Se eu tivesse que responder a entrevistas com perguntas do tipo "Que álbum levarias para uma ilha deserta?", eu responderia Paranoid, no ato.
Paranoid, lançado no mesmo ano que o seu antecessor e debut auto entitulado "Black Sabbath", ou seja 1970, junto com os outros seis primeiros do Sabbath (Black Sabbath,Paranoid, Master Of Reality, Volume 4, Sabbath Bloody Sabbath, Sabotage), figuram na lista de álbuns favoritos de muitas personalidades e autoridades no meio heavy da música.
O álbum traz um Black Sabbath em evolução. Menos ingênuos e místicos que no anterior, a banda assumia uma faceta mais política e crítica socialmente. Longe de caírem novamente nos papos e convites de bruxas que os deixavam perplexos, a banda mostra realmente as raízes do que é, e do que convém a se chamar metal. O fundamento, base e raiz do que convém a ser rock pesado, junto com Deep Purple e Led Zeppelin.
Em pleno 1970, onde o mundo vivia os horrores da guerra do Vietnã, esses quatro jovens de preto, Ozzy Osbourne nos vocais, Tony Iommi nas guitarras, Geezer Butler no baixo e Bill Ward na bateria, contrariaram a ideologia hippie de paz e amor e foram bater de frente com os horrores da sociedade. De início, o disco iria se chamar War Pigs, nome da paulada que abria a obra-prima. Mas por imposição da gravadora, tal idéia foi vetada. Aí que o nome Paranoid foi escolhido, pelos empresários donos da gravadora terem adorado a música.
A começar pela capa, curiosa até demais, com o guerreiro psicodélico surgindo detrás de uma árvore e portando um escudo na mão direita e uma espada na esquerda (referência ao canhoto Tony Iommi?). Enojada por muitos, mas genial de tão simples e...tosca.
Então, ao disco. Você coloca o disco (cd) na agulha (no laser) da vitrola (do rádio) e... o mundo vem abaixo.
War Pigs, cavernosa, primal, selvagem. A guitarra sinistra de Iommi soma-se ao paredão sonoro e caprichado de Geezer e Bill, com sirenes ao fundo cortando os tímpanos de quem se aventurar a ouvir. Até entrar a voz do madman Ozzy Osbourne, cantando, em maior parte das músicas, nas paradas que ocorrem. Por falar nisso, a voz de Ozzy é um primor. Doente, esquizofrênica e como o nome do álbum ja diz...paranóica. A música corre em seus ritmos alucinantes e em seu impressionante, porém simples, solo de guitarra, até estourar e reter na sua explosão final.
E logo após vem ela. Paranoid. Ah, Paranoid. Tirada de uma jam brincalhona de Tony e Geezer, talvez seja a jam de brincadeira mais genial da história. Treinada como passagem de som por muita gente, inclusive aos selvagens punks do final dos anos 70, que detestavam (diziam eles assim) a atmosfera musical cheia de firulas dos dinossauros do rock. Então, sem firulas, detonada com muita rapidez em seus 2 minutos e 45 segundos. Ok, não é nem de longe a música mais rápida do mundo, mas era bastante rápida para os padrões da época. A letra, feita por Ozzy, é simplória, talvez seja boba, fruto de um relacionamente terminado rápido. Mas, Ozzy, para não perder o costume, interpreta a letra de um jeito único e cativante.
Planet Caravan, a terceira, é a mais suave do disco inteiro. A banda enverga num clima totalmente psicodélico, quase "mutântico". Ozzy, que devia estar em uma bela 'trip', se entrega com espiritualidade total a música-tanto que sua voz parece vir de outras eras.
Relaxou? Bom, muito bom. Isso é o que você vai precisar. A bateria de Bill começa a dar o tom do que vem pela frente. 'Arranhões' na guitarra acompanham uma mórbida voz metálica que diz "I am the iron man". A guitarra distorcida de Iommi dá início a essa paulada-sim, paulada, mesmo sendo uma música lenta, é uma porrada no ouvido. Iron Man tem uma letra sensacional, musicada por Ozzy de forma excelente. A cozinha demolidora de Geezer e Bill está presente como nunca.
O primor musical seguinte, é Eletric Funeral, com sua letra apocalíptica envergada pelo Sabbath com seus compassos lentos, graves e distorcidos. Uma música apoteótica, com Tony despejando toda a 'rifferama' que conseguia aplicar. A porradaria no final é de estremecer qualquer um. Que música excelente, perfeita!
Um começo baixo, que tem que ser ouvido com o som no talo, não demora muito para Ozzy iniciar a cantar com sua voz desesperada a prima obra Hand Of Doom. A música é uma das mais complexas do Sabbath para a época de Paranoid; varia entre o lento e arrastado da guitarra de Tony e a pancadaria que ele emenda junto com o tanque de guerra que é a cozinha de Geezer e Bill. Ozzy interpreta os horrores de um soldado que foi mandado a guerra do Vietnã e agora não mais são é, de forma magistral.
O que se houve após Hand Of Doom, é o instrumental de Rat Salad. Não precisa nem da voz do Ozzy-a pauleira com feeling já denuncia: é Black Sabbath. Outra observação cabível aqui é aula de bateria fornecida por um exemplar Bill Ward.
A última do álbum é a clássica e lisérgica Fairies Wear Boots. Após uma bela introdução, Ozzy narra uma história nonsense com a sua voz única. Seus gritos de "allright now" levantam qualquer morto de sua tumba. A parte instrumental é genial, com Iommi e seus incansáveis riffs e Bill e Geezer atropelando quem estiver na frente. Encerrar com chave de ouro, isso é o que os pais do Metal fazem, e com talento!
"Paranoid" é um dos álbuns mais influentes da história. Um álbum único na história, que desenvolvia o que existia no primeiro e abria a portas ao que viria ser criado em "Master Of Reality", a trilogia mais pesada da banda, que depois experimentaria muitas outras coisas.
Os quatro geniais Cavaleiros do Apocalipse em plena forma, mostrando o que a criatividade os permitia a fazer. Segundo por segundo, "Paranoid" é todo clássico e eterno; dá uma aula de como fazer música (e música pesada) para todas essas bandas da atualidade com o seu pseudo-peso.
Isso é "Paranoid".
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