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    sábado, junho 30, 2007
    New York Dolls - New York Dolls


    Era uma vez, na New York pós-guerra do Vietnã, - uma realidade dominada pela alta criminalidade, escândalos políticos, sensacionalismo midiático, "lixos brancos" se proliferando rapidamente devido à desigual distribuição de renda capitalista, alto tráfico da heroína mais pura vindo do massacrado país Oriental, comercializada ilegalmente por soldados desempregados que, voltando desacreditados por seu país de lá, traziam a droga em larga escala - cinco caras que condiziam com essa realidade, ou seja, uns bad boys brigões viciados em qualquer substância ilegal, que se juntaram para tocar Rock dos bons.

    Seria a atitude mais "macho" do mundo, se não fosse por sua proposta um tanto quanto exótica: esses caras tão durões resolveram vestir calças apertadas, roupas brilhantes, fizeram uns cortes de cabelos escandalosos e passaram no rosto maquiagem da mais porca maneira. Mas eles não viraram novos ídolos do mundo gay. Não tinha jeito, eram todos feios como o diabo. Não existia nenhum traço de delicadeza no seu som. Quem visse concluiria que só uma cidade truculenta e freak feito New York para parir uma bizarrice dessas.

    E essa empreitada recebeu um sugestivo nome: New York Dolls.

    O rock dos anos 50 praticado por Chuck Berry, Bo Diddley e Sonny Boy Williamson e dos anos 60 pelos Rolling Stones, Faces, Pretty Things e Flamin' Groovies, era tocado de forma brutal nos vocais sexuais e animalescos de David Johansen, as guitarras furiosas, tensas e cheias de testosterona e blues de Johnny Thunders e Sylvain Sylvain, a bateria explosiva de Jerry Nolan (que substituiu o primeiro martir e cadáver das bonecas nova-iorquinas, Billy Murcia, morto em uma festa por overdose de medicamentos) e os graves ensurdecedores e perfurantes de Arthur Kane.

    Tendo a carreira impulsionada por abrirem um show de Rod Stewart (influência capilar para Thunders, que fazia uma versão exagerada do penteado do cantor) e dando uma resposta ao glam mitológico e extraterrestre que surgia na terra da Rainha tocado por David Bowie e T. Rex, os New York Dolls assinaram com a gravadora Mercury. Uma resposta urbana, junkie e violenta - New York era retratado como um lugar de freaks brigando, jovens se injetando no banheiro e sexo desenfreado. Esse rock tão violento e marginal criou uma conexão entre o glam e o punk rock, fazendo a transição entre Detroit e New York - pavimentando com batom o caminho entre Stooges e Mc5 e os Ramones e toda a turma do CBGB's.

    Estabelecendo como quartel general e praticamente lotando todas as noites o falido Mercer Arts Center, em 1973 as bonecas lançam seu primeiro disco, auto-intitulado, produzido por Todd Rundgren, que também colaborou tocando piano e moog. Mais de trinta anos depois, o álbum, assim como "Raw Power" de Iggy and The Stooges, ainda impressiona pela força, agressividade, primitivismo e tesão, um disco que foi definitivo para estabelecer as bases do punk nova-iorquino, e por conseqüência, o americano e o mundial.

    Todas as definições acima se confirmam quando uma guitarra corta seus ouvidos e um berro de Johansen atinge o já assustado ouvinte soando como um carnívoro faminto. Caramba, esta é "Personality Crisis". Em poucas palavras, é uma das músicas mais nervosas que uma banda já criou na história da música: seu ritmo frenético, seu peso inerente e seus vocais no limite deixam a canção com um ineditismo único. Ainda se faz presente a fortíssima influência de blues e rock cinquentista, só que mais forte ainda é a própria música; neurótica na letra, na música, uma avalanche de raiva. Passam-se os anos e o rock se desdobra em mais e mais vertentes; porém, poucas vezes criou-se um esporro sonoro tão forte quanto esse.

    "When I say I'm love, you best believe I'm in love, L.U.V.!". Após essa cantada de Johansen, sentimos o espectro de Keith Richards encarnando em Johnny Thunders e Sylvain quando chega aos nossos ouvidos o riff de "Looking For A Kiss". Mais um rock virulento e dessa vez com uma letra extremamente abusiva, onde David declara estar atrás da garota, cheio de desejos por ela, afirmando "há apenas uma razão, eu estou te dizendo isso/eu me sinto mal/e eu estou procurando por um beijo". Abuso lírico puro, típico dos anos 70. E com a banda certa para dizer esses impropérios.

    "Vietnamese Baby", com uma bateria vigorosa por parte de Nolan e uma caprichada parede sonora de guitarras, conta a história de um cara que não consegue tirar uma garota vietnamita da cabeça por mais que tente (que talvez seja uma alusão aos quilos de heroína que desembarcavam na cidade), e questiona o que o rapaz fará quando acabar. Recebemos uma das performances mais agressivas por parte do vocal.

    E após três porradas, o disco finalmente dá algum relaxo. "Lonely Planet Boy" é uma balada levada aos violões e um Johansen absurdamente sexual em sua performance, e a música vai ganhando corpo e é acrescida de um sax, enquanto o vocalista diz se sentir tremendamente solitário, sem jeito por estar apaixonado por uma garota, chorando e morrendo pelo amor dela. Poderia ser uma canção tremendamente romântica, mas a interpretação é um fator que realmente conta muito - e David imprime malícia em cada palavra da letra.

    Seis minutos da música que é talvez a mais intensa desses ex-presidiários de peruca e batom, "Frankenstein" usa o monstro criado por Shelley para fazer referência a um travesti, perguntando para um homem qualquer porque se envolveu com ele, como teve coragem de fazer aquilo com ele, e se suas crianças realmente querem ver um Frankenstein. A música vai de uma psicose controlada até um êxtase apocalíptico, onde toda a culpa parece ser abandonada em um orgasmo, para então a música descer ladeira abaixo, para o arrependimento voltar mais uma vez.

    "Trash" reflete bem como os jovens se sentiam naquela época, tão sufocados em vícios, pressões raiva e sexo. Daí provavelmente a música ser tão explosiva. Após cada grito que a banda dá repetindo o nome da música, a bateria dispara como uma metralhadora e David acelera alucinado nos vocais, insolente como sempre. "Uh, how do call your lover boy?"

    Mais uma guitarra atravessa o ar e deslancha mais tormenta, sendo esta uma das mais impactantes, atendendo pelo nome de "Bad Girl", onde se vê mais do que nunca a química da banda, em um autêntico rock pauleira chuckberryano. Sexo no meio do fim do mundo, é o que a música aparenta lírica e sonoramente, uma garota decadente e perigosa tendo relações íntimas com um tarado de primeiro escalão.

    "Subway Train" liricamente é uma filosofia da perdição, e musicalmente é uma música mais cadenciada na maior parte do tempo, que vai ganhando velocidade e eletricade ao desenrolar da música, deixando o ouvinte amarrado em fatais trilhos. Eis que chega o trem, atropelando: um dos melhores solos do álbum é feito pelas mãos de Thunders, um solo de guitarra blueseiro e primitivo, incansável e impressionante.

