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    segunda-feira, outubro 30, 2006
    Iggy Pop and The Stooges - Raw Power


    Início da década de '70. Em seus primeiros dias de estrela, David Bowie quer embarcar para os Estados Unidos com o objetivo de encontra-se com seus ídolos. Desejo este prontamente atendido - pois afinal, o que não se faz com o objetivo de que o artista tenha seu potencial criativo estimulado e continue produzindo (muito) dinheiro para quem está investindo, não é mesmo?

    E o que levaria Bowie a querer produzir um certo junkie que ele encontra - litealmente - na sarjeta, sofrendo crises de abstinência da heroína? Um junkie com uma certa fama devido à sua banda, os Stooges. Apesar de quase sempre tecerem comentários elogiosos devido à insanidade e agressividade de suas apresentações ao vivo, os Stooges são um fracasso para a Elektra Records - a mesma responsável pelos Doors e pelo MC5 - vendendo uma quantia insignifcante de seus discos "The Stooges" e "Funhouse" e dando um monte de prejuízos devido aos seus membros viciados que revendem drogas para sustentar o vício, sem contar quando os mesmos se envolviam em problemas com a polícia, e quando se envolvem em brigas... James Osterberg, ou Iggy Pop não é nenhum astro do Rock para a época - apenas um maluco viciado tocando um som distorcido e pervertido. Apenas um maluco que gosta de jogar-se em cima do público, rolar pelo chão, se lambuzar com pasta de amendoim e se cortar com cacos de garrafas quebradas. Um cara que na certa não iria durar muito.

    David torna-se amigo de Lou Reed, egresso do Velvet Underground com uma carreira mais promissora, e de Iggy também. Os Stooges já tinham acabado - Iggy tinha hipocritamente chutado o baixista Dave Alexander para fora da banda porque o mesmo não se lembrava de nenhuma nota, de tantas drogas que consumia, apesar de ele mesmo ter estragado muito show esquecendo as letras, desmaiando ou passando mal em pleno palco. Motivado por Bowie a montar uma nova banda, ele chama o guitarrista James Williamson, que já conhecia da época clássica dos Stooges, para montar uma nova banda, tendo a Inglaterra como ponto de partida. Após testarem milhares de outros instrumentistas para completar a banda e não se sentirem satisfeitos com nenhum, tomam a decisão de chamar o guitarrista e o baterista originais dos Stooges, os irmãos Ron, guitarrista original da banda, para tocar baixo, e Scott Asheton, para tomar de volta o seu lugar como baterista.

    Tentando ficar um tempo sem drogas pesadas para focar-se na composição de um disco melhor acabado, eles saíram de lá com algo absolutamente inacreditável em mãos. Coube a David Bowie mixar o disco, para finalmente ele poder ser lançado no mercado... E assim, em 1973, nasceu.

    Basicamente, "Raw Power" é a trilha sonora do fim do mundo, é pancada atrás de pancada, cheirando a heroína, com um som de guitarra tão agudo e estridente que chega a te deixar surdo, um baixo grave feito um trovão, uma bateria tão seca que mais parecem panelas espancadas por bigornas e um Iggy Pop se esgoelando absurdamente, cantando próximo de um colapso físico, de um estouro de cordas vocais ou, simplesmente, da morte...

    "Search And Destroy" apenas ajuda a confirmar a teoria acima. As guitarras invadem os tímpanos como se as caixas de som tivessem estourado ao receber uma descarga elétrica grande demais. E o pau come solto. E Iggy detona: "Eu sou um cheetah andarilho das ruas com um coração cheio de napalm/Eu sou um filho fugitivo de uma bomba nuclear/Eu sou o garoto esquecido pelo mundo/Aquele que procura e destrói". A canção te faz sentir em meio a uma guerra, de tão caótica que a mesma é. As melodias contidas na música não ajudam em nada, pois sua sonoridade estridente faz apenas cortar os tímpanos, ao lado dos rugidos desesperados de Iggy.

    Iggy destila toda a intensidade vocal que aprendeu com Jim Morrison junto com a lírica autodestrutiva do Velvet Underground, mas longe de toda a sofisticação intelectual e musical tanto dos The Doors quanto do grupo de Lou Reed. O resultado é que, enquanto os Rolling Stones pediam "Gimme Shelter", Iggy pedia o oposto, ou seja, "Gimme Danger". Toda putaria e escrotidão de senhor Pop estão aqui, nesse semibalada, onde ele canta sobre a vida regada à drogas e sexo que levava na época, como canta em versos "Me dê perigo, pequeno estranho/E eu curarei sua doença" e "Não há nada no meu cérebro/Apenas algumas memórias ruins". A música vai caindo em uma avalanche intensa, enquanto o vocal de Iggy vai crescendo cada vez mais, desafinado e desequilibrado.

    E você cai da cadeira de novo. "Your Pretty Face Is Going To Hell" é uma das músicas mais violentas já registradas. A voz rasgada, quase gutural de Iggy, é somada a uma guitarra extremamente berrante. Na letra, Iggy mostra toda a sua rebeldia de bad boy, ameaçando espancar todos os bons mocinhos, em meio à muita degeneração sexual. E Iggy canta o nome da música no refrão entre falsetes e despinguelamentos demenciais...

    "Penetration" segue, mostrando nomes cada vez mais ousados. Os riffs toscos somam-se à bateria reta de Scott, que em nada serve para esconder a voz de Iggy cantando "Me penetre, me penetre/Eu sou tão legal, tão legal, tão legal". Indo dos vocais excitados aos murmúrios retardados, a faixa é totalmente viajante, mesmo sendo uma das músicas viajantes mais agressivas já criadas.

    E entra "Raw Power", iniciada por um inesperado arroto de Iggy e um riff furioso e direto, que você não esperaria encontrar em plena década de '70. Definida como "a música do fim do mundo" na época, é mais do que isso. Um bate-estaca furioso, o hino da decadência, a contraposição perfeita ao que estava sendo feito na época, um refrão berrado até a garganta secar, uma letra ousada dizendo "O poder cru tem um filho chamado rock and roll/e ele não pode ser derrubado" e "Poder cru, você pode sentí-lo?"... Peraí... Dizendo? O que Iggy faz é detonar nos vocais, levando-os ao limite da tensão.

    A próxima, "I Need Somebody", tem uma sonoridade bluesy, porém é elétrica, arrastada e tem vocais e uma ambientação decadente. O vocal desengonçado da figura principal do grupo canta "Eu estou perdendo um monte de meus sentimentos/E estou correndo de amigos/Você sabe que mentiu pra mim no começo/Tentou me chatear até o final", talvez contando sobre os inúmeros casos que teve com as mais variadas mulheres, sejam elas Kathy Asheton, Nico, e centenas de outras, relacionamentos que acabavam em semanas, no máximo meses, devido a total falta de compromisso e de etiqueta do cantor. Rugindo e mugindo, Iggy encerra a canção de forma perplexante.

    "Shake Appeal" é iniciada com uma contagem e se revela uma canção de riff até dançante, porém com uma sonoridade de gravação tão exótica que parece ter sido gravado dentro de um latão de lixo, tocado com a fúria de uma reação violenta de elementos químicos que não combinavam - o dançante e o agressivo - e que, por conseqüência, explodiram quando os Stooges juntaram os dois em forma de música. A letra é abusiva ao falar de sedução, amantes e perversão, de forma nem um pouco sutil, mesmo em anos de busca por liberdade ideológica.

    E "Death Trip" encerra o álbum sem deixar o pique cair, com guitarras no talo, uma cozinha semelhante a um trator rolando ladeira abaixo, e o vocalista berrando o máximo que consegue - ou, ao que parece, até mais do que consegue. Continuando com a lírica sexual, mas também muito metafórica e niilista em outros versos. São pouco mais de seis minutos de porradaria comendo solta, Iggy indo da voz limpa à totalmente suja, James emendado solos de guitarra que retalham a alma do ouvinte... E o corpo pede por mais quando acaba. Quer mais desse poder bruto, dessa viagem mortal.

    Punk, death, thrash, hard, core e tantos outros títulos mesmo que criassem nomes para isso, no sentido mais Rock And Roll e primal possível de cada rótulo. Apesar de já termos ouvido coisas como "Kick Out The Jams" e "Helter Skelter", nada preparia o mundo naquele ano de 1973 para não uma ou duas, mas sim oito canções cheias de peso e metáforas, niilismo, hedonismo, autro-destruição, entre outros temas nem um pouco sutis. E, surpreendentemente, "Raw Power" conseguiu certo sucesso na época, mas Iggy, James e os irmãos Asheton andavam tão ferrados e com tanta raiva entre si que os Stooges respiraram pela última vez no século vinte depois desse disco, abrindo espaço para uma carreira solo de Iggy inicialmente sob a tutela de Bowie. Lester Bangs, Ramones, Red Hot Chili Peppers, Nirvana, Queens of The Stone Age, Sonic Youth, Guns n' Roses, Rage Against The Machine e tantos outros confessaram que tiveram suas vidas mudadas ao escutar "Raw Power" - incluindo este que vos fala. Um dos meus álbuns prediletos.

    E busco as palavras do próprio Iggy para quase-encerrar a resenha:

    "O que eu queria era que a música saísse do auto-falante e te agarrasse pela garganta e batesse tua cabeça contra a parede e, basicamente, te matasse - e nunca era o bastante para mim. Não importava o que eu fizesse, nunca conseguia chegar lá, não conseguia chegar ao agudo que ferisse o bastante, não conseguia chegar ao grave que te atingisse o bastante, não conseguia chegar a uma batida dura o bastante, e assim por diante. Então eu fazia uma mixagem atrás da outra até ficar mais e mais maluco. Basicamente eu tinha perdido a perspectiva – artistas tem disso."

    E talvez Iggy tenha conseguido. Por mais que distorçam as guitarras e aumentem a velocidade da bateria, nada até hoje teve a mesma fúria sáurica, atemporal e definitiva de "Raw Power". Choraminguem e batam pé, o garoto esquecido pelo mundo cuspiu na cara de todos que o desprezavam, e está aí até hoje, procurando e destruindo...

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    posted by billy shears at 10:16 PM | 10 comments

    quinta-feira, outubro 26, 2006
    Blá Blá Blá Underground: Porre é cair antes do Último Gole!


    Banda de roquenrou pesadona carioca, demolição de casas de shows medíocres, condutor alcoólico radioativamente manipulado, escrotizador sonoro de bastardos, cotonete auditivo calibre 12 para moçoilas sensíveis. Um comboio de tratores dirigidos por berserkers bêbados invadindo a sua cidade...

    Porradaria destruidora de tímpanos, a banda carioca de stoner Arsênico 75, formado por William “Zureta” Lages (vocal), Rodrigo “Marlboro” Giolito (guitarra), Rodrigo “Bode” Fernandes (baixo) e Marcelo Coelho (bateria), apesar do pouco tempo de estrada, já acumulou histórias, porres e um EP com músicas de respeito, com temáticas variadas, e tendo como marca sonora registrada uma grande admiração pelo Black Sabbath... Nunca fazendo um som manso ou fácil para os ouvidos! O que funciona aqui é rock and roll e cerveja, não necessariamente nessa ordem… Falando nos dois, abra uma latinha e ponha uma música estupidamente alta, e tenha uma boa entrevista, onde o baixista Rodrigo nos permite conhece um pouco sobre a banda.

    Primeiro, como a banda foi formada? Houve muitas trocas de integrantes antes de chegar à formação atual?

    O Coelho, Zureta e Marlboro estavam cansados de fazer músicas em inglês e decidiram fazer um projeto "paralelo" a banda Kandelabrum. Só que a Kandelabrum já estava meio que acabando... Aí acabou ficando somente a Arsênico75. Só houve uma troca de integrante, o baixista saiu e eu entrei no lugar dele. Eu também estava cansado de tocar death metal e fazer músicas em inglês... Aí uniu o útil ao agradável... Um som pesado com letras em português.

    E o nome da banda?

    Veio de um programa na tv que a galera estava assistindo... Ouviram falar Arsênico e o Marlboro disse: “P..., um nome maneiro pra uma banda”. O 75 é o número de massa (ou atômico?) do Arsênico que vem do latim Arsenikus. Nunca fui bom em química... (risos)

    E a temática da banda, misturando política, bebedeira e temas pessoais? Fale um pouco sobre algumas músicas!

