terça-feira, fevereiro 26, 2008
Pixies - Doolittle
Pixies. Um dos grupos preferidos do ícone Kurt Cobain. A banda que toca ao final do excepcional "Clube da Luta". Um dos pioneiros do rock alternativo que dominou o mundo no início dos anos noventa e desbancou aquele hard rock farofeiro mais preocupado com pose e imagem do que o som propriamente dito. Melodias acessíveis, agito instrumental de surf music e quebradeira de garagem sem noção do punk rock. Pop e vanguarda no mesmo paladar. Tudo graças ao guitarrista Joey Santiago, o baterista David Lovering, e claro, a genial dupla de compositores constituída pela baixista e backing vocal Kim Deal e o guitarrista e vocalista Frank Black (ou, se preferir, Black Francis). Só pra ter uma noção, o clássico roqueiro da geração passada, "Smells Like Teen Spirit" do Nirvana, era nada mais nada menos que uma tentativa de imitar o grupo vindo de Boston. Entre outros tietes, estavam também a galera do Pearl Jam e os esquisitões Smashing Pumpkins.
De 1989, "Doolittle" é o trabalho mais aclamado por público e crítica já gravado pelo grupo, e é o exemplo mais amadurecido e brilhante das melhores características do grupo: visionarismo sem precedentes, refrões cantaroláveis, temas inusitados que iam de OVNIs e surrealismo até instabilidade e violência, as doces vocalizações do fundo de Deal e o vocal diferenciado e bem humorado de Black. Ouvindo na época dava para traçar previsões para o mundo da música: iam embora as caras de mau e som macabro do Metallica, ruía o reinado dos cabelos cheios de laquê do Cinderella, e entrava o visual convencional de jovens adultos norte-americanos precursor da estética indie.
Várias canções assustam pelo brilhantismo e inovação em uma época mais interessada em hits que ambição artística, tendo uma importância igualmente igual ao de clássicos do período como "Psychocandy" do Jesus And Mary Chain e o debut auto-intitulado dos Stone Roses, sendo basicamente os três trabalhos que lançaram os alicerces sonoros para a última década do século vinte. Logo de cara já temos a pancadaria "Debaser", que deve ter feito a cabeça da galera grunge: introdução de baixo, ensolarados versos pop e despinguilamento punk no pré-refrão e no chorus. E não pára por aí: tem ainda o hit radiofônico "Here Comes Your Man", um rock dançante e palatável, com um delicioso e marcante groove, fazendo desta música um clássicaço da época. E ainda tem a malucona "Monkey Gone To Heaven", viajante música pop cujo refrão cria um paradoxo de guitarras pesadas e vocais calminhos e grudentos. A viagem continua com outras pérolas como "I Bleed", "Hey" e "Wave Of Mutilation", fazendo dos que desprezam a existência dos Pixies verdadeiros loucos que não sabem o que estão perdendo...
"if man is 5 then the devil is 6 and if the devil is 6 then god is 7 this monkey's gone to heaven..."
Músicas:
01 Debaser 2:52
02 Tame 1:55
03 Wave of Mutilation 2:04
04 I Bleed 2:34
05 Here Comes Your Man 3:21
06 Dead 2:21
07 Monkey Gone to Heaven 2:56
08 Mr. Grieves 2:05
09 Crackity Jones 1:24
10 La La Love You 2:43
11 No. 13 Baby 3:51
12 There Goes My Gun 1:49
13 Hey 3:31
14 Silver 2:25
15 Gouge Away 2:45
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posted by billy shears at 11:11 AM
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domingo, fevereiro 24, 2008
Ringo Starr - Liverpool 8
paz, amor e bons discos
Sempre fico curiosa ao ver grandes nomes lançando discos solos. Ano passado me surpreendi ao ver que PaulMcCartney ainda faz um som bacana, e o mesmo aconteceu recentemente ao ver que outro beatle também está vivíssimo. Já com seus 60 e tantos anos, Ringo Starr poderia estar em alguma mansão em qualquer canto do mundo aproveitando muito bem a vida. Mas convenhamos que pra quem já foi um beatle, ficar descansando não deve ser lá muito divertido. É por essa e por outras que Ringo lança Liverpool 8, seu 14º disco solo. São doze faixas em pouco mais de 45 ótimos minutos do disco. Liverpool 8, a faixa de abertura que também dá nome ao disco, é uma pequena amostra do que virá no decorrer das próximas faixas: canções que relembram a infância e juventude, idealismo 60s – paz e amor, e com uma sonoridade que pode até fazer lembrar os Beatles, mas com muita atitude e uma pegada moderna. Destaque para Liverpool 8 e Think About You.