    A letra mais divertida desse petardo encontra-se em "Pills", um invocado rock de respeito onde os Dolls divagam sobre um hospital rock and roll, mais de meia década antes dos Ramones pensarem sobre uma escola de rock. Estavam lá os cinco pervertidos feridos de tanta briga, de ressaca depois de tantas drogas, e aí chegou a enfermeira rock and roll que deu para eles um remédio que, digamos assim, funciona bem melhor que qualquer aspirina, curativo ou xarope... Oh, não olhem com essa cara... Segundo os médicos, faz bem para a saúde!

    Momento para bater palmas acompanhando as batidas ritmadas da canção. "Private World" tem vocais decadentes, principalmente no grudento refrão, em meio a uma estrutura dançante. O tema solidão novamente é abordado, mas dessa vez o eu-lírico quebra a monotonia com uma vida privada, ou seja, ninguém pode saber que ele está com a garota. Esses junkies e suas caminhadas no lado selvagem...

    O que fecha o álbum é uma das melhores (se é que em algum álbum tão bom possa ser eleito a melhor música) e mais conhecidas composições da banda, "Jet Boy". Cheio de indiretas até um pouco duvidosas quanto à sexualidade de quem escreveu a letra, a música é talvez a mais nova-iorquina de todas, não por apenas citar a cidade, mas por praticamente ser a cidade em sua forma sonora; sexual, violenta, agressiva, estranha... Em coro, entre gritos, puro vigor é esbanjado, dá pra imaginar o suor correndo testa abaixo dos integrantes, as mãos cheias de veias entupidas e calos grossos dos guitarristas, Jerry Nolan explodindo os bumbos de forma demencial, a garganta de Johansen forçando tanto a ponto de deixá-lo rouco... Se essa é uma imagem convicente, imagine então o som...

    A teoria que os indíviduos são resultados do ambiente que cresceram certamente faz muito sentido; desde neuróticos como Woody Allen em "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" e Robert DeNiro em "Taxi Driver" até marginais tocando rock áspero como é o caso aqui, New York é aquele tipo de lugar que gera uma sorte de indivíduos atípicos o suficiente para serem lembrados no imaginário popular por décadas.

    Os New York Dolls foram um verdadeiro estopim para influenciar o surgimento de bandas e movimentos tão diversificados o possível; não eram exatamente muito conhecidos na sua época, seu status cult ainda não é algo para todos. Mas Joey Ramone se travestia só para pegar uma van e assistir seus shows, e Steven Tyler do Aerosmith já admitiu que se baseou mais em David Johansen do que em Mick Jagger. Duff McKagan, ex-Guns and Roses e atual Velvet Revolver, baba ovo deles há mais de 20 anos. Até Morrissey, o homem de frente dos mórbidos Smiths, é fã (aliás, presidente do fã-clube!) e foi um dos principais propulsores da volta da banda em 2004. E como bem explicavam os colegas de Johnny Thunders, a banda simplesmente se auto-destruiu com sua total inconseqüência em qualquer aspecto.

    Mas o legado deixado pela banda é muito forte para ser ignorado. Resta ao leitor ter a curiosidade saber porque os heróis de alguns de seus possíveis ídolos são tão idolatrados. Os Dolls foram o início da cena, tão essenciais quanto Iggy Pop e seus Stooges. E esse álbum explica em cerca de quarenta minutos e onze canções o por que da importância da banda.

    Aposto que quando Sinatra disse que queria acordar na cidade que nunca dorme, provavelmente era para ir no Mercer Arts Center e ver um show do New York Dolls...

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    posted by billy shears at 11:43 PM | 8 comments

    domingo, junho 24, 2007
    Algo de Novo No Front II

    (Matéria realizada em conjunto por Bêr, Nat, Vitor e Luden)
    _
    Os Azuis

    Os Azuis são uma banda de autêntico rock pauleira, não aquele que a maioria das pessoas considera, mas algo como um diamante bruto, uma banda que certamente ouviu Beatles e Rolling Stones suas vidas inteiras, e quando foram formar o grupo, o som resultante não poderia ser diferente: rock blueseiro, direto e na veia, letra insolentes e gritadas, mas sem cair no clichê ou na inocência. O quarteto consegue cativar ainda mais ao vivo, onde todo o blá-blá-blá escrito aqui é provado com excelência e potência. Se o que você quer é barulho ao invés de firulas, apresento sua nova banda favorita. Como diria o velho mestre Chuck, "It's gotta be rock and roll music if you want to dance with me"...


    - http://www.osazuis.kit.net/
    - http://www.myspace.com/bandaosazuis
    - http://www.fotolog.com/osazuis
    - http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=10792171
    _

    Fuzzcas

    Sem dúvida, caso Charles Chaplin ainda fosse vivo (ok, com mais de 100 anos, mas faça de conta...) e continuasse produzindo películas, os Fuzzcas seriam a banda ideal para musicar suas obras. Um som tranquilo e gostoso de se ouvir, cheio de texturas deliciosas, somando ao clima nostálgico as melodias chiclete dos Beatles, momentos viajantes dignos dos Mutantes ente outras influências não menos importantes. A prova definitiva que o rock brazuca realmente sabe se inventar - não é por causa que algumas bandas de vocal feminino chegaram ao mainstream que apareceriam um exército de cópias sem o mesmo carisma das originais. E para quem não espera nada de novo ou surpreendente, a extrema simpatia imediata que o som do grupo cria é algo quase impossível de resistir. Com o perdão dos trocadilhos, mas nesses tempos modernos, os Fuzzcas são as luzes da cidade!

    - http://www.fuzzcas.com/
    - www.fotolog.com/banda_fuzzcas
    -www.myspace.com/fuzzcas
    - www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4094225
    - www.tramavirtual.com.br/artista.jsp?id=39911
    _

    Luna Remoto

    É difícil ver alguma banda se dar bem tocando power pop no Brasil. Mas, apesar dos apesares, o Luna Remoto tai pra mostrar que nada é impossível. A banda é de Itu/SP, e os quatro rapazes fazem um som bem diferente do que ouvimos por aí. Letras doces, guitarras, e alguns tecladinhos no fundo. O amor, a poesia, uma caixa de bombons, um violão... e canções para os últimos apaixonados!

    - www.myspace.com/lunaremotobr
    - www.orkut.com/Community.aspx?cmm=931917
    - www.fotolog.com/lunaremoto
    _

    O Teatro Mágico

    Fica difícil definir O Teatro Mágico apenas como uma banda. Afinal, no palco são 12 músicos e três artistas circenses, mesclando em um só espetáculo, música, teatro, circo, poesia. O projeto foi idealizado por Fernando Anitelli, que traz toda essa magia para o dia-a-dia das pessoas.Guitarra, violão, baixo, percussão, flauta, violino, bateria, gaita, piano e sons eletrônicos, música, poesia, teatro, circo: tudo em um espetáculo só. Bom, não?

    -http://www.oteatromagico.mus.br//

    _

    Karate High School


    A Califórnia continua sendo o berço de bandas sensacionais, ainda mais no cenário punk/ hardcore. O Karate High School ainda não é sensação do mainstream norte-americano, muito menos mundial, mas os quase 1 milhão de visitantes somados entre myspace e purevolume, com certeza, adoraram a experiência de ouvir um som que mistura elementos musicais de vídeo game e o famigerado pop punk. Seu primeiro álbum, o “Arcade Rock”, conta com 11 faixas muito boas e uma capa muito original. Os cinco rapazes estão prontos para lançar agora no segundo semestre seu segundo cd, o “The League Of Tomorrow”. Fica a dica para quem curte o estilo.