    No começo era bem voltado para política como exemplo temos “M.R”, “Engrenagem” e “Réptil”. A bebedeira é uma constante na vida de todos da banda... Ninguém consegue ir para um bar e tomar somente 5 cervejinhas... Quanto aos temas pessoais, isso faz parte de todo músico, porque querendo ou não acaba expressando seus sentimentos na criação. Nossa música carro chefe “Sexta-feira” fala bem da nossa vida... Todos temos nossos trabalhos e ficamos contando os dias para chegar a sexta-feira e encher a cara e fazer rock 'n roll. “Último Gole” foi uma piração minha depois de voltar de MG, tinha bebido todas e a porradaria estancou em uma festa que eu estava... Fiquei só olhando pra aquilo tudo... Quando cheguei em casa fiz um esboço e mandei pro Zureta que deu uma estilizada na letra.

    Isso é muito bom, afinal, não precisamos aturar mais uma banda que fala SÓ sobre encher a cara ou APENAS sobre temas políticos.

    Com certeza, nossas letras falam mais do cotidiano... Porque pra falar de porra você não precisa estar no front para sentir aquilo... Já a bebedeira sim... (risos). Temas políticos acabam sempre vindo a tona né? Porque querendo ou não, o ser humano é politizado, mesmo não sabendo que é...

    Falando em política, foi com vontade de reforçar essa faceta política da banda que veio a idéia do cover de "Rosa de Hiroshima", dos Secos e Molhados?

    Mais ou menos, queríamos fazer uma versão de uma música que foi ícone para uma geração... e falasse um pouco de política... E nada melhor uma poesia do Vinicius de Moraes com um instrumental rock 'n roll dos Secos e Molhados... Aí foi só colocar aos moldes do Arsênico75 para fechar tudo com chave de ouro! Essa versão nossa acabou entrando no documentário de um amigo nosso... Eduardo Luderer. O documentário chama-se a Carne e vale a pena dar uma conferida. Tem que ter o estômago bem forte (risos).

    E algum de vocês teve problemas em assistir o documentário?
    Nem, todos são fãs de filmes Trash! Eu assisti durante o almoço batendo um pratão de macarronada! (risos)

    E a idéia da trilha sonora partiu do lado de quem? Foi a convite do diretor?

    Isso mesmo, ele ouviu o som numa visita que me fez num feriado em MG, estávamos tomando cerveja na minha casa e falei pra ele: “toma de presente esse CD”. No outro dia ele me ligou e disse que ia usar as músicas na trilha sonora do filme. Isso foi muito bom pra gente, pois o underground mineiro acabou conhecendo nosso som.

    E o que vocês acham de serem uma das bandas que estão formando uma fantástica cena Stoner aqui no Brasil?

    Estamos no começo ainda batalhando com os parceiros do Rio e sei que os parceiros de outros estados também estão fazendo o mesmo. Mas os créditos maiores têm que ficar com a galera do Billy Goat, o Antunes é um dos maiores batalhadores desta cena.

    Mesmo com pouco tempo de estrada, a banda já deve ter acumulado certa quantidades de histórias... Quais foram os fatos interessantes e de destaque, e os mais bizarros?

    Poxa, acho que o destaque foi fazer um show para uma média de 800 pessoas em Juiz de Fora - MG e ver todo mundo na frente cantando "Último Gole" e "Sexta-Feira". Os bizarros... Acho que foi em outro show em MG, que nosso Hold ganhou de presente uma camisa de um mendigo que ficou com dó dele por causa do frio! (gargalhadas) A cena foi bizarra, e ele guardou de recordação a camisa (mais gargalhadas). Todos os shows são interessantes, sempre conhecemos um pessoal muito bacana. E sempre curtimos muito todos os shows, até quando tocamos sóbrios! (risos)

    Uma outra banda que idolatra a bebedeira, os Rock Rocket, de São Paulo, disseram que tem show que eles não lembram... Com vocês a situação é semelhante?

    O que acontece é de esquecermos qual músicas tocamos porque o set-list sempre some ou fica tão encharcado de bebida que nunca dá pra entender o que tá escrito... Pelo menos eu lembro de todos, o resto da galera eu já não sei... Até os nomes das pessoas que tomam uma cerveja comigo depois do show eu guardo.

    Como eu imaginei, a Cerveja tem tanta influência quanto o Black Sabbath, não? (risos)

    A música “Black Sabbath” ficou muito foda! Tocamos pensando na versão que o Type O' Negative fez para o tributo “Nativity in Black”. E o Sabbath é o pai de várias vertentes do Metal e Rock. A música mais Stoner deles pra mim é sem dúvida “Sweet Leaf”.

    Só que para o azar de vocês, ela não fala de cerveja... (risos). Além do Black Sabbath e dos Secos e Molhados, há a vontade de executar mais algum cover?

    Com certeza, estamos estudando algumas músicas da década de 70 (rock nacional) pro próximo show. Vai ser surpresa, mas pode esperar porque vai ser algo que vai mexer com os miolos de todo mundo.

    Ainda sobre o set-list, qual é a "número 1" da banda, ou todas os agradam? E qual costuma ser a música favorita do público?

    Sem dúvida é “Sexta-feira”.

    Tanto para o público quanto para a banda?

    Isso mesmo.

    Quais são os planos da banda para o futuro, a curto e longo prazo?

    Estamos gravando nosso primeiro clipe esse mês, um segundo EP até o final do ano... Isso para curto prazo. A longo prazo já é mais complicado, não pensamos no futuro, vivemos nosso momento, queremos curtir todos os nossos shows como se fossem o último. Mas é bem provável de no futuro sair um CD completo. E o resto ao futuro pertence.

    Torço para que isso possa acontecer em um futuro breve... Bem, Rodrigo, muito obrigado mesmo pela entrevista, e pode deixar o recado que quiser... Desce mais uma!

    Mas já? Sou péssimo para últimas palavras... Brigadão pela oportunidade, Bernardo, e contamos com a presença de todo mundo nos próximos shows para curtir o bom e velho rock 'n roll!

    Ah! Depois assistam o documentário. Mas vou ressaltar... É pesado!


    Os álbuns favoritos de Rodrigo “Bode” Fernandes:
    Carcass – Todos
    Cannibal Corpse – Todos
    Farofa Carioca – Moro No Brasil
    Jamiroquai – Travelling Without Moving
    Burzum – Det Som Engang Var
    ________________________________________
    Ei, psit! Ficou interessado?
    Então entre aqui:
    http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1118444
    http://www.tramavirtual.com.br/artista.jsp?id=33387
    http://www.myspace.com/arsenico75
    http://www.fotolog.com/arsenico75
    http://www.youtube.com/watch?v=KaBBFD_16Ps <- Só lembrando, pessoal, o documentário é FORTE, não é recomendado para pessoas sensíveis emocionalmente. O YouTube já colocou uma censura alta no vídeo, logo, o Dangerous Music não se responsabiliza por nada.

    E aproveite, de preferência bêbado, afinal... PORRE É CAIR ANTES DO ÚLTIMO GOLE!

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    posted by billy shears at 1:52 AM | 13 comments

    segunda-feira, outubro 23, 2006
    Muse - Black Holes And Revelations


    Está aí uma banda peculiar no cenário atual. Britânicos que dividem opiniões polêmicas. Muitas vezes acusados de não passarem de uma cópia de Radiohead, um Radiohead do Hard Rock, ou ainda, um Radiohead sem Prozac (e mais ofensivamente ainda, um "rock progressivo de padaria"). Juntos desde '94, praticam um som melódico e pesado, atormentado e denso, melancólico e emocional. Não dá para negar a influência no perturbado vocal - mas você acusaria todas as bandas atormentadas pós-Radiohead de cópia? Não? Se sim, não precisa ler. Se não, vamos em frente.

    O Muse é um trio formado por Matthew Bellamy no vocal, guitarra e piano, Christopher Wolstenholme no baixo e Dominic Howard na bateria, que em seu som, transpira influências das mais variadas - dos ritmos marcantes do Queen, do peso do Van Halen e do Rage Against The Machine, da virtuose de Yngwie Malmsteen, Steve Vai e John Petrucci, dos climas tensos e emocionais e vocais frágeis e depressivos à lá Radiohead e Jeff Bukcley. O resultado disso é mistureba - não quebrada, como o System Of A Down e o Panic! At The Disco fazem, mas, digamos uma banda de rock alternativo que gosta de experimentar bastante - como Radiohead e Steve Vai - e tocar MUITO alto - feito Eddie Van Halen e Tom Morello.

    "Black Holes And Revelations" acabou de sair do forno, há dois meses atrás, com tanto mídia como fãs incertos de como seria a sonoridade do novo disco devido à alguns trechos e canções que vazaram na internet - fator este que, nos últimos tempos, permite todo o tipo de boataria e fofoca antes mesmo que o artista lance o disco prometido. E o que ouvimos aqui é um Muse experimentando como sempre, com letras corajosas e seu som mutante, disforme e climático. Como se superar é sempre difícil, e poucos continuam melhorando progressivamente, este quarto disco do Muse não consegue superar o terceiro, o magnífico "Absolution" de 2003.

    O início se dá por conta de "Take A Bow", comandado por um ambiente de sons eletrônicos crescentes e que causam certo suspense no ouvinte sobre o que virá a seguir. A letra traz um certo tom de fúria, muito provavelmente político, quem sabe: "Corrupto/Seu corrupto/Trazendo corrupção à tudo que você toca", "Pagar,/Você merece pagar/Por todos os seus crimes contra a Terra", "Sim, você vai queimar no inferno/Você vai queimar no inferno/Sim, você vai queimar por todos os seus pecados". Repentinamente, entra a cozinha com força, e então surge a guitarra, destilando intensidade na canção. O ruidoso final é perplexante.

    Em seguida vem "Starlight", que traz belas melodias de piano e uma uma marcante cozinha. Utilizando mais falsetes que na anterior, o surgimento repentino de uma guitarra cheia de peso. E a canção muda várias vezes de estruturas, sempre revelando-se de agradável audição em todas elas. A letra fala de alguém que está sendo levado para longe, e sente saudade de uma pessoa: "Segurar você em meus braços/Eu só queria segurar/você em meus braços ", e também reflete sobre as ansiedades da humanidade em "Nossas esperanças e expectativas/Buracos negros e revelações".

    E aí vem a grande surpresa do disco: "Supermassive Black Hole", a primeira canção que vazou na internet, e que causou altas polêmicas entre os fãs sobre que rumos sonoros a banda estaria tomando... Porque, contrastando com o resto do disco, a canção não tem momentos melódicos e pesados entrando em conflito emocional: é uma mistura de Parliament-Funkadelic de George Clinton, lenda do Funk americano, com vocais emulados de Prince e com um refrão pra lá de repetido. E vem uma letra tratando de um amor que consome o eu-lírico por inteiro, o que se vê em versos como "eu pensei que eu não era idiota para ninguém/mas, baby, eu sou um idiota por você" e "Geleiras se derretem numa noite morta/você deixa minha alma iluminada/E as estrelas estão indo para... o grandioso buraco negro".

    "Map Of The Problematique", que entra grave e ruidosa, com o piano de Matthew agindo em contraste com esses climas, construindo uma canção pesada, mas com bastante melodia, mostrando-se um tanto exótica. A letra mistura amor, crítica e desespero novamente, onde cansado de medo e pânico e cheio de vontade de ser livre, o eu-lírico sente-se dependente de uma pessoa.

    A mais curta do álbum, tanto em letra quanto duração, esta é "Soldier's Poem", música guiada pela batida lenta de Dominic, e os pianos e vocais melódicos de Matthew, e surge novamente uma canção de revolta apesar do bonito ambiente: "E você acha que você merece a sua liberdade/Não, eu não acho que você merece/Não há justiça nesse mundo/E nunca houve".

    "Invincible" surge do desaparecimento da anterior, com a bateria nascendo em ritmo de marcha, e os pianos surgem construindo uma atmosfera contrastante. Na letra, a banda fala que a união é capaz de derrotar qualquer coisa que venha a pôr alguém perigo, e que não importa quantas humilhações a pessoa passe, a alma dela é inquebrável, e juntos, somos invencíveis.

    E o peso e a pancadaria chegam de vez em "Assassin" guiada por riffs intensos e uma bateria com muita pegada. A música freia levemente nos versos, torna-se mais melódica no refrão e então volta à pancadaria frenética. O tom fortemente crítico de forma social, onde Matthew com sua perturbada voz diz "Oponha-se e discorde/Destrua a democracia".

