está voltando com estilo”. Com vocais satíricos, a letra satiriza toda a paranóia que as pessoas sentiam com uma guerra iminente prestes a estourar. “ Let’s Lynch The Landlord” tem um dos vocais mais grudentos e marcantes, e também uma das melhores sessões instrumentais. A letra fala de inconformismo, sobre não aceitar ordens de ditadores insanos... O que resta a ser feito é linchar o senhor da terra! A música ainda conta com um solo de guitarra bem curto e simples. “ Drug Me” é uma das mais rápidas de todo o álbum, com vocais rapidíssimos de Jello Biafra e com guitarras ressonando em tom de alerta. Dessa vez, é ironizado o fato das pessoas se entupirem de remédios e drogas para esquecer dos problemas do mundo. O clima neurótico da música é perfeito! Uma das melhores letras do álbum se encontra em “ Your Emotions”, com Jello Biafra, extremamente irônico, diz que nós somos educados por família e escola a fazer o que eles querem, e no final da música Jello grita mais ácido do que nunca: “Suas emoções te tornarão um monstro!”, advertindo em tom de sacanagem que se você demonstrar ser alguém com coração, mente e alma, você é um monstro para a sociedade. Ponto para o furioso instrumental também. O que se tem a seguir é a apocalíptica “ Chemical Warfare”, a faixa mais pesada do álbum, com guitarras fortes e com Jello cantando com nítida fúria sobre uma guerra química e uma população em pânico. Sem dúvida, uma das melhores do disco, e com um refrão para ser cantado de pé e berrando. Sem contar com suas passagens finais extremamente satíricas... Ouça e ria, mas também reflita com a letra. “ California Uber Alles”, a mais longa do disco (er... menos curta, 3 min: 26s) atacava o então governador da Califórnia, Jerry Brown, que os Dead Kennedys taxavam-no de fascista, hipócrita, ditador e outras coisitas más. Sonoramente, é uma das mais lentas (mas ainda assim bem veloz), com guitarras pesadas, ferozes e cortantes somadas a um refrão cuspido e violento. Os Dead Kennedys eram uma das bandas mais politicamente incorretas e irônicas de todos os tempos. “ I Kill Children” é uma das músicas mais rápidas e destrutivas da bolacha. Na letra, um psicopata mata criancinhas cruelmente e rindo sadicamente, afirmando que como americano, tem direito à oportunidade de ser rei por um dia. Um dos muitos hinos da curta carreira dos Kennedys, diversão pura! Eles realmente queriam botar medo nos americanos, e “ Stealing People’s Mail” é prova cabal disso (Roubar correspondência é um crime grave nos EUA). Vocais rápidos, guitarras mais ainda, bateria espancada sem dó nem piedade... A música é velocidade pura. No final da letra, eles receberão o tratamento convencional para loucos ou criminosos: serem drogados e eletrocutados até virarem Cristãos renascidos. Acidez corrosiva! “ Funland at the Beach”. Êta música infernal. E bem ao estilo desenvolvido pelos Kennedys: curta, esporrenta e brutal, com os vocais discursados de Jello. A música parece falar de alienação, sem ligar para nenhum problema (“Olhe as crianças gordas chupando pirulito/Um monte de bandeiras e balões/Mas alguém sabotou a montanha russa ontem à noite!”). A próxima é “ Ill The Head”, que entra pegando fogo, com Jello berrando uma letra revoltada, com um final sincero, até: “Eu quero minha própria casa/Eu quero minha própria garota/Me ajude a odiar o mundo”. Um dos finais mais caóticos do álbum. Mais um clássico da carreira dos Dead Kennedys: “ Holiday In Cambodia”. Com um baixo bem marcante e uma guitarra até meio soturna. A voz de Jello chega até a estar mais rouca. A letra trata sobre a hipocrisia dos americanos, ignorando as pessoas pobres e marginalizadas, ouvindo Jazz no estéreo... Mas usam válvulas de escape para esconder o vazio existencial: “É um feriado no Cambodja/Onde pessoas se vestem de preto/Um feriado no Cambodja/Onde você beija bunda ou crack”. O reinado dessas pessoas é destruído e atacado nessa música longa e violenta, com um dos melhores refrões do álbum. Quem fecha o álbum é “ Viva Las Vegas”, outra porrada irônica, com um clima pulante, divertido até, mas com uma letra que