    - http://www.myspace.com/karatehighschool
    - http://www.purevolume.com/karatehighschool

    _

    Hellogoodbye

    O powerpop do quarteto da costa oeste é empolgante e cativante. “Zombies! Aliens! Vampires! Dinosaurs!” é o primeiro cd da banda é composto por músicas dançantes e apaixonadas numa mistura entre o indie rock e música eletrônica que lembra bem os britânicos do Klaxons. É garantido viciar na banda ouvindo seu álbum todo e acaba que você ouve repetidamente. Boa opção para aqueles que adoram ficar nas madrugadas na frente do pc pensando no que ouvir.

    - http://www.myspace.com/hellogoodbye
    - http://www.purevolume.com/hellogoodbye

    _

    Ludovic



    A banda paulistana Ludovic é uma das melhores bandas brasileiras do novo milênio. OK, muitos podem pensar que isso não é lá grande coisa. Mas é. Lançaram seu primeiro cd em 2001, o album "Servil", cheio de gritaria e transbordando melancolia. Um album não tão bom quanto o que o seguiu, lançado no final do ano passado. Intitulado "Idioma Morto", o cd traz tudo que uma boa música pode ter: poesia e melodia em plena harmonia. Se é que pode-se chamar os berros enérgicos e quase incontroláveis de harmonia. Genialidade musical num tempo onde nada é mais necessitado.

    - http://www.ludovic.com.br/

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    posted by billy shears at 10:00 PM | 5 comments

    quarta-feira, junho 20, 2007
    Mulheres no Rock Nacional

    Esse talvez seja o post mais feminista do Dangerous, mas não tenho culpa se as primeiras manifestações do rock no Brasil foram feitas por mulheres :P

    Enquanto os Beatles estavam no pico do sucesso na década de 60, no Brasil quem estourava nas rádios era Celly Campello. Isso mesmo, aquela do Estúpido Cupido e Banho de Lua foi uma das mais importantes precursoras do rock nacional.

    Também na década de 60, mais exatamente em 1966, Rita Lee se juntava a Arnaldo Baptista e Sérgio Dias para formar Os Mutantes. Definitivamente o rock estava presente no Brasil, já que Os Mutantes tiveram uma carreira grandiosa, chegando a influenciar até Kurt Cobain.

    O tempo foi passando, e o rock foi se popularizando no país do futebol. Na década de 70, com a ditadura militar, vários músicos brasileiros foram exilados, e o que era uma repressão, só serviu para a música se popularizar mais no país. Mas a “explosão” mesmo só seria na década de 80...

    Em 1980 começaram a surgir as mais variadas casas de show pelas capitais; e pelos quatro cantos do país surgiam as mais variadas bandas, algumas consagradas até hoje. Em meio a tantas bandas lideradas por homens, surgia o Kid Abelha liderado por Paula Toller. A banda foi responsável pelos maiores hits da década: Pintura íntima e seu refrão grudento “fazer amor de madrugada” renderam à banda disco de ouro, e a consagração no cenário nacional.

    Ao longo dos anos 90s surgiu o Penélope, liderado por Érika Martins e emplacando com alguns hits como Holiday e A Fórmula Do Amor. Em meados de 1990 também surgia o Pato Fu, liderado por Fernanda Takai. Fazendo um som “diferente”, o Pato Fu mesclou o pop rock brasileiro com batidas eletrônicas em algumas músicas e usou e abusou do experimentalismo. Resultado que deu certo.

    Caracterizada por sua voz grave e pelo seu ecletismo musical, Cássia Eller marcou seu nome na história do rock brasileiro. Interpretou canções de Renato Russo, Cazuza, Caetano, Chico e também do clássico Beatles e Nirvana, que também foi destaque na década.

    Chegando nos anos 2000, temos uma excelente mistura de cantoras e bandas lideradas por mulheres. Fazendo um mais pesado, Pitty, Luxúria, Érika & Telecats estão na ativa. O power-pop, alternativo e pop rock também estão muito bem representado por Ludov, Wonkavision, Drosophila, Pato Fu, Leela, Columbia e muitas outras bandas no cenário alternativo. Sem falar no Cansei de Ser Sexy, que com um som diferente conquistou vários cantos do planeta.

    Em pleno 2007 já não se fala mais em preconceito de mulheres dentro da música. Portanto, meninas, peguem suas guitarras, aumentem o som e mãos a obra!

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    posted by natália; at 8:24 PM | 12 comments

    sábado, junho 16, 2007
    Blá Blá Blá Underground: Quando o Rock encontra Dom Sebastião


    A banda já apareceu aqui nas páginas do Dangerous Music, mas dessa vez foi optado por dar um destaque maior. Creio que quem acompanha o blog há um tempo já sabe do que se trata, mas para quem não acompanha não custa repetir: os cariocas do Manacá praticam o encontro de música regional, rock pesado, Movimento Armorial, uma salada fresca e fluente de Novos Baianos, Queens Of The Stone Age, Cordel do Fogo Encantado, The Mars Volta, música folclórica, The Hellacopters...

    A banda da vocalista Letícia Persiles, do guitarrista Luis Cesar Pintoni, do baixista Daniel Wally e do baterista Bruno Baiano é um espetáculo visual, sonoro e lírico. Uma música tão original dessas é impossível de não ser notada - e em pouco tempo de existência, a banda já tocou no festival MADA (Música Alimento Da Alma) e assinou com a Na Moral Produções - a mesma de Marcelo D2, Pitty, Rockz e Luxúria. O Manacá cresce cada vez mais, e ao Dangerous Music foi cedida a oportunidade de conversar com Letícia e César. Então leitor, prepare-se para nas próximas linhas conhecer um admirável e brasileiro mundo novo em termos de música.

    Dangerous Music: Então, apresentem o Manacá para os leitores. Como a banda foi formada?

    Letícia: A banda começou quando eu e César nos conhecemos, através de um amigo em comum que tínhamos.

    César: É, ai Letícia já tinha algumas idéias de música, me mostrou, eu harmonizei, chamamos o Baiano, que era amigo da Letícia de infância... E começamos a trabalhar as músicas...Eu lembro que as primeiras foram "Lua Estrela" e "Faca de ponta".

    Dangerous Music: O som da banda não é algo que se ouve todo dia. De onde surgiu a idéia para o conceito sonoro e lírico?

    Letícia: Foi uma união confortável de influencias diferentes de cada um dos integrantes da banda. Eu particularmente sempre quis ter uma banda igualzinha ao Manacá.

    César: É, na verdade não foi nada pré-estabelecido...As influencias naturais de cada um foram sendo colocadas e acabou que se formou um som bem único, especialmente na parte das composições.

    Letícia: Sempre quis demonstrar através de algum trabalho admiração pela nossa cultura tradicional brasileira, mas nunca sentamos e estabelecemos que deveria ser assim, foi fluente a sonoridade do Manacá.

