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    sexta-feira, abril 18, 2008
    caetano veloso – caetano veloso (1969)


    ok, talvez você também não goste muito de caetano veloso. é compreensível. quero dizer, o cara não é exatamente o artista mais amado do mundo. ele é controverso. alguns o chamam de gênio, outros de prepotente. sua vida pessoal contamina sua imagem musical. alguns pensam nele apenas como um baiano que cria músicas pop. não cabe a mim defini-lo. se você já leu até aqui, imagino que goste dele o suficiente para pelo menos ter uma certa curiosidade. pois bem. caetano veloso é um músico único. em 1969, logo depois do orgasmo tropicalista, e logo depois também de ser preso no rio de janeiro por suas idéias amalucadas acerca da sociedade e música e política e comportamento etc., preso num estúdio em salvador, bahia, ele e gilberto gil gravaram o grosso de um disco que foi mandado a são paulo, onde o maestro rogério duprat acrescentaria os instrumentos que faltavam, desde os de sopro até as guitarras elétricas. pois sim, guitarras elétricas. esse é um disco de rock, ou quase. aliás: de rock, não. de tropicalismo transbordando rock psicodélico. não é nenhum absurdo considerar esse álbum uma das maiores obras de rock brasileiro de todos os tempos. mas isso não importa muito, aqui o absurdo é normal.

    é muito fácil imaginar o que se passava na cabeça do então jovem caetano: uma corrente de ritmos, desde o rock and roll até o tango, passando pelo samba, pelo rock psicodélico, pela bossa nova, pelos beatles e por outras maluquices generalizadas. ter isso tudo na mente não é grande coisa. se fosse, o brasil seria a maior potência musical do mundo, porque aqui os artistas são todos muito ecléticos. mas conseguir juntar isso tudo numa só gravação, num disco linear, misturar esse caldeirão de barulhos num som único e envolvente, ha, meu caro; isso poucos conseguiram. e é por isso que essas canções devem ser não apenas analisadas, mas, principalmente, ouvidas. pelo menos esse recohecimento elas merecem, e como merecem. mas não tente resistir - ouça e ouça novamente, compre em lp e faça o vinil ser riscado pela agulha, baixe tudo de uma vez e encha seu hd com esses versos, grave em cd e beba aos poucos de uma garrafa ao som de caetano, bote numa fita cassete e dê de presente - viaje!

    é com ''irene'' que se abre a obra-prima. ao som de ''um, dois, três'', entra uma melodia de violão, alegre e encorpada, que se mistura a flautas, algumas guitarras, e alguns ruidinhos viajantes. a letra, que não chega a ser alegre, mas sim otimista, fala sobre um tal, que narra a vontade de partir e a admiração pela moça: ''eu quero ir, minha gente/eu não sou daqui/eu não tenho nada/quero ver irene rir/quero ver irene dar sua risada'', sendo que esse último verso é seguido por uma jorro de flautas que imita a risada da irene, essa que começa a dançar em frente aos seus olhos junto às cordas, aos sopros de felicidade, à voz, dentre os outros risos. as influências são meio distorcidas, pode-se ouvir uns batuques baianos atrás, um violão, no fim guitarras gritantes... tem uma atmosfera que nos lembra as faixas acústicas do white album dos beatles - o que não é estranho, levando em conta que esse disco não deixa de ser o álbum branco de caetano. já abriu um sorriso? se sim, ótimo. e prepare-se, tem mais alguns a caminho.

    se ao ouvir os acordes tristes do começo de ''the empty boat'' você pensar que se trata de uma canção melancólica, estará certo. mas não é só disso que se trata: aqui a beleza é feita da leveza das cordas, do canto, em inglês: ''da popa ao arco/meu barco está vazio/meu coração está vazio'', ''do leste ao oeste/a corrente é longa/sim, meu sonho está errado/do nascimento à morte'', até que mais elementos caóticos são acrescentados nesse refrão, que se repete como um choro que não pára - choro esse que a guitarra faz questão de acompanhar. esse sentimento de partida permeia todo esse disco, talvez porque o autor, depois de tantos problemas com a ditadura, já imaginava que teria que deixar o brasil em breve; como de fato fez, quando foi com gil a londres para um exílio, onde ficaria até '72. é uma tremenda viagem...