mostra que os Kennedys estavam mais furiosos do que nunca, criticando a cidade de Las Vegas (claro, né?), a terra das oportunidades artificiais. Gritar “viva Las Vegas” no meio de uma letra tão irônica só torna tudo mais sarcástico ainda. Um marco na história do Rock, representando um dos rumos que a música tomaria nos anos 80. Sonoridade tosca e acintosa, letras sarcásticas, críticas e bem-humoradas, tudo resultando em muita urgência de serem ouvidos. Uma das bandas mais perseguidas pela censura apoiadora de morais e bons costumes. Não quero ser saudosista, odeio saudosismo, mas que falta os Dead Kennedys fazem no dia de hoje! “ Um show dos Dead Kennedys no dia 22 de novembro, aniversário da morte de John Kennedy, não seria de mau gosto? Claro! Mas assassinatos também não são de mau gosto?” – East Bay Ray. Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 9:13 PM
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segunda-feira, junho 05, 2006
The Stooges - The Stooges
Pobres famílias conservadoras... Realmente, durante as décadas de 60 e 70, aconteceu tudo o que elas não queriam para manter suas crianças dentro de casa, ouvindo crooners chatos e estudando para serem bons médicos, advogados ou políticos. Em um entediante Estados Unidos, onde o destino dos homens era ir batalhar (e provavelmente bater as botas) na guerra do Vietnã, em nome de servir a pátria, a elite conservadora se viu preocupada quando um bando de britânicos (os Johns-Pauls e Micks-Keiths da vida) vieram tornar suas garotinhas fãs enlouquecidas e seus meninos em uns garanhões que cortavam seus cabelos em forma de tigela como forma de protesto. Depois, os cabelos foram crescendo, e os baseados se tornaram ácidos lisérgicos. E a retrógrada família americana tinha pesadelos psicodélicos com Grateful Dead, Jefferson Airplane e todos 'os bicho' pregando aquele velho lema... "faça amor, não faça guerra", era o que eles diziam... E quase ninguém deu ouvidos. Talvez porque tenha gente que só preste atenção em você quando você resolve radicalizar. Por mais escandoloso que fosse esse discurso do sexo livre, uma hora iria acabar. Os adolescentes iram crescer e perder esses sonhos. Então que tal algo realmente destrutivo, desbocado e libidinoso? Desejo atendido. Esqueça, caso você pensar que, pela época de que esse disco é, essa galera apelidada de "protopunk" seja gente 'boa'. Eles não tem nada de sutileza, bons modos, educação, conservadorismo... Iggy Pop, Patti Smith, Nico, Wayne Kramer, Danny Fields, Richard Hell, Lou Reed e gente assim, ninguém tinha um discurso paz-e-amor. Se não faziam pregação política das brabas (caso do primeiro disco do MC5), estavam afim é de chapar o globo e ir para a cama com muuuuitas pessoas... Desse segundo exemplo, temos os Stooges - que ao lançar seu primeiro disco, auto-intitulado já haviam deixado ser os The Psychedelic Stooges e agora estavam sob a produção de John Cale, do Velvet Underground, que deixou Iggy Pop (na época, Iggy Stooge), o vocalista, e seus comparsas Ron Asheton na guitarra, o mano de Ron, Scott Asheton, como baterista e Dave Alexander como baixista gravarem do jeito que preferiam: pandemônio musical! Iggy tinha pouca ou nenhuma técnica, só sabia berrar, gemer ou cantarolar com uma voz meio fanha; Ron tirava distorções cortantes e riffs simplérrimos de um pobre instrumento de seis cordas; Scott e Dave compunham uma cozinha doente, destruidora e pouco convencional ao ouvido humano. Fazendo alusão ao ano que o disco foi lançado, a faixa " 1969" nos joga sem preparo algum no mundo stoogeano. É fora de série você encontrar uma faixa com um riff tão ameaçador e com uma bateria pulsante logo no final dos anos 60, onde as pessoas só guardam lembranças suaves... Esqueça! Iggy canta todo o tédio de ser um jovem frustrado dos Estados Unidos: "É 1969 por todos os EUA/É outro ano pra mim e pra você/ Mais um ano sem nada pra fazer". As guitarras fritam o cérebro de quem estiver ouvindo, como se o pobre ser humano estivesse preso à uma cadeira elétrica, enquanto um baixo destoa dos outros instrumentos, mais parecendo alguém te