    Dangerous Music: Quer dizer que pela parte da banda nunca teve alguém muito ortodoxo que estranhasse a idéia de fundir rock pesado com música brasileira. Mas e pela parte do público? Já sofreram críticas de partes mais conservadoras musicalmente?

    César: É, na banda todos gostamos de música, de todos os estilos, algumas pessoas chegam e comentam, “pô... Eu não curto essa onda de regional não, mas o som de vocês é legal”, enfim, não me lembro de criticas negativas nesse sentido, ocorrem sim criticas muito confusas, você percebe que esse é um assunto desconhecido, especialmente no meio do rock.

    Letícia: É verdade. As pessoas sentem que tem algo muito nacional por ali, mas não sabem dizer o que. Mas o que é autenticamente nosso nunca é mal visto. O povo brasileiro é patriota e não sabe.

    César: Falta oportunidade de conhecer, e por isso...Aceitam o que é de fora...Um exemplo...Muitas pessoas do meio "rock underground" não conhece Baden Powell,ou Novos Baianos, aí vai no nosso show,ouve as musicas num arranjo contextualizado com o som que eles gostam e ai se interessam, isso é algo que me deixa feliz no Manacá, poder levar este tipo de informação pra pessoas.

    Dangerous Music: E as letras? Quem é o responsável na banda por fazer a conexão entre o rock e a cultura pop com a cultura regional na forma verbal?

    Letícia: Tirando "Meu Amor" e "Rosa Branca e Romã" o resto é composto por mim. Essas duas são de César.

    César: É, as musicas que fazem esta conexão são as da Letícia.

    Letícia: E tanto as dele quanto as minhas, são de autoria a letra e a música.

    Dangerous Music: E quais seriam as principais influências, tanto líricas quanto musicalmente? Vocês sempre foram interessados em movimentos regionalistas?

    Letícia: Eu sou interessada nisso há uns bons anos. Eu tenho uma apreciação muito grande por muitas manifestações tradicionalmente brasileiras, como a cavalhada, a congada... E tenho quase que um tesão pelos assuntos armoriais.

    César: Eu sempre fui muito da praia do Rock, depois me interessei bastante por Choro, musica clássica (especialmente as peças para violão)...Acho que isso influência bastante na estrutura harmônica das musicas.

    Letícia: Acho que o Movimento Armorial tem uma importância de tamanho monstruoso na construção da autenticidade da cultura brasileira, se é que se pode dizer “construção”.


    Dangerous Music: Letícia, lendo o release da banda vi que você tem carreira artística no teatro desde cedo. E pelo que pode ser conferida ao vivo, essa atividade influencia muito na sua performance. O teatro influencia algo mais no Manacá?

    Letícia: Além da performance? Acho que meu comportamento diante do espetáculo todo é influenciado pelos anos do teatro. Desde a preparação antes do inicio do show, ao respeito ao espaço cênico e sua distinção do espaço comum. Existem simbolismos do teatro que vão me acompanhar pra sempre. O pessoal da banda às vezes reclama que quando termina o show, a primeira coisa que faço é correr pro camarim ao invés de ir cumprimentar as pessoas. Mas é que não acho correto descer do palco com a roupa do espetáculo, esse é um bom exemplo desses hábitos que o teatro me trouxe.

    Dangerous Music: E você continua seguindo carreira como atriz? Se sim, chega ser trabalhoso dividir o espaço entre teatro e banda?

    Letícia: Na verdade não tem como. São trabalhos que exigem prioridade. Não dá tempo de fazer as duas coisas, a menos que seja passa tempo.

    César: É verdade.

    Dangerous Music: Já devem ter tido muitas comparações com outras bandas de propostas parecidas, como Novos Baianos, Cordel do Fogo Encantado, Los Hermanos e outros. Como a banda se sente em relação a esses comentários? Existe alguma preocupação em vocês serem rotulados?

    Letícia: Eu sou uma fã incondicional de Cordel, se alguém nos compara com eles eu acho ótimo (risos). Agora, quanto ao Los Hermanos, é muito mais comum a gente ser comparado com eles.

    César: Eu acho que comparar com Los Hermanos é falta de referencia, foi a ultima banda que inovou, é natural a associação...Mas de fato, não tem nada a ver...Novos Baianos eu curto muito, mas nós misturamos com muitas coisas do alternativo contemporâneo.

    Letícia: Não fazemos nada parecido com o que eles fazem , mas... como os caras lançaram uma sonoridade nova e estão super em alta , é normal que pra nos , que estamos ainda começando e temos tb algo na sonoridade que parece soar diferente da maioria das bandas que tocam no mesmo circuito que nos, se voltem as criticas mal embasadas que tentam nos classificar como seguidores do Hermanos.

    Dangerous Music: Letícia, além de vocalista e guitarrista, você também toca pandeiro e castanholas. Esse outro diferencial do Manacá veio desde o início, ou foi agregado durante a construção do som da banda?

    Letícia: Veio desde o início sim. Ainda estamos no inicio, na verdade. O pandeiro foi o ultimo que chegou, mas foi bem no começo da formação.

    César: A guitarra ficou de lado (risos).

    Letícia: Isso é verdade também. Ela ta super tristinha aqui em casa, faz tempo que ela não sai (risos).

    César: Ela não treina (risos)...E na verdade, prezamos pela presença de palco da Letícia, o que a guitarra acabava atrapalhando.


    Dangerous Music: Quais foram as mais importantes conquistas da banda até agora?

    Letícia: Tocar no MADA, e assinar com a Na Moral.

    César: Posso citar os momentos mais importantes como tocar no MADA, abrir o show do Moptop em São Paulo,onde o Marcelo Lobatto nos assistiu e depois pudemos fechar contrato com a Na Moral.

    Letícia: Uma conquista importante também é o nosso convívio que ate agora foi nota 10!

    César: Com certeza...Nós de fato nos damos bem...Isso acredito que seja essencial.

    Letícia: Temos conseguido sempre discutir os problemas numa boa, quando necessário, sem ninguém ofender ninguém, é sempre tranqüilo. E nos divertimos muito também juntos.

    Dangerous Music: Falando nesse contrato com a Na Moral, o que isso representa para a banda? Quais são os planos agora com essa conquista? Há material novo a caminho?

    César: Bom, na verdade esse é o momento de discussão e elaboração das metas e planos, mas de inicio, já estaremos com um promo video do show do Circo Voador, que já esta terminando de ser editado, e sim, agora estamos visando o lançamento do material novo, mas ainda não sabemos como e quando vai rolar, mas todos nós estamos nos engajando para que seja o mais breve possível.

    Dangerous Music: A música "Diabo" é o maior hit da banda, e ao que parece a preferida do público. Seria a preferida da banda, ou cada um tem suas preferidas?

    Letícia: A minha preferida é... Acho que “O Galo Cantou”, naquela versão do cd. Eu adoro aquele final...

    César: Bom, eu tenho uma favorita por época (risos),no momento a minha preferida é a nova,"Lamento".

    Letícia: Mas “Diabo” é a queridinha de todos sim, eu acho. Não é, Ce?