"Livepool I left you Said 'goodbye'To Madryn StreetI always followed my heartAnd I never missed a beatDestiny was callingI just couldn't stick aroundLiverpool I left youBut I never let you down"
Músicas: 01 Liverpool 8 Listen 02 Think About You 03 For Love 04 Now That She s Gone Away 05 Gone Are The Days 06 Give It A Try 07 Tuff Love 08 Harry s Song 09 Pasodobles 10 If It s Love That You Want 11 Love Is 12 R U Ready? Download via 4shared (créditos - juliocmail.blogspot.com) Download via torrent Marcadores: Downloads, Resenhas
posted by natália; at 5:43 PM
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sábado, fevereiro 23, 2008
The Sonics - Here Are The Sonics!
Dizem as enciclopédias do rock: os Ramones são os pais do punk. Os Stooges e MC5, os avôs. Os New York Dolls, as vovós que eram vovôs. São consideradas as bandas seminais pra qualquer banda hoje que queira pegar uma guitarra e tocar um som direto, cru e porradeiro, certo? De Sonic Youth, Big Black, Nirvana e Hüsker Dü até White Stripes, The Strokes e The Hives, todo mundo de alguma forma deve as calças à Iggy Pop, Fred "Sonic" Smith, Joey Ramone e Johnny Thunders, certo?
Pois bem, saiba que todos esses pais, avôs, e vovós travestidas também têm suas rasgadas calças jeans como dívidas. Pra quem? Ora, para alguns dos primeiros caras que contemplaram o mundo de barulheira e putaria e tiveram coragem de traçar a véia primeiro: The Sonics. Só depois do surgimento dos mesmos que os jovens americanos resolveram mostrar para os engomadinhos ingleses quem deveria estar tocando Chuck Berry e Little Richard no volume máximo. Coube aos pobretões degenerados de Washington Gerry Roslie (vocal, guitarra e órgão), Andy Parypa (baixo), Larry Parypa (guitarra), Bob Bennett (batera) e Rob Lind (saxofone) fazer o trabalho sujo.
Imagine você em 1965. "Help!" nas rádios. "A Hard Day's Night" no cinema. Mick Jagger e Keith Richards no princípio do sucesso dizendo que eles eram tudo o que os Beatles não eram. E nos inferninhos cheirando a cerveja, nicotina e suor, uma paulada nos tímpanos. Cinco dementes deixavam as caixas de som zumbindo de tanto volume, e não deixando barato, esburacando-as com furadores de gelo, o que fazia o som sair mais grave, ruidoso e tosquíssimo do que o normal. Entre músicas próprias e covers de Rock And Roll cinquentista, os Sonics não deixavam pedra sobre pedra bem antes de "I Wanna Be Your Dog", "Jet Boy", "Kick Out The Jams" e "Blitzkrieg Bop". Era som endurecido, embriagado e quase documentativo do ambiente decadente e áspero de onde vinha.
"Here Are The Sonics!", em plena época de iê-iê-iê, é porradaria sem descanso. É um exagero desnaturado e inconseqüente de volume. O vocal berrado e desesperado de Gerry já foi muito comparado ao do lendário de Little Richard, e talvez não seja uma comparação tão distante, já que é algo muito mais guiado pelo tesão e fúria do que por harmonia e beleza. As guitarras são muito semelhantes a ruídos de explosões e fuzis tocados de forma insistente e anfetamínica. A partir da inflamada e impactante abertura "The Witch", você continuará sendo golpeado com seguidos socos na cara ouvindo o rasgado refrão de "Boss Hoss", a impiedosa e fortíssima "Psycho", uma versão simplesmente massacrante de "Keep A Knockin'" de L. Richard, uma das maiores influências da banda, tocada de forma excessivamente rápida e pesada pra época.