    uma guitarrinha abre uma música folclórica, onde já se viu? ''marinheiro só'', canção que provavelmente os escravos cantavam nos tempos em que zumbi ainda andava por aí com a cabeça no corpo, recebeu uma roupagem toda nova de caetano. cantando uma singela letra sobre um marinheiro solitário, o baiano assume suas raízes e nos envolve nesse ritmo dançante, que pode ser sapateado ou por seus batuques africanos, ou por seus solinhos à la hendrix. não se surpreenda se se pegar cantarolando ''eu não sou daqui/eu não tenho amor/eu sou da bahia/de são salvador'' - dance, curta, aproveite como se aproveita as melhores canções. se possível, agarre seu amor e suspire em seus ouvidos os versos. um êxtase apaixonante, mesmo.

    você começa a ouvir e acha que é uma bossa nova de gringo. ledo engano, falta grave: ''lost in the paradise'' tem um começo meio tim-tim-tim tim-tim-tim-tim, mesmo, é verdade. mas o refrão, outro exemplo da música brasileira em inglês, ''não me ajude, meu amor/meu irmão, minha menina/só me diz o nome dela/só me deixa dizer quem eu sou'', começa como uma seção da música com instrumentos de sopro, mas então vira um rock agitado, e aposto que de novo vai ser difícil resistir o canto. um clima mais psicodélico se abre nos intervalos, com os versos ''seus grandes dedos brancos de plástico/cercam meu cabelo verde-escuro/mas não é sua mão direita desconhecida''... aqui a gente é cativada pelo vocal, que tem uma capacidade incrível de convidar para pular.

    vamos assumir: brasil é terra de carnaval. mas ninguém disse que marchinha não pode ser um troço rock 'n' roll. ''atrás do trio elétrico'' é a maior prova disso. esse lanny não toca guitarra, ele faz mais: transforma qualquer coisa em música elétrica. agora é a hora de fazer fila indiana e sair pulando e cantando ''atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu/quem já botou p'ra rachar/aprendeu que é do outro lado/do lado de lá do lado/que é lá do lado de lá''. música brasileira em todas as suas formas: é disso que se trata.

    o fado português é um gênero musical com um ar que transpira a europa, com umas cordas saltitantes e letras que tratam da saudade. em ''os argonautas'', não apenas é usado o tal estilo, como também chega a ser uma ode ao povo de portugal, desde o sotaque até a metáfora dos navios - e aqui ao ouvir nós ficamos navegando pelas ondas que embalam os versos, ''o barco, meu coração não aguenta/tanta tormenta/alegria, meu coração não contenta/o dia, o marco, meu coração/o porto, não''. uma experiência única: passaporte direto para a península hibérica. pusta música.

    com um desafino tão bem colocado que fica belo, caetano começa ''carolina'', bossa nova de chico buarque, que aqui fica com um tom bem mais intimista, calado, e, por que não?, romântico, com seu tom de serenata. mas como é de praxe neste disco, os momentos de calmaria se entrelaçam com tocadas mais agitadas, que parecem correr por seus olhos. para terminar, alguns violinos choram por carolina. definitivamente, todas as caróis desse mundo são privilegiadas.

    ''que o mundo foi e será uma porcaria, já o sei...'': começa assim ''cambalache'', um tango maluco cantado em espanhol... se quiser se sentir na própria argentina, é só ouvir. o clima é o mesmo, cheio de reviravoltas teatrais, choros castellanos. claro que caetano não poderia deixar de ser louco, e vai botando algumas piadas no meio da letra, como, por exemplo, citações aos beatles. mas isso não tira a originalidade da faixa, que é na verdade uma regravação de uma canção antiga, que chegou a ser gravada por carlos gardel. aqui você decide entre entrar na dança ou só rir. aos que falam espanhol, é um poço de interpretações.

    se antes a beleza era algo puramente lírico, aqui chega ao nível onírico. a guitarra, no começo de ''não identificado'', soa como a chuva caindo (talvez fosse essa mesma a intenção), chuva essa que ajuda a delinear a voz que canta ''eu vou fazer/uma canção p'ra ela/uma canção singela/brasileira/para lançar depois do carnaval'', e continua a embalar esse ambiente de sonhos, até o momento que explode em surrealismo corrente, quando os acordes se tornam mais e mais distorcidos e a canção de amor se transforma numa verdadeira viagem, dizendo ''minha canção há de brilhar na noite/no céu de uma cidade do interior/como um objeto não identificado'' etc. puta que o pariu, poucos artistas brasileiros conseguiram tamanho sucesso com uma música que, se não pode ser considerada tão boa quanto a psicodelia estrangeira, é ainda melhor!

    essa aqui, ''chuvas de verão'', não é muito mais que uma canção de amor... mas que canção. com um ritmo arrastado, como que dançante, caetano chora ''podemos ser amigos simplesmente/coisas do amor nunca mais/amores do passado no presente/repetem velhos temas tão banais/ressentimentos passam como vento/são coisas de momento, são chuvas de verão''; perfeita para ser dançada a dois ou, simplesmente, para se assobiar junto, ou ainda com o intuito de se perder entre os versos que parecem escorrer de seus alto-falantes.