    César: É... Sem dúvida.
    Dangerous Music: Li que o nome da banda vem de uma flor usada para fazer bebidas alucinógenas em evocações à Dom Sebastião. O nome foi escolhido por combinar perfeitamente com o viajante som, ou alguém já teve a curiosidade de saber como era?

    Letícia: Olha, eu fui ate a Pedra do Reino e achei que lá eu encontraria a receita do tal vinho sagrado de manacá e jurema , mas nada ... Ninguém sabe como se faz... O nome da banda foi tirado do romance “Pedra do Reino” de Ariano Suassuna. Mas o vinho sagrado de manacá foi de fato usado nas evocações a dom Sebastião, lá nas terras da Pedra do Reino.

    César: É, na matéria que fizeram com a gente no programa Zero Km no Multishow,eles inseriram imagens de uns cangaceiros tomando o chá de Manacá com Jurema.

    Letícia: Faz muito mais referência ao sebastianismo, do que ao simples fato de ser uma bebida alucinógena.

    Dangerous Music: Vocês já receberam algum elogio vindo de autores, entusiastas, e afins do sebastianismo?

    Letícia: Pela iniciativa sim. Até por que é um tema muito cativante. Tanto o sebastianismo em sua origem portuguesa, quanto ele em suas manifestações diversas pela cultura brasileira é fascinante. E o próprio Dom Sebastião, ora, é digno de grande admiração.

    Dangerous Music: Então, esse é o fim da entrevista. Deixo espaço para vocês falarem o que bem entenderem.

    Letícia: Opa! Primeiro obrigada, a gente tem que agradecer muito a todos que ajudam e dão forçam pra gente, sempre.

    César: Bom eu queria agradecer a todas as pessoas, inclusive a você, que desde o inicio acreditam no trabalho do Manacá, e espero que cada vez tenhamos mais pessoas assim ao nosso lado.

    Letícia: Por que são esses que nos defendem quando vem algum mal intencionado pra tentar nos prejudicar. Saravá! E viva Dom Sebastião!

    ______________________

    Ei, psit! Ficou interessado?


    Então entre aqui:







    E se você não ouvir, já sabe... O diabo vai te morder, e um anjo lá no céu, de tanto rir de você, a sua asa quase vai perder!

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    posted by billy shears at 6:52 PM | 9 comments

    segunda-feira, junho 11, 2007
    Marilyn Manson - Antichrist Superstar

    (Resenha feita pela Luiza)


    1996 não foi um ano de grandes mudanças conceituais na história da humanidade, não haviam mais hippies lutando pela paz ao redor do planeta nem punk estirando faixas com escritos politizados, que, misturados aos chocantes cabelos coloridos em forma de moicano, costumavam perturbar a vida cotidiana das velhinhas alimentadoras de pombos no Central Park. Nessa calmaria do cotidiano americano, surgia o símbolo Shock estampando flyers de shows, camisetas de jovens vestidos de preto, utilizado para mostrar choque elétrico, ou representar a queda de um anjo no cristianismo, Marilyn Manson, acabava de lançar o álbum Antichrist Superstar, que, depois de adquirir fãs ao redor do mundo com o hit Sweet Dreams, que condecorou o experimental Smeel Like Childrens e consolidou Marilyn Manson como o novo foco de crítica de grupos religiosos, iniciando o Tryptich (se trata de um conto com aspectos autobiográficos e politicos dividido em 3 álbuns de sua carreira,) Antichrist Superstar, narra do surgimento à queda do anticristo, que, passando por um ápice, enfrenta a negação da sociedade que o alimentou.
    Dividido em 3 partes (representam ciclos de vida na história) O primeiro ciclo nos apresenta a visão de Heirophant, uma terceira pessoa que analisa a infância de Marilyn Manson, o segundo ciclo nos apresenta o amadurecimento e ascenssão de Marilyn Manson, e, fechando com o terceiro ciclo, que une o anticristo e Marilyn Manson em um único personagem.
    Se desapegando dos valores impostos pela sociedade, o verme, como na teoria de Nietzsche em Overman, amadurece e por fim, torna-se um cidadão.
    Marilyn Manson, como poucos artistas, (vale lembrar que nessa época Manson ainda trabalhava com o Trent Reznor, do Nine Inch Nails, e essa influencia é refletida principalmente no 2º ciclo) conseguiu unir magicamente música e letra, num álbum, subestimado ao redor do mundo nos anos 90, porém que, com guitarras sujas, zumbidos de pessoas conversando e sons de fábricas conseguiu marcar sua presença no metal industrial e no rock politizado. Pesado, podre, forte, sujo. Antichrist Superstar é um álbum para se ouvir com atenção e mente aberta.

    Irresponsable Hate Anthem rompe o silencio com um coro de jovens gritando. E é aí vem o ódio, quase que estourando seu tímpanos, mesmo que em volume baixo, a música está fora da ordem da historia do álbum e vem antes, já mostrando Manson adulto, com o propósito de lançar uma luta contra a sociedade americana, não só a estadunidense. E, falando diretamente com você, ele solta ‘’Hey victim, should I blank your eyes again? Hey victim, you are the one who put a stick in my hand” Propondo desta forma uma revolta da popupalação, nos mostrando que somos parte disso tudo que está acontecendo, nós colocamos eles no poder.
    Uma curiosidade é que a música foi, supostamente, ao vivo, gravada no dia dos namorados em 1997 (um ano após o lançamento do álbum), as frases, então, gritadas pelos jovens que romperam o silencio do gravador de som tocando o play serveriam para nos dar um exemplo de troca de valores, de como seria um ano depois, se as pessoas ouvissem o que Manson disse no álbum e mudassem os padrões, revertessem tudo: We Hate Love, We Love Hate.

    E, interligada por ruídos, The Beautiful People chega chocando, usando um tempo musical proibido na Idade Média, pois representava a hora dos demônios, retomando a ordem cronológica da história de Marilyn Manson, em sua infância, ainda como Brian Hugh Warner.
    O pequeno Manson é cercado por uma sociedade onde a fé apenas esconde uma organização onde tudo que não é ‘belo’ é condenado, a decadência dos padrões da sociedade atual, e as pessoas horríveis, representadas por vermes, e o próprio Brian (como verme) fugiriam aos padrões impostos. “the weak ones are there to justify the strong” E, referindo aqueles que, sem questionamento da maioria, impuseram um moralismo completamente fantástico, com todos os seus padrões do que é ou não correto, bonito e saudável, que o narrador do primeiro ciclo, Heirophant nos mostra a podridão e a controversa dessa sociedade: “Hey you, what do you see? Something beautiful, something free? Hey you, are you trying to be mean? You live with apes man, It’s hard to be clean”.