Alguns gritos chegam a assustar, alguns riffs farão você proteger seus tímpanos, e muitas das suas letras irão ofender muitos moralistas, já que há mais de quarenta anos atrás os caras já baseavam suas letras em bruxas, sexo, eventos sobrenaturais e mulheres atordoantes, em meio à muito sarcasmo destrutivo, juvenil e urgente. Os prováveis primeiros brancos a tocar rock pauleira são uma experiência intensa demais para passar batido. Dá até pra entender porque em uma época tão dócil eles acabaram não chegando a lugar nenhum, financeiramente falando. Mas quem ouviu, concorda: isso que é Rock And Roll. Sem esses caras, gente como Ron Asheton e Johnny Ramone acabariam sendo meros lavadores de prato.
Não estranhe se, quando acabar, você achar que foi atropelado.
"Say there's a girl Who's new in town Well, you better watch out now Or she´ll put you down cause she's an evil chick Say she's the witch!"
Músicas: 01 The Witch 2:37 02 Do You Love Me 2:15 03 Roll Over Beethoven 2:46 04 Boss Hoss 2:21 05 Dirty Robber 1:59 06 Have Love Will Travel 2:37 07 Keep A Knockin' 1:53 08 Don't Believe In Christmas 1:41 09 Psycho 2:14 10 Money 1:57 11 Walkin' the Dog 2:42 12 Night Time Is the Right Time 2:55 13 Strychnine 2:10 14 Good Golly Miss Molly 2:05 15 Santa Claus 2: 48 16 The Village Idiot 2:33
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posted by billy shears at 10:24 PM
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terça-feira, fevereiro 19, 2008
Tom Waits - Closing Time
" As canções, você sabe, são como fumaça. É algo que você não pode pegar com as mãos, qualquer coisa que lembra um lugar, um lugar qualquer, impalpável. Não é algo substancial como um guarda-chuva ou uma caminhonete". (Thomas Alan Waits , o próprio) Você já ouviu falar do californiano Tom Waits à essa altura do campeonato. Ele já teve a sua " I Don't Wanna Grow Up" regravada pelos lendários Ramones, ganhou dois Grammys de melhor álbum, atuou em um dos papéis principais de " Daunbailó" de Jim Jarmusch, um dos mais comentados filmes cult dos anos 80 e também em " O Selvagem da Motocicleta" e " Drácula de Bram Stocker", essas duas películas sendo do lendário Francis Ford Coppola. E mesmo assim, muita gente só ouve falar ou não tem muito interesse na sua obra. Entre seus admiradores - um deles que vos escreve agora - sua inconfundível voz rouca sobre sua brilhante obra constitui um injustiçado mito ao nível de outros grandes como Bob Dylan e Neil Young. Seu primeiro álbum, " Closing Time", de 1973, também é considerado um de seus melhores. A inexatidão de estilos desde já é marcante, passeando entre rock and roll, blues, folk, jazz e country mesclados a uma lírica bela, triste e apaixonada, pura poesia musical com uma voz cansada lamentando sobre os mais variados temas. A própria capa já denuncia o tom que sua dolorida alma produz harmonia, com o cantor de ar melancólico debruçando-se sobre um piano, em uma sala escura. Tudo tão singular que, por muitos fãs e críticos, Waits ganha o honroso título de "o último beatnik". Tanto na música quanto no cinema, o artista volta seus olhos aos desajustados, aos excluídos, aos malditos, o que torna suas letras paradoxalmente belas e agressivas, sofisticadas e "na veia". É extremamente difícil resistir à angústia do amor platônico de " I Hope That I Don't Fall In Love With You", com versos contemplativos cantados sobre belas melodias de violão falando sobre dois solitários que mesmo atraídos, estão cheios de medo se machucar. Ouvindo o jazz vocal " Virginia Avenue" fica não difícil imaginar alguma megalópole americana em toda a sua triste e decadente beleza noturna. " Ice Cream Man" é jazzy-rock, de ritmo constante e agitado, que serve tanto para uma lenta dança ou puro relaxo. E esse são só alguns destaques dessa verdadeira obra-prima marginalizada e tão sentimental, e tão cheia de maturidade e sabedoria para um compositor que na época, mesmo que o autor na época só tivesse 24 anos. Dê uma permissão a um dos maiores e mais tocantes músicos vivos da América te fazer crer que tristeza e paixão podem sim ser música. Das mais bonitas. "Well the night does funny things inside a man These old tom-cat feelings you don't