seguindo. Sabem quando falam que alguma coisa é "animal"? Pois então... " I Wanna Be Your Dog", um hino hedonista, entra com um riff rolando ladeira abaixo, com Iggy cantando mais desengoçado do que nunca versos de amor para alguma garota que ele encontrou por aí: "Agora eu quero ser seu cachorro, agora eu quero ser seu cachorro, vamos lá...", e se entregando por completo à garota que ele tanto deseja que estivesse no seu quarto. A bateria, uniforme, acaba destoando (e muito) da volúvel guitarra dessa música, suja demais para os padrões da época, e com um solo de timbre "metálico" ameaçando te enforcar ao final da epopéia sexual... Acho que o medo de ouvir " We Will Fall" só é superado pelo medo de ouvir a primeira música do primeiro disco do Black Sabbath... 10 minutos de palmas e um consistente e sombrio barulho, acompanhados de sinistros vocais de fundo, e Iggy Pop discursando uma história de amor junkie... Quando você fica sabendo que Iggy Pop resolveu cantar depois de ver Jim Morrison no palco e viu que todo mundo podia tentar ser uma estrela do Rock, faz sentido dizer que essa seja a " The End" stoogezada. De uma forma muito sombria, distorcida (no ponto de vista, digo...), e guiada pelo prazer do que a viagem astral feita por Jim, Ray e comparsas... Outra reclamando do tédio de não ser hippie, não ser soldado, não ser um ícone, enfim, de não ser niguém legal, aparece em " No Fun", que traz o rock de volta após essa experiência vanguardista (muito provavelmente por influência de Cale...). As guitarras estão mais elétricas, parece que seu som não vem de um amplificador, e sim direto de uma tomada tendo curto-circuito... O ritmo da música é contagiante, dançante também. "Sem diversão de estar por aí/Andando solitário/Não é divertido estar sozinho/Sem estar apaixonado por ninguém". Realidade de Detroit, expressada por gente cansada daquela frustrada utopia pacífica amorosa. Ron, com suas distorções caóticas que imprime quando menos se espera, só pode estar querendo deixar alguém louco. Ou fritar o cérebro do ouvinte até virar uma geléia. Iggy então... Berrando mais que nas outras faixas, literalmente se acabando... Tornando o que não seria necessário algo hipnotizante. Não é à-toa que esse disco fracassou em termos de vendas. Um disco desses estava correndo na frente dos seus contemporâneos (sem papo de "um passo à frente" dessa vez...). O sexo volta em " Real Cool Time", que pisa no freio, porém, de uma forma não muito decente... A música soa como os destroços de algum acidente de carro, como se o motorista resolvesse continuar dirigindo, totalmente doidão... As distorções e a cozinha descombinando, com Iggy cantando "Nós vamos ter uma vez realmente legal essa noite", quase sem parar, deve ter feito os pais de família da época arrancarem os poucos cabelos que tinham... " Ann" vai tirando o pé do acelerador do álbum, com uma música vazia, quase sem as distorções típicas de Ron - que só aparecem lá para o meio, apenas a bateria simples de Scott, e um vocal distante de Iggy... Uma viagem stoned e caótica, com Iggy declarando amor a uma tal de Ann, que faz ele se sentir muito bem, apesar de ela só ferrar ele (alusão às drogas?)... Vai lá, gente, não tenham overdose logo agora... " Not Right", ah bom. Pensei que depois da última canção eles já estavam desfalecendo; a guitarra ditando os ritmos caóticos dessa música, com a cozinha em tom crescente, mas que acabam sendo escondidas pela montanha de distorção montada por Ron. Iggy parece falar de sexo: "Eu quero algo/Mas ela não pode me ajudar/Porque ela não está certa" e "Ela quer algo/Mas eu não posso ajudar/Porque eu não estou certo"... Uma interpretação totalmente neurótica, um verdadeiro atentado ao pudor. Mas já chegou na última música? " Little Doll" é como as outras: cheia de distorções, com uma bateria que parece ser sempre igual, com a cabeça cheia de umas susbstâncias pesadas e bem conhecidas... Mas essas músicas não tem um fio condutor; cada uma parece ser feita por uma pessoa diferente, pois se uma transpira excitação, outras respiram morbidez.... E essa aqui é uma