    Dried Up, Tied And Dead To The World. A música é bem densa, possui um instrumental bem marcante, as distorções acompanham o vocal poluído por fundos eletrônicos, enquanto a letra, talvez uma das mais autobiograficas do álbum, decorre sobre a mãe do verme, a mãe de Brian Warner. Nessa música sobre a relação que ele possuía com sua mãe após a separação de seus pais, uma relação de superproteção. “You never read what you’ve written”. O peculiar nessa letra é que, Manson dá a entender que não consegue transmitir o mesmo nível de amor que a mãe passava para ele, porém, sentia que sua mãe era ausente ao mesmo tempo que o superprotegia, pois seu amor incondicional não participava de sua vida cotidiana, ao mesmo tempo em que ela estava ali, era totalmente desligada com o que ele sentia, Manson, então, se afunda nas drogas para vencer esses problemas.
    Esse aspecto biográfico é bastante refletido nos vocais da música, gritados, horas em sussurros, como contando um segredo, e os sussurros prosseguem, depois de guitarras fortes e nos levam, para Tourniquet, música que fecha o primeiro ciclo do álbum, onde, observando as relações humanas superficiais, Brian resolve tentar criar algo que o possa satisfazer emocionalmente, algo só dele, uma criatura a sua semelhança. Vale lembrar que o pequeno Manson havia presenciado a separação de seus pais e os problemas emocionais de sua mãe, o que girou seu mundo ao contrário. A batida lenta em crescente, com vocal melodiosamente dramático e pulsante nos remete ao nome da música, que faz alusão a um instrumento utilizado para romper fluxo de sangue (torniquete) diretamente ligado ao amadurecimento do verme e a passagem para o segundo ciclo do álbum, é como um basta em tudo que estava começando e um recomeço, um olhar critico sobre sua infância, um grito de amparo e uma mudança. Não estaria mais calado.

    É então, que guitarras rápidas anunciam o ínicio do segundo ciclo (Inauguration of the worm) em Little Horn, como um grito de ódio e muita, muita dor. O instrumental pesado acompanha as referencias ao Apocalipse (precisamente com o surgimento dos gafanhotos, vindos de estrelas caídas em um abismo sem fim), Little Horn também surgiria com essa praga, como um verme superior para libertar os outros vermes. “There’s a tumor in the TV mouth, burn it out before it grows”. O amadurecimento de Brian em Manson, um aviso de que muitos iam sofrer com essa transformação, a inquietude das guitarras, os gritos, o verme sobressaindo aos outros vermes, como um porta-voz de uma contracultura que estava por surgir.

    Os gritos e os barulhos são silenciados em Cryptorchild, a música mais ousada e experimental do álbum. Neste momento, exatamente, Brian deixa de ser um verme e finalmente adquire o que precisava para deixar de lado tudo que o controlava, o poder é simbolizado pelo número sete (número usado pela Igreja Católica para simbolizar poder) e é ele o crucial para sua transformação, o poder sobre si mesmo, autoconhecimento, e o desejo de mudar. O coro de vozes, acompanhadas por uma marcha mórbida “The angel has spread his wings, the time has come for bitter things” mostra a transformação verdadeira do verme em algo maior e mais poderoso. Não existia mais Brian, apenas Marilyn Manson.

    Apoiada nesta transformação, vem Deformography, uma música que marca os primeiros dias do pequeno e medroso Brian Warner, vítima de uma sociedade castradora, em Marilyn Manson, que, com o refrão bem estruturado pretende não deixar marcas do que foi o seu passado nesta sua nova forma de rock star. A repetição de “You are the one I want and what I want is so unreal. I am the one you want and what you want is so unreal” reflete bem essa mudança, do sonho para o real. Do querer ser para o ser, e então, desta forma, inspirer outras pessoas a se libertarem como ele, mesmo que isso machuque muita gente ao redor.

    Em Wormboy a influencia da parceria com Trent Reznor na música é enorme, a melodia está bem marcante, uma das mais industriais do álbum. Manson quer causar nervosismo com está música, que reafirma a mensagem anterior como um chamado para a mudança, que, embora seja díficil pode acontecer ”Them I got my wings and I never even knew it, when I was a worm, thought I woudn't get through it…”, é a revisão de todos os valores e o abandono de uma vida regida por mentiras, num menino que tinha medo de mostrar quem realmente era.

    E é então que esta reafirmação de Marilyn Manson entra em choque com sua nova popularidade, logo no ínicio sussurrado de Mister Superstar. Sentindo a pressão dos fãs e da mídia em cima dele, encarado apenas como um símbolo daquilo que todos gostariam de ser, da coragem que todos gostariam de ter, não era mais o tímido Brian Warner que gostava de observar o mundo ao seu redor, agora é Marilyn Manson que está em seu corpo e que não só observa o mundo... O fanatismo e o poder que exerce sobre os fãs o assustam “Hey Mister Superstar, I kill myself for you. Hey Mister Superstar...”. Renega sua posição de mobilizador de massa e se sente parte de uma castração de opnião que sempre foi contra, mesmo que mobilizando as pessoas para uma ação. “I know that I can turn you on, I wish I could just turn you off, I never wanted this..”

    O sentimento de ser um modelo guia continua na pesada Angel With The Scabbed Wings, onde, com um riff poderoso, é apresentada a real faceta de Marilyn Manson, o anjo morto, que abusou demais das drogas em um glamour decandente encarado como símbolo por seus fãs, mas que, apesar de tudo, não consegue mais se ligar ou reconhecer seu passado e sente ódio por isso. Um coro de vozes representa tudo que é sonhado em cima de sua imagem, enquanto o anjo caído rebate com sua verdadeira faceta e alerta com berros e a batida mais rápida e suja que, apesar de ser o exemplo da transformação de um verme gostaria de poder reverter isso e não ser idolatrado como uma santidade grotesca.

    Depois de muito extravasar sua raiva e refletir sobre sua perda de identidade, fechando o segundo ciclo aparece Kinderfeld, uma das músicas mais complexas e bem compostas do álbum, nela, Marilyn Manson relembra o momento em que deixou de ser inocente e para isso utiliza alguns personagens que foram cruciais nessa modificação: O verme (Brian em sua infância conturbada); A voz (o olhar maduro de Marilyn Manson); Jack (seu avô); O Anticristo [desintegrador] (a voz no futuro) e o garoto (Brian Warner).
    O instrumental acompanha a voz assustada do Verme descrevendo sua relação de medo com Jack. Voltando a biografia vemos que o trem citado nos primeiros versos faz alusão ao trem ligado por seu avô, no porão, usado apenas para encobrir os barulhos dos seus gemidos em companhia das revistas pornográficas (um dos motivos para que Manson abomine tais materiais até hoje), neste momento Jack se desnuda de toda a sua ética e moral e age feito um animal, Manson o descreve sempre como sujo e a música cresce melodicamente, abrindo espaço para os lamentos do Verme em busca de liberdade do porão de seu avô, interrompido por um coro repetindo que seus sonhos foram alcançados, tortuosamente. O coro cessa e os vocais de Manson se tornam mais densos, acompanhados pelo instrumental, neste momento vemos a situação pelos olhos de Jack, o avô, que, apesar de saber que sentirá remorso no futuro também tem a certeza de que Brian irá obece-lo. E neste momento Brian Warner deixa de ser o garoto e passa a ser o verme, neste momento de abuso, onde perde sua inocência. “then I got my wings and I never even knew it
    when I was a worm thought I couldn't get through it” Através dessas palavras Marilyn Manson (A voz) entra na música, como um reflexo do que o abuso trará no futuro do verme, Jack volta, narrando atravéz de metáforas, e novamente instrumental denso, a cena onde o garoto vira verme. Em seguida, a desaceleração das guitarras e o aumento dos ruídos acompanha um vocal forte e repetitivo, a voz do Anticristo, o desintegrador, alertando sobre vingança, refletindo sobre o passado e relembrando a voz o quanto ele agora é poderoso.