    qualquer descrição da faixa seguinte, ''acrilírico'', seria um engano. como poema falado que é, seria mais cabível aqui a transcrição da letra:

    olhar colírico
    lirios plásticos do campo e do contracampo
    telástico cinemascope
    teu sorriso
    tudo isso
    tudo ido e lido e lindo e vindo do vivido
    na minha adolescidade
    idade de pedra e paz
    teu sorriso quieto no meu canto
    ainda canto o ido o tido o dito
    o dado o consumido
    o consumado
    ato
    do amor morto motor da saudade
    diluído na grandicidade
    idade de pedra ainda
    canto quieto o que conheço
    quero o que não mereço
    o começo
    quero canto de vinda
    divindade do duro totem futuro total
    tal qual quero canto
    por enquanto apenas mino o campo ver-te
    acre e lírico o sorvete
    acrilíco santo amar(g)o da pu(t)rificação

    para terminar essa insanidade toda, ''analfômega''. composta por gilberto gil, esse rockzinho (sem guitarras, porém) se estende encorpando a letra, que fica com o canto mais aloprado conforme seus versos se tornam mais confusamente interpretativos. em resumo: é maluquice crescente, mas de uma maneira incrível. poema puro, que pode ser entendido da maneira que for mais interessante: ''o analfomegabetismo/somatopsicopneumático/que também significa/que eu não sei de nada sobre a morte/que também significa/tanto faz no sul como no norte/que também significa/deus é quem decide a minha sorte''. disso não passa, mas essas poucas palavras sintetizam perfeitamente todo o pensamento da época: completa falta de sentido, mas que, se olhada atentamente e, principalmente, com o espírito próprio, faz qualquer um se sentir como que falando tudo e nada ao mesmo tempo. nessa canção em especial, uma negação absoluta à toda à caretice da época, ao falar difícil, ap parecer culto, e também uma celebração à vida, ao não se preocupar, ao confiar em algo além desse mundo, longe de todo o perigo dos militares... bobagem? talvez. mas talvez seja também um canto espontâneo, cru, humano, natural e cada vez mais - ontem, hoje e, se tudo der certo, sempre - nosso.

    aos que acharam o disco ou a resenha uma merda, meu sincero ''foda-se''. aos que se interessaram ou já conhecem algo ou tudo do disco, minhas congratulações. aos que quiserem ouvi-lo, abaixo o link para download. e bom proveito!

    baixar aqui

    ou baixar aqui.

    posted by Gabriel M. Faria at 1:41 AM | 3 comments

    terça-feira, abril 08, 2008
    Bob Dylan - Blonde on Blonde


    Desculpem a falta de imparcialidade, mas, nada do que você ler abaixo é uma resenha. É mais uma declaração mesmo, um agradecimento, uma mostra de admiração... Que na verdade nem deve ter sido com tal intenção, mas quando o som chegou até os ouvidos... A vida não podia ser mais a mesma sem anunciar aos sete ventos que maravilha do mundo moderno eu estava testemunhando... E se não o fiz antes... Bem, antes tarde do que nunca, diziam os sábios.

    Além do que, se eu me obrigasse a ser imparcial, você leria tudo o que você já sabe. É novidade que o americano Robert Allen Zimmerman é uma das figuras mais emblemáticas em matéria de música, cultura e comportamento no século vinte? Não. Você já tem plena noção disso. Que ele compete em pé de igualdade com Frank Sinatra, James Dean, Charles Chaplin, Elvis Presley, Marlon Brando, The Beatles, os Rolling Stones? Que há mais de quarenta anos o músico poeta (ou seria poeta músico?) pegou seu violão e exprimiu a primeira frase que o catapultaria das sombras para os holofotes em sua composição "Blowin' In The Wind": "Quantas estradas precisará um homem andar/Antes que possam chamá-lo de um homem?".

    Daí em diante, foi céu e inferno para o cantor. Os vampiros da mídia o cercando por todo lado como um novo messias, a transição da música folk para o seu folk-blues-rock and roll elétrico e altamente autoral e a conseqüente revolta de antigos fãs que não toleraram tal mudança, frustrações, conversão ao cristianismo, ostracismo... O homem que encarnou Dave Van Ronk e Arthur Rimbaud, que foi além de ser mera mistura de Dylan Thomas com Woody Guthrie conheceu todos os ritmos, estradas e pessoas. E todas elas foram registradas em alguma das mais geniais poesias do século. E depois ganharam cordas, voz e todo um novo alcance.