    "Exo-Politics" surge com uma estrutura repetida que constrasta com os vocais melancólicos, mas que cresce para um instrumental de certo peso, apesar de contido. A intensidade da canção cresce no refrão, que entre outros detalhes revela um repentino solo de guitarra que diferencia-se totalmente da estrutura grooveada da música.

    Com um início palhetado, "City Of Delusion" logo deixa o baixo de Chris dar um corpo extra na canção, que revela-se a com maiores reviravoltas do álbum, indo do grooveado quase industrial às melodias agudas do rock clássico, correndo também por passagens melódicas noventistas, deixando-se ser invadida pelo peso no seu decorrer. A existencialista letra aconselha: "Destrua essa cidade de desilusão/Destrua essas paredes/Por que nós encaramos?/Justifique minhas razões com sua mão sangrenta".

    "Hoodoo" tem um início inusitado, primeiro parecendo que entrará uma música de tourada espanhola (!), para então ouvirmos uma canção quase silenciosa, onde notas melódicas e calmas são disparadas enquanto Matthew canta lentamente. A bateria entra quase que imperceptível, apenas imprimindo um ritmo lento e triste na música. Crescem os teclados em certa parte, e em conseqüência, toda a canção. A temática existencialista vem à tona, mostrando um eu-lírico arrependido. As batidas aumentam em força, construindo um clima cada vez mais tensas.

    A canção mais extensa do álbum é a que o encerra; "Knights Of Cydonia" onde o Muse concentra as suas forças em um espécie de Rock progressivo atualizado com referências alternativas e hard-rockers (que aliás, é um estilo de som que o Muse vem desenvolvendo em conjunto com outras bandas alternativas, como o The Mars Volta) - onde sons espaciais abrem espaço para uma bateria segura e grooveada, e com melodias diferenciadas entrando em conflito. E vem a letra, que é um ataque contra a apatia, um incentivo à revolta: "E como nós podemos ganhar/Quando tolos são os reis", "Você e eu temos que lutar pelos nossos direitos/Você e eu temos que lutar para sobreviver". Na melhor música do álbum, surgem altas e belas harmonias vocais, que praticamente cobrem o instrumental. O peso então entra disputando espaço com essas harmonias, fazendo um grande acabamento na canção. Excelente!

    Depois que o Radiohead andou meio que sumido de cena, o Muse revelou-se uma das melhores bandas do mainstream britânico, revelando-se criativa, cheia de referências e sem medo de ousar. Caso você não tenha enxergado algumas das referências citadas no início da resenha, apenas se lembre que, em primeiro lugar, eles foram muito embebidos em suas referências progressivas e alternativas. Os garotos ingleses não pariram outro álbum definitivo, mas talvez esse tenha sido uma transição para um próximo. Então, se depender do Muse, o rock mais alternativo, experimental e existencialista ainda tem prazo de validade bem longo. É aguardar e ouvir. E ir ouvindo, claro...

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    posted by billy shears at 5:02 PM | 7 comments

    sábado, outubro 21, 2006
    Música de Metrô: Cooper Cobras


    Música de garagem. Esporro sonoro. Punk, hard e classic. Pedrada na moleira. Um som rápido, incessante, pesado e empolgante. O passado, o presente e quiçá o futuro se unindo para trazer mundo abaixo. Estes são alguns dos adjetivos que podem ser utilizados para descrever os Cooper Cobras, banda carioca formada no quarto mês do ano passado.

    O AC/DC, o Kiss, o Hellacopters e o The Who emprestam suas guitarras incendiárias, enquanto Stooges, MC5, Dead Boys, Ramones, New York Dolls e Johnny Thunders & The Heartbreakers oferecem sua agressividade instrumental. O power trio formado por Victor Lima nos vocais e na guitarra, Luiz Menezes no baixo e Pedro Svensson na bateria pratica um rock áspero e cheio de adrenalina, que não soa datado apesar das referências e faz qualquer amante do estilo que tenha um mínimo de bom senso (ou boa audição) agitar do fio de cabelo no topo da cabeça até o mindinho do pé. O nome? Vem da marca de pneus de um Mustang (quer carro mais Rock and Roll?)!

    No início deste prolífico ano de 2006 (como o novo século e o novo milênio estão fazendo bem à nosso cenário nacional!), os Cobras lançaram um EP demonstrando todo o seu poder de fogo. E as músicas são as mais viciantes possíveis. Quando você começar a ouvir, se você criar simpatia, considere-se perdido e viciado... Ou envenenado, no caso.


    Os primeiros segundos de "Um Passo Para Trás" já confirmam e provam tudo o que foi afirmado. Um rock alucinado e ensandecido em alta velocidade, com um refrão alto e em bom tom para todos que estiverem curtindo gritarem com todo o ar dos pulmões "Com um passo pra trás me livro do meu fim!" junto a Victor. Um riff fodido combinado com uma cozinha velocíssima, tal qual um Mustang correndo em meio a um grande deserto à toda velocidade.

    Faz-se ouvir o maior sucesso da banda até o momento, "Até o Fim do Show" com sua guitarra bruta e inflamada, com destaque para paradas para que outros instrumentos tenham seu lugar de destaque. Com uma letra o mais Rock And Roll o possível, falando sobre uma festa das boas e uma garota que não pára até o término do show. Faz sentido de ser a música de maior sucesso do álbum: a música é grudenta e cantarolável, mas nem por isso perde o peso e agressividade.

    "Pequenas Tragédias" não te deixa respirar, te dando a certeza que a banda é adrenalina pura e que irá tardar para algum dia compor uma balada ou música com o pé fora do freio - isto se algum dia o fizerem... Um dos riffs mais marcantes entre as poucas e poderosas canções - e com uma letra junky e decadente: "Sobre copos de gin e promessas desfeitas/Feito a vida de alguém que desistiu de tentar", e por aí vai... O refrão é pesado, alto e com paradas mais que empolgantes.

    A próxima é "Primeiro Lugar", uma ode à velocidade em todos os sentidos, tanto na letra quanto no som. As guitarras distorcidas compõem um ambiente alucinante - confesso que por alguns segundos me senti em meio à um racha de motoqueiros - mesmo estando em minha casa, e não tendo moto... A letra descreve uma corrida alucinante, e também um convite à uma pessoa para que ela perca o medo e vá correr ("Venha comigo e mostre que você não tem medo"). Victor desfere um puta solo na hora que a música torna-se mais lenta, mas nem por isso afrouxa, deixando um tanto difícil escolher qual é a melhor canção...

    Chegamos ao final com "Noites Infinitas" com um riff cheio de referências mas nem um pouco nostálgico. Partindo de versos pesados e contidos, o refrão explode cheio de fúria, onde Victor canta sobre uma garota que só promete deixar tudo pra trás e coisas assim... Mas ela só promete. A música acaba cum um final que é uma avalanche de sangue, suor e Rock And Roll.

    "If kickass rawk n' roll made by some angry folks sounds irresistible to you, go ahead and let the poison flow!"
    _______________________________________

    Ei, psit! Ficou interessado?

    Então entra aqui:

    - www.coopercobras.com.br

    - www.fotolog.com/coopercobras

    - http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1750294

    - www.myspace.com/coopercobras

    - http://www.tramavirtual.com.br/artista.jsp?id=19072

    - http://www.youtube.com/watch?v=2qj4rB--IUI

    E vá em frente, e deixe o veneno fluir!

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    posted by billy shears at 1:21 PM | 10 comments

    quinta-feira, outubro 19, 2006
    Gram - Seu Minuto, Meu Segundo


    Você já deve conhecer o Gram. De repente nem sabe o nome, mas muito provavelmente você deve ter assistido o clipe do gatinho que se suicida seis vezes para ficar com a gatinha que só tinha uma vida, gatinha esta que o trai com um pato e fazem o pobre gatinho se suicidar pela última e definitiva vez... Acho que você deve ter se lembrado do maior hit da banda até o momento, "Você Pode Ir Na Janela", uma balada doída e arrastada sobre uma pessoa que não dá a mínima para quem a coloca em um pedestal (e doíam os corações dos apaixonados ao ouvir "você só me fez mudar, mas depois mudou de mim"...).

    Porém, em seu primeiro disco, o Gram era lembrado pela maioria como um pastiche de Los Hermanos, apenas uma repetição do que a banda de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante toca. E tal comparação irritante parece ter chegado aos ouvidos da banda. Tanto que a referência Los-Hermânica foi abandonada, e um som que funde Keane, Coldplay e Legião Urbana pós-"As Quatro Estações" chegam aos ouvidos roqueiros mais sensíveis e românticos chega no formato de um disco lançado neste mês de Outubro sob o nome de "Seu Minuto, Meu Segundo", lançado pela Deckdisc.

    Nesse disco, a banda formada pelo vocalista, guitarrista e pianista Sérgio Filho, Marcelo Pagotto no baixo e no vocal, Luiz Ribalta e Marcelo Loschiavo nas guitarras e Fernando Falvo na bateria está longe de decepcionar os fãs arrebanhados pela fragilidade emocional e som delicado da banda, porém, está longe de fazer o disco definitivo. O leque temático se abriu, deixando de falar exclusivamente sobre relacionamentos, e a banda, segundo Sérgio, tenta parecer menos intelectual e mais comercial, "como os Beatles em início de carreira", sem abrir mão da música sentimental que fez a mídia brasileira voltar os olhos para os paulistas.

    O álbum começa com "O Rei do Sol", possuidora de uma delicada melodia de guitarra e um ótimo piano como complemento. A bateria é tocada lenta e suavemente. Sérgio Filho começa a cantar em uma ótima performance vocal sustentada pelo marcante instrumental, onde na letra conta a história contida em um livro de um homem que vendeu o amor para comprar o mundo. Após afirmar "O Rei do Sol é frio", ele questiona "Quem é seu rei?/Quem é você?/Que explora o sol/Mas é tão frio?", junto com o crescimento instrumental, na maior força da bateria e um clima denso no resto dos instrumentos.

    "Você Tem" já começa com Sérgio cantando, em um instrumental mais emocionado ainda, onde as agudas guitarras se somam com um lindo piano e abrem espaço para versos como "Você passou e riu/Me fez pensar que sim/Sempre quero alguém/Que jamais olhou pra mim"... Diz que a pessoa é um filme com final feliz, mas já que não olha para ele, o filme não tem final nenhum. Sérgio Filho cria um estilo vocal muito próprio, pelo menos no cenário nacional. Os backing vocals soam discretos e contidos.

    Vamos para "Antes do Fim", que começa com as guitarras antes do piano, que invade a estrutura de maneira lenta, e enfim os outros instrumentos e o vocal de Sérgio entram. A bateria de Fernando tem um ótimo ritmo, mesmo seguindo um ritmo linear. Na letra, é contada a história de uma pessoa que tem tudo, mas que, antes, depois, longe ou perto do fim, está presa em solidão. O crescimento vocal no final da canção acompanha um ótimo solo de guitarra.

    Com o começo mais agitado, ouvimos "Parte de Mim", com uma guitarra aguda com um ótimo efeito, e então a música cresce no refrão. A temática da ingratidão amorosa aparece novamente em versos feito "Quando te enchi de razão/Você me chamou de fraco e velho", e o refrão "E parte de mim/Quer te ver feliz/Parte de mim/Te expulsa e morre". Uma das mais belas canções do disco.

    "Melhor Assim" volta à calmaria, apesar de os bumbos por vezes ainda soarem fotes, revelando uma estrutura pulsante, indo de melodias soturnas à doces momentos, passando por paradas instrumentais. "Você é a mais comum/Do seu mundo tão feliz/Mas se diz madura pois se deu/É a maior mentira que eu vi" (...) "Sendo assim, eu não quero mais pedir/Permissão pra respirar". Do peso apaixonado à doceria frágil, a canção convence.

    Entra "Vivo de Novo", com um começo lento, quase em ritmo da trilha sonora, que entra com piano discretíssimo somado com melodias densas e carregadas, e a participação de um coral de crianças que dá um tom infantil em meio à bateria que cresce quase tribal e as guitarras que rugem querendo surgir. "Vivo feliz e a vida insiste/Eu quero a coisa mais triste" e "Ela se foi/Aquela vida se foi/Vivo de novo" revelam uma reflexão sobre uma pessoa querendo se convencer que está feliz de não ter mais dores no coração, mas que revela preferir essas dores do que não sentir nada. A música mais doída do álbum.