safadeza... "Eu não te conheço, pequena boneca/ Venha cá e balance"... e "Traga felicidade e tudo/Você é a única verdadeiramente real/O jeito real de ter alguma diversão"... Sexo e drogas sendo as únicas alternativas para não ficar entediado... E olha que os Estados Unidos sempre quiseram passar a impressão que todos os seus habitantes são gente feliz pra burro! Enfim... Se não quiser preso por assédio sexual, não dê esse disco para sua(eu) companheira(o) no dia dos Namorados. Também não o ouça na frente de sua tia fanática religiosa, ou o exorcismo estará a caminho. Foi o que deve ter acontecido na época, e aqui eles davam um pontapé no punk rock: "faça você mesmo", "quanto mais simples, melhor", "o amanhã é uma frustração, viva o caos"... São algumas das idéias que esse clássico me passa. Desaconselhável para menores de 18 anos... Também desaconselhável para religiosos ortodoxos, moralistas, puritanos, sensíveis, entre outros chatos... Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 7:14 PM
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sábado, junho 03, 2006
The Hellacopters - By The Grace Of God
Os suecos do Hellacopters foram muito badalados por aqui quando fizeram shows no festival Kaiser Music ao lado dos brazucas do Sepultura e a lenda Deep Purple. Não eram muito conhecidos em nosso território, mas bastaram três shows (no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais) para o negócio bombar para o lado deles. Quem entende do meio Metal vai reconhecer o guitarrista/vocalista Nick Royale como antigo baterista do Entombed, banda lendária de Death Metal. Mas a veia rock do rapaz falou mais alto. Não vou esconder que surgiu uma certa dúvida entre resenhar este ou o mais novo álbum dos caras, " Rock And Roll Is Dead", mas esse é o meu preferido. Nessas horas não dá para ser tão imparcial... Ele e o resto da banda, completada pela formação Strings na guitarra, Kenny no baixo, Robban na bateria e Bobba Fett no teclado. Pelas guitarras da banda já passou Dregen, do Backyard Babies. O álbum " By The Grace Of God" de 2002 traz tudo o que um fã da banda pode esperar: uma mistura de Motörhead, Kiss, MC5, The Stooges, Led Zeppelin, The Kinks... Músicas de poucos minutos, passeando por Punk, Hard Rock e Proto-Metal. Ou seja, Rock até o osso. Acordes repetidos de um piano abrem espaço para as guitarras avassaladoras da faixa título, que abrem em tom épico. Uma ótima letra, que parece falar sobre a ganância das pessoas de elite no dia de hoje: "Eles precisam-eles desejam./Eles cobiçam sem virar o rosto./Apertos de mão e cabeças concordarão/Eles conseguem, conseguem pela graça de deus.", dizem os melodiosos vocais de Nick, postos sobre uma linha vocal viciante. O lado punk da banda revela-se sem pudor nenhum em " All New Low", com guitarras pesadas e matadoras, e uma bateria de muita pegada. O refrão, ainda assim, esbanja melodia. Uma lírica ao mínimo perigosa, é distribuída nesse Rock-n'-Punk com teclados que parecem emergir da década de 50 através de um vórtex dimensional. É um turbilhão de referências totalmente insano. Uma das minhas preferidas do álbum, essa é " Down On The Freestreet", retomando o lado hard da banda, que mostra-se magnífica em compor riffs e solos viciantes. Um delírio rocker, com uma letra que parece tudo o que alguém encontra em uma mesma noite, atravessando ruas vazias. O riff de guitarra mais animal de todo o álbum é executado em " Better Than You", trazendo junto teclados e bateria enfurecidos, com várias reviravoltas e mudanças de andamentos enlouquecedores, mas nunca perdendo o fio condutor. Uma relação de dominação é explorada na letra, que é entoada pela banda com vocais que vão dos cantados aos quase gritados. " Carry Me Home" tem o início guiado por guitarra e bateria, que tem o riff mais nostálgico de toda a bolacha. Tanto que a letra também parece ser de alguém que quer voltar para casa. Quem viveu no meio rock nos anos 60 e 70 irá chorar de emoção com a falta de vergonha desses caras em honrar o que essas épocas tinham de melhor. A próxima é " Rainy Days Revisited", que acalma um pouco