    Escolher o melhor disco de Dylan para disponibilizar é injustiça. Mais justo seria disponibilizar de uma vez todos os seus discos. Então vai um aleatoriamente. Um dos meus preferidos "Blonde on Blonde". Quem acompanha o blog sabe que eu tenho aquela mania de falar que não dá pra expressar tudo nem se eu realizar uma monografia. Mas juro que não é hábito de preguiçoso. É que me sinto tão herético em interpretar, impôr interpretações, descrever cada entonação, virada ou melodia... Principalmente em discos como esse.

    Como não se render à chapaceira anárquica, divertidíssima e dançante de "Rainy Day Women #12 & 35"? Em que no som mais "Memphisniano" que já atingiu, fala que todos querem deixa-lo alto, chapado e ligadão... E conclui dizendo que "eu não me sentiria tão sozinho/todo mundo deve ficar alto!". E os sete deliciosos minutos de "Visions Of Johanna", com sua letra nada menos que sublime?

    Também é animador notar um apaixonado e límpido Bob Dylan em dois de seus maiores clássicos: "Just Like A Woman" e "I Want You"? Baladas tão perfeitas, com cara de feitas na hora, letras escritas no joelho, e melodias de guitarra, piano e gaita que vinham naquele segundo, naquele momento... É tudo tão espontâneo, que parece que o disco foi composto ontem, dado o seu frescor. E o que são versos feito "Ela te prende como uma mulher/Ela faz amor assim como uma mulher/E ela geme assim como uma mulher/Mas ela se magoa que nem uma pequena garotinha" e "O saxofone de prata disse que eu deveria te rejeitar/(...)/ Mas as coisas não são assim/Eu não nasci para te perder"?

    E ainda tem outros momentos que as lágrimas se equilibram nos olhos só de pensar em escrever. "Stuck Inside Of The Mobile With The Memphis Blues Again", "Absolutely Sweet Marie", "Sad Eyed Lady Of The Lowlands"... E queria eu poder dizer que estou exagerando. Quem conhece sabe como tudo soa cru e sofisticado, espontâneo e conciso... Blonde On Blonde. Setenta e três minutos de pura perfeição. Que eu não me atrevo a chamar de nada menos que genial.

    E pela madrugada mais negra,
    Pelo romance mais doce,
    Durante a perda mais amarga,
    Zimmerman canta.

    E nada consegue ser tão visceral e tocante quanto isso. Ah, quase nada. Meus caros Beatles e Rolling Stones, juro nunca esquecer vocês mas... Essa noite é de Dylan.


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    posted by billy shears at 12:57 AM | 2 comments

    quarta-feira, abril 02, 2008
    Kings of Convenience

    Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe são dois noruegueses nascidos em 1975 e amigos desde os 11 anos. Antes de formarem o Kings of Convenience, ambos tocaram no Skog, que apesar de terem gravado um EP, não fizeram tanto sucesso.
    Em 1999, Erlend e Eirik montaram o Kings of Convenience com uma idéia simples: violões e vozes calmas em melodias sutis. Dois anos depois lançaram o primeiro álbum, Quiet is the new loud, que foi muito bem aceito pelas rádios europeias.
    E 2004, lançaram o Riot On A Empty Street, que mantém a mesma idéia do primeiro disco. O disco tem participação da Leslie Feist em duas faixas (Know How e Build Up), e o single I'd rather dance with you foi escolhido como o melhor clipe de 2004 pela Mtv européia.

    What is there to know?
    All this is what it is
    You and me alone
    Sheer simplicity.

    Quiet is the New Loud

    01. Winning a Battle, Losing the War
    02. Toxic Girl
    03. Singing Softly to Me
    04. I Don't Know What I Can Save You From
    05. Failure
    06. The Weight of My Words
    07. The Girl From Back Then
    08. Leaning Against the Wall
    09. Little Kids
    10. Summer on the Westhill
    11. The Passenger
    12. Parallel Lines


    Riot on an Empty Street
    01. Homesick
    02. Misread
    03. Cayman Islands
    04. Stay Out of Trouble
    05. Know-How (with Feist)
    06. Sorry or Please
    07. Love Is No Big Truth
    08. I'd Rather Dance with You
    09. Live Long
    10. Surprise Ice
    11. Gold in the Air of Summer
    12. The Build-Up (with Feist)


    -
    p.s.¹ resenha curtinha por falta de tempo.
    p.s.² upload by bradockito.

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    posted by natália; at 11:08 AM | 1 comments

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