Creio eu que, desde os seus primórdios, o Rock possui bandas únicas que fazem sucesso por um curto período de tempo e são exaltadas pelas décadas seguintes. Tais bandas, muito que geralmente, possuem como homem de frente o que muitos chamariam de gênio imcompreendido. E outros ainda chamariam de mártir por efeito de uma prematura morte.
Da parte dos gênios não encaixados na sociedade, o mais novo e chamativo da 'leva' seria Thom Yorke, do Radiohead. Porém, como já foi dito, o rock teve outros ícones sob tal rótulo. Esses seriam Jonh Lennon dos Beatles, Jim Morrison dos Doors, e segunda alguns, Kurt Cobain, do Nirvana (ainda que eu o classifique como "mártir", mesmo).
Nirvana, até hoje, é um nome que divide extremos de 'amo' e 'odeio' entre as pessoas. Muitos acusariam a banda de se vender para fazer sucesso em tão pouco tempo. Mas o Nirvana foi uma das últimas bandas honestas, que teve o azar de cair nas malhas do comercialismo exacerbado que toma conta do cenário musical de hoje em dia.
O grupo de Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl já era mais do que badalado na época graças ao megasucesso do álbum Nevermind e os seus hits "Smells Like Teen Spirit" e "Come As You Are", que dava oportunidade de sucesso para toda a nata de Seattle fazer sucesso; daí que seriam elevados e glorificados também grupos feito Pearl Jam, Alice In Chains, Soundgarden e, tempos depois, o Silverchair). O esquemão do básico "do-it-yourself", "faça-você-mesmo" reinava, e até grupos que não estavam sob o rótulo de grunge embarcaram na onda do sucesso. Faith No More e o seu The Real Thing e os dinossauros Red Hot Chili Peppers com seu Blood Sugar Sex Magic que o digam. E milhares de outros grupos que tocavam nas sombras underground e só brilharam quando Kurt Cobain e sua trupe tiraram o Hard Rock das paradas. Os brasileiros, com uma MTV criança ainda, eram agraciados com os maiores sucessos dessa fértil e produtiva época. Desde o estouro dos Sex Pistols (em '77!), o básico não vendia tanto. O grunge dos rapazes abriu portas para o pop-punk e o hardcore vindos da Califórnia, e até o Rock brasileiro foi ajudado com isso. Enfim, inúmeros exemplos pululam graças a ajuda do Nirvana. Tudo por querer voltar ao básico.
Lançado em '93, In Utero foi moldado em meio a turbulências e problemas. A pressão do público, os boatos que a gravadora Geffen queria mexer no disco, brigas com o produtor Steve Albini (que já havia produzido os Pixies), e Kurt Cobain internado em clínicas para desintoxicação.
Ainda com as melodias guitarreiras do anterior Nevermind, mas sem o mesmo chamativo comercial (influência de Albini, quem sabe?), In Utero marcou a ferro e fogo o nome Nirvana, talvez até mais que o antecessor, por uma série de fatos: a vontade de mandar tudo às favas depois do reconhecimento pleno, a produção de Steve, as melodias neuróticas e as neuroses melódicas saídas da mente do já citado Kurt Donald Cobain.
In Utero é um disco agonizante, amargurado, com Kurt Cobain urrando, sussurrando e melodiando as músicas como se fosse a última coisa a ser feita em vida. Microfonias e distorções conduzem guitarra e baixo sobre o ritmo pertubador de Dave Grohl, desde a dupla de abertura "Serve The Servants" e a ainda mais sofrida "Scentless Apprentice". Que entrem no grupo também "Milk It" e "Radio Friendly Unit Shifter".
A melodia guitarreira do antecessor Nevermind se faz presente logo no início da obra, na melancólica e forte "Heart-Shaped Box", onde Cobain exprime todo o seu sofrimento, exatamente como se tivesse ficado trancado em um caixa em formato de coração por semanas. A seguinte," Rape Me", possui gritos mais desesperados ainda. A guitarra praticamente idêntica a de "Smells..." dá o tom de um protesto ao próprio sucesso.
"Frances Farmer Will Have Her Revenge On Seattle" ao mesmo tempo mostra o Nirvana de sempre, com algo do punk rock, mais melodias guitarreiras, que seriam setentistas caso a produção do álbum fosse mais limpa e bem cuidada. A primeira balada do álbum é a clássica "Dumb", acompanhada melancolicamente pelo cello de Kera Schaley, como participação especial. A mesma coisa que acontece na segunda balada, "All Apologies", última música.
Antes da pedrada "Milk It", se ouve "Very Ape", embarcando em um ritmo quase que esquizofrênico. A bateria maníaca de Dave Grohl guia as insanas melodias da música. E, após de "Milk It", versando sobre um método de indução ao aborto, se faz presente a absolutamente grandiosa "Pennyroyal Tea", com Kurt musicando-a de forma incrível. Totalmente magnífica e fortíssima. E ainda, antes de "All Apologies", se tem a neurótica e punk rocker "tourette's". E "Gallons Of Rubin Alcohol Flow Trough The Strip" reserva surpresas para quem tiver a paciência de ela ser iniciada.
In Utero, foi, mais do que nunca, um verdadeiro batismo de fogo, o resultado do descontetamento com o sucesso, da vontade de se satisfazer como músico, pouco se importando com a quantidade de dinheiro ganha nisso. Digno da assinatura da banda.
Uma pena que, nos tempos de hoje, Kurt seja mais lembrado por um símbolo sexual e ícone cool do que por sua competência, talento e criatividade como músico. Mas, para quem conhece, sabe que o Nirvana será lembrado até hoje pelos seus mágicos álbuns, os seus apoteóticos shows e a imagem mais que onipresente, deixando sombra no cenário da musica até hoje, dele mesmo, Kurt Cobain.
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