nos riffs e na fúria, mas não perde a garra e as guitarras ganchudas, dessa vez a música tem os teclados como destaque. A letra parece falar sobre enfrentar problemas antigos, metaforizados como "dias chuvosos". Outro espetáculo de composição, apesar de dessa vez não enlouquecer o ouvinte. Dessa vez. Outro clássico do álbum ao lado da faixa título é " It's Good But It Just Ain't Right", com guitarras punk que descambam em andamentos mais melódicos. A letra é até meio metafórica, mas parece falar que o eu-lírico não sera alguém moderado ou idiota. Vindo dos Hellacopters, não espere nada abaixo de puro rock and roll, tanto sonora como liricamente... " U.Y.F.S." entra mais melódica, parecendo que a banda vai perder o pique. Que nada! Um "uh!" de Nick dá espaço para o Rock tomar conta do lugar novamente. Uma letra aventureira e perigosa é entoada com muita empolgação por parte de mr. Royale. A esse ponto, você não sabe se balança a cabeça freneticamente, dança empolgado ou se está tendo um sonho em que Stooges, Led Zeppelin e Motörhead estejam fazendo um show em sua casa... Com os três tocando no volume mais alto possível, ao mesmo tempo! A próxima é " On Time", endiabrada, puxada por belas guitarras, a bateria esbanjando vigor, e o baixo e os teclados constituindo um clima em brasa viva. É uma música típica dos Hellacopters, inclusive o ótimo solo e as 'paradinhas' em que as guitarras pegam o ouvinte pelo pescoço e o jogam no meio da pista de dança (ou da roda de pogo...). O riff de " All I've Got" não pode ser classificado de outra forma senão como animalesco. Os backing vocals estão tinindo, e um dos melhores desempenhos de Robban nas baquetas, sem contar um solo de guitarra simplesmente de enlouquecer. A letra é bastante violenta, retratando toda a atmosfera que a música transpira. A banda meteu a mão na massa certinho para fazer essa pérola áspera. " Go Easy Now" também não dá muitas chances para respirar. Pode parecer que tanto rock sem baladas pode deixar o álbum meio exaustivo... Mas não... Cada música tem um acabamento difrente, um riff te conquistando de forma diferente, linhas vocais otimamente arranjadas... Serviço de primeira. Liricamente, é um grande depoimento de sobrevivência e determinação. Uma auto-biografia de quem arrisca a tocar o estilo de música mais perigoso do mundo. Entra a penúltima canção, " The Exorcist", com guitarras passeando entre protopunk e hard rock, e os vocais de Nick mais inspirados do que nunca. A letra trata sobre um terror real, o que torna essa música uma das mais pesadas de toda a obra, mas também com algumas das passagens melódicas mais belas, devido ao teclado. O refrão e o solo podem matar qualquer desavisado do coração. É adrenalina pura pulando do rádio para ouvidos e veias. A coisa mais difícil do mundo é fechar o álbum de uma forma decente. " Pride" não é a melhor do álbum, mas consegue tal feitio. Novamente um "hard-punk-à-la-70's-com-teclados-50's" que virou marca registrada da banda. A letra discorre sobre o tema "orgulho", em meio a solos delirantes, bateria estourando o bumbo, palhetadas e riffs que realizam a construção de um paredão sonoro consistente, insano e atuante. Quando o álbum acaba, ou você jura que está nos anos 70, ou que descobriram um disco fantástico daquela época e o lançaram com toda produção e qualidade de gravação da época. Enfim... o rock europeu, especialmente da Suécia, está muito mais vivo que o rock americano. Quer acusar o som de clichê? Ora, isso aqui é Rock And Roll dos brabos! Você quer que eles toquem techno? Então, quando Nick Royale vestir seu fiel boné e segurar em mãos sua companheira guitarra, e entrar no palco junto com seus bandmates tenha certeza que a única palavra que vai ecoar em sua mente pelos meses seguintes será "Rock And Roll, Rock And Roll, Rock And Roll". Nem precisa ir em um show deles... Veja se sua loja preferida não tem um disco da banda, junte uns trocados, e como diz uma das canções do grupo: Gotta get some action, NOW! Marcadores: Resenhas
posted by billy shears at 3:42 PM
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