understand, Well I turn around to look at you, you light a cigarette, I wish I had the guts to bum one, but we've never met, And I hope that I don't fall in love with you" Músicas:01 Ol' '55 3:59 02 I Hope That I Don't Fall in Love With You 3:5603 Virginia Avenue 3:1204 Old Shoes (& Picture Postcards) 3:42 05 Midnight Lullaby 3:28 06 Martha 4:32 07 Rosie 4:05 08 Lonely 3:1409 Ice Cream Man 3:07 10 Little Trip to Heaven (On the Wings of Your Love) 3:4011 Grapefruit Moon 4:5212 Closing Time 4:20Download- Como vocês podem ver, esse é o primeiro post do Dangerous Music qem que é disponibilizado um download de um disco. "Por quê?", perguntarão alguns. "Por que não?", pergunto eu. Agora não tem mais motivo pra não ouvir. Façam bom proveito! Marcadores: Downloads, Resenhas
posted by billy shears at 10:17 PM
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sexta-feira, fevereiro 08, 2008
Jorge Ben - Samba Esquema Novo
A essa altura, todo brasileiro que não é ruim da cabeça nem doente do pé deve saber: “Samba Esquema Novo” foi que nem “Chega de Saudade”. “Tropicália ou Panis Et Circenses” e “Secos & Molhados I” foram que nem “Samba Esquema Novo”. Arroubos de genialidade juvenil, uma quebra com os paradigmas anteriores, discos de musicalidade exuberante e perfeita... Às vezes, inacreditavelmente perfeita.
Carioca da gema, o lendário Jorge Ben é simplesmente um dos músicos brasileiros mais influentes surgidos na segunda metade do século e responsável por uma gigantesca de pérolas clássicas há mais de quarenta anos. Ben, assim como João Gilberto, reinventou a música da terra brasilis de forma profunda demais para que não se mereça uma digna passagem em qualquer enciclopédia sobre os sons tupiniquins. E tudo isso começou com esse disco.
Ao final dos anos cinqüenta e início dos sessenta, a música brasileira atingiu uma nova era de ouro - Após a explosão da bossa nova, um admirável mundo desconhecido em matéria de música surgia aos ouvidos de público e crítica.
Apesar da relutância inicial da crítica, o público tornou Jorge Ben um fenômeno instantâneo, vendendo horrores para a época e obrigando muitos críticos a reconsiderar seu “iluminado” senso para música ao dizer que Jorge fazia músicas de harmonias e letras simples por demais.
Pois “Samba Esquema Novo” era negro como o Brasil poucas vezes havia testemunhado, com a marcação envolvente do violão de Jorge ditando o andamento, dispensando o uso do contrabaixo por muitas vezes – melodia e ritmo eram resumidos em um único instrumento. Inovador, não se encaixava nos moldes da bossa nova nem do samba tradicional. As letras ainda que simples e assimiláveis iam do doído romance à evocação de deuses africanos, desfilando todo um típico cenário brasileiro, de tempestades torrenciais lá fora, de violões e pianos repousando em um canto, e uma rodinha de samba no quintal. Ben fazia o Brasil se sentir em casa sendo o mais singelo possível.
O disco é aberto pelo incrível e delicioso groove de “Mas, Que Nada!”. Jorge canta sobre a necessidade urgente de ir a um samba mais do que agitado, porque segundo ele “esse samba/que é misto de maracatu/samba de preto velho/samba de preto tutú” é simplesmente bom demais para que a pessoa queira chegar no final. E apenas a voz, ainda que de alcance limitado, é um fio condutor hipnótico e envolvente demais para ficar apático.
Ouvimos agora a única música que não é da autoria de Jorge no álbum, composta por João Mello, o cara que descobriu Jorge Ben. Batucando lata, “Tim, Dom, Dom”, entra com Ben dizendo que o “dim-dom” do violão bate que nem o seu coração. As cordas correndo alegres pela música dão suporte para a voz discorrer para uma mulher que inebria todos quando começa a sambar. E o tão animado samba (em novo esquema) de Ben acaba de forma crescente e arrepiante.
“Balança Pema” é outra música com um balanço irresistível, com Jorge cantando “Pois quando você sambalança/Sambalança meu coração também/Ele sambalança certinho/Juntinho com o seu vaivém”. E não importa, os dois podem ficar no mesmo processo até as sandálias da moça ficarem gastas e acabadas e os dedos estiverem calejados e doloridos. Corpo, música, coração: a via mais curta que existe.