    Seguimos então para "Me Trai Comigo", com a letra mais submissa e passiva do álbum. O dedilhar da guitarra abre espaço para outra balada, que começa em ritmo corajoso, guiada por uma linha sinuosa de guitarra e uma cozinha densa. Sérgio, sofrido, canta "Mas se você falhar/Volta pra casa/Já tanto faz/Vai me ver sorrindo pra te enfeitar/E me trai comigo/E descansa em paz" sustentando a voz enquanto a bateria cresce - aliás, grande trabalho da cozinha. Discretamente, no ritmo abafado da cozinha, acompanham-se ofegações dos backing vocals que dão todo um charme à canção. "Se alguém vier falar/Não brigue por mim/Só diga que sou/Um problema seu".

    "Lupado" revela-se também sofisticada, onde a melodia volúvel contrasta com a linha reta da bateria. O eu-lírico revela-se uma pessoa que entrou em um pessoa com um tanto de questões existenciais, aparentemente induzidos pela insônia: "Ei, acordo amanhã/Depende se eu me sonho mal/Ei, não durmo amanhã/Deve estar me sonhando acordado". A canção com mais climas do álbum, indo do instrumental crescente acompanhados de uma risada sádica até a calmaria absoluta.

    A interessante "Em Nome do Filho" trata de uma interessante questão, a da adoção, explorando o relacionamento entre pai e filho. Um violão marcante inicia a canção, marcada pelo vocal doce e correto de Sérgio, e tal violão ganha força ao decorrer da canção, construindo uma música inusitada e bela para uma poesia muito bela. A melhor letra do álbum. "Eu não tenho a cor de seus cabelos/Eu não herdei um gesto seu/Mas eu sou um filho da atenção/Gesto que só pude ver em você". Ponto pro Gram.

    O começo mais elétrico vem em "Vale a Pena", de sonoridade roqueira em suas guitarras e a bateria soando crescente ao decorrer da música. Solidão, masoquismo emocional e questionamento existencial surgem ao longo da canção, como diz o refrão "Quem vale mais?/Quem é que sabe viver?/O feliz ou o não?". Reduzindo-se quase que somente ao piano em certos momentos, a canção logo volta às guitarras. O final é, ao mesmo tempo, belo e enigmático.

    "Tem Cor", segundo Sérgio, remete à sua infância, e tem uma mensagem de esperança nesses tempos de incerteza. Em um instrumental inseguro, que apesar de tentar se conter, às vezes compete volume com a voz do cantor. No refrão, Sérgio canta ao lado do instrumental com maior corpo e densidade: "Quando alguém vier pra te mudar/Lembra bem que seu olhar/Apesar de grande ainda tem cor", em um misto de saudosismo e esperança, nostalgia e positividade.

    Chegamos à faixa-título, "Seu Minuto, Meu Segundo" nasce elétrica e contida assim como há duas faixas atrás, porém, ao entra a bateria em ritmo programado, revela-se uma balada-electro-pop, que volta com a bateria natural no refrão em ritmo mais rápido que as batidas dos versos. "A vida é hoje/E é com ou sem você/Espero demais/Vou fazer seu minuto, meu segundo", afirma Sérgio. Novamente, o desprezo volta em versos como "Você me enxerga mal/E só você não vê". E aí temos, talvez, a melhor canção do álbum, fazendo jus a ser título do álbum, com um refrão mais pop e menos balada que os anteriores, porém, inserido-se em melodias emocionadas, cria uma inovação silenciosa, que nem todo mundo que ouve percebe pela familiaridade que o som chega aos ouvidos.

    O Gram, com certa rapidez, alcançou um patamar de revelação do underground e soube não se perder ao dar um passo a mais em uma carreira que começa a ser traçada sem ousadia, porém com sabedoria. Inovações discretíssimas tem menor importância para dar espaço à poesia e à delicadeza. Ainda não cometeram seu disco definitivo, quem sabe estejam perto, quem sabe não. Talvez o Gram não queira ser a maior banda do Brasil... Talvez a única vontade seja fazer música para quem quiser ouvir, se identificar, e por conseqüência natural, se emocionar. Se esse for o caminho pretendido, que continue assim.

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    posted by billy shears at 8:22 PM | 10 comments

    terça-feira, outubro 17, 2006
    Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That's What I'm Not



    Assim como o Panic! At The Disco, um suscesso totalmente inesperado - inclusive para a própria banda. Uma banda que começou há pouquíssimo tempo, distribuindo cópias de suas demos em shows, e que caíram na rede - e, em pouco tempo, o peixe virou uma baleia. Em uma semana de lançamento o álbum vendeu a quantidade absurda de 363.735 cópias - quebrando um recorde histórico. E em pouco tempo, a banda se tornou um dos artistas mais vendidos no Reino Unido, EUA, Austrália, Japão e Alemanha. A agenda aumentou enormemente de tamanho e, segundo a banda, em alguns shows eles tiveram que parar de cantar simplesmente porque o público cantava tão alto que os músicos não conseguiam ouvir a própria voz!

    Claro que, nem tudo é um mar de rosas. Como depois da bonança vem a tempestade, jornais tablóides apareceram falando de contratos milionários e que a banda seria uma armação. Figuras musicais inglesas muito importantes falaram sobre a banda - Mick Jagger e David Bowie já disseram que adoram a banda, Noel Gallagher (do Oasis - isso mesmo, o cara que alfineta toda banda inglesa, não deixando nem George Harrison livre) também defendeu a banda, dizendo que eles tem letras maravilhosas. E o ex-Smiths Morrisey disse "Está sendo tudo muito rápido para eles. Eles ainda não provaram nada nem batalharam muito. (...) É tudo meio artificial)". E poucos dias depois, o mesmo Morrisey desculpou-se e disse que foi incompreendido. A própria banda passou por situação parecida ao falar mal do Libertines e se desculpar logo em seguida...

    O vocalista e guitarrista Alex Turner, o guitarrista Jamie Cook, o baixista Andy Nicholson e o baterista Matt Helders tem os famosos vinte e poucos anos, letras cheia de arrogância, sarcasmo, ambientações em pista de dança, hedonismo, citações de Shakespeare e títulos compridos fundidos a um som rápido, pesado, pós-punk e indie. Ou seja, um som naturalmente jovem, que mesmo não ousando em novas fórmulas ou em vôos megalomaníacos, é tocado com bastante vigor e energia, em um resultado empolgante e dançante.

    O álbum começa com a música "The View From Afternoon" que entra com guitarras desafiadoras para logo cair em uma seção rítmica da cozinha que conta com explosões guitarreiras que marcam a súbita volta das mesmas. "Eu quero ver todas as coisas que já vimos/Quero ver você ganhar o grande prêmio na máquina das frutas/E jogar tudo que ganhou de novo/Você tem que entender que você nunca pode ganhar do bandido", diz Alex irônico tanto na letra quanto no tom de voz. As dançantes reviravoltas da música são pra lá de vigorosas.

    "I Bet You Look Good On The Dancefloor", um dos maiores hits do álbum, é simplesmente uma beleza. Pesada e dançante na medida certa, com um refrão grudento, empolgante e pulante, injetando adrenalina nas veias do ouvinte que se deixa levar pelo som agitado e contagiante, uma das marcas registradas que a banda revela ao longo do álbum. A letra, no maior clima de "paquerador de pista", afirma no refrão "Eu aposto que você fica bonita na pista/Eu não sei se você está procurando romance ou.../Eu não sei o que você está procurando/Eu aposto que você fica bonita na pista/Dançando electro-pop como um robô de 1984". De longe, uma das melhores músicas do ano.

    A próxima é "Fake Tales Of San Francisco", que segue uma linha ora mais cadenciada, ora mais rápida, ambas as vezes cheia de vibração, com um refrão cheio de paradas e a banda toda cantando junto em um resultando muito interessante, que contrasta com o resto da música. O vocal ora cantado, ora discursado é praticamente uma crônica urbana ora em primeira, ora em terceira pessoa sobre a juventude de San Francisco.

    E um dos títulos mais curtos surge com "Dancing Shoes", com um baixo pra lá de marcante que abre espaço para as pesadas e descontroladas guitarras, compondo uma estrutura rítmica muito interessante. A canção traz um solo muito bem executado e cheio de pegada, que logo volta para a sua parte quase marcial. Na letra, Alex fala sobre a mania juvenil de ignorar todos os problemas para ir dançar, como revela o refrão "As luzes estão piscando/Aqui hoje/E alguns podem trocar olhares/Mas continuam fingindo dançar" e nos versos "Coloque seus sapatos de dança/Seu brutinho sexy/Esperando que eles estejam esperando por você/Com certeza você vai ficar procurando por aí".

    "You Probably Couldn't See For The Lights But You Were Staring Right At Me" (acho que eles e o Panic! At The Disco estão disputando, só pode...) é curta demais para um título tão grande... As harmonias vocais na canção são muito boas, com Alex cantando sozinho ou acompanhado, construídas em cima do baixo de Andy, que descamba em caprichadas guitarras que saem tinindo quando vem. Um tratamento muito audível para cada instrumento ter seu destaque merecido, com direitos a paradas exclusivas, mas de forma que não fique repetitivo. Surge o descarado o hedonismo juvenil (ou tesão teen?) na letra e título.

    Pancada na moleira, "Still Take You Home" tem guitarras incansáveis, altas e sujas, onde Alex administra bem seu limitado vocal tornando-se uma máquina incessante de cuspir palavras. Irônico e metafórico, na letra o vocalista parece até tirar uma com o hype, tratando como uma mulher: "Você é uma mania ,você é uma moda/e eu estou tendo trabalho para falar com você/Mas tudo bem, eu deixo tudo pra você/Todo mundo está olhando, você controla os olhos detodos/Inclusive os meus ". As partes mais melódicas até parecem que vão frear a música... Mas não, os riffs ensandecidos voltam, para a felicidade geral da nação.

    Uma balada com ar junkie e decadente, esta é "Riot Van". Com voz rouca e meio ébria, Alex faz um belo acompanhamento para as guitarras, em uma letra que é claramente um protesto contra a violência policial, algo que tantas bandas afirmam. No meio da selvageria eletrificada hedonista que é o álbum quase em um consenso geral, uma balada movida à álcool, cigarro e protesto social caiu muito bem.

    "Red Lights Indicates The Doors Are Secured" começa a trazer a eletricidade de volta, em melodias grudentas que compõem uma canção que divide momentos mais cadenciados com outros mais dançantes. Em seu decorrer, a música cresce, revelando mais um solo de qualidade, com ar contagiante. Na letra, inconseqüência juvenil novamente, onde, pelo desenrolar da crônica urbana e adolescente, dois jovens tentam invadir uma festa, morrendo de medo dos seguranças e afim de conquistar a mina de vestido verde, sendo que esta já está sendo paquerada por um bebedor de Smirnoff Ice que pagou para ela um Tropical Reef...

    Em um estica-e-contrai de títulos, temos agora "Mardy Bum", com belas melodias e acordes de guitarra compõem uma música mais lenta e cadenciada, podendo ser considerada a segunda balada do álbum, apesar do dançante ritmo adquirido por guitarras e cozinha ao decorrer dos versos, contrastando com os lentos vocais de Alex até quando a música vira porrada - e continua no contraste, fazendo talvez... Uma balada-dance, quem sabe. A letra, em parte, fala sobre nostalgia e repetição dos problemas anteriores.

    "Perhaps Vampire Is A Bit Strong But...", uma das mais longas do álbum, continua repartindo o lento e o rápido, as paradas e as pancadas, os vocais incessantes... E um interessantíssimo momento de percussão tribal. Ácido, Alex dispara contra gente oportunista e gente que acha que eles vão cair o mais cedo possível. Uma das músicas mais exóticas do álbum... Considerando que ele já é meio exótico per se.

    Maior sucesso da banda ao lado da segunda música do álbum, "When The Sun Goes Down" é uma palatável música pop que começa nas melodias doces e civilizadas que repentinamente torna-se um rock invocado, com as guitarras sujas e ensandecidas de volta com grande estil, ao lado do marcante baixo de Andy. A letra, que fala sobre a decadência da juventude inglese hoje em dia tem um refrão agitado e melódico ao mesmo tempo, refletindo muito bem a música como um todo.