    Um coro de exaltação recebe o terceiro ciclo do álbum (Disintegrator rising) com Antichrist Superstar. Depois do verme, da voz (anjo) agora Marilyn Manson prepara todos para se tornar Anticristo, a queda total do anjo grotesco de Angel With The Scabbed Wings. O poder absoluto é ironizado com a forma que a sociedade o criou, ela mesma, apesar de o jogar pedras, o elevou ao poder. Mostra suas várias facetas, comparando-se a hidra, com guitarras distorcidas, acompanhadas de uma bateria bem marcada, Manson proclama que a hora da vingança chegou. O anticristo vai ascender, o coro de exaltação se estende até 1996, onde a guerra contra a sociedade é completamente declarada com a chegada oficial do Anticristo, e, novamente falando sobre suas múltiplas facetas, cospe ódio para todas as partes, contra cultura ou não. A gritaria dos vocais finais, sujos, muito industriais ajudam a criar o clima de contradição e raiva com a realização da profecia sugerida no começo do novo ciclo. O anticristo é contra todos nós, ele é dono de um poder inacreditável e não tem medo de julgar como bem entender...

    Distorção, novamente, e partimos para Minute Of Decay , onde o baixo marca um momento de calma no álbum, apenas musicalmente, pois, em tese, temos um conflito existencial, a voz de Marilyn Manson se lamenta por ter se livrado de sua real identidade para virar um mero personagem e com isso elevar seu nível de ódio por tudo, ascendendo ao Anticristo. A batida forte acompanha um ápice de sentimentos, onde Manson se dá conta que terá de viver essa mentira por mais tempo, ou levará todos junto com ele, “I love to live this lie...”, aceitando assim o seu destino, e, como Édipo Rei, metafóricamente furando seus olhos, não queria encarar mais o seu passado ou enxergar o seu futuro nesse personagem que havia criado para mera aceitação.

    Os instrumentos vão sendo cortados aos poucos, até que só sobra ruídos ao fundo, e em seguida começa The Reflecting God, cheia de autos e baixos musicais (obviamente guiados por Trent Reznor), e com uma das letras que mais refletem o pensamento que Marilyn Manson sempre quis passar, devemos ser nossos próprios mestres, e com essa deixa nos apresenta um mundo onde somos usados até o ultimo fiapo de cabelo, mas, quanto mais construirmos nossa barreira, nosso próprio espaço, mais podemos evitar que sejamos explorados, para Marilyn Manson não existe céu e inferno, isso é apenas uma forma de separar grão e trigo, o errado do certo, nos moralizar atravez de leis inexistentes, leis externas, não nossas próprias leis. Nesta música, com todos os seus gritos, ele nos alerta. E é aí que a bateria passeia pela música livremente, criando uma marcha para ser cantada até o fim, não há mais salvação para o mundo que deixamos criar para nós. Marilyn Manson se mostra acima do bem e do mal, uma força total, e é no momento de calmaria da música em que temos certeza disso: A humanidade está em (é um) caos total e só nos daremos conta disso quando morrermos, pois transitaremos sobre tudo.

    “When you are suffering, know that I have betrayed you...’’ O caos acompanha a música até o fim, a sensação de ter algo entalado na garganta cessa em Man That You Fear, a música mais emocionante, e que marca o fim do álbum. Aqueles que o amaram o abandonaram, a melodia triste nos eleva, enquanto Marilyn Manson, misturando suas personagens durante o álbum, em vezes retoma a forma de verme para relembrar sua infância, ora como a voz para ponderar tudo que ocorreu, ora como o anticristo cansado do que criou, culpado, mas ainda zombando de todos que o elevaram, apenas com a certeza de que sempre será um verme, apesar do poder. Nos apresentou a criação da sociedade, e esta agora o destrói (o está destruindo aos poucos, na realidade), junto dele, seu mundo, ou o nosso mundo? Essa música é muito contraditória, e tem um caráter muito pessoal, Marilyn Manson nos diz que não há nada além de nós, estamos sozinhos, ninguém escutará nossas preces, ou gritos, como ninguém escutou seus gritos em Kinderfeld, porém ele reafirma estar acima de tudo. Até onde podemos ir com uma idéia de mudança? A religião perdeu, os costumes, os padrões, todos perderão. Mas, no mundo do Marilyn Manson, do anticristo ou no nosso? Os zumbidos, as frases repetidas, a mensagem de destruição, as confusões silábicas e por fim o recomeço, o vazio, sem som até a faixa secreta de número 99, e o recomeço do álbum, faixa 1, o renascimento do verme em um dos álbuns mais contraditórios, polêmicos e fortes não só da história do rock como na minha história e na história de muitos vermes pelo mundo a fora. Em 1996 não havia um grupo punk no Central Park ou faixas pelo movimento contra KKK, não havia Luther King, Che Guevara ou Frida Kahlo, havia apenas Marilyn Manson, um jovem vindo de Ohio, cheio de idéias gritadas, que, sem pedir licença, romperam o silencio das rádios norte americanas, as idéias não só feriam os ouvidos dos desavisados, como feriram o espírito patriota de um povo oco. Marilyn Manson não estava nem aí, só queria acordar aqueles que queriam ser acordados, mesmo que o barulho fizesse eco em toda uma geração.

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    posted by Sam at 6:02 PM | 154 comments

    sábado, junho 02, 2007
    Nick Cave And The Bad Seeds - Tender Prey


    Nick Cave é único. Genial, carismático, excêntrico, acidamente humorado, soturno, entre muitos outros adjetivos. Prestes a fazer cinqüenta anos no mundo e há mais de 30 anos no mercado fonográfico, esse australiano já tocou em muitas bandas, como Boys Next Door, The Birthday Party e a atual Grinderman. Mas a mais durável e marcante - onde ele criou suas melhores composições - atende pelo nome de Nick Cave & The Bad Seeds.

    A banda supracitada e alvo dessa atual resenha, para quem conhece, só ajuda a confirmar o quanto Nick é uma figura rara na música pop. Leva uma carreira praticamente sem manchas e recheada de obras-primas. Sua música não deixa espaço para meio termo. É blues, rythm & blues, country, rock and roll, baladas sinistras, pós-punk, forte, direto, furioso, intenso, emotivo, tocante, podendo tanto ultrajar como extasiar o ouvinte, nunca deixando espaço para um rótulo ou definição apenas. As letras não são apenas um complemento, é um componente essencial da música - a voz sepulcral do cantor discorrendo sobre Deus, morte, amor, religião, arrependimento, culpa, desespero e tantos outros assuntos de forma extremamente singular é algo que inevitavelmente prende a atenção.