Ainda convidativo, “Vem, Morena, Vem” entra suingando e criando espaço para Jorge cantar que nos cantinhos de sua casa existem amigos inseparáveis como o seu violão e seu piano, mas que sem a sua morena dançando para ele, não haverá música alguma. Doce e incansável, carente e apaixonante de forma absurdamente simples.
E ouso dizer: poucas vezes o século vinte viu um arroubo lírico e emocional tão grande como em “Chove, Chuva”, com sua letra carinhosa e protetora, suas melodias conquistadoras e um refrão para lá de poderoso, e que apesar de ser tão marcante, diz apenas para palavras doces como “por favor, chuva ruim/não molhe mais o meu amor assim”.
“Não adianta que eu não vou/Se lá não tem samba/Eu não vou não vou/Pois o que eu quero é só sambar”... Essa aí recebe o nome “É Só Sambar”, de início dedilhado e refrão que suaviza a música e dá oportunidade para as cordas voltarem a esgueirar para perto do ouvinte, fazendo o mesmo aceitar o convite de muito bom grado.
“Rosa, Menina Rosa” com o tempero percussivo mais forte que o normal, em que Ben, em divertida presunção, diz que mesmo que a tal da Rosa sambe muito, o samba de Jorge irá passa-la para trás. Mas diz para não se preocupar: “Meu samba tem mistério, mas é gostoso de sambar/Se você gosta de samba, você vai ter que balançar”. Precisa mesmo falar do nível de excelência da música se o próprio a assume?
Outra das pérolas do álbum, essa é a paradoxalmente balançada e melancólica “Quero Esquecer Você”. Com belíssimos versos como “Sei que não devo querer você tanto assim/Pois esse desejo é proibido para mim” e ainda pronunciando voxê ao invés de você no refrão, cria um clima de amor ingênuo, puro, quase infantil, que a sessão de sopros e as cantaroladas em falsete só reforça e maravilha.
“Uala, Ulala” se usa de inúmeras figuras e personagens para que o universo descrito por Ben faça pleno sentido aos ouvidos dos atentos, em que a música de instrumentação discreta e marcação forte pode ser resumida, como o próprio Jorge diz na letra, como um simples “lamento de amor”. Simples de fazer muitos se morderem de inveja.
Nostálgica, “A Tamba” é uma das músicas mais lentas e comoventes de todo o conjunto presente. Prolongando a palavra, cantando em falsete, lembrando dos tempos do samba que não voltam mais. Um esquema novo consciente, que não nega os antepassados, mas que não tem medo de vislumbrar o futuro.
É incrível como Jorge consegue ser ao mesmo tempo propositadamente e convincentemente pueril. “Menina Bonita Não Chora”, em que a batida é mais agitada, mas ainda assim é acompanhada de melodias que fazem o ouvinte lembrar de dias mais simples e mais felizes. Romântico devotado, Ben promete que “O meu amor é forte/Nele você pode confiar/Se você é triste, feliz você será”.
E quem dá o ponto final nesse clássico é “Por Causa de Você, Menina”. Amor platônico, não correspondido, voz pequena, sopros suingando, marcação pulsante... “Você passa e não me olha, mas eu olho pra você (...) Você por mim não chora, mas eu choro por você”... Sinceramente? Há de ser bastante revoltado com a vida (ou padecer de muita pose blasé) para não dar um sorrisinho, não se identificar e não cantar junto... Assim como o resto do álbum é simples, bonita e visionária. Tudo em uma música só. Combinar as três características não é pra qualquer um.
Assim como ouvindo o debut de 1959 “Chega de Saudade” de João Gilberto, você tem dúvidas de como que um disco tão simples instrumentalmente e nada complexo liricamente, com músicas durando em média dois minutos, pode abalar todas as estruturas.
Pois é, meu amigo, Jorge Ben conseguiu tal proeza. Absoluto herói entre público, crítica e meio musical, a aparente ingenuidade e pureza nas canções revela maturidade e inovação sem precedentes. Até mesmo para a idade dele na época. Apenas vinte e um anos e o sentimento do mundo. E quarenta e cinco anos depois, ainda foram raras as vezes que nosso coração foi tocado de forma tão direta e descomplicada.
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posted by billy shears at 7:04 AM
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