    "From The Ritz To The Rubble" começa meio lenta, com a guitarra e os vocais já ameaçando explodir, especialmente quando Andy torna seus vocais rápidos e incessantes, que culmina em um refrão que é pura pancadaria-rock-and-roll, para lá de dançante e agitado. A crônica urbana-juvenil é um tema que fascina os Monkeys daí versos como "Ficou muito profundo/Mas quão profundo é muito profundo?". Os momentos arrastados e explosivos contróem um clima quebrado que impede a banda cair no marasmo que muitas bandas se perdem. Não tem a imprevisibilidade do Panic! At The Disco, mas faz o máximo para evitar o lugar-comum.

    Chegamos na última faixa, "A Certain Romance", uma canção em que guitarras endiabradas transformam-se em belas melodias de um segundo para outro, na maior música do álbum, e no "certo romance" narrado, Alex não consegue perdoar os amigos delinqüentes que só fazem merda, mas que ele não consegue ficar bravo. O baixo de Andy, ao decorrer da música, também é um grande destaque, junto à melodias agudas. Uma bela música estilo "adoráveis bastardos" ajuda a fechar bem o disco.

    No MySpace deles, está escrito a mensagem "Don't believe the hype", mostrando que a banda tem alguma (ou plena) consciência do ambiente que a cerca, cheia de executivos gananciosos e conhecidos oportunistas. E mesmo assim, eles fazem um rock invocado, decadente, dançante, agitado, pesado, melódico entre tantos outros adjetivos que já foram repetidos; basicamente, é um disco que se dará muito bem em qualquer festa de Rock And Roll, botando os freqüentadores pra dançar frenética ou lentamente como acontece em toda boa e insana noite de Rock. Uma das provas definitivas que internet e música são aliadas e não inimigas, o "novo monstro" Arctic Monkeys já começa muito bem - inclusive mandando esse papo de "salvação do rock" para o diabo tanto na ação quanto na canção.

    O que mais eu posso dizer? Compre... Ou baixe, sei lá... Ponha para tocar... E tenha boas e infindáveis horas de diversão com os macacos do ártico!

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    posted by billy shears at 9:42 PM | 7 comments

    sexta-feira, outubro 13, 2006
    Panic! At The Disco - A Fever You Can't Sweat Out


    Após entrar em franca decadência na segunda metade dos anos 90, quando Boy-Bands e loiras com cara de biscate tomaram conta do pedaço, o mercado fonográfico americano subitamente voltou a dias mais felizes. Depois da explosão dos Strokes logo no início do século 21, uma cacetada de bandas americanas explodiu para o mundo - e então tivemos White Stripes, The Vines, Interpol, The Rapture, Yeah Yeah Yeahs, The Killers, Kings Of Leon ... Que foram seguidos por uma espécia de 'segunda geração' (em menos de cinco anos, mas tudo bem...) de Clap Your Hands Say Yeah, We Are Scientists, Jenny Lewis And The Watson Twins, The Raconteurs (esta, banda paralela de Jack White, dos White Stripes), The Arcade Fire ... O mercado punk dos Estados Unidos se deu bem com a cena Emo e Pop Punk, emplacando My Chemical Romance, Simple Plan, Good Charlotte, Fall Out Boy...

    O Panic! At The Disco é uma dessas descobertas americanas pela qual ninguém esperava. E que surgiu do nada. Ainda que a super-saturação de informações impeça a cena de ter uma banda que seja igual aos Beatles, Led Zeppelin, U2 e Nirvana em termos de importância para sua respectiva década, os anos 2000 vem revelando uma infinidade de agradáveis surpresas. O advento da Internet e do MP3 motivou as pessoas a correrem atrás, e uma infinidade de bandas undergrounds de cenas de vários países foram descobertas, exploradas e desenterradas. Assim como os americanos dos Strokes enfrentaram e os ingleses do Arctic Monkeys estão enfrentando, o quarteto de Las Vegas tem por difícil missão o sucesso logo no primeiro disco, com o sucesso apadrinhado pelo Fall Out Boy.

    Isso quer dizer que a banda toca Emo? Ou pop-punk? Se você acha, prepare-se. A banda usa um conceito parecido com o System Of A Down: usar o Rock como mistura de várias influências. Comparação absurda? Pois é, eu sei que o System Of A Down é muito mais agressivo, esquizofrênico, perturbado e pesado... Mas não deixa de terem um conceito parecido, aqueles que tanto repudiam: a mistura. Essa palavrinha que fez e faz tantos mais conservadores em matéria de música terem calafrios quando ouvem palavras como "New Metal", "Rock Industrial", "Hype", "novo Rock"... Mas enfim. Formado por Brendon Urie nos vocais, guitarras e piano, Ryan Ross na guitarra, Brent Wilson no baixo e Spencer Smith na bateria e produzidos por Matt Squire (que já trabalhou com nomes menos conhecidos como Northstar e The Explosion) e vendendo seus discos através da Decaydance Records, a banda mistura o Queen do disco "Hot Space", com o Fletwood Mac, dance music, punk e rock alternativo, mais um visual com forte evidência de teatro, com citações à cabaré, século 19 e o filme "Closer". Seria apenas isso... Se não fosse apenas isso.

    Para entender melhor, vamos dar um giro pela bolacha.

    "Senhoras e senhores,/Nós orgulhosamente apresentamos/Uma pitoresca trilha sonora/De uma breve fantasia."

    Depois dessa introdução, acompanhada por ruídos e sonos diversos, o álbum é iniciado pela canção de quilométrico título "The Only Difference Between Martydrom And Suicide Is Press Coverage", uma agitada canção que mistura violões acústicos e guitarras pesadas mas ainda acessíveis, e um refrão pra lá de marcante, onde a banda mostra sua preferência lírica e temática: sarcasmo. E essa música é um ataque para lá de bem feito à imprensa e à indústria musical ("A única diferença entre martírio e suicídio é a cobertura da imprensa", já diz o título), que detona em versos como "Prometo sacudir se você prometer ouvir/Oh, nós ainda somos tão jovens, desesperados por atenção/Eu aspiro para ser seus olhos,/Garotos de troféu, esposas de troféu" diz o refrão. Para o seu final, ainda tem momentos eletrônicos e um final em suspenso.

    A próxima é outra música de nome compridérrimo: "London Beckoned Songs About Money Written By Machines" que começa sem dar tempo para respirar, com os efeitos contracenando com bateria reta e guitarras explosivas, e Brendon volta a destilar o veneno em "Bem, nós somos apenas um sonho para os webzines/Nos faça isso, nos faça assunto, faça uma cena/Ou nos dê os ombros/Não aprove uma palavra do que escrevemos" e "Apenas para o álbum,o clima hoje está levemente sarcático com grandes chances de:/A: Indiferença ou/B:. Desinteresse no que os críticos dizem ". Batidões no final e um coro de vozes fazem um intermezzo para Urie voltar a cantar. Apesar de tão irônica, a música é uma delícia de se ouvir, com um refrão deliciosamente pop. Brendon encerra a canção com o piano.

    "Nails For Breakfast, Tacks For Snacks", que começa lento e melódico, mas que vai crescendo progressivamente, caindo para uma parte mais lenta ainda, até que as guitarras entram, construindo a canção toda nessa sequência. Na letra, parece falar sobre uma pessoa que está ficando louca (mas que critica as coisas de maneira bastante sã), que reflete coisas como "O hospício é/Um fim de semana relaxante/Onde você é um corte acima de tudo o resto/Pacientes doentes e tristes/Em primeira base de nome com todos os médicos de topo" e "Pílulas prescritas/Compensar os tremores/Compensar as pílulas/Você sabe que você deveria levar/Isto um dia de cada vez ".

    Finalmente um título curto vem, com "Camisado", que, começando de pianos e vocais, explode em guitarras e a voz incessante de Brendon - que fôlego! A temática de loucura criticando a normalidade e os remédios antiloucura da mesma persiste em "O anestésico nunca começou e eu estou desejando saber onde/A apatia e urgência é que eu pensei que eu telefonei dentro/Nenhum não é tão agradável./E não é tão convencional/E isto seguro como ai de inferno não normal/Mas nós negociamos, nós negociamos" e "Você é uma emergência enfeitada regular'. Caindo, crescendo e voltando com momentos eletrônicos, a canção vai do puro agito à linda melodia, proporcionando agradáveis momentos.

    "Time To Dance" entra com um contraste de guitarras pesadas e tecladinhos felizes, fazendo dessa canção uma das mais pesadas do disco, onde Brendon ataca com alguns falsetes. O refrão é o mais pancada até agora. A ironia da banda chega corroendo, mais uma vez: "Me dê inveja, me dê malicia, me dê sua atenção/Me dê inveja, me dê malícia, baby, me dê um tempo!/Quando eu disser 'Tiro', você diz 'Casamento','Tiro', 'Casamento', 'Tiro', 'Casamento'". A eletrônica cria ecos para a voz de Urie por vezes, criando um clima esquizofrênico, quando não, age discretamente na canção, que fora desses momentos, investe na maior agitação e peso.

    E voltam os grandes nomes... "Lying Is The Most Fun A Girl Can Have Without Taking Her Clothes Off", começa lenta, com batida uniforme da bateria e os vocais de Brendon surgindo como se fossem em camadas em sequência. A música cresce no refrão, mas não tanto, e descamba para rapidez por alguns segundos, e volta para o ritmo mais arrastado, montando a canção cadenciada do álbum. O vocalista, na letra, ironiza a juventude fútil: "Vamos bater esses corações adolescentes mais rápidos, rápidos/Então, garotos testosterona e garotas arlequim/Vocês vão dançar esse ritmo e segurar o amante perto?" e "Dancem conforme o ritmo", diz Urie, desempenhando uma boa performance, ao menos, no álbum.

    "Intermission" fecha um ciclo, iniciando em um clima bem dance - ou seja, dançante até o fim. "Senhoras e senhores, devido a circunstâncias além de nosso controle, nós não podemos continuar nossa radiodifusão de música de dança. Nós continuaremos agora com nosso interlúdio de piano", diz a mesma voz que apareceu no início do álbum. E a passagem sonora fecha, segue, justamente, com pianos, tocados muito bem, em um momento até meio "brega" proposital do álbum...

    Aí entra "But It's Better If You Do", surgida do final em suspensão da "intromissão". O piano agora é tocado em ritmo simples, acompanhando a bateria uniforme e o vocal. Paradas exclusivas para ora bateria, ora piano e ora voz, combinados com climas explosivos e festivos de guitarras e teclados constroem uma grande música. A letra parece falar sobre alguém bem encrencado, achando que vai morrer em breve e coisa assim, sugerido na letra em meio a um clima de cabaré e de romance.

    Hit da banda, esse é "I Write Sins, Not Tragedies", emendada com a anterior por marcantes pianos, que logo explodem para guitarras quando Brendon descreve um casamento que já vai começando errado, segundo a dama de honra e o garçom, pois a primeira diz que é um lindo casamento, e o segundo diz que a "Sim, mas que pena, que pena que a noiva do pobre noivo é uma vadia". Ao decorrer da letra, esse noivo parece ignorar o fato, falando que o casamento está salvo quando Brendon, que só estava de passagem, dizendo "Eu gritei " Vocês nunca ouviram falar de fechar essa maldita da porta?!/"Não, é muito melhor enfrentar estes tipos de coisas com um senso de porte e racionalidade". Entre momentos e melódicos, a música é totalmente climática e teatral, mas com uma precisão pop que a banda tornou marcante logo no primeiro disco.

    "I Constantly Thank God For Esteban", com um belo trabalho da cozinha iniciando a canção, seguida pelos pianos, e finalmente, os vocais, mostrando ser, assim como no resto do disco, uma canção pop de refrão marcante, mas, ao mesmo tempo, cheia de reviravoltas instrumentais, entre melodias, falsetes, explosões de guitarras pesadas e ruídos de pessoas conversando. Novamente uma letra teatral, onde Brendon novamente destila seu sarcasmo: "Nos dê este dia nossa dose diária de aflição de faux/Perdoe nossos pecados/Forjado ao púlpito com línguas bifurcadas que vendem sermões de faux./Porque eu sou uma nova onda de evangelho afiado, e você será testemunha deles/Assim os cavalheiros, se você vai orar para Deus ore suas causas com convicção!". Uma canção que gruda na cabeça, assim como todas as outras, e que trás um breve solo de guitarra como destaque surpresa.