    E o disco que fez o mundo prestar atenção em Nicholas Edward Cave se chama "Tender Prey", de 1988, considerado o grande clássico dos Bad Seeds. Era o primeiro disco de uma nova formação dos Bad Seeds - Nick Cave no vocal, gaita, órgão e piano, Mick Harvey no baixo, guitarra, xilofone e percussão, Blixa Bargeld e Kid Congo Powers nas guitarras, Roland Wolf no órgão e no piano e Thomas Wylder na bateria e o início de uma nova fase da vida de Nick; depois de dedicar o disco ao falecido ator Fernando Ramos da Silva, que estrelou o filme "Pixote" de Hector Babenco, sendo esta película um dos filmes preferidos de Nick, o músico resolveu fazer uma turnê no Brasil, e chegando aqui, apaixonou-se por uma brasileira chamada Viviane Carneiro, casando-se com ela. Esta obra-prima também representa o momento em que todos os Bad Seeds começaram a participar da composição do disco, ao invés da hegemonia de Nick nos discos anteriores.

    O que dá início a tudo é "The Mercy Seat", uma das melhores músicas já compostas por Nick, tanto musicalmente quanto liricamente. Uma peça de mais de sete minutos, e uma das letras mais perfeitas já escritas. Nick começa a narrar em tom quase sussurrante que foi aprisionado e posto no Corredor da Morte. Eis que surge uma montanha de força para guiar a música enquanto Cave canta versos chocantes da quilométrica letra, descrevendo todas as ações do condenado e suas emoções antes de ser eletrocutado. Da coragem à incerteza, o passo-a-passo da fatídica punição, como se nós mesmos estivéssemos ali, ouvindo o policial e o padre dizerem nossas últimas palavras que ouviremos em vida. E como se não bastasse só o fato da música ser maravilhosa, doze anos depois ela ganharia uma versão do eterno homem de preto Johnny Cash, tão desesperadora quanto a original, mas não tão instrumentalmente intensa.

    A seguinte é "Up Jumped The Devil" onde o vocal de Nick Cave encontra-se mais sinistro que nunca, acompanhado por uma bateria com bastante pegada, um coral de vozes surpreendente e um piano que, mesmo com sua beleza harmônica, imprime um tom sufocante à música. Durante seus cinco minutos, outra história igualmente forte é contada, desde o nascimento, em que a mãe do garoto opta por morrer para que ele possa viver, e cresce em um ambiente decadente, tornando-se um garoto visto com maus olhos, conhecendo alguém que aprecia, indo beber em uma casa, até ser atacado por alguém igual a ele, perdendo sua alma e encontrando a morte, chegando ao fim versando sobre sua ida eterna e sem volta ao inferno. Perfeita.

    "Deanna" é uma das mais animadas do disco. Rythm and blues nostálgico e dançante, mas liricamente, dessa vez, o papel é invertido. Dessa vez Nick Cave faz o papel de executor de uma garota, pouco se importando se ela é amiga ou companheira dele, passo a passo, toda uma ambientação é construída, para que Nick Cave cante no pré-refrão: "eu não estou aqui pelo seu dinheiro/eu não estou aqui pelo seu amor/eu não estou aqui pelo seu amor ou dinheiro/eu estou aqui pela sua alma". A canção termina em suspenso, repentinamente, o que só confirma a definição de baque auditivo.

    Quarta canção, "Watching Alice", uma música das mais tristes tocada com maestria no piano, onde Cave demonstra toda a sua enorme capacidade vocal, com a letra mais passiva até então, mas nem por isso menos forte; Ele descreve a vida de um voyeur obcecado por observar uma mulher por quem está apaixonado e obcecado. E após um belíssimo solo de gaita, Nick continua a cantar, até resumir toda a canção em "isso é tão depressivo, é verdade...".

    "Mercy" começa grave e forte, criando certo clima de suspense, crescendo com o tempo, mas isso não deixa a canção menos mórbida que sua introdução. Aqui é ouvido um dos refrões mais marcantes do álbum e sinceros do álbum, em meio a uma letra desesperada, que parece ser ambientada na Idade Média, onde o personagem principal foi abandonado por seus companheiros, tem escassos recursos e a única arma que tem é a fé. Tal história vai se deteriorando toda vez que o refrão chega, e a banda canta funestamente implorando por piedade.

    A gaita entra cortando nossos ouvidos, as guitarras começam em baixo volume, Nick começa a cantar "é melhor você correr" repetidamente. As guitarras vão ganhando volume. "É melhor você correr". Está iniciada a impressionante "City Of Refuge", que utilizando o recurso da repetição estrutural e uma letra neurótica e arrasadora sobre uma vida submissa e suja, e Cave afirma que nenhum problema irá se resolver e tenta dar um último conselho. Sinistra e cadenciada e mesmo assim dando uma sensação de movimento constante. Uma corrida desesperada, de medo, aquelas que por mais que você empregue forças, continuará parecendo que tudo se move em câmera lenta.

    "Slowly Goes The Night" é uma surpresa, um doce no meio de amargura. Aquelas baladas jazz com linhas vocais bem emotivas. Pode até soar meio brega nesses anos tão descolados, mas qualquer um que tenha um mínimo de sensibilidade é arrasado pela música e sua tão triste quanto bonita letra de amor. A versatilidade de Nick Cave mais uma vez nos deixa perplexos.

    Notas são tecladas de maneira tétrica por cima de um preenchimento grave e pesado, abrindo "Sunday's Slave", onde com sua entonação característica, Nick canta uma história bastante metafórica, misteriosa e sufocadora, falando sobre os escravos de cada dia, também abrindo espaço para falar sobre depressão e morte. Chega a níveis amedrontadores, até.

    "Sugar Sugar Sugar" é a mais psicótica do álbum, onde a bateria ganha força extra, e Nick declara muito cinicamente para uma garota que ela é muito inocente e ele, uma má pessoa. Ele parece enxergar ele mesmo e a cidade como algo que corrompe ela e todas as garotas, com poucas mudanças na estrutura, sempre reforçando o conselho que é melhor a garota rezar.

    A última música do álbum também tornou-se encerramento para os shows dos Bad Seeds. Ganha o nome de "New Morning", e após tanta tristeza, morte, depressão, desespero, cinismo, decadência, amor rasgado... Revela-se um dos diamante do álbum, um diamante brilhante. Suas belíssimas harmonias instrumentais dão a música quase um significado para nos fazer refletir: mesmo com todos os fatos citados acima, ainda resta esperança. Ou tem de restar, para que a linha que separa dois mundos não seja cruzada. "Não vai haver tristeza/Não vai haver dor/Não vai haver estrada/Não haverá estrada tão estreita/E isso é hoje/Para nós". Pode até parecer irônico vindo de uma figura sombria feito Nick Cave, mas ao longo da sua carreira, ele já provou que nunca pode ser rotulado, nunca pode ser visto apenas como um conceito limitado.

    Nick nunca teve um público muito grande, é verdade; mais uma prova que as grandes massas nem sempre são justas com os gênios; mas os que tiveram acesso a tanto material descobriram um mundo de sentimentos opostos, sincero e sem nenhuma falsidade. Há realismo, tesão, vida, emoção e sangue em cada composição de Nicholas Edward Cave. O fato é que poucos podem ser chamados de gênios, e o australiano integra este seleto grupo. E todas as linhas que estão escritas aqui pouco valem se o leitor não procurar ouvir e sentir cada emoção descrita aqui. Tudo é forte demais para compreender apenas com a descrição, é preciso sentir na pele, e decibéis contam mais que palavras nesse caso.

    Thank you for giving this bright new morning.

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    posted by billy shears at 10:15 AM | 6 comments

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