    E agora, o maior nome do álbum (achou que tinha acabado, é?): "There's A Good Reason These Tables Are Numbered, Honey, You Just Haven't Thought Of It Yet" (arf, arf...). Bateria, piano e vocais iniciam a canção, cada um em um estilo particular (uniforme, infantil e melódico), até todos pararem e darem espaço para as guitarras entrarem na parte mais rápida da canção, e Brendon declara a quem achar a banda muito autoconfiante e no direito de sacanear tudo: "Sou o novo câncer, nunca estive melhor, você não suporta isso/Porque você está falando quando respira/Você está lendo lábios: 'Quando foi que ele ficou tão confiante?'", "Fale com o espelho, sufoque as lágrimas/E continue dizendo a você mesma "Sou uma diva!"/Ah, e os cigarros naquelas caixas de cigarro na mesa,/eles parecem estar laçadas com nitroglicerina", e confirma então que vai botar pra f... falando, ao final da canção, com sons cada vez mais engraçados intermediando com passagens melódicas e explosivas: "E eu sei, eu sei que isso não é como uma noite com ninguém te medindo/Eu nunca fui muito supersticioso, então com certeza você estrá distraída quando eu reforçar o ponche ".

    O álbum, então, encontra seu final com "Build Gold, Then We'll Talk", em uma canção paradoxalmente, assim como o álbum inteiro é, previsível e inesperado. Você SABE que a canção sofrerá uma reviravolta - só não saberá QUANDO ou COMO. E você deve estar pensando que a canção deve ter uma letra irônica... E tem! Uma letra de múltiplas interpretações, falando sobre virgens e advogados, uma senhora, tráfico de drogas e decadência do eu-lírico. Um gran-finale par um grande álbum.

    Emo, punk, indie, pop, rock, dance? Sei lá. Eu não consigo rotular. Você consegue? Eu só sei que é um prato cheio para quem gosta de pop - algo que a banda é descaradamente - o que, em alguma instância, significa "vendido", e sim, como o jornalista Alex Antunes na revista Bizz já definiu perfeitamente em uma matéria sobre o novo disco do Skank, "uma espécie de interface, uma produção de certa densidade conceitual e ao mesmo tempo com apelo ou potencial para ser compreendido pela massa". O futuro da banda ninguém sabe. É verdade que eles não tem nem cinco anos de estrada (esse álbum foi gravado ano passado, quando a banda havia acabado de se formar) e já lotam casas de show em Detroit, Montreal, Denver, Vancouver, Seattle, Los Angeles e San Francisco, e já participaram de festivais como o Lollapalooza (em Chicago), e no Reading Festival e Leeds Festival, ambos festivais britânicos. Uma avalanche de sucesso logo nos primeiros meses de vida, um crime para a nação indie, como o Death Cab For Cutie, que demorou oito anos para assinarem com uma gravadora major... Mas dê uma chance aos garotos antes de só ouvir alguns segundos das canções deles e falar que não vão durar nem um pouco. Se você não der nenhuma chance, tudo bem... Ninguém botou fé nos Beatles, nem no Led Zeppelin, e olha só o que aconteceu...

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    posted by billy shears at 10:38 AM | 9 comments

    quarta-feira, outubro 11, 2006
    Legião Urbana - Legião Urbana


    Hoje completam-se dez anos da partida do letrista, vocalista e, segundo muitos, um dos maiores gênios do Rock brasileiro: Renato Russo, que fez história no hoje consagrado Legião Urbana, banda que emplacou inúmeros clássicos ao decorrer da sua carreira. Esses brasilienses saíram do underground punk da região centro-oeste, ao lado de gente como Capital Inicial e Plebe Rude, para conquistar o Brasil com seu rock ora rápido, garageiro e político, ora lento, sofisticado e deprimido.

    Ao contrário do pessoal da região sudeste, mais chegada a um hardcore porrada, originando bandas como Cólera, Olho Seco e o famoso (ou famigerado) Ratos de Porão, Brasília sempre teve uma maior tendência ao punk '77 e o new wave de bandas como Ramones, Sex Pistols, Clash e The Smiths. Apadrinhados pelos Paralamas do Sucesso que regravaram "Química" no disco "Cinema Mudo", música que Renato fez quando ainda era do lendário Aborto Elétrico, uma das primeiras bandas punks brasileiras (e que segundo contam, tal música foi um dos motivos para o fim da banda, já que Fê Lemos - hoje baterista do Capital Inicial - achou-a infantil demais), o Legião Urbana grava seu primeiro álbum no final de 1984 e o lança no ano seguinte pela gravadora EMI, com a formação Renato Russo no vocal, violão, teclados e letras, Dado Villa-Lobos nas guitarras, violão e efeitos, Renato Rocha no baixo e Marcelo Bonfá na bateria e percussão.

    O disco abre com a romântica "Será", um rock de guitarras palatáveis e batida reta, de pouco mais de dois minutos, formando um dos primeiros dos muitos clássicos que a banda iria cravar ao longo de sua história. A temática amor sempre foi bastante recorrente ao longo da carreira da banda, explorando relacionamentos a fundo, como se vê nos versos "Tire suas mãos de mim/Eu não pertenço a você/Não é me dominando assim/Que você vai me entender". O refrão da música tornou-se famosíssimo, fazendo deste nascimento para o mundo da música um grande momento, com um hit certeiro.

    "A Dança", com guitarras mais discretas que a anterior, compartilhando espaço com efeitos e uma marcante linha de baixo de Renato Rocha. Russo critica a futilidade dos jovens em versos como "Não sei o que é direito/Só vejo preconceito/E a sua roupa nova/É só uma roupa nova", "Nós somos tão modernos/Só não somos sinceros/Nos escondemos mais e mais/É só questão de idade/Passando dessa fase/Tanto fez e tanto faz". Devido aos efeitos, chega até a soar experimental, criando um belo contraste em relação à anterior.

    As guitarras voltam com força em "Petróleo do Futuro", mostrando toda a força do punk/new-wave da banda, após muito ouvir (e "chupar") Smiths. A ideologia política continua forte ao ouvir Renato Russo cantar "Filósofos suicidas/Agricultores famintos/Desaparecendo embaixo dos arquivos" e "Sou brasileiro errado/Vivendo em separado/Contando os vencidos/De todos os lados". Básica e simples, porém cheia de melodia e energia. Não é um hit do álbum, mas tem seu valor.

    O segundo clássico do álbum surge com "Ainda É Cedo", com melodias de teclado muito bem inseridas, em dueto com o contrabaixo e a batida reta da bateria. A letra narra o encontro do autor com um menina que o ensinou tudo, que o dominava, mas cuidava dele, até que ele parece ter criado uma espécie de dependência em relação à ela. Com o passar do tempo, ela desiste de namorar com o autor e termina com tudo. E Renato, atordoado, repete com veemência que "ainda é cedo".

    Ao invés de falar de amor ou criticar a sociedade, "Perdidos No Espaço", que experimenta uma linha marcante de baixo misturadas com efeitos assim como na segunda faixa do álbum, só que agora inserida em uma música mais rápida. Na letra, Russo afirma "Escrevi pra você e você não me respondeu/Também não respondi quando você me escreveu" e "Vivendo num planeta perdido como nós/Quem sabe ainda estamos a salvo?", desempando uma interessante performance vocal, que cresce no refrão também na parte instrumental.

    "Geração Coca-Cola"... Não é a primeira vez que falo dessa música aqui no blog, mas agora trata-se da versão original, um punk rock rápido e agressivo liricamente, onde Renato protesta "Quando nascemos fomos programados/A receber o que vocês nos empurraram/Com os enlatados dos USA, de 9 às 6" e afirma no refrão "Somos os filhos da revolução/Somos burgueses sem religião/Nós somos o futuro da nação/Geração Coca-Cola". Não é preciso nem dizer que é o maior clássico do álbum, certo? O ideal para os apreciadores do Legião Urbana em seu período mais cru e garageiro.

    A crítica social continua forte com "O Reggae", cujo instrumental segue à risca o título, com melodia marcante do baixo, teclados característicos e linhas vocais idem, só não mais Reggae pela voz sóbria de Renato Russo. Renato vai da sinceridade à ironia, dizendo "Ainda me lembro aos três anos de idade/O meu primeiro contato com as grades/O meu primeiro dia na escola/Como eu senti vontade na escola" e "Aprendi a roubar pra vencer/Nada era como eu imaginava/Nem as pessoas que eu tanto amava/Mas, e daí, se é mesmo assim/Vou ver se tiro o melhor pra mim". E continua furioso em "Têm o meu destino pronto e não me deixam escolher/Vêm falar de liberdade pra depois me prender". Excelente.

    "Baader-Meinhof Blues", com o nome sendo uma referência a um grupo terrorista alemão da década de 70, traz o rock de volta ao disco, e mantendo a revolta contra o comportamento das pessoas, como "Todo mundo sabe e ninguém mais quer saber/Afinal, amar o próximo é tão demodé" e o ataque direto "Não estatize meus sentimentos/Pra seu governo, meu estado é independente".

    A seguinte é "Soldados", uma música desconhecida do repertório, que talvez só os proprietários de uma das cópias do disco conheçam. Quebrando o ritmo, teclados aparecem novamente, onde um atormentado Renato fala sobre a guerra. O questionamento aparece em "Quem é o inimigo/Quem é você?/Nos defendemos tanto sem saber/Por que lutar" e "Somos soldados/Pedindo esmola/E a gente não queria lutar", um tapa na cara do Estado que ilude seus jovens com falsos ideais de patriotismo para que eles ofereçam inutilmente suas vidas a tratamentos desoladores e fatais. Pena não ser mais conhecida...

    Se aproximando do final, ouvimos agora a peculiar "Teorema", que segundo o próprio letrista (Renato), é uma canção sobre sexo oral, apesar de isso não ser citado descaradamente em nenhuma parte da música, pois, ainda segundo o próprio, a censura ainda era muito forte, e sexo era um tabu. "Ninguém sabe fazer/O que você me faz" e "Parece energia mas é só distorção/E não sabemos se isso é problema/Ou é a solução" oferecem possíveis e discretas pistas, apesar de também pode ser entendida como uma canção de amor. Com backing vocals marcantes, linhas vocais cativantes e uma linha de baixo grudenta, assim como no resto do disco, se tivesse uma letra mais comum, passaria despercebida. Torna-se notável pela ousadia, uma das primeiras indiretas que Renato Russo daria sobre sua homossexualidade, e que com o passar do tempo, tornariam-se diretíssimas.

    E com "Por Enquanto", o álbum encontra seu final, sendo esta a música mais arrastada do álbum. Os efeitos voltam a aparecer, mas contracenam com doces melodias de guitarra. O refrão é pra lá de inspirado, triste e bem arranjado. "Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar/Que tudo é pra sempre/Sem saber que o pra sempre/Sempre acaba?". Um belo, doce e discreto final.

    Não posso fazer mais nada a não ser prestar homenagens à grande figura que foi Renato Russo, por sempre tentar trazer inteligência e conscientização para os seus ouvintes, não deixarem eles caírem nas mazelas conseqüentes das ilusões que nos são oferecidas nos dias de hoje para viver e idolatrar. Uma luta que ainda não morreu. É como dizem na série de quadrinhos que virou filme, "V de Vingança": podem matar o homem, mas não podem matar a idéia. Assim como Cazuza, Lennon, Harrison... e Russo, óbvio. Saudades, "trovador solitário".

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    posted by billy shears at 10:37 PM | 7 comments

    segunda-feira, outubro 09, 2006
    The Beatles - Rubber Soul


    "A capa, distorcida, já entrega o conteúdo. O "Sgt. Peppers" começou a ser delineado aqui. O que mais me impressiona é notar como os Beatles souberam abrir mão de uma fórmula musical consagrada, que era certeza de sucesso, e partiram para saciar sua curiosidade e, ainda assim, continuaram pop. Isso é muito difícil, é preciso muito culhão para tomar essa atitude." (Samuel Rosa, Bizz Especial - The Beatles, 2003)

    Em seu sexto álbum, o quarteto de Rock mais famoso de Liverpool, da Inglaterra e do mundo, sob produção de George Martin, dá o primeiro passo na transformação definitiva da música pop. Os Fab Four lentamente começavam a abandonar os hits fáceis e certeiros, a tal "fase comercial" que já os colocava no topo do mundo em termos de vendagem, público e crítica. Mas apenas isto não parecia suficiente para eles. Eles teimaram em escrever o capítulo principal do livro do Rock And Roll, onde foram destaque absoluto da página 1963 até a 1970 - e continuam deixando uma sombra e uma lembrança fortíssima até as páginas que outros continuam escrevendo hoje. Sem o capítulo Beatles, o livro estaria incompleto.

    "Rubber Soul" mostrava a superação da fase adolescente de filmes como "A Hard Day's Night" e "Help!" e a entrada em um universo totalmente novo. É aqui neste álbum que afloram as primeiras influências indianas, a exploração das possibilidades de um estúdio, a mistura entre guitarra e violão, a inclusão de pandeiros e maracas, e o amadurecimento das letras, indo desde metáforas, ironias e surrealismo até lirismo poético e existencialismo. Nesta época também ocorriam os primeiros contatos com drogas, com maconha sendo oferecida a eles por Bob Dylan. Vale lembrar que também foi o primeiro álbum da banda que teve relação de faixas parecida nos muitos países em que foi lançado, já que antes as gravadoras de cada país recebiam as fitas masters e lançavam álbuns com a seqüência e as músicas que desejavam.

    O álbum abre com "Drive My Car", um agitado Rock escrito por Paul com algumas contribuições de Lennon. Paul e John repartem os vocais principais, que fala sobre uma garota interesseira e um narrador que a persegue a fim de tentá-la seduzir com ilusões de fama, como se constata no refrão: "Baby você pode dirigir meu carro/sim, eu vou ser uma estrela/você pode dirigir meu carro/e talvez eu a amarei". John Lennon ainda toca pandeiro, dando uma sonoridade toda especial à música, que é completada por um empolgante solo de George. Começo mais que cativante.

    "Norwegian Wood (The Bird Has Flown)", composição de Lennon com ajuda de Paul, demonstra a primeira vez que os Beatles exerciam suas "influências exóticas" - George Harrison, que na época estava estudando música indiana, toca cítara na canção, acompanhado do violão de John, do baixo de Paul e do pandeiro de Ringo. Na letra, Lennon canta e conta uma história sobre uma relação extraconjugal que teve com uma mulher quando estava casado com Cinthia Lennon. Um dos muitos clássicos do álbum em questão, exótica e enigmática. Uma peça rara que só os Beatles sabiam compor.

    A próxima é "You Won't See Me", uma dócil e melódica música onde Paul descreve sobre o namoro em crise com Jane Asher, que não retornava as ligações do pobre Macca, que entrega de bandeja em belíssimas harmonias vocais: "Nós perdemos o tempo que foi muito difícil de encontrar/E eu vou enlouquecer se você não quiser me ver". Uma música simples e bela, cujo romantismo tão característico das letras de Paul é um grande toque nessa adocicada canção. O orgão Hammond de Mal Evans é um grande toque na canção, fazendo deste instrumento muito querido pela nação roqueira.

    Uma das mais consagradas do álbum, esta é "Nowhere Man", talvez a melhor música do álbum, ou senão, uma das melhores. As melhores linhas vocais do álbum. Violão, baixo e bateria e backing vocals casando muito bem como um todo, em que a dupla Lennon e McCartney parece falar sobre uma espécie de nômade: "Ele é um autêntico Homem de Lugar Nenhum/Sentado em sua terra de lugar nenhum/Fazendo todos os seus planos inexistentes para ninguém".

    Harrison nos brinda com "Think For Yourself", que marca a volta das guitarras, em um belíssimo rock permeado por maracas, pandeiro e um baixo com efeito fuzz, dando um ar diferente à canção, de melódicos versos até um marcante e crescente refrão. George parece criticar uma pessoa egoísta e sem personalidade, e parece dar um conselho a ela no refrão: "Faça o que você precisa fazer/E vá onde você precisar ir/Pense por você mesmo/Pois eu não quero ficar la com você". Difícil é esquecer o refrão.

    "The Word", com participação de George Martin na harmônica, é uma feliz canção, segundo os autores feita sob influência de maconha, em uma letra que já abria portas para a fase paz e amor da banda: "Diga a palavra e você será livre/Diga a palavra e seja como eu/Diga a palavra na qual eu estou pensando/Você ouviu a palavra, é amor ?/Está tão bem, é raio de sol/É a palavra, amor". Paul apostando nos falsetes acompanhando John fazem um grande dueto, tornando a canção muito divertida de se ouvir, junto com George, que também faz um grande serviço.

    A balada "Michelle" tem melodias conquistadoras de violão, com uma letra mais do que romântica para uma garota chamada Michelle: "Eu amo você, Eu amo você, Eu amo você/É tudo que eu queria dizer" e "Até eu mostrar, espero que você saiba o que eu significo/Eu amo você/Eu quero você" entregam isso de bandeja. Para ficar tudo em uma ar mais romântico ainda, o apaixonado Paul recita alguns dos versos da música em francês.

    A diversão volta em "What Goes On", um blues-rock com vocal de Ringo com Paul e John nos backin' vocals. Ringo faz um belo trabalho tanto no vocal quanto na bateria. Como de costume, George detona um solo delicioso de se escutar. A temática de relacionamentos volta à lírica da banda, como se vê no refrão: "O que há em seu coração?/O que há em sua mente?/Você está me afastando/Quando você me trata tão mal/O que há em sua mente?". Bela na sua simplicidade, destilando todo o potencial melódico do grupo.

    "Girl" é uma bela balada cantada por John, novamente com cítaras por parte de George e cativantes backin' vocals de Paul. As melodias combinadas de violão e cítara constrem um belo plano de fundo em uma romântica letra, onde Lennon canta sobre uma garota por qual é apaixonado e que o deixa pra baixo.

    Seguindo com "I'm Looking Through You", com Paul na voz principal, Ringo executando orgão Hammond além da bateria, Lennon no violão e George na guitarra solo. Mais agitada que a anterior, com um refrão com guitarras crescendo. Os relacionamentos pessoais dão a tônica novamente: "Estou olhando através de você, onde você foi?/Pensava conhecê-la, o que eu sabia?/Você não parece diferente mas você mudou/Estou olhando através de você, você não é a mesma".

    E eis aqui a música do álbum que faz páreo com "Nowhere Man": "In My Life". Com um piano de George Martin e um belíssimo solo de George, mas com destaque principal para a inspirada linha vocal de John Lennon e a letra existencialista da canção, onde ele reflete sobre vida, de lugares que já foi e de pessoas que conheceu, apesar de manter mais afeto por uma pessoa em especial: "Embora eu saiba que eu nunca vou perder o afeto/por pessoas e coisas que vieram antes,/Eu sei que com freqüência eu vou parar e pensar nelas/Em minha vida, eu amo mais a você".

    "Wait" traz o rock de volta, com o pandeiro de John e as maracas de Ringo realizando um trabalho percussivo com pegada obsessiva, com belas melodias de guitarra e vocalizações inspiradas, em uma letra romântica, com uma letra em que John pede para uma garota esperar por ele, para matar as saudades, depois de muita solidão sentida por parte do autor.

    Segunda composição de Harrison surge com "If I Needed Someone", com vocais por parte do mesmo, apoiado por pandeiros, harmônica de George Martin e bem postos backing vocals. Harrison, romântico como nunca, declara "Se eu precisasse de alguém para amar,/Você seria aquela em quem eu estaria pensando/Se eu precisasse de alguém". As melodias simpáticas batem no ouvido e deixam o ouvinte com vontade de repetir a dose. As melodias que surgem após o refrão são fantásticas.

    Fechando o álbum, temos "Run For Your Life", a mais agitada de todo o álbum, que conta a história de um cara para lá de ciumento, com uma deliciosa levada de violão acompanhando a letra: "É melhor você correr pela sua vida se você puder, pequena garota/Esconder sua cabeça na areia, pequena garota/Peguei você com outro cara/É o fim, pequena garota". Um grande final para um grande álbum.

    Tudo bem que não é a cartilha de entrada para o mundo do psicodelismo e experimentação que "Revolver" foi e tampouco foi a despirocada consagração definitiva de "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", mas é um marco. O primeiro passo para os Beatles alterarem de vez, dois anos depois, toda a história da música pop. E querendo ou não, é um dos melhores dos Beatles, ao lado dos já citados. Não é pecado nem erro dizer que é um dos melhores álbuns de transição já feitos.

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    posted by billy shears at 6:01 PM | 10 comments

    domingo, outubro 08, 2006
    Sepultura - Dante XXI


    Não tem livro que represente mais a carreira do Sepultura do que o clássico literário "A Divina Comédia", de Dante Aligheri. Em mais de vinte anos de carreira a banda conheceu de tudo - céu, purgatório e inferno. Dos difíceis anos como banda underground para o reconhecimento mundial como uma das maiores bandas de thrash/death do mundo, - e a maior do Brasil - com vários álbuns servindo como consagração, dos mais tradicionais até os mais experimentais, passando pela traumatica saída do vocalista Max Cavalera, da adaptação do novo vocalista Derrick Green, de dois álbuns ignorados pela mídia e vítimas da má vontade das gravadoras... Até uma lenta retomada do espaço que sempre lhes foi merecido com o lançamento de "Roorback". E agora, nos deparamos com o lançamento de um álbum conceitual e a saída de Igor (agora grafado como Iggor) Cavalera. Pois é, ser do Sepultura não deve ser nada fácil...

    Em "Dante XXI", o Sepultura mostra mais uma vez o seu espírito inquieto e inventivo, de nunca cair em meios-termos e lugares-comuns que tantas bandas de metal extremo se perdem conscientemente ou não. É um disco tenso e forte - as guitarras de Andreas Kisser estão furiosíssimas, brutais, como manda um disco de metal para os dias de hoje. Iggor, mesmo menos complexo que antigamente, senta a mão no seu intrumento sem dó nem piedade, soando praticamente como uma locomotiva humana. As quatro grossas cordas de Paulo Jr. prendem ao ouvinte aos trilhos da ferrovia de tal locomotiva... E aí surge Derrick Green, "the Predator", um fulano de quase dois metros de altura que atropela o ouvinte com sua voz potente, rasgada, gutural e mórbida.

    A desesperada introdução "Lost", perturbadora, com uma voz mórbida e um zumbido estranho, dão lugar a "Dark Wood Of Error", uma porrada no pé da orelha, onde sentimos toda a potência do pedal de Iggor e todo o peso da guitarra de Andreas, que por um bom tempo batem contra nosso ouvido até Derrick explodir cantando "Eu perdi meu caminho/Na madeira negra do destino", em uma rápida letra onde ele anuncia sua chegada ao inferno, cheio de violência, sendo rondado pela besta americana e a besta inglesa.

    E então surge, sem dar tempo para respirar, "Convicted In Life", uma das melhores de todo o álbum, iniciada com um curto e forte solo de bateria de Cavalera, seguindo com um riff de guitarra pesadíssimo e marcante, com os vocais rasgados de Derrick Green à beira da explosão, que dispara: "Abandone toda a esperança ele que incorpora aqui/A dor eterna que os funcionamentos entre o perdido/Ele é a ficção da vida/O que você é, é o que você vive" e "Culpado na vida/Ficção na vida/Vítima na vida", sobre uma pessoa totalmente perdida, que a vida da mesma não passa de uma mentira, uma piada de mau gosto. A quebrada de ritmo no meio da música, para logo então a retomada da mesma, dá um toque interessantíssimo.

    "City Of Dis" começa parecendo que vai dar tempo para amansar, até que a bateria de Iggor começa a rugir de novo e logo as guitarras tornam-se mais graves. E então entra um gutural Derrick criticando a descrença nos dias de hoje, "Não seja uma vítima/Nesse sistema sangrento/Alma perdida, você queimará pela sua crença", uma crítica contra toda as crueldades do sistema. Entram ácidas frases como "Fogos não queimarão nosso direito de ter opniões" e o refrão "Eu posso viver, comigo mesmo/Eu tenho fé em mim mesmo".

    De introdução exótica, "False" descamba para um thrash metal rapidíssimo e furioso, com Igor quebrando tudo, o riff de Andreas botadno a casa abaixo e Derrick cuspindo contra toda a falsidade, fazendo jus ao título. Um protesto contra o poder abusivo, a hipocrisia, e as pessoas que se julgam poderosas. A canção subitamente pára, para então retornar mais pesada do que nunca.

    O dedilhado de "Fighting On" não engana... Mais porrada vem aos nosso ouvidos, em uma muralha de guitarras distorcidas de Andreas. A canção parece falar de perseverança e responsabilidade, como diz o refrão "Do primeiro aniversário de nascimento/Até nosso último suspiro/Você nunca pensa que você pode tornar isso algo distante/Nós não paramos, nós continuamos lutando", mais invocado do que nunca. As passagens cadenciadas alternadas com momentos de maior porradaria deixam a música simplesmente fantástica.

    Saindo do inferno, entramos no purgatório, na instrumental "Limbo", onde são explorados orquestrações, costurando um clima caótico, apesar de calmo. Aí nasce a pancada "Ostia", nascido do riff da anterior, criando uma ligação. A crítica à sociedade novamente aparece em versos como "Esses idiotas são aqueles em que a gente vota para/Reis e ditadores da negligência/Pegando uma nação para liderá-la à decadência/Uma sombra anunciando outra lei". No meio da música, nasce um lindo solo de violino, bastante emotivo... Que então dá lugar para a pancadaria que reina no resto da música.

    "Buried Words" tem um início assustador, que, aos poucos, dá lugar para o thrash tão característico e consagrado da banda tome conta do pedaço. A linha de bateria de Igor é um dos destaques da canção, além da mesma conter um dos melhores riffs do álbum. As mentiras voltam a ser o tema da canção, com Derrick berrando guturalmente no refrão "As suas palavras estão mortas/Eu as enterrei/Estão mortas". E acaba em suspenso.

    E "Nuclear Seven" tem início, com seu início lento e carregado, com os bumbos de Iggor rasgando o tímpano do ouvinte. Talvez uma das mais arrastadas de todo o conjunto, com Andreas detonando junto com Paulo, fazendo um som intenso. Derrick canta sobre uma busca de um caminho melhor, pois como diz a música "Nesse novo mundo, sem um passado/Merda atômica para foder nossas cabeças/Nesse novo mundo, que está cheio de crack/Nossas crianças choram, elas estão perdidas e loucas". E no final, mais invocado que nunca, berra "Me conte o caminho, eu preciso saber, me mostre a estada".

    A avalanche se torna cada vez maior com "Repeating The Horror", com um início mais melódico que acaba voltando ao som 'sepulturístico' de sempre, que conta com algumas paradas minimalistas para Derrick gritar o refrão. A canção ataca o conformismo, não o aceitando de jeito nenhum e exigindo uma atitude, como diz o último verso "Melhor começar alguma coisa/Melhor que nada/Não se pode continuar vendo/Todos esses horrores". Uma canção cheia de reviravoltas e violentíssima, com Igor sendo destaque absoluto da canção em suas "paradas".

    A intro "Euno..." tem pouco mais de dez segundos, contando com orquestrações graves, que dá lugar à brutal "Crown And Mitter", onde Derrick, em um thrashcore de quebrar pescoços, cospe, vocifera, em uma letra o mais autobiográfica o possível: "Durou muito para chegar aonde estamos/Não foi fácil ,mas nunca é/A grandes passos continuamos nos movendo/Eu tenho meus dois pés e não preciso dos seus para me mover", e no refrão volta o grito que há um caminho para se salvar. As orquestrações voltam por um brevíssimo momento para então a brutalidade tomar contar do final da canção.

    Outra intro, com o nome "Primium Mobile", marca a entrada no céu, em um início nervoso que dá espaço para "Still Flame" em que um coro em forma de mantra surge, compartindo espaço com um nascento instrumental tenso... Para logo as batidas de Iggor compartilharem belíssimos momentos com orquestrações, sendo esta uma das músicas mais sofisticadas de todo o álbum. Sem nunca explodir em um thrash furioso, a densa canção ainda vem com intensos ruídos. O peso vem chegando ao final da canção, com uma cara de trilha sonora de filme, onde instrumentos de sopro cada vez mais altos partilham audição com uma guitarra thrash... E então Derrick grita o nome da canção repetidamente nos últimos segundos da música. E a canção acaba, junto com ela o álbum.

    Há de se elogiar todo o trabalho que o Sepultura fez com o produtor André Moraes, que produziu trilhas de cinema em sua maioria, incluindo aí a criação de toda a trilha sonora do filme "Lisbela e O Prisioneiro". Fez a banda acertar em cheio ao deixar a tribalidade brasileira um pouco de lado e surgir com sopros, violinos, e demais adições no heavy metal do Sepultura. Um trabalho visionário, que mostra uma banda que insiste em sempre se recriar, sem medo nenhum de perder os fãs - pois, como todos sabem, um fã não é um mero traíra que abandona a banda preferida em um momento difícil como má distribuição de discos ou troca de integrantes. À estes fãs, o Sepultura os brindou mais uma vez com brutalidade de alta qualidade, sofisticada, bem planejada, em um dos melhores discos do ano, do heavy metal e do rock em geral.

    Esta é a banda que influenciou Killswitch Engage, Slipknot, Ektomorf, e demais bandas do cenário new metal e metalcore. E que continuará doutrinando e angariando fãs. Esta é a banda responsável por mostrar ao mundo a qualidade da música pesada brasileira. Sem estes caras, nossa cena estaria mais do que atrasada. Por essa perseverança e seus mais de vinte anos remando contra a maré eu digo, parabéns e muito obrigado, Sepultura. O novo álbum está imperdível.

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    posted by billy shears at 12:58 AM | 10 comments

    terça-feira, outubro 03, 2006
    The Living Things - Ahead Of The Lions


    Um turbilhão de referências, energia e volume à tiracolo, o garageiro prazer de quatro parceiros se reunirem para tirar um som que dá certo. Esses e outros adjetivos podem ser aplicados ao Living Things, uma grata revelação do ano de 2006, vinda direta de St. Louis. Os irmãos Lilian (vocal - visualmente, um 'filho' de Steven Tyler e Mick Jagger), Eve (baixo) e Bosh Berlin (bateria) se uniram ao guitarrista Cory Becker, e daí para o reconhecimento, e a gravação do 'debut', foi só um passo (ou um pouco mais, vai saber).

    Pesquisando sobre o disco "Ahead Of The Lions" na internet, ou simplesmente lendo o encarte do disco, vê-se que o engenheiro do disco é o lendário Steve Albini - produtor que se consagrou nos anos 90 ao assinar embaixo de trabalhos como Nirvana, Pixies, Helmet, PJ Harvey e Bush. O estilo pesado de Albini se faz sentir ao longo do disco, onde a banda deixa transparecer o glam da década de 70, o noise da de 80 e o grunge da de 90. O que poderia resultar em um disco confuso e desencontrado revela-se um disco bastante versátil e animador de se escutar.

    A porrada "Bombs Below" abre o disco pegando fogo, com Lilian falando de pessoas que se cansaram de serem calmas e apenas macacos e começaram a quebrar regras, até culminar no refrão, onde a solução oferecida é a velha solução do governo ianque: bomba para lá, bomba para cá... A pancadaria rola solta, e o vocal cru, grosso e seco de Lilian fazem um belo par à guitarra de Cory, que desfere um solo mortal no meio da canção. Os backing vocals no refrão foram muito bem encaixados, revezando muito bem com o refrão berrado pelo vocalista. Cem por cento "pedrada na moleira".

    "I Owe" abandona o peso monstruoso da anterior e vem investindo agora em um puta riff rock and roll, com linhas vocais bem marcantes. O vigor punk dá suporte para outra letra de crítica política, aparentemente falando do controle exercido pela mídia. Totalmente contagiante, a canção acerta em cheio quem quer uma canção simples, mas ainda assim poderosa e confiante.

    Destoando de tudo até agora, "Bom Bom Bom" é uma das mais contrastantes do disco... Por ser uma canção totalmente glam rock, ao estilo de Marc Bolan e seu T. Rex, principalmente no riff e estrutura. O andrógino vocalista aproveita para destilar vocais sexys e arrastados, criticando a guerra do Iraque, onde o eu-lírico se diz caminhando sobre a areia do deserto, dizendo que vão destruir tudo (com o título da música sendo uma óbvia onomatopéia às bombas), até o final onde Lilian canta sem parar "Balance, sem mais luzes brilhantes, sem mais nenhuma cidade grande". Uma das melhores do álbum, ao lado da faixa de abertura.

    Abandando o T. Rex, a banda agora abraça Jesus And Mary Chain na música "New Year", banda cult super-influente há 20 anos atrás, onde montanhas de guitarras iradas compartilham espaço com melodias dóceis. O refrão também chega a lembrar muito, mas o trabalho de guitarras é que transmite a principal referência. Como percebeu-se, a banda é chegada em críticas sociais, falando sobre uma instituição maior (referida como "eles") que não dá a mínima para pessoas que se rebelaram. Bela quebrada de ritmo.

    "God Made Hate" compartilha guitarras endiabradas que dão espaço a melodias mais doces, refrãos empolgantes. "Porque Deus fez o ódio/E então ele fez você/Ele vai televisionar meu suicídio/Para o melhor para você/O paraíso é uma sala de espera", dis a ousada letra, cantadas com entonação também ousada de Lilian. A cozinha Berlin se mostra forte na canção, acompanhando a guitarra com honras.

    A seguinte é "End Gospel", onde a velocidade vai retomando seu espaço, tanto no riff de guitarra como na linha vocal, desembocando em um dos melhores refrão do álbum, onde Lilian canta "Eu preciso parar para ser parado/Eu não vou ser parado por você". Este invocado Rock compartilha espaço com um solo nota dez por parte de Cory, além de, no geral da canção, o baterista Bosh tocar com força e vontade.

    "No New Jesus" finalmente retoma todo o espaço da pancadaria, com um riff à la Butthole Surfers, refrão contagiante, de quebrar o pescoço e a solidez de uma rocha no instrumental, somadas à uma letra anti-idolatria, onde Lilian grita repetidamente "acorde!", avisando a todos os seus ouvintes tal como uma sirene de ambulância se faz ouvir no meio do trânsito. Porrada de respeito, dada com mão firme.

    A sucessora "March In Daylight", onde o grunge se faz levemente presente na estrutura riffs abrasivos-estrofes calmas-refrão explosivo, fórmula certeira esta tão consagrada pelos grupos de Kurt Cobain, Layne Staley e Chris Cornell, que ao combinar com as outras influências dos Livings Things, dá nisso: uma música cheia de reviravoltas e seu refrão de levantar os braços e bradar seu nome com toda a força que os pulmões permitirem.

    Quebrando o ritmo novamente, agora ouvimos "Keep It 'Til You Fold", em ritmo de uma balada, onde Lilian mostra novamente toda a sua versatilidade... Se antes ele cantava de forma brutal ou sexy, agora ele faz sua voz soar doce e melódica. Mesmo quando as elétricas guitarras se fazem ouvir, não comprometem toda a melodia da canção.

    "Monsters Of Man" é outra um tanto diferenciada, com bateria firme de Bosh e o vocal de Lilian introduzindo a canção, que conta com teclados, instrumentos de sopro, e uma pegada obsessiva no seu desenrolar. Irônico, Lilian canta "Vocês são monstros do homem/Treinando jovens monstros para ser bons homens/Vocês são monstros, monstros do homem". Um belo sinal de criatividade da banda, não mantendo um estilo definido no primeiro disco, apostando em várias fichas.

    Quase chegando ao final, entra o vigoroso rock "On All Fours", onde o riff de guitarra de Cory faz novamente seu serviço para Lilian voltar a rasgar a voz e desempenhar uma performance possuída novamente. A canção ataca a polícia, a censura, tudo isso em um clima invocadíssimo, onde a energia punk se põe a serviço do rock para inflamar os ouvidos do ser humano.

    Pautado por uma imprevisibilidade assustadora, o disco fecha com chave de ouro na música "I Wish The Best For You" mostra a banda atacando de Soundgarden. Um baixo do mano Eve, de sonoridade bem sombria, introduz os vocais, a bateria e a guitarra, de início lento e arrastado até as guitarras crescerem em distorção no refrão, chegando a um momento meio Black Sabbath, meio Soundgarden. Novamente, uma letra atacando todos os alvos que julgam serem necessários serem atingidos, dá a tônica da canção.

    Um dos melhores registros do ano até agora. A gravação de Albini contribuiu muito na qualidade sonora deste grupo. Bom para ele, que volta à cena assinando o nome em um novo grupo de sucesso, bom para a banda, que conseguiu mostrar seu peso, energia, senso melódico e versatilidade sem se comprometer. Se vai durar ou não, só acompanhando para saber. Enquanto isso, baixe, compre, veja os vídeos e deleite-se, meu caro: se depender de grupos como esse, é garantia de bom Rock And Roll por um bom tempo.

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    posted by billy shears at 8:11 PM | 9 comments

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